Chão de Escola #54: O Trabalhador Rural e os Movimentos Sociais em Barras-Piauí
Maura Fabrícia Silva de Almeida (graduada em História pela Universidade Estadual do Piauí UESPI; Mestra em Ensino de História-PROFHISTÓRIA pela Universidade Estadual do Piauí- Parnaíba- Piauí).

Apresentação da atividade
Segmento: Ensino Fundamental: 9º Ano
Unidade temática: Trabalhadores Rurais, direitos sociais e cidadania.
Objeto de conhecimento:
– História Local e memória dos Trabalhadores Rurais;
– Os direitos sociais e os movimentos sociais.
Objetivos gerais:
– Promover o ensino de História Local através de uma perspectiva de movimentos sociais ao se evidenciar a participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais enquanto sujeitos históricos;
– Relacionar as conquistas de direitos políticos sociais e civis à atuação de movimentos sociais;
– Incentivar que os (as) educandos (as) percebam quem são os sujeitos comumente apresentados nos conteúdos de História e quais são silenciados ou meramente inseridos como coadjuvantes. Ressalta-se, nesse âmbito, a invisibilidade conferida aos trabalhadores e trabalhadoras rurais no processo histórico barrense e dos movimentos sociais locais.
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC).
(EF09HI01) Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da emergência da República no Brasil;
(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954;
(EF09HI06) Identificar e discutir o papel do trabalhismo como força política, social e cultural no Brasil, em diferentes escalas (nacional, regional, cidade, comunidade);
(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos sociais.
| Aulas | Planejamento |
| 01 | Etapa 01 |
| 02 | Etapa 02 |
| 03 | Etapa 03 |
| 04 | Etapa 04 |
| 05 | Etapa 05 |
| 06 | Etapa 06 |
| 07 | Etapa 07 |
| 08 | Etapa 08 |
Duração da atividade: 08 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios:
Noções sobre cidadania, direitos sociais, desigualdades e sobre o papel histórico de trabalhadores e trabalhadoras na vida das cidades.
Atividade
Recursos: Projetor, caixa de som, computador, quadro, lápis pincel.
Introdução à Sequência Didática
A presente Sequência Didática surge do estranhamento enquanto professora da Educação Básica sobre como a história de Barras-PI é comumente ensinada, muitas vezes focada apenas na narrativa da “Terra dos Poetas e Governadores”. Esta abordagem hegemônica local é similar àquelas observadas em diversas cidades do país, tendendo a silenciar os sujeitos que constroem a história cotidiana do município.
Assim, a proposta busca problematizar essa narrativa ao eleger os trabalhadores e trabalhadoras rurais como sujeitos históricos centrais, reforçando a importância de outros personagens e grupos sociais que de fato “fazem a história da cidade”. Daí o enfoque nos movimentos sociais e no sindicato (STTRB).
Ressalta-se aos leitores que esta proposta pedagógica pode e deve ser adaptada conforme a realidade e os recursos disponíveis em cada cidade, escola e contexto docente. O objetivo é incentivar a busca por histórias locais não-hegemônicas em qualquer território.
Etapa 1: Exposição da questão base para o tema da aula
Para você, o que é um movimento social?
A partir das respostas, usar o método Tempestade (Brainstorming), no quadro anotamos as palavras que os (as) educandos (as) apontarem para responder à questão base. Usando-as em seguida para o direcionamento da discussão inicial da temática.
Etapa 2: Apresentação e leitura do texto motivador para conceituação de movimentos sociais
Anexo I – “Movimentos sociais: o que são, objetivos, exemplos”, autoria do professor de sociologia Francisco Porfírio
Após a leitura, responda:
O que significa movimento social para você?
Podemos dizer que os movimentos sociais são movimentos populares?
Qual a relação que podemos estabelecer entre a busca por direitos civis e os movimentos sociais?
Etapa 3: Análise da Tirinha da Mafalda com foco na coletividade ativa e os movimentos sociais
Imagem 01: Tirinha Mafalda

Responder:
Precisamos ser ativos na movimentação da vida?
De que forma nossa postura diante da vida pode contribuir para as mudanças sociais e conquista de direitos civis?
Como ser protagonista na história do meu bairro, do meu município?
Etapa 4: Levantamento de questões e reflexões acerca dos movimentos sociais em Barras-PI
Você sabe se existe movimentos sociais em Barras-PI?
Após o levantamento e discussão das respostas, haverá a apresentação da imagem da fachada do prédio onde está localizada sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Barras-PI.
Imagem 02 Fachada do prédio do STTRB

Responder:
Você sabe que lugar é esse? E onde está localizado?
Que instituição funciona nesse prédio? Quando foi fundada? Por quem foi fundada?
Que história você acredita estar por trás desse local ao observar essa foto?
Etapa 5: Com a bagagem conquistada sobre o tema nas etapas anteriores, iremos dividir a turma em três grupos, a fim de proporcionar o trabalho em equipe e o aprofundamento do tema através da pesquisa e do protagonismo estudantil.
Grupo 01: Irá realizar uma visita à sede do STTRB, serão orientados a observarem o ambiente como um todo e de forma minuciosa, observando as pessoas que lá encontrarão e produzirão um relatório de visita a ser apresentado para os demais colegas e, para isso, poderão usar como orientação o roteiro abaixo de perguntas sobre a visita:
1. Descrevam a Sede do STTRB?
2. Onde está localizada? Há muita circulação de pessoas na Sede?
3. Encontre o responsável pela Sede e faça as seguintes perguntas:
– O Sindicato possui hoje quantos associados? Como sua estrutura é mantida?
– Qual a maior dificuldade enfrentada hoje pelo STTR/Barras–PI?
– Qual a contribuição que o Sindicato traz para a sociedade barrense?
– Quais os principais grupos atendidos e beneficiados com o STTRB?
– Este sindicato é dos trabalhadores rurais. Existe também o sindicato que representa os empresários rurais?
– Que tipos de serviços são prestados hoje no STTRB para a comunidade?
4. Se houver possibilidade, que tal iniciar um diálogo informal com algum trabalhador ou alguma trabalhadora, sobre a vida e o trabalho no campo? Faça as seguintes perguntas, anote a experiência e compartilhe com a turma:
– Lugar de residência atual?
– Nível de escolaridade.
– Número de filhos.
– Como você iniciou a vida com o trabalho na agricultura?
– Qual sua principal fonte de renda?
– Como teve conhecimento do STTRB?
– Depois que você se associou ao STTRB você percebeu modificações na sua maneira de trabalhar e viver no campo? Interferiu em algo?
Grupo 02: A tarefa desse grupo será elaborar e realizar uma entrevista com representantes sindicais do STTRB e dois trabalhadores (as) rurais associados ao STTRB. Listamos, como sugestão, o roteiro de entrevistas a seguir, podendo também contar com o auxílio de docentes de Língua Portuguesa, em atividade interdisciplinar.
Roteiro de entrevista com o representante sindical:
– Fale-nos um pouco de sua trajetória sindical.
– Você poderia nos falar do surgimento deste sindicato?
– Houve dificuldades para a criação do STTRB? Você poderia citar algumas?
– Em sua história, qual a relação entre concentração fundiária, reforma agrária e o movimento sindical em Barras?
– Em breves palavras, você poderia nos descrever as conquistas dentro do município fruto das lutas sindicais?
– Como acontece a representatividade feminina dentro do STTRB?
Roteiro de entrevista com Trabalhador/ Trabalhadora rural:
– Você é um associado do STTRB?
– Você sabe algo sobre o surgimento do movimento sindical em Barras?
– Que tipo de exploração o trabalhador rural sofria antes do STTRB?
– De que forma a vida do trabalhador mudou após o STTRB?
Grupo 03: Caberá a esse grupo após as discussões das etapas anteriores e a posterior apresentação dos grupos 01 e 02, produzirem e depois apresentarem uma dramatização teatral sobre a exploração do trabalhador e trabalhadora rural barrense antes da sindicalização, para isso buscaremos a ajudar dos docentes da disciplina de Arte e Língua Portuguesa no intuito de, junto aos integrantes do grupo, planejarem e realizarem as etapas necessárias para a produção da dramatização teatral. Como sugestão teremos as seguintes etapas de montagem da dramatização:
– Criar Roteiro: elaborar o roteiro definindo o tipo de peça (Tragédia, comédia, drama, romance, dentre outras), os textos, as falas dos personagens e os diálogos.
– Escolha do elenco: selecionando os atores para os personagens;
– Criar cenário e os figurinos: levando em consideração o contexto da peça e a personalidade dos personagens.
– Realizar ensaios técnicos.
Etapa 6: Nesse momento teremos a apresentações dos resultados e trabalhos realizados do grupo 01 e 02, que ocorrerá na seguinte sequência:
O Grupo 01 irá exibir imagens e descrever relatório de visita a sede do STTRB para toda a turma, logo em seguida será lido com a turma o texto do item 3.5“O Sindicalismo em Barras” (página 50), da monografia de Nathanael Passos de Andrade, intitulada “Movimento social dos trabalhadores rurais de Barras (PI): a formação de uma entidade de classe, conflitos e perseguições (1972 a 1992)” (Andrade, 2018).
Trecho transcrito a seguir:
O Sindicalismo em Barras
O sindicalismo na cidade de Barras–PI teve início na metade da década de 1950 com a Associação Rural de Barras, sendo essa primeira associação com caráter de classe desta cidade. De acordo com Antenor Rego Filho (2007, p. 202), a Associação Rural de Barras foi uma “entidade destinada a congregar em uma associação os proprietários rurais, pecuaristas e agricultores. Tinha mais um caráter assistencialista. Recebia verbas federais para dar assistência creditícia e técnica aos sócios”. Logo, percebe-se que essa associação se destinava aos grandes proprietários, o trabalhador ou o agregado não tinha esse direito, principalmente, o de obter recursos capitais para financiar a compra de terra ou para financiar o desenvolvimento da agricultura familiar.
Nesse período os recursos capitais de incentivo do governo destinavam aos grandes proprietários de terras. Segundo Francisco Caetano da Costa (2017), esse fato ocorria devido os grandes proprietários de terra possuírem uma organização, ou seja, já tinham uma categoria bem definida e esse fato lhe atribuía facilidades na obtenção de crédito junto aos órgãos financeiros. Esse fato aumentava ainda mais o controle dos grandes proprietários, em vez que o trabalhador rural ou agregado não tinha condições financeiras e nem órgãos público ou privado que financiassem o desenvolvimento de sua produção, dependendo totalmente do latifundiário a qual era agregado.
No início da década de 1970 o governo federal criou o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) que tinha o carácter de fornecer assistência ao trabalhador rural, sobre a criação do FUNRURAL em Barras, Antenor Rego Filho cita:
FUNRURAL – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural – o contrato para a instalação do escritório do FUNRURAL em Barras foi assinado no dia 20 de março de 1972. A inauguração do escritório, como a denominação de ‘Representação’, foi no dia 3 de abril de 1972. Foi seu primeiro dirigente Antenor de Castro Rego Filho, que chefiou este escritório durante 10 anos. […]. Neste período, foram processadas e concedidas em Barras mais de 4000 aposentadorias por velhice e invalidez, além do auxílio funeral. A representação de Barras foi considerada o escritório mais organizado e com o menor índices de erros na concessão de aposentadorias em todo o país (REGO FILHO, 2007, p. 204).
Percebe-se, então, que o FUNRURAL veio a contribuir para o fortalecimento do Trabalhador rural, concedendo direitos e benefícios a esses. Contudo, percebe-se que o controle e gerenciamento desse órgão na cidade de Barras – PI, ficou a cargo dos grandes proprietários de terras, passando uma década sobre a direção de Antenor de Castro Rego Filho, descendente dos grandes proprietários de terras Barrenses.
Logo depois teremos a apresentação do grupo 02, com a exposição das entrevistas realizadas e seus comentários acerca da atividade realizada.
Etapa 7: Nesse momento teremos a apresentações dos resultados e trabalhos realizados do Grupo 01 e 02, que ocorrerá na seguinte sequência:
O Grupo 01 irá exibir imagens e descrever relatório de visita a sede do STTRB para toda a turma, logo em seguida será lido com a turma o texto do item 3.5“O Sindicalismo em Barras” (página 50), da monografia de Nathanael Passos de Andrade, intitulada “Movimento social dos trabalhadores rurais de Barras (PI): a formação de uma entidade de classe, conflitos e perseguições (1972 a 1992)” (Andrade, 2018).
Trecho transcrito a seguir:
Os “Donos do Poder”: a exploração dos Trabalhadores Rurais em Barras
A riqueza material é objeto de desejo dos homens, dentre estas riquezas destaca-se a posse da terra. No Brasil existe desigualdade social em relação a posse da terra concentrada nas mãos de poucos indivíduos. Essa desigualdade vem desdo período colonial na distribuição de sesmarias e ainda continua a existir. A posse da terra no período colonial era atribuída, geralmente, a famílias tradicionais, e quanto maior a quantidade de terra maior é o poder e influência que o indivíduo ou famílias podia exercer sobre a região em que vive.
Em Barras a posse da terra até as décadas finais do século XX, estava restrita praticamente ao domínio de quatros grupo de famílias. Segundo Maria das Dores Bezerra (2017) os quatros grupos possuidores de terra eram das famílias de “Antenor Rego, a outra era do Abraão Gomes e a outra do Pedro Veras […]. Esses três proprietários e tinha essa outra aqui do Barro Preto dos Lages”. A posse da terra além da riqueza material ainda conferia a seus latifundiários o domínio e controle sobre o trabalhador rural.
O trabalhador rural em Barras era dominado tanto na forma física como no modo de pensar, colocado num nível abaixo de outras profissões. O trabalhador chega a negar a sua ocupação profissional. Sobre isso, Francisco Caetano da Costa (2017) coloca que:
[…] o trabalhador rural por não ter conhecimento achava que era certo e se envergonhava de, quando ia tirar um documento dizer que trabalhava, dizia que trabalhava de trabalhador rural, dizia não. Muitas vezes dizia que era pedreiro, outro ele dizia que era padeiro e assim, sucessivamente, pra desviar, pra não botar de trabalhador rural, que trabalhador rural era uma escravidão.
O trabalhador rural era explorado de várias formas, de acordo com Maria das Dores Bezerra (2017) “os trabalhadores era um povo muito oprimido, povo é humilhado, um povo massacrado pelos proprietários. Era os escravizados mesmo né”. A começar pela renda, que era alta o valor cobrado do trabalhador rural. Francisco Caetano da Costa, fala sobre a cobrança da renda ao trabalhador rural.
[…] aqui nos Três Caminho, era exigido três paneiros de arroz seco! Não era arroz apanhado levado mole não para a balança, era seco! Tem o trabalho de secar e levar, pra balança por linha. Três paneiro de arroz ele não queria, ele não aceitava outro tipo de legume. Aí daí é que foi indo aí como muita luta é que passou a se pagar uma carga por linha o meu pai nos anos setenta, setenta e dois, setenta e três ele teve de plano ainda os porcos que não trouxemos lá da onde nos morava, ele teve de plano a vender, dá criação pra pagar renda a proprietário, porque o inverno não deu de criar. Foi preciso eu quase de joelho pedi pra meu pai não fazer isso, porque eu naquela idade que tinha ainda jovens, mas lembrava muito bem, que meu pai nunca fez confusão pra não pagar a renda pra proprietário conforme a produção, aí o meu pai se achou pressionado por um proprietário na época ao por de dizer ‘eu vou vender’ […] então, o que, que acontece ele chegou ao ponto de confessar para nós que por insistência do proprietário tava exigindo demais, ele chegou a nominar porco tal, porco tal, porco tal que ia vender para pagar o proprietário com dinheiro.
Pode-se que a cobrança da renda além de alta (3 paneiros de arroz correspondem a aproximadamente 100 quilos de arroz) não dependia da produção, em caso de período de ausência ou abundância de chuvas que prejudicasse ou levasse a perda da lavoura mesmo, assim, o trabalhador rural barrense era obrigado a pagar a renda. E ainda durante a cobrança da renda o proprietário levava além da produção alimentícia, levava os animais de criação dos trabalhadores sem que pagasse nada ao dono dos animais. Sobre isso, Maria das Dores Bezerra (2017) apresenta sua experiência:
E eu lá em casa eu via a minha mãe sempre tinha muito cuidado de criar, a gente criava muito: porco, bode, galinha, até peru a gente dá andou querendo criar. Muitas vezes eu vi o proprietário chegar, aqui aculá eles aparecia, chegava e perguntava, assim, “de quem isso aí?” Um capão, um peru no terreno. “Pega aí menino! bota aí no carro”. Não perguntava quanto era, não perguntava se o dono queria vender, não perguntava se podia levar, só fazia pegar e levar.
Outra forma de exploração comum, que os grandes proprietários de terra praticavam com os trabalhadores rurais barrenses era: o trabalho na roça ou em outro local de posse do proprietário, de forma gratuita. Esse tipo de trabalho variava dependendo do proprietário e também da época do ano, podendo ser um, dois ou três dias da semana de trabalho gratuito que o trabalhador rural era obrigado a prestar ao latifundiário. Sobre esse fato Francisco Caetano da Costa (2017) fala que o trabalhador rural barrense apenas recebia o recado mandado pelo proprietário, transmitido por um terceiro, tinha que ir trabalhar.
[…] tinha os dias de semana, quando tava bem apressado, muito acochado o serviço, era dois dias, quando tava fraco o serviço passava para um dia, mais esse dia nem tanto era exigido ele achando que era por direito dele, como tinha morador safado que servia de mandato para ir fazer, dar aquele recado, sabe como hoje aboca da noite o cara chegava montado num cavalo dando o recado patrão mandou chamar para trabalhar amanhã.
Além das formas de explorações citadas acima (renda e trabalho gratuito) ainda existia mais duas, estas duas relacionadas a venda e a compra de mercadorias. O trabalhador rural de Barras era obrigado a vender sua produção (arroz, feijão, farinha, coco babaçu entres outros produtos) somente no comércio do proprietário da terra. E nesse processo o trabalhador sofria mais uma perda, principalmente, na venda do coco babaçu, pois vendia no preço abaixo do mercado e também havia perda no peso do produto. De acordo com Antônio Pereira (2012) “a questão da venda do babaçu que era vendido no, era vendido no balcão do patrão e o patrão recebia 1200, 1600 gramas, 1500 gramas, pra pagar um quilo”.
O grande proprietário rural de Barras se achava no direito de controlar como o trabalhador rural deveria vender sua produção, caso o trabalhador rural vendesse-a para outro comerciante, esse era acusado de roubo. Segundo Maria das Dores Bezerra (2017) “os proprietários compravam o tanto que queriam, não deixavam os trabalhadores vender fora, o trabalhador não podia vender um carroço de coco fora que eles achavam que era roubo”.
E ainda havia outro tipo de punição ao trabalhador rural barrense que era a expulsão das terras e queima da casa do trabalhador rural como fala Francisco Caetano da Costa (2017): “se fosse pego, o cara ia bate lá e dizia pra ele, aí tinha dois, duas ideia na cabeça dele que ele usava como positivo: chama a atenção do cara para uma conversa. Se completasse as três vezes aí não tinha mais acordo, não tinha mais conversa não, era fogo na casa”.
Sobre a compra de mercadoria pelo trabalhador rural barrense, esse também era obrigado a comprar exclusivamente no comércio do proprietário da terra. Novamente, o trabalhador rural saia perdendo, pois, a mercadoria vendida pelo proprietário era num valor acima do praticado no comércio e muitas vezes não tinha a mercadoria que o trabalhador necessitava no momento.
Para o grande proprietário de terra controlar a vender e comprar de mercadorias pelo trabalhador rural barrense, não se utilizava dinheiro em todas as transações econômicas entre trabalhador e o grande proprietário, utilizavam-se sistema de “vale”. O vale somente dava direito de compra no comércio do proprietário da terra, assim, com esse sistema o grande proprietário de terra controlava as compras do trabalhador rural, já que o trabalhador não recebia dinheiro em suas vendas, assim o trabalhador ficava sujeito a comprar no valor que o proprietário desejasse vender.
Logo depois teremos a apresentação do Grupo 02, com a exposição das entrevistas realizadas e seus comentários acerca da atividade realizada.
Nota para o(a) Docente: Sugestão de Material de Apoio Para complementar a análise da história do sindicalismo em Barras-PI e o contexto do coronelismo, recomenda-se que o docente consulte a obra “Do coronelismo ao clientelismo: práticas eleitorais no Piauí”, de Francisco Farias. A obra contém menções à cidade de Barras, inclusive fotografias e depoimentos que podem enriquecer a discussão sobre o contexto local antes do surgimento do STTRB.
Etapa 8: Avaliação
Nesse momento aproveitaremos para fazer uma avaliação juntos aos (as) educandos (as) sobre o tema estudado e os trabalhos realizados a fim de que possamos identificar pontos fortes e reconhecer possíveis lacunas de aprendizagem. Verificaremos o progresso e as dificuldades de aprendizagem dos (das) educandos (as) através de autoavaliações, produção oral e a observação do desempenho no decorrer das etapas. Solicitaremos também para que elaborem uma redação descrevendo que Barras eu conheci após esse trabalho e quem faz parte dela, como forma de questionar os (as) educandos (as) sobre como a aula oferecida na oficina reorientou suas noções anteriores sobre o tema investigado.
Durante a produção e apresentação dos trabalhos em grupos, observaremos se a ferramenta conseguiu cumprir sua missão, pois trabalhos em grupo dizem muito da personalidade dos (das) educandos (as) e, sem dúvida, podem ser uma ótima possibilidade para investigar a capacidade de argumentação, de liderança, de respeito às diferenças e de proatividade.
Bibliografia e Material de apoio:
ALMEIDA, Maura Fabrícia Silva de. HISTÓRIA LOCAL E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: Ensino de História nas escolas de Ensino Fundamental de Barras-PI. Parnaíba-PI: Universidade Estadual do Piauí (UESPI) campus Prof. Alexandre Alves de Oliveira, 2024. [Dissertação de Mestrado]
ANDRADE, Nathanael Passos de. Movimento Social dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Barras (PI): A Formação de uma entidade de classe, conflitos e perseguições (1972 a 1992). 2018. Monografia (Graduação em História) – Universidade Estadual do Piauí, Campus Rio Marataoan. Barras, 2018.
COSTA, Francielcio Silva da. O coronelismo no contexto político do município de Barras-Piauí (1955-1980). Baraúnas, v.1, n.1, maio/dez, 2023.
FARIAS, Francisco. Do coronelismo ao clientelismo: práticas eleitorais no Piauí, Brasil. Teresina: Edufpi, 2020.
ROCHA, Cristiana Costa da. Memória migrante: A experiência do trabalho escravo no tempo presente (Barras, Piauí). 2010. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/2853. Acesso em: 20 mai. 2024.
PORFÍRIO, Francisco. Movimentos sociais. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/movimentos-sociais-breve-definicao.htm. Acesso em: 14 jun. de 2024.
Tirinha Mafalda. Depósito de tirinha. Disponível em: https://deposito-de tirinhas.tumblr.com/post/151612211752/por-quino. Acesso em 20 jun. 2024.
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.