Beatriz Loureiro Ferreira (Licenciada em História e mestranda em História Social pelo PPGH-UFF)
Luciana Pucu Wollmann (professora de História da rede municipal de Niterói e da rede estadual do Rio de Janeiro. Doutora em História pela FGV e integrante do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/ UFRJ), onde coordena a seção “Chão de Escola”)
Apresentação da atividade
Segmento: 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio
Unidade temática: O nascimento da República no Brasil e os processos históricos até a metade do século XX/ História recente
Objetivos gerais:
– Refletir sobre o papel das mulheres na política enquanto sujeitos históricos.
– Analisar a problemática de gênero no contexto das relações histórico-culturais.
– Identificar o papel das mulheres trabalhadoras na luta pelo voto e pelos direitos sociais e trabalhistas das mulheres.
– Capacitar os(as) alunos(as) a reconhecerem transformações e continuidades entre o passado e o presente.
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):
(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
Duração da atividade: 11 aulas de 50 minutos
Aulas | Planejamento |
01 | Etapa 1 |
02 e 03 | Etapa 2 |
04, 05, 06 e 07 | Etapa 3 |
08 e 09 | Etapa 4 |
10 e 11 | Etapa 5 |
Conhecimentos prévios:
– Primeira República (1889-1930);
– Era Vargas (1930-1945);
– Período “Democrático” (1945-1964).
Atividade
Recursos: datashow, som e cópias impressas.
Etapa 1: Sensibilização e contextualização
Em uma roda de conversas, o/a professor/a pode propor um papo a fim de coletar as possíveis informações que os/as estudantes já dispõem sobre o assunto. Sugerimos as seguintes perguntas para nortear o debate: Como as mulheres conquistaram o direito ao voto? Quando esse direito foi conquistado? Por quanto tempo às mulheres brasileiras (e do mundo) lutaram pelo direito de votar? Qual seria a classe social das mulheres sufragistas? Qual seria a sua cor? Negras? Brancas? Elas seriam moradoras de bairros abastados e/ou periféricos?
Conforme os/as estudantes forem trazendo as informações e questões para o debate, o/a professor/a, pode ir trazendo informações a fim de contextualizar e aprofundar as reflexões sobre a temática. Como sugestão para fundamentar ainda mais os nossos conhecimentos, sugerimos os seguintes materiais para a consulta:
Reportagem (Link Clickável) – Direito ao voto feminino no Brasil completa 92 anos
Vídeo – “Voto feminino completa 90 anos no Brasil”
Para o próximo encontro, o/a professor/a, pode sugerir alguns nomes de mulheres que no passado, tiveram uma grande projeção na luta pelo voto feminino e por mais participação das mulheres na política e na vida pública, tais como:
• Almerinda Farias Gama
• Adalgisa Cavalcanti
• Alice Tibiriçá
• Antonieta de Barros
• Arcelina Mochel
• Bertha Lutz
• Bianca Fialho
• Carmen Portinho
• Dalva Barcelos
• Elisa Branco
• Elisa Kauffmann Abramovich
• Julia de Medeiros
• Júlia Santiago da Conceição
• Julietta Battistioli
• Laura Brandão
• Lia Corrêa Dutra
• Luiza Alzira Soriano Teixeira
• Maria Felisberta Baptista Trindade
• Maria Olimpia Carneiro
• Nísia Floresta
• Odila Schmidt
• Patricia Galvão
• Rosa Bittencourt
• Zélia Magalhães
• Zuleika Alambert
• Entre outras…
Etapa 2: Reflexão
Sugerimos ao ou à colega que projete em um data-show as seguintes imagens:
Júlia Medeiros (1896-1972): Natural do Rio Grande do Norte, Julia teve uma atuação fundamental na reivindicação dos direitos às mulheres, principalmente no que tange à educação. Destaque na área do jornalismo e do magistério, Julia foi gerente e redatora do Jornal das Moças em 1926. Em 1928, foi a primeira mulher de Caicó-RN a se alistar como eleitora. O Rio Grande do Norte foi o primeiro estado a reconhecer o direito das mulheres votarem e serem votadas, de acordo com a Lei estadual nº 660 em 25 de outubro de 1927.
Bertha Lutz (1894-1976): Nome mais conhecido na luta pelo direito ao voto no Brasil. Graduada em Biologia pela Sorbonne (Paris), Bertha foi a segunda mulher a assumir uma vaga em um concurso publico, como bióloga do Museu Nacional. Em 1919, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher e em 1922, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, entidade que liderou a luta pelo voto feminino no Brasil. Em 1934, assumiu o mandato de deputada federal, após a morte do titular da cadeira, Cândido Mendes, de quem era suplente.
Almerinda Farias Gama (1899-1999): Apontada como pioneira entre as mulheres negras na política, a alagoana Almerinda Gama foi delegada-eleitora na escolha de deputados classistas para a Assembleia Nacional Constituinte de 1933. Fundadora do Sindicato das Datilógrafas e Secretarias do Distrito Federal, Almerinda também atuou na Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que liderou a luta pelo voto feminino no Brasil.
Carlota Pereira de Queirós (1892-1982): Em destaque na foto meio a dezenas de homens, Carlota foi a única mulher eleita para a Câmara Federal em 1934. Médica por formação, Carlota pertencia à uma família tradicional de proprietários de terras do interior paulista. Chegando a atuar em plenário ao lado de Bertha Lutz, a deputada discordava da feminista em vários aspectos, tais como sobre o direito ao voto feminine. Enquanto Bertha defendia o direito sem restrições, Carlota considerava que este deveria ser acompanhado de deveres cívicos, tais como a assistência aos pobres.
Comitê das Mulheres Trabalhadoras: Criado em 1928, este órgão estava vinculado ao PCB (Partido Comunista do Brasil). Logo em seguida, foi criado o Comitê Eleitoral de Mulheres, também vinculado ao partido, que buscava demarcar posição dos comunistas na luta pelo voto e elegibilidade feminina. Nos anos 1930, a organização das mulheres comunistas levantava a bandeira contra o fascismo, de acordo com as determinações da linha política do PC em voga naquele momento, além de lutar por bandeiras que erigiam do chão das fábricas, tais como equidade salarial entre homens e mulheres e proteção à mãe trabalhadora.
Federação das Mulheres do Brasil (FBM): Fundada em 1949,sob forte influência do PCB, a FBM teve uma atuação destacada articulando pautas que buscavam lutar pelos direitos das mulheres em bairros e sindicatos. Ao longo dos anos 1950, enviou delegações para congressos internacionais de mulheres, muitos deles articulados pelo PC.
Elisa Kauffmann (1919-1963): Paulista, professora, filha de imigrantes judeus, Elisa foi eleita a primeira vereadora da cidade de São Paulo em 1947. Um ano depois, Elisa e todos os vereadores eleitos pela legenda do PST (Partido Social Trabalhista), foram cassados a partir da denúncia de que a legenda teria abrigado candidaturas comunistas. Ao longo da sua vida, Elisa se notabilizou por sua atuação junto à comunidade judaica, na luta pela educação e proteção da infância.
Julia Santiago da Conceição (1917-1989): Pernambucana, negra, operária, têxtil, sindicalista, comunista, Julia foi eleita a primeira vereadora do Recife, em 1947 pela legenda do PCB. Fundadora do Sindicato de Fiação e Tecelagem de Pernambuco e colaboradora de vários jornais da imprensa comunista, Julia não foi alfabetizada formalmente. Eleita pela legenda do PSP (Partido Social Progressista), visto que o PCB já estava na ilegalidade, Julia se destacou em plenário pela luta por melhorias urbanas e direitos sociais dos/as trabalhadores/as. Julia também se destacou pela sua atuação em associações femininas e na Federação de Mulheres de Pernambuco.
Julieta Battistioli (1907-: Nascida na cidade de Palmares, No Rio Grande do Sul, Julieta foi a primeira vereadora eleita na cidade de Porto Alegre, em 1948, pela legenda do PSP. Operária têxtil, Julieta desempenhou um papel de destaque junto às associações femininas e a Federação das Mulheres do Rio Grande do Sul, entidade vinculada ao PCB, bem como se notabilizou pela sua militância nas fábricas e nos bairros fabris da cidade.
Mulher não identificada: Na legenda da foto, lê-se: “Depois de eleito senador, Prestes, do mesmo modo que os demais representantes do Partido Comunista mantém-se em contato permanente com o seu povo, prestando contas do mandato que lhe foi conferido e ao mesmo tempo, mobilizando o povo com a sua palavra, para enfrentar as novas tarefas exigidas pela luta para assegurar as liberdades democráticas e liquidar os remanescentes do fascismo em nossa terra”.
Em um primeiro momento, sugerimos ao docente que apresente as imagens os/as estudantes e peça para eles/as observarem-nas e as descreverem. Estimule que a turma observe o que as mulheres estão fazendo nas imagens, a sua cor, a sua possível condição social, etc. Caso os/as estudantes tenham feito pesquisas, este será também um momento de trocas de informações sobre as mulheres apresentadas.
Em um segundo momento, o professor/a deve trazer informações sobre as mulheres apresentadas. Feito isso, sugerimos que a turma seja dividida em grupos, e em uma folha registre as suas impressões sobre as seguintes questões:
1. O movimento que luta pelos direitos das mulheres é unívoco ou existem diferenças no interior deste? Se sim, quais diferenças vocês identificaram? E quais são as semelhanças que os une?
2. Podemos ver similaridades entre os movimentos feministas/ femininos do passado e os de hoje? Quais?
3. Vocês já tinham ouvido falar em alguma dessas mulheres, antes desta aula? Provavelmente, assim como grande parte da população brasileira, vocês nunca tinham ouvido falar. Por que vocês acham que isso ocorre?
4. Escolha uma das imagens que mais chamou a atenção de vocês e justifique a sua escolha.
Etapa 3: Aprofundamento
Exibição do filme As Sufragistas
Após a exibição de As Sufragistas, o/a professor/a deve fazer um debate tendo como ponto de partida a história vivida por Maud Watts. O filme, que se passa por volta de 1912, apresenta as longas jornadas que as mulheres trabalhadoras enfrentavam desde a infância. Além do cansaço causado pelo trabalho, essas mulheres eram reféns de políticas machistas da época, que as mantinham em uma posição inferior e dependente de um homem. Esse pensamento, enraizado na sociedade, persiste ao longo dos anos. Reunidos em grupos, os/as estudantes receberão uma folha impressa e responderão às seguintes questões:
1. Por que a personagem Maud Watts se juntou às Sufragistas?
2. Discorra sobre as condições de trabalho retratadas no filme e compare-as com o tempo presente: há semelhanças ou diferenças?
3. Como a sociedade reagiu após Maud ir contra o pensamento dominante da época e questionar seu espaço sociopolítico?
4. Mr. Taylor, chefe da lavanderia, comete assédio moral e sexual contra as trabalhadoras. Pesquise se hoje há alguma lei contra tais crimes.
5. As mulheres possuíam direitos sobre seus filhos? E nos dias de hoje, como a Justiça orienta que deve ser a convivência dos filhos com pais separados?
6. Maud Watts fazia dupla jornada de trabalho: na lavanderia de Mr. Taylor e em casa, onde era responsável por cozinhar, lavar as roupas e cuidar do seu filho George. Hoje em dia as mulheres ainda cumprem essa dupla jornada? Explique.
Etapa 4: Para além do direito ao voto: as reivindicações da mulher trabalhadora brasileira na esfera pública/ política.
Divididos em grupos, os/as estudantes receberão uma folha com as s fontes abaixo e com as questões reproduzidas em seguida.
Fonte 1 – Folheto da campanha da sindicalista Odila Schmidt
Fonte 2 – Panfleto da Associação Feminina do Distrito Federal
1. Quais reivindicações estão presentes nas fontes nº 1 e nº 2 no que diz respeito às questões voltadas para os direitos das trabalhadoras e trabalhadores?
2. A fonte nº 1 apresenta pautas voltadas exclusivamente às mulheres? Quais são elas? Nos dias de hoje, esses direitos foram conquistados?
3. A partir das fontes apresentadas, reflita sobre a importância da representatividade das mulheres na esfera política/ pública.
Etapa 5: A luta pelos direitos assegurados e os que ainda estão por vir
Em um data-show, projete as imagens abaixo e peça para os/as estudantes, observem e teçam comentários a respeito das mesmas.
Marielle Franco (1979-2018): Ativista política e defensora das comunidades marginalizadas, foi Vereadora da Câmara do Rio de Janeiro e Presidente da Comissão da Mulher da Câmara. Criada na Favela da Maré, se tornou porta-voz na luta contra a violência policial e pelos direitos das mulheres, negros e LGBTQIA+. Em 14 de março de 2018, Marielle foi brutalmente assassinada a tiros no Rio de Janeiro, ao lado do seu motorista Anderson Gomes. Sua morte despertou não só a comoção mundial, como também a revolta e vontade do povo de dar continuidade a sua luta (ROCHA, 2018). Espera-se que os/as estudantes reflitam sobre o racismo estrutural e como a desigualdade racial também está presente na representatividade das mulheres na esfera política e na vida pública.
Após o debate, reunidos em grupos, os/as estudantes deverão produzir um Projeto de Lei visando as questões de igualdade de gênero (e racial também, se acharem pertinente). Após a realização da tarefa, os/as estudantes devem pesquisar se o Projeto de Lei criado pelo grupo já existe no Brasil e como se dá o processo de encaminhamento até a sua aprovação na Câmara dos Deputados.
Bibliografia e Material de apoio:
CORRÊA, Larissa e Nina Teruz Visco. “Falam as eleitas do povo”: vereadoras e comunistas, a atuação das mulheres comunistas no Rio de Janeiro (1946-1948). Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 14, 2022.
FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Os direitos das mulheres: organização social e legislação trabalhista no entreguerras brasileiro (1917-1937). Campinas: UNICAMP, 2016. Tese de Doutorado.
NUNES, Guilherme Machado. A primeira vereadora do Recife era negra? História oral, memória e disputas em torno de Julia Santiago da Conceição (1933-tempo presente). História Oral, v. 25, nº 1, jan/jul. 2022.
_________________________. Elisa Kauffman Abramovich: classe, gênero e identidade na vida de uma professora judia e comunista. Cadernos de História. Belo Horizont, v. 20, nº 32, 2019.
___________________________. Julietta Battistiolli: a trajetória militante de uma operária comunista. Aedos, Porto Alegre, v. 12, nº 16, agosto de 2020.
ROCHA, Lia de Mattos. A vida e as lutas de Marielle Franco. EM PAUTA, Rio de Janeiro, 2º Semestre de 2018 – n. 42, v. 16, p. 274 – 280. Revista da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
TENÓRIO, Patricia Cibele da Silva. A vida na ponta dos dedos: a trajetória de vida de Almerinda Farias |Gama (1899-1999) – feminismo, sindicalismo e identidade política. Brasília: UnB, 2020. Dissertação de mestrado.
Créditos da imagem de capa: Mulher militante do PCB, cuja identidade não foi identificada, discursando ao lado de Prestes. Data provável: 1946. Fundo Polícia Políticas/APERJ In: CORRÊA, Larissa e Nina Teruz Visco. “Falam as eleitas do povo”: vereadoras e comunistas, a atuação das mulheres comunistas no Rio de Janeiro (1946-1948). Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 14, 2022.
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.