Edward Thompson, presente!
Peter Linebaugh (Estados Unidos)
Departamento de História, Universidade de Toledo (aposentado), Estados Unidos
Como ex-comandante de tanques, Edward conhecia bem um motor de combustão interna. Certa vez numa reunião em Toronto, o carro de alguém não conseguia dar partida; Edward ficou sob o capô e ligou o motor num instante. Foi uma surpresa. Ele não tinha medo de explorar como o mundo de fato funciona. Em outra ocasião, no norte do País de Gales, houve um problema em sua casa de campo: a água não corria. Já estava escuro, mas ele calçou as botas e saiu noite adentro com uma tocha ou lanterna, balançando-a de um lado para o outro na grama lamacenta, em busca da tubulação. Pois ele a encontrou e na mesma hora consertou o registro. Fiquei impressionado com essas características do intelectual autor de The Making of the English Working Class.
É claro que ele era um homem de ideias, e as dele alcançaram o mundo. Quando Allende morreu, ele transformou suas lágrimas num poema poderoso. Ele morava na zona rural de Worcestershire. Nos fundos de sua casa crescia um tulipeiro ao redor do qual havia ciclames cujas mudas vieram da Palestina. Sua mãe, seu pai e seu irmão tinham laços profundos com a Índia e o Levante. Ele adorava flores silvestres e conhecia seus nomes populares, como os que o poeta John Clare provavelmente usou. Isso era um dos seus elos com os ingleses comuns – tanto o conhecimento quanto os nomes.
Suas mangas estavam quase sempre arregaçadas. Seu casaco ou suéter muitas vezes tinha pó de giz misturado às cinzas das cigarrilhas que ele fumava. Transmitia o ar e o estilo do intelectual inglês largado de meados do século XX. Qualquer lugar era bom para um seminário. Ele se sentava no assoalho e logo camaradas e colegas o rodeavam. Adorava o calor do debate e sabia recitar longas passagens de Wordsworth; palestrando, ele chegava ao ápice. Tinha o teatro nas veias. Quando escutava, seus olhos se aguçavam, perspicazes. Era dono de uma bela voz com sotaques versáteis e longa extensão vocal. Gostava de nos provocar dizendo que Marx também era inglês, e não apenas alemão ou russo. Tinha uma disposição enorme para trabalhar e geralmente sabia do que estava falando. Quando não, ele perguntava ou estudava. Ele queria ao menos pôr fim à guerra nuclear.
Edward Thompson, presente!
Disponível em https://spiritofmarckarlin.com/tag/e-p-thompson/.
Tradução: Eneida Sela
Edward Thompson, presente!
Peter Linebaugh (US)
History Department, The University of Toledo (retired), US
As a former tank commander Edward knew his way around an internal combustion engine. Once at a gathering in Toronto someone’s car wouldn’t start up and Edward was under the hood and had the engine running in a jiffy. It was a surprise. He was not afraid to explore how the world actually works. Once there was a problem in north Wales at a cottage he had. The water wasn’t running. It was past daylight but he put on his boots and strode out into night with his torch or flash-light swinging its beam back and forth in the muddy grass looking for the pipeline. He found it and on the spot repaired its stop-cock. I was impressed by these traits of the scholar of The Making of the English Working Class.
Of course he was a man of ideas, and his reach with them was across the world. When Allende died he turned his tears to a powerful poem. He lived in the Worcestershire countryside. Behind his house a tulip tree grew and surrounding the tulip tree were cyclamens grown from Palestine. His mother and father and brother had deep ties to India and the Levant. He loved wild flowers and could name them with English names such as the poet, John Clare, may have used. It was one of his links to the English commons, both the knowledge and the names.
His sleeves were often rolled up. His jacket or jumper often had chalk dust mixed with the ashes of the cigarillos he smoked. He conveyed the look and style of mid-20th century English intellectual grunge. A seminar might happen anywhere. He lay flat on the pine wood floor, and comrades and colleagues joined him there. He loved the cut and thrust of debate; he could recite Wordsworth at length; in lecture he could build to a climax. Theatre was in his bones. When listening his eyes might be sharp conveying acuity. He had a beautiful voice with versatile accents and registers of great range. He liked to tease us by saying that Marx was English too. Not just German or Russian. He had a massive capacity for work, and generallly knew what he was talking about. When he didn’t, he’d ask, or study. He aimed to put an end to nuclear war at least.
Edward Thompson, presente!
Available at: https://spiritofmarckarlin.com/tag/e-p-thompson/.