Recentemente, o tema da exploração do trabalho infantil voltou a tomar conta do debate público. A defesa de que o trabalho das crianças deve ser combatido relaciona-se com a a noção de que a infância deve ser uma fase de não trabalho, concepção que foi historicamente construída recentemente. Tal visão contrapõem-se á uma disseminada noção de cultura do trabalho que deveria ser despertada desde cedo nas crianças.
Nas primeiras décadas do século XX, o trabalho das crianças foi central para a expansão da indústria têxtil da Capital Federal, o maior ramo industrial daquele período. Esse é o tema do artigo “Crianças nas fábricas: o trabalho infantil na Indústria Têxtil carioca na Primeira República” de Isabelle Pires, doutoranda no PPGHIS da UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ e Paulo Fontes, professor do IH-UFRJ e coordenador do LEHMT-UFRJ. O artigo foi publicado em um dossiê especial intitulado Dossiê “Estudos recentes sobre os mundos do trabalho têxtil no Brasil”, organizado por Murilo Leal Pereira Neto, Lucas Porto Marchesini Torres e Felipe Ribeiro na revista Tempo & Argumento, publicação do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
O artigo fornece novos dados sobre a importância dos/as menores no processo de produção da indústria têxtil no Rio de Janeiro e também destaca o protagonismo das crianças em movimentos de reivindicação por melhores condições de trabalho e luta por direitos. Os autores ainda enfatizam como as tensões entre o poder público e os industriais, bem como as pressões da sociedade civil, em particular do movimento operário (com a participação dos próprios menores) e de regulações internacionais (como a OIT) impactaram e formataram uma legislação sobre os menores nas fábricas, em particular o Código de Menores de 1926.
http://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180312302020e0101
Crédito da imagem de capa:
Operários e operárias da seção de fiação da Fábrica Cruzeiro em 1910. WEID, Elisabeth von der; BASTOS, Ana Marta Rodrigues. O fio da meada: estratégia de expansão de uma indústria têxtil: Companhia América Fabril: 1878-1930. Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa; Confederação Nacional da Indústria, 1986. p. 228.