Maria Luiza Coelho (estudante de licenciatura em História pela UFF, residente pedagógica do PIRP/CAPES desde outubro de 2022)
Matheus Lira da Silva (graduando de licenciatura em História pela UFF, residente pedagógico do PIRP/CAPES desde maio de 2023).
Luciana Pucu Wollmann (professora de História da rede municipal de Niterói e da rede estadual do Rio de Janeiro. Doutora em História pela FGV e integrante do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/ UFRJ), onde coordena a seção “Chão de Escola”)
Apresentação da atividade
Segmento: 6º ano do Ensino Fundamental
Unidade temática: Lógicas de organização política e História: tempo, espaço e formas de registro.
Objetos de conhecimento:
– As noções de cidadania política
– Formas de registro da História e da produção do conhecimento
Objetivos gerais:
– Contextualizar o período anterior ao golpe de 1964, procurando apresentar os principais aspectos que identificam esse período como uma “democracia de massas”;
– Apresentar como se deu a instalação da ditadura empresarial-militar no Brasil em 1964;
– Identificar os atores políticos que resistiram e lutaram contra a ditadura, bem como o aparato repressivo montado pela ditadura para reprimi-los;
– Correlacionar o contexto que levou ao golpe de 1964 com os capítulos da história recente do Brasil;
– Sensibilizar os/as estudantes para o uso de fontes históricas, bem como para o de cruzamento das fontes;
– Refletir sobre o trabalho do/a historiador/a, que se baseia em evidências e também na interpretação das fontes.
Aulas | Planejamento |
02 | Apresentação do tema e contextualização |
03 | Realização da atividade |
04 | Apresentação dos grupos |
Conhecimentos prévios:
– Reflexões sobre o que é História e sobre o ofício do/a historiador/a;
– As fontes históricas, a suas tipologias e variedades;
Atividade
Recursos: datashow, som e cópias impressas.
Etapa 1: Apresentação do tema e contextualização
Sugerimos ao/ à colega que contextualize o período histórico anterior ao golpe de 1964, bem como as principais características da ditadura que se instalou no Brasil e perdurou por 21 anos (1964-1985). A ideia aqui é procurar debater com os/as alunos/as que, apesar de ser um capítulo recente da História do Brasil, este é um tema pouco estudado e conhecido entre a população brasileira.
Achamos pertinente ainda, correlacionar o golpe de 1964 com acontecimentos recentes, tais como o golpe de 2016, que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a tentativa de golpe em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Como material de apoio, sugerimos os materiais abaixo:
1945 a 1964 – Democracia de massas (Memorial da Democracia):
Série “Incontáveis” (Fórum da Ciência e Cultura da UFRJ). Episódio 1 (Trabalhadores na ditadura):
Você sabia que entre 1964 e 1985 existiu uma ditadura no Brasil? (PowerPoint, clique para baixar)
Etapa 2: Realização da atividade
O estranho caso da morte do operário Luiz
Sugerimos ao ou à colega que projete em um data-show as seguintes imagens:
No dia 30 de abril de 1968, o trabalhador Luiz Fernando foi encontrado morto longe de sua casa, no município de Osasco, em São Paulo. A vítima trabalhava em uma empresa metalúrgica há alguns anos e, dentro dessa empresa, era conhecido por sua determinação em lutar pelos direitos dos trabalhadores, o que o tornou uma figura conhecida pelas autoridades e por grandes empresários locais. Sua morte deixou a comunidade em estado de choque e apreensiva em relação ao que realmente ocorreu naquela noite.
Segundo a polícia militar, havia duas hipóteses sobre a morte de Luiz Fernando. A primeira hipótese é de que Luiz Fernando teve a sua casa invadida por assaltantes e que, ao tentar reagir, foi sequestrado e morto a tiros. A segunda hipótese da polícia é de que Luiz Fernando participava de muitos conflitos dentro da empresa e que por isso, algum colega da empresa poderia ter cometido o assassinato.
Luiz era conhecido por ser uma pessoa bastante querida entre os seus colegas de trabalho e também por ajudar os seus vizinhos em suas tarefas domiciliares. A polícia averiguou que a maçaneta da casa de Luiz Fernando estava quebrada, porém, não conseguiu identificar nenhum pertence roubado da casa, apenas um caixa com alguns folhetos que estavam bagunçados no chão. Além disso, segundo testemunhas da região, não foi possível ouvir nenhum disparo naquela noite.
Algumas evidências ajudam a elucidar o caso. Dentre os documentos encontrados no chão da casa de Luiz Fernando, havia diversos folhetins referentes a uma greve que iria ocorrer nas semanas seguintes:
Com a vítima, além de seus pertences, foi encontrada também uma carteirinha de filiação:
Uma notícia de jornal que coletou relatos de outros trabalhadores da fábrica também traz algumas pistas sobre o caso:
1 de maio de 1968, Osasco, São Paulo
DIA DO TRABALHADOR COM GRANDE PERDA OPERÁRIA
Trabalhadores da Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários (Cobrasma) relataram a nossa equipe jornalística que a morte do operário Luiz Fernando Moreira da Silva, registrada no dia 30 de abril, véspera do Dia do Trabalhador, teria sido negligenciada pela polícia.
Um dos operários entrevistados, que preferiu não se identificar, nos contou:
• Luizinho era gente fina. . . não tem porque alguém ter feito isso com ele. Sabe um cara que não tem inimigos? Quer dizer, até tinha, mas aí já não me cabe, senão também eu me prejudico. Mas que essa história tá estranha, tá sim!
Um morador da vizinhança onde Luiz Fernando morava com sua família também relatou:
• Olha, eu ouvi sim um som de porta arrombada, mas som de tiro não teve não. Não faz sentido também terem roubado só a casa de Luiz! Todo mundo acha que tá estranho isso, mas ninguém quer falar. . . é melhor ficar quieto pra não ser o próximo.
Procuramos também a esposa de Luiz Fernando, mas os vizinhos informaram que no dia seguinte à tragédia a viúva já havia se mudado para a casa de uma tia em outro estado.
A polícia militar chegou à conclusão de que as evidências encontradas não tinham relevância para a conclusão do caso e encerrou o inquérito afirmando que a morte de Luiz Fernando foi ocasionada por uma tentativa de assalto. Após a notícia do caso chegar aos jornais, houve indignação dos familiares de Luiz e dos trabalhadores da empresa metalúrgica. Segundo eles, a polícia ignorou qualquer evidência encontrada no caso e decidiu encerrar o inquérito rapidamente. Além disso, segundo os mesmos, alguns militares que trabalhavam no caso demonstraram repulsa em relação às práticas organizadas pelos sindicalistas.
Agora que você já tem as evidências, reúna-se com seus colegas para responder às seguintes perguntas:
1) A versão do crime emitida pela polícia parece ser verdadeira?
2) Se a resposta for negativa, quem você acha que assassinou Luiz Fernando?
3) Escreva aqui a reconstituição do crime, explicando as pistas apresentadas.
Etapa 3: Apresentação dos grupos
Nesta etapa, cada grupo deve apresentar a sua versão do crime. O/a professor/a deve registrar no quadro o resultado de cada equipe. É possível identificar que, por mais próximas que as versões se apresentem, elas apresentam algumas diferenças. A ideia aqui é aproveitar a atividade e explicar que é possível verificarmos algo parecido na disciplina histórica, que ainda que se baseie em evidências, pode apresentar diferentes versões.
Ao final da atividade, o docente deve explicar que não existe propriamente uma resposta correta para as perguntas. O objetivo do trabalho era fazer os/as estudantes atentarem para as informações das fontes, inserindo-as dentro do contexto. Sendo assim, desempenhou bem a atividade os grupos que conseguiram correlacionar às fontes para construir a sua versão.
Bibliografia e Material de apoio:
Brasil de Fato Minas Gerais. Primeira grande greve após o golpe de 64 completa meio século. Disponível em: https://www.brasildefatomg.com.br/2018/05/29/primeira-grande-greve-apos-o-golpe-de-64-completa-meio-seculo. Acesso em: 28 mar. 2024.
Centro de Documentação e Memória (CEDEM). O grupo de Osasco e a greve de julho de 1968. Disponível em: https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/626/o-grupo-de-osasco-e-a-greve-de-julho-de-1968. Acesso em: 27 mar. 2024.
CUT (Central Única dos Trabalhadores). Perseguição da ditadura chegou a 10 mil dirigentes sindicais. Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/memoria-perseguicao-da-ditadura-chegou-a-10-mil-dirigentes-sindicais-2fe3. Acesso em: 27 mar. 2024.
Memorial da Democracia. Exército reprime a greve de Osasco. Disponível em: https://memorialdademocracia.com.br/card/exercito-reprime-a-greve-de-osasco. Acesso em: 27 mar. 2024.
Créditos da imagem de capa: VANNUCHI, Camilo. Neste Finados, relembre os 434 mortos e desaparecidos da ditadura. Universo Online (UOL), 02 de novembro de 2019. Disponível em: https://camilovannuchi.blogosfera.uol.com.br/2019/11/02/neste-finados-relembre-os-434-mortos-e-desaparecidos-da-ditadura/
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.