Chão de Escola

Chão de Escola #53: A Gigante Brasil Industrial: a industrialização e o trabalho livre no processo de abolição da escravidão

22 DE OUTUBRO DE 2025

             Cristiane Silva Furtado (Historiadora, doutoranda em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Professora do PreparaNEM).

Apresentação da atividade


Segmento: 1º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Brasil Império e República: transformações sociais, econômicas e políticas.

Objetivos gerais:

– Compreender como a formação do trabalho industrial no Brasil se constrói sobre os escombros da escravidão, não como sua negação total, mas como reconfiguração das formas de exploração, exclusão e violência — revelando que a modernização industrial e o racismo estrutural caminharam juntos na construção de um certo projeto de Brasil.

– Analisar como a transição do trabalho escravo para o trabalho livre se deu de forma desigual, excludente e racializada.

– Reconhecer o território da Baixada Fluminense como espaço histórico, marcado por conflitos sociais, lutas por direitos e produção cultural, superando a lógica de que a história só acontece nos grandes centros.

– -Identificar elementos de permanência da lógica escravista na organização do trabalho industrial brasileiro.

– Discutir diferentes projetos de Brasil presentes no processo de abolição e na industrialização.

– Desenvolver pensamento crítico sobre a noção de progresso associada à industrialização.  Questionar a ideia de progresso desvinculada da violência histórica — como a permanência de práticas racistas e formas de exploração do trabalho.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC).

Analisar as transformações nas relações de trabalho e sua relação com lutas sociais e resistências, especialmente no contexto pós-abolição.

Analisar processos históricos de permanência e ruptura, compreendendo temporalidades múltiplas em diferentes contextos sociais.

Identificar e problematizar desigualdades étnico-raciais e territoriais presentes na formação do Brasil.

Relacionar conceitos das Ciências Humanas à formação social, política e econômica do Brasil, valorizando a diversidade de saberes e territórios.

Analisar os impactos das políticas públicas e das dinâmicas socioeconômicas nos diferentes territórios, reconhecendo desigualdades e estratégias de resistência.

Refletir sobre os projetos políticos e culturais que sustentam diferentes narrativas históricas.

Analisar criticamente as políticas e seus efeitos sociais e territoriais

Duração da atividade: 6 aulas de 50 min

AulasPlanejamento
Etapa 1Apresentação e discussão do texto “A Gigante Brasil Industrial” (adaptado)
Etapa 2 e 3Análise de imagens fotográficas da Fábrica e produção de texto
Etapa 4A Fábrica Paracambi hoje

Conhecimentos prévios:

– Pocesso de abolição da escravidão

Atividade

Atividade e recursos: Fotos, mapas, artigo

Aula 1

Recupere com os alunos, as imagens e conhecimentos que os mesmos possuem sobre o que foi a escravidão e o processo de abolição e emancipação.

Faça uma breve apresentação da Companhia Brasil Industrial, indicando quando ela foi instalada, como ela se tornou a maior fábrica de tecidos da América Latina até o início do século XX, localizada na Baixada Fluminense. Evidencie o diálogo com os estudantes, o uso da força de trabalho escravizada e livre, e como a fábrica constituiu um espaço de tensões entre promessas de progresso e permanências de desigualdade racial e social.



Leia o texto abaixo com os estudantes em sala de aula.

Por Paulo Keller

A cidade de Paracambi, localizada a cerca de 80 km do Rio de Janeiro, num sopé na baixada fluminense e já nos limites do vale do café no sul do estado, tem hoje como seu principal símbolo a imagem da fábrica de tecidos da antiga Cia. Têxtil Brasil Industrial. A implantação pioneira desta grande fábrica de tecidos na década de 1870, nesta região, propiciou o surgimento de uma comunidade de trabalhadores têxteis que foi o núcleo principal aglutinador da população que hoje constitui o município de Paracambi. 

Os fundadores desta antiga Companhia eram otimistas em relação à escolha do local de implantação da fábrica. O espaço apresentava um conjunto de vantagens, como a facilidade e comodidade de tráfego,  a existência de um serviço telegráfico e do correio diário, a proximidade do grande mercado da capital (apenas 1h 30min de viagem em via-férrea), a abundância e altura das águas aproveitáveis para moverem o maquinismo da fábrica, além da povoação já existente no local. Todos esses fatores justificavam a escolha das terras da antiga fazenda do Ribeirão dos Macacos, no então município de Itaguay, para sede deste empreendimento industrial. Distava apenas 1 km da Estação Ferroviária de Macacos (inaugurada em 1861), um ramal da Estrada de Ferro D. Pedro II.

A fábrica de tecidos de algodão da Companhia Têxtil Brazil Industrial foi estabelecida inicialmente em 1870. Foi montada em um imponente edifício com 500 pés de comprimento sobre 50 de largura, com 3 andares, além das lojas, com alicerces de pedra e grossas paredes de pedra rústica até o vigamento do 1.o andar; e com paredes de tijolos daí para cima. Contudo, a Companhia não pode ir avante e foi dissolvida. Sendo que, no ano seguinte, em 1871, ela foi reorganizada, idêntica em tudo à primeira, com apenas ligeiras modificações em seus estatutos aprovados em 6 de setembro de 1871. A primeira diretoria eleita era composta pelos fundadores da empresa: Francisco de Assis Vieira Bueno, Zeferino de Oliveira e Silva e Joaquim Dias Custódio de Oliveira, capitalistas de origem portuguesa que haviam acumulado recursos no comércio da capital. 

Essa foi a primeira grande(e até o final da década de 1880 a maior) fábrica de tecidos de algodão do Brasil. A Fábrica Brasil Industrial era equipada com 24.000 fusos e 400 teares, empregando inicialmente 400 pessoas. Neste período a cidade e a província do Rio de Janeiro tornaram-se o principal centro da indústria têxtil de algodão do Brasil.
A falta de uma vila operária estruturada no início do empreendimento gerava dificuldades para superar a escassez de operários. Assim, em 1886, a companhia já havia providenciado casas para os trabalhadores, constituindo uma vila operária. Em 1888 foram concluídas as “obras de saneamento da localidade”. A iluminação elétrica da vila ocorreu em 1919. À medida que se configurava o sistema de fábrica com vila operária, surgia uma ampla rede de serviços que incluía escola, armazém, clube social e esportivo, além de um posto de saúde e de uma capela. Estes serviços oferecidos na vila, tanto funcionavam como mecanismos de controle quanto espaços de sociabilidade dos operários e operárias em sua vida cotidiana, reforçando uma identidade cultural operária expressiva nesta comunidade de trabalhadores.

Essa forte identidade de classe compartilhada foi fundamental em momentos de crise como o vivido em 1918, quando uma grande greve colocou em xeque as formas de dominação e controle social da empresa. Liderados pelos anarco-sindicalistas da União dos Operários em Fábricas de Tecido do Rio de Janeiro, os cerca de 2 mil e 500 operários e operárias de Paracambi paralisaram seu trabalho por vários dias reivindicando a redução das extensas jornadas de trabalho. Apesar de fortemente reprimida, a greve logrou a extinção do trabalho aos domingos e legou uma cultura de resistência que se manifestaria, tanto no cotidiano fabril quanto no espaço público, em diversos momentos nas décadas seguintes.

Fonte: KELLER, Paulo. Companhia Têxtil Brasil Industrial, Paracambi (RJ). Disponível em: https://lehmt.org/lmt93-companhia-textil-brasil-industrial-paracambi-rj-paulo-keller/. Acesso em 11 de agosto d 2025 (Adaptado).

Figura 1 Fachada Fábrica Paracambi (foto: Diário do Rio)
Figura 2 Mapa Paracambi
Figura 3 (Secagem do café. Marc Ferrez. 1885. Coleção Gilberto Ferrez. IMS.)
Figura 4 Foto Aérea Fábrica Paracambi
Figura 5 (Foto: Acervo Laboratório de Estudos de História de Memória do Trabalho (LMT), 1912)
Figura 6 (FAETERJ- Campus Paracambi.)
Figura 7 (Laboratório de Informático – FAETERJ, Campus Paracambi.)

Bibliografia e Material de apoio:

Barra do Piraí. Disponível em : https://www.barradopi.com.br/regiao-do-vale-do-cafe/#google_vignette. Acesso em 14 de julho de 2025. 
Diário do Rio. Disponível em https://diariodorio.com/a-historia-da-fabrica-do-conhecimento-de-paracambi/. Acesso em 14 de julho de 2025.
FAETERJ. Disponível em http://www.faeterj-paracambi.com.br/ Acesso em 12  de julho, 2025.
FURTADO, Cristiane S. A Gigante Brasil Industrial: herança e modernidade no Vale Paraíba Fluminense; a Fábrica Paracambi na segunda metade do século XIX. Espaço e Economia. Rio de Janeiro, Ano VI, n.12, 2018. Disponível em: https://journals.openedition.org/espacoeconomia/3175#:~:text=A%20Companhia%20Brasil%20Industrial%20iniciou,ind%C3%BAstria%20t%C3%AAxtil%20do%20Imp%C3%A9rio%20brasileiro. Acesso em 29 de julho de 2025.
Instituto Cidade Viva. Disponível em: https://www.institutocidadeviva.org.br/inventarios/sistema/wp-content/uploads/2008/06/senhoreseescravos.pdf . Acesso em 15 de julho de 2025.
Laboratório de Estudos de História e Memória do Trabalho (LHEMT). Disponível em:  https://lehmt.org/lmt93-companhia-textil-brasil-industrial-paracambi-rj-paulo-keller/. Acesso em 20/07/2025.


Créditos da imagem de capa: A Voz da Cidade. Acesso em 15 de outubro de 2025. Disponível em: https://avozdacidade.com/wp/reforma-da-fabrica-do-conhecimento-em-paracambi-esta-a-todo-vapor/


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.


Alexandra Veras

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