Professora Carolina Dantas (Escola Politécnica/FIOCRUZ e ProfHistória UFF)
Apresentação da atividade
Segmento: Ensino Médio
Unidade temática: Trabalho, racismo e política
Objetos de conhecimento:
– As noções de cidadania política
– Formas de registro da História e da produção do conhecimento
Objetivos gerais:
– Identificar as formas de exclusão e estratégias de participação política experimentadas por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República;
– Identificar as características principais do processo de racialização ocorrido simultaneamente ao fim da escravização no Brasil;
– Problematizar a desimportância das eleições e do parlamento na Primeira República;
– Analisar os significados dos silenciamentos historiográficos acerca da atuação dos negros, incluindo os trabalhadores, após a abolição, problematizando a produção da naturalização de estereótipos sobre eles.
Aulas | Planejamento |
01 e 02 | Etapa 01 |
03 | Etapa 02 |
04 e 05 | Etapa 03 |
06 | Etapa 04 |
07 e 08 | Etapa 05 |
Conhecimentos prévios:
– Abolição da escravização;
– Proclamação da República,
– Eleições e imigração estrangeira na Primeira República;
Atividade
Recursos: Computador; projetor multimídia (datashow); acesso à internet; caixa de som; papel pardo e material de desenho (opcional)
Etapa 1
Resumo e pontos-chave da etapa
Levantamento da bagagem de conhecimento dos estudantes; pesquisa em livros didáticos de História; comparação entre os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de artigos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”.
Professor(a), nessa primeira etapa, vamos fazer o levantamento da bagagem de conhecimento da turma, propor uma pesquisa em livros didáticos de História e comparar os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de textos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”. Assim, a proposta para esse momento é a (o) docente verificar a bagagem de conhecimento da turma sobre as seguintes questões:
Atividade 1
Solicite aos estudantes que reflitam e respondam oralmente as questões abaixo para que o professor(a) sistematize no quadro dialogado as respostas. Em seguida os estudantes podem reproduzir as respostas do quadro em seu caderno.
a. “O que aconteceu com os negros após a abolição da escravização em 1888? Para onde os negros foram? O que fizeram?”.
Atividade 2
A proposta para esse momento é que os estudantes se reuniram em grupos de quatro e pesquisem em livros didáticos de História (material didático de História em uso pela turma) as respostas às questões anteriores e registrem como a história dos negros é contada no livro (ou seja, quando e como aparecem nos livros didáticos de história).
Professor(a), as pesquisas consolidadas sobre livros didáticos de história indicam que os negros aparecerão majoritariamente como escravizados e após a abolição desaparecem da história contada. Alguns materiais didáticos trazem boxes com personagens, em geral, como exceções ou deslocados da sua historicidade. Nesse momento a(o) docente também pode recuperar alguns conhecimentos prévios dos estudantes necessários à investigação/pesquisa em História, tais como fontes e sujeitos históricos, procedimentos de investigação;
Atividade 3
A proposta para esse momento é que a(o) docente direcione e oriente os estudantes: a) sistematização dos conhecimentos trazidos pelos estudantes e o conhecimento histórico sobre os negros existente nos livros didáticos das ocorrências/dados localizados a partir das ênfases e ausências; b) comparação entre as ocorrências/dados localizados, problematizando-os. Por fim, concluir essa etapa com a leitura/debate do trecho do artigo Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento e O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu, indicados abaixo. Sugere-se que a (o) docente a turma, juntos, sistematizem uma conclusão do debate que fique registrada nos cadernos.
Trecho 01 – Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento
“(…) A historiografia que investiga trabalhadores pobres e o movimento operário na República tende a não incluir o componente cor dos indivíduos pesquisados em suas páginas. Essa ausência torna-se ainda maior nas pesquisas voltadas para os séculos XX e XXI, quando a cor dos trabalhadores é frequentemente invisibilizada. No tocante àquelas que exploram as últimas décadas da escravidão e as cinco primeiras décadas republicanas, período abordado neste artigo, o leitor perceberá a ausência da participação do negro em boa parte delas (…) Alguns se defendem culpando as fontes que não trazem a cor dos trabalhadores ou alegando que não conseguiram tempo para “ir atrás”, (…) Reconhecemos as dificuldades enfrentadas em alguns trabalhos, mas, perguntamo-nos, será que dialogamos com colegas da escravidão e do pós-abolição para buscarmos outras fontes e ferramentas teóricas e metodológicas sensíveis à participação da experiência de negros e negras na formação do mundo do trabalho e do próprio movimento operário (…) ? (…) Essa ausência leva-nos à reafirmação da história única, marcada pela superioridade cultural e racial dos imigrantes que se avolumaram no Sudeste e Sul do país no fim da escravidão. Retira-nos o conhecimento de uma sociedade cuja diversidade racial era imensa, reduzindo-a à branquidade e à mestiçagem (Sovik, 2004: 376), estando a primeira nos melhores ofícios e posições e a segunda nos limites da pobreza e da sujeição. Impede-nos, ainda, a compreensão dos males provocados pelo racismo para a sobrevivência e ascensão socioeconômica da população negra e indígena do século XIX até os dias atuais. (…) Por que todas essas histórias são importantes nos dias de hoje? Na prova do vestibular da Unicamp de 2001, uma questão causou grande embaraço aos avaliadores: “O que aconteceu com o negro depois da escravidão”. As respostas descreviam os negros como seres patológicos frente a uma sociedade branca, asséptica e superior. Diziam que as negras prostituíram-se, os homens tornaram-se vagabundos, bêbados, presidiários e favelados, por terem sido coisificados na escravidão e, por isso, se terem tornado incapazes de se integrar à sociedade de classes (Nascimento, 2005). A culpa e a anormalidade, que os levara às margens da sociedade, recaíam uma vez mais sobre os próprios negros.
Bom, se prostituir-se foi uma necessidade para negros e negras brasileiras, se roubaram, mendigaram e tiveram de construir telhados de zinco, eles e elas não estavam sozinhos na história. Não são poucos os exemplos na trajetória da humanidade que apresentam grupos, independentemente da sua cor, sem direitos a privilégios ou a uma refeição diária, que se viram forçados a isso (Geremek, 1995; Goldman, 2014; Guy, 1991; Bresciani, 1994). Entendo a maior parte destas ações como formas de sobrevivência para abocanhar o que lhes foi usurpado enquanto direitos, mesmo quando infelizmente a violência foi usada. (…) Não há como negar que a maior parte dos negros(as) foi “bem-comportada”: trabalhou duro, foi explorada, humilhada em charges de jornais, classificada com os mais torpes xingamentos, estudou em escolas mequetrefes, viu sua ingenuidade expirar-se ainda na infância, sofreu algum tipo de assédio sexual, teve seus punhos atados pelas algemas da polícia, (…), perdeu entes queridos por um péssimo diagnóstico médico, foi preterida no emprego. Mas esta população negra também rodava no santo nos terreiros, desfilava seu carnaval, ia à coroação dos Reis do Congo, sambava como um mestre sala dos mares, lutava por um pedaço de terra, trabalhava nas fábricas e indústrias do Mundo do Trabalho”.
Fonte: https://www.scielo.br/j/eh/a/vBTQbYFXtqwMXCHR6sfsN7Q/?lang=pt
Trecho 02 – O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu
“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma história não contada do racismo e das lutas antirracistas – tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida, sobre um único destino para os libertos: “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização.
Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.
De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República, o “povo” e a população negra, sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos, teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas.
[Há] indicadores de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas – muito menos esquecidas no pós-abolição. Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais, mobilizações eleitorais e sindicais, batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”
Fonte: https://conversadehistoriadoras.com/2020/09/06/por-uma-outra-historia-do-brasil-a-aula-5-esta-no-blog/
Etapa 2
Resumo e pontos-chave da etapa
A partir da leitura/análise de dois documentos – um discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre uma manifestação contra a sua exclusão da Câmara dos Deputados em 1909 – conhecer outros lugares/espaços políticos ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República; conhecer quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros.
Professor(a), a partir da leitura/análise de dois documentos: o discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre a manifestação contra a exclusão de Monteiro Lopes da Câmara dos Deputados em 1909, oriente os estudantes a refletirem, conhecerem e problematizarem outros lugares/espaços ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República: a política e o parlamento. Assim, os estudantes estarão conhecendo quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros quebrando alguns estereótipos.
Atividade 1
Professor(a), a proposta para esse momento é propor uma leitura, contextualização e análise do discurso do advogado e deputado negro Monteiro Lopes feito no dia 13 de maio de 1902 e a notícia da mobilização realizada por trabalhadores negros contra a exclusão desse político da Câmara federal de deputados em 1909. Ambos os documentos foram publicados em jornais na Cidade do Rio de Janeiro. O documento poderá ser projetado para uma leitura coletiva da turma ou reproduzido para os grupos de estudantes.
Professor(a), retome com os estudantes os procedimentos de pesquisa e tratamento da informação característicos do trabalho das (dos) historiadoras(res), como responder às perguntas: “Quando? Onde? Quem? Como? Por que?”. Sinalize que é preciso estar atento para os marcadores raciais que aparecem nos documentos indicados. Lembre-se que o objetivo dessa análise é levar os estudantes a identificar que parte da população negra, especialmente trabalhadores negros, não estavam alheios à política, inclusive em sua dimensão formal, e tinham suas próprias estratégias de atuação e projetos de poder, como o contato e a mobilização de uma rede de associações negras no Rio de Janeiro e pelo Brasil; pressões públicas a políticos; a denúncia pública da discriminação racial; a ocupação de espaços no parlamento, na imprensa, nas ruas e em associações operárias, com comícios e meetings; a reivindicação da ampliação de direitos políticos e sociais, bem como, da igualdade civil de fato e não somente na letra da lei. Ao término dessa etapa, será necessário que o(a) docente sistematize as respostas e conclusões no quadro para que os estudantes anotem no caderno.
Documentos
Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 15 de maio de 1902, p. 1 (discurso)
“O ilustre advogado negro vem hoje, como em todos os aniversários do 13 de maio, abrir o coração entre seus irmãos.
“Nem tudo está feito, apezar da grandeza da data, em cuja commemoração se associam todas as raças do Brasil.
A escravidão acabou; a tempestade passou é certo, mas ao captiveiro sobreviveu o preconceito de côr, que a ressaca da escravidão (Prolongados aplausos).
Para essa nova companhia, concita as dedicações que se immortalisaram na campanha abolicionista e principalmente do general do 13 de maio, José do Patrocínio. É preciso acabar de dissipar de todo a treva, em que a sociedade tacteia, a noite do preconceito, que não deixa ver a pureza o clarão de fraternidade que a 13 de maio anunciou.
À raça negra não foi restituído integralmente o direito que ella tem à vida social: o preconceito ahi está ainda a fechar-lhe o caminho da igualdade.
O que faz com que não se sinta o mal que opprime ainda a raça sofredora é essa força a que se referiu sr. Sabino Junior; seu amigo e companheiro, desde o tempo da Republica de estudantes negros de Recife; a resignação.
Seja com essa arma, seja pela fria conquista do direito o que é preciso é impedir que o preconceito rasgue a página gloriosa do 13 de maio, realisando sobre os espíritos as torturas que a escravidão já não póde exercer sobre a matéria”. Após a aclamação, é dada a palavra ao eminente sr. Dr. Vieira Fazenda.”
Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (clique p/acessar)
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1909, p. 2
Etapa 3
Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento sobre contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com suas estratégias e contradições; d) Identificar as formas como o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.
Professor(a), a proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento do contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com duas estratégias e contradições; d) Identificar de formas o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.
Atividade 1
Dividir a turma em quatro grupos para que, com o auxílio da (o) docente, pesquise as respostas para as seguintes questões:
1) Quem foi Monteiro Lopes?
2) Quem/qual era a sua base de sustentação política que o fez um “líder da raça negra” na Primeira República?
3) De que formas se organizaram e se mobilizaram?
4) Quais foram a suas experiências com o racismo e com a discriminação racial? As respostas devem ser apresentadas por cada grupo oralmente com debate e conclusões direcionados pela (o) docente e registradas no quadro dialogado. Essa atividade também pode ser indicada como “para casa” na aula anterior, caso o(a) docente tenha essa possibilidade. Nesse caso, a “atividade 1” será a apresentação pelos grupos de suas investigações históricas.
Fonte – Monteiro Lopes e Eduardo das Neves: histórias não contadas da primeira república p. 15 a 108 (clique p/acessar)
Sugere-se que, caso a turma tenha dificuldade, o(a) docente indique as partes específicas do livro para cada grupo, de modo a agilizar o trabalho de pesquisa.
Imagens ilustrativas de Monteiro Lopes
Atividade 2
Após as leituras, pesquisas e debate anteriores, é essencial o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos sobre o contexto do pós-abolição brasileiro. Sugere-se a leitura conjunta e o debate dos textos indicados abaixo. Professor(a), selecione trechos dos textos em acordo com os níveis de dificuldade compatíveis com a turma ou mesmo, se for mais adequado ao seu “contexto de sala de aula”, de fazer uma exposição-sistemática ou mapa mental das pesquisas/argumentos de cada artigo. Destaca-se a necessidade de problematização das seguintes questões:
a) O papel das eleições e da participação política de trabalhadores, especialmente negros, na Primeira República e não só no Rio de Janeiro, como o caso da eleição de Monteiro Lopes demonstra;
b) Como ocorreu o processo de crescente racialização simultaneamente ao fim da escravidão no Brasil e sua historicidade;
c) As variadas formas de protagonismo negro na Primeira República.
Sugestões de textos para aprofundamento do tema
1) Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil (introdução), de Gabriele Sampaio e Marcelo Balaban, p. 7 a 15 (clique p/acessar)
2) Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas, de Carolina Dantas, p. 141 a 152 (clique p/acessar)
3) A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação, de Angela de Castro Gomes e Martha Abreu (clique p/acessar)
4) À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República, de Felipe Souza e Aldrin Castellucci (clique p/acessar)
Etapa 4
Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1 e consolidar/sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos (e não históricos) identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um “vídeo-debate” e da exposição pela (o) docente de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.
A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1, consolidar e sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos e não históricos, identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um vídeo-debate e da exposição pelo professor(a) de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.
Atividade 1
Assistir coletivamente os trechos dos documentários indicados abaixo com o objetivo de provocar os(as) estudantes para o debate sobre os sentidos e experiências da liberdade para a população negra e dos silêncios historiográficos acerca da sua presença e participação política da população na Primeira República, especialmente dos sujeitos em tela nas atividades anteriores. Após assistir e promover o debate, priorizando a produção de um ambiente seguro e de uma escuta atenta dos estudantes, já que estamos tratando de um “tema sensível” (ver indicações de leitura para a (o) docente nas referências bibliográficas). Indica-se também a necessidade do(a) docente fazer breves exposições de conceitos como Racismo, Preconceito Racial, Discriminação Racial e Democracia racial, pontuando com precisão o conteúdo e a historicidade dessas definições, já que são termos/conceitos que certamente apareceram ao longo das atividades e necessitam de embasamento para a consolidação da aprendizagem proposta aqui. Sugere-se para isso o artigo Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão (clique p/acessar), de Nilma Lino Gomes.
Documentário Zumbi somos nós (24m 42s a 28m 34s)
Documentário A última abolição (1m 35s a 1m 51s)
O documentário encontra-se disponível no Globoplay (clique p/acessar).
A partir desse momento o professor(a) tem a possibilidade de encerrar essa atividade na Etapa 4 com o vídeo-debate ou prosseguir para a Etapa 5 e fazer uma culminância a partir da preparação realização de uma exposição de minibiografias de personagens históricos negros na escola em integração com a Área de Linguagens (Língua Portuguesa e Literatura).
Etapa 5
Resumo e pontos-chave da etapa
Manuseio por meio de “procedimentos de pesquisa” orientado pela (o) docente do “Banco de informações e imagens de biografias” do “Projeto Personagens do Pós-abolição”; elaboração de critérios para seleção e inclusão de biografados; seleção e pesquisa das biografias a serem expostas; elaboração dos textos/imagens para as minibiografias; montagem da exposição.
Curadoria, elaboração e montagem da Exposição Você me conhece?” – Histórias não contadas da Primeira República: minibiografias de personagens históricos negros.
Atividade 1
Professor(a), a partir do banco de informações e imagens disponibilizados no site do Projeto Personagens do Pós-Abolição (clique p/acessar) debata e decida coletivamente com os estudantes quais serão os critérios de inclusão de personagens na Exposição (curadoria) para selecioná-los; nesse momento, oriente que as(os) estudantes sejam divididos em duplas e cada uma delas deverá redigir uma minibiografia em 1ª pessoa (no gênero textual autobiografia), como se fossem o próprio personagem se apresentando ao espectador, buscando produzir um efeito de sentido que responda à pergunta que dará título à Exposição: “Você me conhece?”, pois assim, se poderá induzir o espectador a uma reflexão sobre as possíveis razões que o levam a ignorar a existência daquele personagem e de sua história após anos de escolarização e/ou contato com variadas mídias. Uma imagem do biografado também deverá ser selecionada para estar na minibiografia.
Sugere-se também que a Exposição pode ser elaborada e montada a partir dos recursos disponíveis na Escola: a) em cartazes feitos à mão e com colagem; b) Em papel e impressos a partir do uso de algum aplicativo de edição de texto ou de apresentação de slides; c) em meio digital, a partir da criação de perfil no Instagram, alimentado colaborativamente com as produções dos estudantes. Para a realização das atividades da Etapa 5 sugere-se a integração curricular com professores da Área de Linguagens (Língua Portuguesa, Literatura e Artes. O objetivo da exposição – além de mobilizar habilidades de pesquisa entre os estudantes e problematizar a própria escrita da “História do Brasil” – é também oportunizar, no espaço escolar, a apreciação de outras visualidades sobre os corpos negros (inclusive de trabalhadores negros) diferentes daquela já tão consolidada e que coloca em foco somente os castigos físicos do tempo do cativeiro
Bibliografia e Material de apoio:
ABREU, Martha; DANTAS, Carolina. Monteiro Lopes e Eduardo das Neves: histórias não contadas da Primeira República. Niterói: Eduff, 2020.
BANCO DE IMAGENS SOBRE BIOGRAFIAS NEGRAS NO PÓS-ABOLIÇÃO. Projeto personagens do pós-abolição, disponível em https://personagensdoposabolicao.uff.br/
DANTAS, Carolina. Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas. Cadernos PENESB, Niterói, n. 12, 2010, p. 141-152.
GOMES, Angela de Castro; ABREU, Martha. A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação. Revista Tempo, Niterói, Volume 13, Nº 26, 2009, p. 1 – 14
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Disponível em https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-debate-sobre-Rela%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-discuss%C3%A3o.pdf
____. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan./Abr. 2012.
MATTOS, Hebe. A vida política. IN: SCHWARCZ, Lilia -M. (coord.) A abertura para o mundo 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 85-131
NASCIMENTO, Álvaro P. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 29, no 59, p. 607-626, setembro-dezembro-2016.
PEREIRA, Nilton M., & SEFFNER, Fernando. Ensino de História: passados vivos e educação em questões sensíveis. Revista História Hoje, volume 7, n. 13, 2018, p.14–33.
SAMPAIO, Gabriela dos R; LIMA, Ivana S.; BALABAN, Marcelo. (Orgs.). O Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2019.
SOUZA, Felipe A. e S.; CASTELLUCCI, Aldrin A. S. À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 35, nº 75, p. 6-25, Janeiro-Abril 2022
Créditos da imagem de capa: Quadros eleitorais, O malho, Rio de Janeiro, 13/03/1909. Hemeroteca Digital da Biblioteca Digital (clique p/acessar)
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.
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