LEHMT-UFRJ no VIII Seminário Internacional Mundos dos Trabalho: Lançamento do Livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”


No dia 10 de outubro, durante o VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho, será o lançado o livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”. Publicado pela Editora Alameda em parceria com a Fundação Perseu Abramo e apoio do PPGHIS/UFRJ, a obra é organizada por Paulo Fontes, professor do Instituto de História da UFRJ, e reúne 100 artigos curtos escritos por renomados/as especialistas.

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Baseado na série de mesmo nome do portal lehmt.org, esse livro procura justamente dar visibilidade para essa geografia social, ao estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Os textos contam a história de lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Espaços que demarcaram a história do Brasil.

Autores/as presentes no lançamento:

Henrique Espada Lima
Anderson Vieira Moura
Beatriz Mamigonian
Fernando Pureza
Renata Moraes
Paulo Pinheiro Machado
Clarice Speranza
Felipe Azevedo
Silvana Andrade
Frederico Bartz
Felipe Ribeiro
Isabelle Pires
David Lacerda
Roberio Souza
César Augusto Queirós
Thompson Clímaco

LMT #132: Oficinas de conserto de trens da Great Western of Brazil, Jaboatão (PE)



Distante 17 quilômetros de Recife, Jaboatão está localizado na região metropolitana da capital pernambucana, entre a zona da mata e o litoral. Durante décadas, a principal característica da cidade foi a de ser um dos maiores centros ferroviários do país, abrigando as linhas, estações, prédios administrativos e as oficinas de conserto de trens da Great Western of Brazil (GWB). 

Os destinos da cidade e da empresa inglesa começaram a se entrelaçar em 1901, quando a GWB arrendou a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, responsável pela construção do primeiro trecho de via férrea que ligava Recife a Jaboatão, inaugurado em março de 1885. Em 1910, a direção da GWB decidiu transferir as oficinas de Palmares para Jaboatão e a cidade passou a contar com o maior parque de consertos ferroviários do nordeste brasileiro.

A chegada das oficinas aumentou a população e alterou a dinâmica socioeconômica da região. Milhares de postos de trabalho foram criados, uma vila operária foi erguida e obras de infraestrutura viária transformaram a paisagem local. Por volta de 1935, cerca de 600 operários trabalhavam nas instalações como carpinteiros, pintores, serralheiros, torneiros, montadores e outras funções necessárias para manutenção de locomotivas, carros e vagões. Na década de 1960, a quantidade de operários trabalhando nas oficinas aumentou para cerca de 1.500.

Além disso, mais de 1.000 empregados da GWB moravam no entorno das oficinas, alguns deles na Vila Operária de Cascata, construída pela empresa para abrigar as famílias dos trabalhadores da estrada de ferro que chegavam do interior. Os aspectos culturais do cotidiano também foram alterados. Todos os dias de manhã, as sirenes das oficinas apitavam convocando os empregados ao início do expediente, despertando não somente os operários que precisavam bater o ponto, mas também aqueles que moravam nas proximidades, regulando o horário de parte da cidade.


Desde a chegada das oficinas em Jaboatão, a cidade se tornou local de grande concentração de trabalhadores e foco de agitações políticas.


Os ferroviários da Great Western contavam com um sindicato bastante combativo e atuante, que promovia greves com relativa frequência. Os trabalhadores também criaram uma sociedade beneficente dedicada ao pagamento de auxílios e benefícios relacionados à segurança social e à saúde.  Com uma intensa vida comunitária, os empregados da GWB ainda tinham uma Sociedade Musical Operária e um clube chamado Associação Atlética Great Western. Fundado em 1928, o time chegou a disputar a primeira divisão do campeonato pernambucano de futebol em 1936. Com o passar dos anos, a agremiação mudou o nome para Ferroviário Esporte Clube do Recife e em 1955 se tornou o Clube Ferroviário do Recife, que existe até os dias de hoje.

Nos anos 1930, o  Partido Comunista do Brasil (PCB) ganhou importante apoio entre os ferroviários. Não por acaso, o epicentro da Insurreição Comunista de 1935 em Pernambuco se deu em Jaboatão. Uma greve iniciada pelos operários que trabalhavam nas oficinas no início de novembro daquele ano animou os comunistas, que há tempos vinham articulando uma revolta em nível nacional.

Quando a revolta eclodiu em Pernambuco, com o levante do 29º Batalhão de Caçadores, parte dos ferroviários aderiu ao movimento, principalmente aqueles que trabalhavam no parque de consertos. A sede do sindicato dos trabalhadores, localizada na plataforma de trens de Jaboatão e próxima às oficinas, se tornou ponto de apoio dos insurgentes e depósito para armas e munição trazidas das unidades militares sublevadas para serem distribuídas aos entusiastas das causas revolucionárias. O tráfego de trens foi paralisado, veículos da companhia foram colocados à disposição dos rebeldes e funcionários que não aderiram ao movimento foram perseguidos.

Logo após a insurreição ser controlada, tanto o sindicato como a sociedade beneficente deixaram de ser reconhecidos pelo Estado como entidades de representação da categoria e terminaram sendo dissolvidas. Os ferroviários apontados como participantes da revolta foram presos e condenados e presos no Presídio Agrícola de Fernando de Noronha. Após cumprirem a pena, alguns desses trabalhadores desistiram da militância e cortaram totalmente seus laços com o PCB. Outros, no entanto, retomaram as atividades político-partidárias, sendo, inclusive, vigiados pelas forças policiais até o golpe civil-militar de1964, quando uma nova onda repressiva atingiu Jaboatão.

Na década de 1940, os galpões passaram por reformas e as oficinas foram ampliadas, ocupando uma área de 42.227 m². Contudo, em 1948, diante de uma forte crise financeira agravada pela Segunda Guerra Mundial, a GWB antecipou o término da concessão e entregou suas operações para a recém-criada estatal Rede Ferroviária do Nordeste. Em 1957, nova mudança: toda a malha ferroviária brasileira passou a ser de responsabilidade da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA), que passou também a administrar o espólio da GWB.

Com a extinção da RFFSA, em 2007, grande parte das antigas instalações da estrada de ferro inglesa foi abandonada. Atualmente, os passageiros do metrô que descem na estação Jaboatão podem ver parte do que sobrou da antiga estrutura construída pela GWB no início do século XX. É que a moderna estação de metrô está localizada justamente onde antigamente ficavam as oficinas ferroviárias da Great Western e a estação ferroviária, que ainda permanecem em ruínas.

Fac-símile do jornal Folha do Povo (Recife) noticiando a greve dos ferroviários de Jaboatão em novembro de 1935. Folha do Povo, 11 de novembro de 1935.


Para saber mais:

  • LIMA, Bruno Sousa. Jaboatão sublevado: a participação dos ferroviários da Great Western na insurreição comunista de 1935. Dissertação (Mestrado em História). Universidade de Brasília. Distrito Federal. 2023.
  • MUSEU DA PESSOA. Um trem de histórias: registro e disseminação dos saberes e ofícios da Rede Ferroviária do Nordeste – Módulo Pernambuco (5 vols.). Recife: IPHAN, 2010.
  • PROCHNOW, Lucas Neves. O Iphan e o patrimônio ferroviário: a memória ferroviária como instrumento de preservação. 177 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural) – IPHAN, Rio de Janeiro, 2014.
  • SIQUEIRA, Tagore Villarim de. As primeiras ferrovias do nordeste brasileiro: processo de implantação e o caso da Great Western Railway. In Revista do BNDES, Rio de Ja-
  • neiro, V. 9, no 17, p. 169-220, jun. 2002.
  • VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 1935: sonho e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

Crédito da imagem de capa: Vista área dado complexo Ferroviário de Jaboatão nos anos 1960. Acervo Luiz Ruben Ferreira de Alcântara Bonfim. 


MAPA INTERATIVO

Navegue pela geolocalização dos Lugares de Memória dos Trabalhadores e leia os outros artigos:


Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau


Na décima terceira edição da série “Vale a Dica”, Victória Cunha, mestranda em História Social pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica o documentário “2 de Julho: a Retomada”, dirigido por Spency Pimentel e Joana Moncau. O filme narra a jornada do líder camponês baiano Joelson Ferreira em uma produção sobre o bicentenário da independência do Brasil, explorando a luta dos povos negros e indígenas contra o domínio português. A produção revela como esses grupos, muitas vezes ignorados pela memória oficial, desempenharam papéis cruciais na independência. Joelson Ferreira, uma figura central do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Bahia, viaja por locais históricos para relembrar e discutir essas contribuições. A discussão destaca a necessidade de reavaliar a história para reconhecer o papel dos trabalhadores e movimentos populares na independência do Brasil. Para uma análise mais aprofundada do assunto, o Vale a Dica recomenta também o canal de Youtube Labuta do LEHMT/UFRJ, onde a série “Mundos do Trabalho e Independência” explora a relação entre trabalhadores e a Independência do Brasil.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

LEHMT-UFRJ no VIII Seminário Internacional Mundos dos Trabalho: Lançamento do Livro “Na casa e na causa: A organização sindical das trabalhadoras domésticas (Rio de Janeiro, 1961-1973)”, de Yasmin Getirana


No dia 10 de outubro, durante o GT Mundos do Trabalho na UFSC, será o lançado o livro “Na casa e na causa: A organização sindical das trabalhadoras domésticas (Rio de Janeiro, 1961-1973)”. Vencedor do prêmio Ana Lugão Rios, de melhor dissertação do PPGHIS/UFRJ em 2023, o livro de Yasmin Getirana aborda as complexidades das relações e articulações políticas e sindicais do período da Ditadura Civil-Militar a partir da trajetória da Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro (APED-RJ). A pesquisa que deu origem ao livro se baseou em fontes diversas, como entrevistas, jornais da grande imprensa, acervos particulares de militantes, documentos da polícia política e documentos sindicais, bem como leis e projetos de lei.

A diversidade documental ajudou a detalhar com riqueza o cenário político e social dos anos de 1960 e 1970, quando a organização sindical de trabalhadoras domésticas se proliferou no país. Entre os marcos legais da categoria, a lei 5.859/72, geralmente entendida como pouco efetiva, ganha uma nova conotação quando analisamos a lei a partir das intensas negociações ocorridas ao longo da década de 1960 entre diferentes atores políticos e movimentos sociais e sindicais. Ao mesmo tempo, a partir do uso da História Oral, veremos como as trajetórias de vida de cinco trabalhadoras domésticas militantes no Rio de Janeiro foram impactadas e ressignificadas por suas experiências enquanto participantes da APED-RJ.

Livros de Classe #45: Linhas de montagem, de Antonio Luigi Negro, por Francisco Macedo

Neste episódio de Livros de Classe, Francisco Macedo, professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), apresenta “Linhas de Montagem: o industrialismo nacional-desenvolvimentista e a sindicalização dos trabalhadores”, de Antonio Luigi Negro. Publicado em 2004, o livro é fruto da tese de doutorado do autor, defendida em 1997. A obra aborda a organização e resistência dos operários na indústria automobilística do ABC paulista. Através de uma análise detalhada, Negro explora como a construção das identidades operárias e as lutas de classe moldaram o cenário industrial no país.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #43: Minicurso “Mundos do Trabalho e Ensino de História” no VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho



09/10 a 11/10, turno da manhã, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC

O minicurso apresenta a questão da didática da história, a partir das práticas articulas na seção Chão de Escola (https://lehmt.org/category/chao-de-escola/) – projeto que criou uma rede com professores e comunidades de ensino na discussão da História Social do Trabalho. Assim, elabora como as noções de experiência, em E. P. Thompson, e educação popular criam interfaces entre educação e ensino de história. 

Os seguintes temas serão abordados: as bases teóricas para reflexão sobre o ensino de história e os mundos do trabalho; o conceito de transposição didática e sua relação com a renovação da história social; os projetos de história pública e ensino de história, a partir da experiência do Chão de Escola; ocurrículo escolar e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC); e a produção de materiais didáticos numa oficina com uso de documentos.

O público alvo são os estudantes de graduação em história e pedagogia (ou outras licenciaturas), os professores de história das redes públicas e privadas, e os pesquisadores do evento VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho. Espera-se que ao final do curso os participantes compreendam o significado da didática da história na historiografia contemporânea e a maneira como a História Social do Trabalho oferece subsídios para refletir sobre a questão do ensino e na formulação de materiais didáticos.

9/10, horário 8h às 10h – Didática da História e Mundos do Trabalho: comunidades de ensino e história pública (Aula expositiva-dialogada)

10/10, horário 8h às 10h – Currículo escolar, BNCC e educação para relações étnico-raciais: perspectivas da história social do trabalho e transposição didática (Aula expositiva-dialogada e oficina)

11/10, horário 8h às 10h – Imagens, mapas e trabalhadores no ensino de história (Aula expositiva-dialogada e oficina).

BERGER, John. O terno e a fotografia. In: BERGER, John. Para entender uma fotografia, 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, v. 2, p. 177- 229, 1990.

CHRISTOVÃO, João. (2024). Entre o planejado e o vivido: aspectos da estrutura educacional formal da cidade de Cabo Frio e a experiência vivida pelos trabalhadores da cadeia produtiva do sal como elementos de reflexão sobre os desafios do ensino da História Regional hoje. Revista História Hoje, São Paulo, 13(27), p.162-185, 2024.

CITRON, Suzane. Ensinar história hoje. Lisboa: Livros Horizonte, 1990.

FORTES, Alexandre. “E. P. Thompson e Paulo Freire: Agência histórica e educação popular”. Dossiê Especial 100 anos de E. P. Thompson (2024). Laboratório de Estu-dos de História dos Mundos do Trabalho. Disponível em: https://lehmt.org/e-p–thompson-e-paulo-freire-agencia-historica-e-educacao-popular-alexandre-for-tes/. Acesso em: 13 mar. 2024.

GOMES, Ângela de Castro. Direitos e cidadania: algumas considerações preliminares In: ABREU, Martha e SOIHET, Rachel (org). Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

HOOKS, bell. Ensinar a transgredir. Rio de Janeiro: Martinz, 2013

JOSHI, Chitra. Além da polêmica do provedor: mulheres, trabalho e história do trabalho. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 1, n. 2, p. 147-170, nov. 2009. ISSN 1984-9222.

KOUTSOUKOS, Sandra S. M. Negros livres, forros e escravos no estúdio do fotógrafo. In: KOUTSOUKOS, Sandra S. M. Negros no estúdio do fotógrafo: Brasil, segunda metade do século XIX – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Trabalhadores negros e o paradigma da ausência: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, set./dez. 2016.

OLIVEIRA, Samuel, PUCU, Luciana, TORRES, Claudiane. Mundos do Trabalho e Ensino de História. Revista História Hoje, São Paulo, 13(27), p.4-30, 2024.

_______. Ensino de História e Mundos do Trabalho nas escolas: o “Chão da Escola” como prática de História Pública. In: BEZERRA, Danilo Alves, RIBEIRO, Felipe Augusto Alves dos Santos. (Org.). Ensino de História: teoria, práticas e novas abordagens. Recife: Edupe, 2023, p. 267-289

_______. A História Social do Trabalho em sala de aula. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, n.391, p. 1-7, 2022

RÜSEN, Jörn. Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Editora UFPR, 2010

THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011 (Vol.1, 2, 3).

THOMPSON, Edward Palmer. Educação e Experiência. In: E. P Thompson. Os Românticos.  A  Inglaterra  na  era  revolucionária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Lançamento “Niterói Operária: trabalhadores (as), política e lutas sociais (1942-1964)”, de Luciana Pucu Wollmann


É com grande satisfação que Luciana Pucu Wollmann, coordenadora do Chão de Escola, seção do Lehmt-UFRJ, convida a todos e todas para a cerimônia de lançamento do seu livro “Niterói Operária: trabalhadores (as), política e lutas sociais (1942-1964)”. A publicação é resultado do Concurso de Monografias – Prêmio APERJ 2021.

O lançamento integra a programação de 93 anos do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). Quem desejar participar do evento, deve se inscrever no link: www.93aperj.com

Quem quiser comparecer ao lançamento apenas, pode acessar o link do evento “lançamento do livro” e se inscrever “adquirindo o ingresso R$0,00”. Segue o link:
https://www.93aperj.com/event-details/lancamento-do-livro-vencedor-do-premio-aperj

Data: 30 de agosto de 2024, às 16h
Local: APERJ – Praia Botafogo, 480 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ.

Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins



Na décima segunda edição da série “Vale a Dica”, João Christovão, doutor em História Social e pesquisador do LEHMT/UFRJ, indica o espetáculo teatral SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins. SAL é um espetáculo teatral que aborda a decadência das salinas fluminenses na segunda metade do século XX e os dramas e lutas vividos pelos trabalhadores do sal daquela região ao longo desse processo. O espetáculo utilizou como uma de suas fontes de pesquisa a tese de doutorado “Trabalhadores do Sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabofrienses – 1940/1974”, de autoria de João Christovão. Tendo estreado no dia 15 de agosto, o espetáculo ficará em cartaz até o dia 8 de setembro, sempre de quinta a domingo, às 20h30, no teatro SESC-Copacabana, que fica na rua Domingos Ferreira, 160.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

Livros de Classe #44: Nasci nas matas, nunca tive senhor: história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas, de Eurípedes Funes, por Caio Paião

Neste episódio, Caio Paião, pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta o livro “Nasci nas matas, nunca tive senhor: história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas”, de Eurípedes Funes. Publicado em 2022, o livro é fruto de sua tese de doutorado, defendida em 1995, e aborda o processo de construção de comunidades mocambeiras, formadas durante o século XIX no Estado do Pará.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

LMT #131: A ‘Rua do Carvão’, Manaus (AM) – Sérgio Carvalho de Lima



Quem transita hoje pelo cruzamento das avenidas Sete de Setembro e Castelo Branco, confluência dos bairros de Cachoeirinha e Educandos, na zona sul de Manaus, e observa a permanência de uma parte da antiga Usina de Viação dos bondes, talvez não imagine que, durante muito tempo, funcionou ali um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. O lugar ficou conhecido como a ‘rua do carvão’, nome pelo qual grande parte dos produtores e vendedores de carvão, os carvoeiros, a ele se referiam. Entre as décadas de 1940 e 2010 foi um espaço de sustento para dezenas de famílias.

Pelo menos desde o início do século XX, em virtude da ausência de carvão mineral no Amazonas e das dificuldades de sua importação, o carvão vegetal, juntamente com a lenha, sustentava a cidade como uma das matérias-primas para a geração de energia, tanto nos mais diferentes ramos de atividades, quanto no ambiente doméstico. Isso contribuiu para que uma parcela significativa da população se dedicasse à produção de carvão vegetal nos arredores da cidade e municípios próximos, assim como a comercialização do produto. Escritores e memorialistas, sobretudo das décadas de 1940 e 1950, como Moacir Andrade, Jeferson Peres e Thiago de Melo, destacam em suas obras a atividade carvoeira nas ruas de Manaus. Também mencionam os locais de produção do valioso item, como Tarumã, Estrada do Aleixo, Colônia Campos Sales, àquela época nos arrabaldes da cidade, hoje bairros populosos.

Foi nesse contexto que se constituiu, nas proximidades da antiga Usina de Viação, um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. A partir de 1939, a Usina de Viação tornou-se uma Sub-Usina de luz, ficando responsável também pela geração de parte da energia elétrica da cidade e funcionando à base de carvão vegetal e lenha, o que certamente tornou-se um atrativo para muitas pessoas que trabalhavam com a produção e comercialização destes produtos.

Nesta época, o Amazonas viveu um breve momento de euforia econômica, ocorrido com a chamada “Batalha da Borracha” (1943-1945), quando milhares de migrantes foram mobilizados para os seringais amazônicos a fim de produzir borracha para os aliados na Segunda Guerra Mundial.


Com o fim da guerra, em 1945 Manaus passou a receber um intenso fluxo migratório de nordestinos e ribeirinhos em busca de novas alternativas econômicas de sobrevivência, sendo que muitos deles se dedicarão à atividade da carvoaria.


Neste cenário, a área onde funcionava a Sub-Usina revelava-se estratégica para a comercialização do carvão, pois além da demanda pelo produto oriunda da própria usina, havia ainda as necessidades da população dos bairros próximos. Além disso, segundo relatos de antigos trabalhadores, como Wilton Pereira, a proximidade com o Igarapé do Educandos, um curso d’água que se conecta ao Rio Negro, facilitava os negócios com o produto, sobretudo das cargas vindas do interior, geralmente transportadas em canoas e batelões. A opção por aquele local revelava um senso de racionalidade ao mesmo tempo que desmistifica a ideia de que estes trabalhadores seriam movidos por um mero instinto de sobrevivência.

Embora não haja estatísticas específicas, pode-se afirmar que havia muitos trabalhadores envolvidos nessa atividade, haja vista os relatos que mencionam os diversos pontos de produção e comercialização do produto tanto em pontos fixos, quanto ambulantes. Embora a maior parte dos envolvidos nessa atividade fosse composta por homens, não era incomum haver mulheres comercializando carvão. Além disso, muitas crianças acompanhavam seus pais, fabricando ou vendendo o produto. A partir da década de 1970 o carvão vegetal foi perdendo espaço como fonte energética essencial da cidade, mas não deixou de continuar presente no cotidiano urbano.

Em outubro de 2003 a ‘rua do carvão’ foi alvo do Ministério Público do Amazonas que instaurou um inquérito civil cujo foco era exatamente o comércio de carvão realizado no local. A empresa concessionária de energia elétrica, então denominada Manaus Energia, proprietária do prédio da antiga Usina de Viação, acionou o órgão alegando danos ao seu patrimônio e à saúde dos funcionários, ocasionados, segundo a empresa, pela emissão de poeira gerada com o descarregamento e manuseio de carvão na área. A denúncia ocorreu em um contexto de intervenções urbanas promovidas pelo Estado, que visavam sanear os igarapés, suas margens e promover o ‘embelezamento’ dos entornos. Este projeto, implementado no início dos anos 2000, foi denominado Prosamin (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus).

Após sete anos de conflitos e resistência dos trabalhadores da “rua do carvão”, a Prefeitura de Manaus conseguiu retirar os carvoeiros do espaço que por décadas ocuparam. Nos últimos anos, a área que atualmente abriga uma das sedes da empresa Amazonas Energia, foi reurbanizada e qualquer referência à histórica presença e trabalho os carvoeiras foi apagada.  

Ao longo de pelo menos sete décadas, os carvoeiros fizeram parte do cotidiano da cidade neste local específico, atendendo às demandas econômicas de moradores e diversos setores da economia manauara. Na sua luta diária por trabalho, moradia e sobrevivência, foram testemunhas de diversas transformações sociais e urbanas ocorridas na cidade, sendo que nesse processo acabaram sendo tragados por elas.

Local onde funcionou a rua do carvão na atualidade. Fonte: Google Maps, 2023.


Para saber mais:

  • ANDRADE, Moacir. Manaus: Ruas, Fachadas e Varandas. Manaus: Editora Umberto Calderaro,1985.
  • LIMA, Sérgio Carvalho de. Carvoeiros – trajetória do trabalho e dos trabalhadores carvoaria em Manaus (1945-1967). Dissertação de Mestrado. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2017.
  • LIMA, Sérgio Carvalho. ‘Não existia emprego e a gente se virava’ A cidade em crise e o trabalho dos carvoeiros e carvoeiras: Manaus (1945-1967). Canoa do Tempo (UFAM), v. 10, p. 153-175, 2018.
  • LIMA, Sérgio Carvalho. “Carvoeiros: O trabalho e as relações com o espaço urbano (Manaus: 1945-1967)” Maduarisawa, v. 5, p. 41-53, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/manduarisawa/article/view/9183.

Crédito da imagem de capa: Rua do Carvão em Manaus. Fonte: Jornal Amazonas em Tempo (15/06/2004).


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As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.