Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho

Chão de Escola #02: As lutas dos trabalhadores em conjunturas pandêmicas (1358, 1918 e 2020)

Autora: luciana wollmann (SME-RJ/ seeduc – rj)

Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Fundamental (9º ano)/ Ensino Médio (1º ano)/ Educação de Jovens e Adultos (EJA)

Unidades temáticas:

– Trabalho e formas de organização social e cultural

– O nascimento da República no Brasil e os processos históricos até a metade do século XX

– Política e Trabalho

– O Brasil recente

Objetos de conhecimento:

– Senhores e servos no mundo antigo e no medieval

– Primeira República e suas características

– Experiências republicanas e práticas autoritárias: as tensões e disputas do mundo contemporâneo

Objetivos gerais:

– Analisar os principais aspectos das pandemias da “Peste Negra”, da Gripe Espanhola e do Coronavírus.

– Relacionar as crises pandêmicas apresentadas com as revoltas e protestos dos trabalhadores.

– Correlacionar as três conjunturas apresentadas, apontando semelhanças e diferenças entre elas.

Duração da atividade: 05 aulas de 50 min.

AulasPlanejamento
01Execução da etapa 1
02Jogo da etapa 2
03 e 04Atividade em grupo da etapa 3
05Roda de debates da etapa 4


Conhecimentos prévios:

– A crise do século XIV na Europa e as revoltas camponesas.

– Principais características da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

– Aspectos políticos e sociais da Primeira República no Brasil (1889-1930).

– Os impactos causados pela pandemia do coronavírus na população mundial.  

Atividade

Atividade e recursos:
A partir das características políticas e sociais de três conjunturas pandêmicas: a “Peste Negra” ocorrida no século XIV, a Gripe Espanhola ocorrida durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a atual pandemia do Coronavírus, a proposta desta atividade é fazer uma análise comparativa entre essas diferentes conjunturas, atentando particularmente para as mobilizações dos trabalhadores e trabalhadoras nesses contextos. Utilização de cópias, papel color set ou cartolina e projetor com som.

Etapa 1: Apresentação
Usando imagens projetadas em slides no data-show, o (a) professor (a) irá apresentar os principais aspectos das três conjunturas pandêmicas trabalhadas nessa atividade. Para auxiliá-lo (a), sugerimos aqui alguns sites, vídeos e podcasts que podem servir de suporte nesse momento mais expositivo da aula.

– Site com textos, imagens e documentos sobre a “Peste Negra” e as jacqueries: https://www.ricardocosta.com
– Vídeo: Gripe espanhola: médico fala sobre remédios que prometiam cura da doença
– Vídeo: A Greve de 1917: TV Fepesp entrevista José L. Del Roio
– Podcast: A pandemia de 1918 e os mundos do trabalho
– Vídeo: Conheça Paulo Lima, o entregador de aplicativo antifascista que organiza a categoria
– Podcast: Entrevista com Paulo Lima, o Galo, líder do movimento entregadores antifascistas feita por Dulce Pandolfi e Paulo Fontes na Rádio Cidadania da UFRJ. Disponível em: https://bit.ly/2ZWN8Rt e https://spoti.fi/2WSniMm
– Vídeo: “Vidas negras importam”: ato leva centenas às ruas do Rio de Janeiro

Etapa 2: Sensibilização
– Jogo: “Quem sou eu”? Organizados em grupos de aproximadamente 4 estudantes, cada equipe receberá um cartão (elaborados previamente pelo (a) professor (a)) com uma frase dita por algum camponês, trabalhador, redator, cronista ou governante extraída das fontes históricas produzidas nos contextos históricos abordados nessa atividade. No quadro (ou no data-show), o (a) professor (a) irá colocar os nomes dos autores das frases, bem como uma breve descrição dos mesmos. O desafio das equipes é tentar acertar o (a) autor (a) da frase. Se a equipe errar o nome do autor, só poderá tentar novamente na próxima rodada. A cada descoberta, sugerimos que o professor (a) estimule aos alunos (as) a explicar os indícios que os levaram a concluir que aquele era (ou seria) o autor da frase, bem como auxilie aos alunos a interpretar as frases de acordo com cada contexto e posição social de seus emissores. Abaixo, listamos algumas sugestões de frases para a elaboração do jogo.

Professor(a), em caso de estar trabalhando de forma remota, você pode adaptar esse jogo fazendo uma espécie de quiz usando o programa PowerPoint.


Etapa 3: Problematização
Reunidos em grupos (que podem ser os mesmos da atividade anterior), os estudantes farão uma leitura coletiva e responderão às perguntas listadas ao final do texto, registrando-as em seu caderno. Cada grupo deverá ficar com um texto (que são três no total). Se forem formados mais de três grupos na turma, os textos deverão ser repetidos. Os textos podem ser escolhidos pelos próprios estudantes, de acordo com o seu interesse ou definidos por sorteio.

Etapa 4: Debate
Finalizada a atividade da etapa anterior, uma grande roda pode ser formada para que os estudantes possam apresentar as suas reflexões coletivamente. Sugerimos que além de debater as questões apresentadas nas atividades que fizeram, os estudantes sejam encorajados a pensar comparativamente as três conjunturas pandêmicas apresentadas nessa atividade.

ETAPA 2

Jogo: “Quem sou eu”?


1º) Frase: “(…) mataram o cavaleiro, a dama e os filhos, grandes e pequenos, e incendiaram tudo. Logo foram a um castelo e ali fizeram pior, pois prenderam o cavaleiro e o ataram a uma estaca muito fortemente, e muitos violaram a mulher e a filha diante do cavaleiro. Depois mataram a mulher, que estava grávida, e a sua filha e todos os filhos, e o marido, depois de torturá-lo, queimaram-no e destruíram o castelo”.
Autor (a): Jean Froissart (1337-1410) foi um poeta e cronista da Idade Média. As Crônicas de Froissart são consideradas uma das principais fontes de pesquisa das jacqueries.

2º) Frase: “Regulam o consumo do álcool gel disponível em pouca quantidade pelas dependências do prédio. Dia desses presenciei uma cena lastimável. Uma senhora, de cabeça branca, provavelmente com idade para ser minha mãe, recolheu álcool num pequeno frasco. Foi tratada pelo segurança como uma criminosa. Constrangida, ela explicou que era para limpar sua área se trabalho, coisa mais que necessária em tempos de covid-19”.
Autor (a): Atendente de uma empresa de call center localizada no Rio de Janeiro.

3º) Frase: “Era um rapagão de membros fortes, largo de braços, de rins e de ombros, com olhos afastados um do outro de uma mão-travessa; não se poderia encontrar em sessenta países um rosto mais rude e mais desagradável. Tinha cabelos eriçados e faces negras e curtidas ; havia seis meses que não lavava a cara e a única água que lhe molhara tinha sido a chuva do céu”.
Autor: Poema épico Garin le Lorrain (França, século XII), descrevendo o filho do camponês Hervis.

4º) Frase: “(…) a greve atual não tem pé nem cabeça. É o resultado da ação perniciosa de elementos estranhos ao nosso meio social que aqui pretendem lançar o gérmen maligno das ideias anárquicas, rivalidades e luta de classes que não tem razão de ser no Brasil e tendem a desaparecer da própria Europa, onde surgiram”.
Autor (a): Jornal A Federação (29/7/1918). Esse jornal era alinhado aos interesses da classe patronal porto-alegrense.

5º) Frase: “A maioria dos meus companheiros, para ser sincero, me mandam para Cuba. Mas tenho sentido que menos companheiros estão me mandando pra Cuba. Acho que estou mobilizando um grupo legal e vamos ficar no Brasil. Quero formar entregadores pensadores. Quem gosta de gado é o rei do gado. Nós sabe [sic] quem é o rei do gado hoje”.
Autor (a): Paulo Lima, entregador de apps e principal articulador do Movimento de Entregadores Antifascistas.

6º) Frase: “Porque nos deixamos maltratar? Livremo-nos da sua maldade! Nós somos homens como eles. Temos membros como os seus e corpo de igual tamanho. E do mesmo modo sofremos. Só nos falta a coragem. Unamo-nos por um juramento”.
Autor (a): Um camponês (personagem da crônica literária Romance de Rollon, de Robert Wace), escrita 150 anos depois das revoltas camponesas que ocorreram na Normandia (França) no ano de 996. No romance, a frase é atribuída a um camponês.

7º) Frase: “(…) a todas as classes de trabalhadores terrestres e marítimos, ferroviários, metalúrgicos, foguistas, marinheiros (…) o mundo trabalhador já não pode suportar a opressão dos sugadores e detentores do bem-estar da humanidade”.
Autor (a): Panfleto do Sindicato dos Pedreiros e Carpinteiros de Salvador na greve de 1919.

8º) Frase: “Camaradas! A burguesia ainda não perdeu a velha mania de se julhar com interesses absolutos sobre os nossos braços e a nossa vida como se fossemos sua propriedade particular. Supõe ela que ainda são os operários objetos dos tempos idos e não os operários homens, operários conscientes de hoje, que vimos em cada burguês um explorador, um consumidor, um tirano, enfim”.
Autor (a): Boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre. 16/08/1919.

9º) Frase: “A condição de bestas é mais feliz que a nossa, pois não são obrigadas a trabalhar mais do que a sua força lhes permite. E nós, pobres asnos, carregamos fardos e mais fardos (…) Força então meus bons amigos; despertemos e mostremos que somos homens e não bestas”.
Autor (a): Frase atribuída a um dos líderes da jacquerie, Jacques Bonnhome de Clermont em Beauvaisis.  

10º) Frase: “Ficar em casa pra quem pode, legal, mas quem não tem condições, isso é desumano. O cara tem que trabalhar”.
Autor (a): Jair Bolsonaro, presidente da República em 13/5/2020, em plena pandemia da Covid-19.

ETAPA 3

Atividade do Grupo 1

  1. Faça uma leitura do texto e debata as questões propostas, registrando-as em seu caderno.

A “PESTE NEGRA” E AS REVOLTAS CAMPONESAS

França, 1358. Durante cerca de um mês, milhares de camponeses travaram uma sangrenta revolta contra os nobres. Armados de facões, bastões e tudo mais que pudesse servir como arma, os jacqueries – ou “homens simples” como eram chamados – insurgiram-se contra a exploração da nobreza senhorial que aumentara sobremaneira na última década, marcada pela peste, fome e pela guerra.
Aproximadamente entre 1347 e 1353, a “Peste Negra” – nome pelo qual ficou conhecida a peste bubônica, septicêmica ou pneumônica no século XIV – se alastrou pela Europa, chegando a alcançar a Ásia, causando a morte de 75 a 200 milhões de pessoas. No caso da França, que também se envolveu na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) contra a Inglaterra, a escalada mortal foi ainda maior, trazendo fome, morte e miséria principalmente entre as camadas mais pobres da população. Oprimidos pela alta dos impostos, pelo confisco dos seus bens e pelo aumento da exploração sob o seu trabalho, os camponeses iniciaram uma revolta sangrenta. Menos de três décadas depois, em 1381, uma revolta camponesa de grandes proporções também varreu a Inglaterra, chegando a alcançar Londres. Em ambos os casos, a repressão da nobreza contra os revoltosos foi violenta e os seus principais líderes foram perseguidos em executados. O temor causado pelas Revoltas Camponesas, fez com que os nobres se articulassem e começassem a desenhar o Estado Absolutista, que dominou o cenário político europeu entre os séculos XVI e XVIII.

Os jacques são massacrados em Meaux, 1358.
Fonte da imagem: https://www.ricardocosta.com/artigo/revoltas-camponesas-na-idade-media-1358-violencia-da-jacquerie-na-visao-de-jean-froissart

Questões:

  1. Trabalhando com fontes históricas.
    Com base no que você leu, faça uma breve descrição das suas imagens e crie uma legenda para as mesmas.

Fontes das imagens: https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/j/jacquerie.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacquerie


Bibliografia:

COSTA, Ricardo da. Revoltas camponesas na Idade Média. 1350: a violência da Jacquerie na visão de Jean Froissart. Disponível em: https://www.ricardocosta.com/artigo/revoltas-camponesas-na-idade-media-1358-violencia-da-jacquerie-na-visao-de-jean-froissart
Revolta camponesa de 1381: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_camponesa_de_1381

ETAPA 3

Atividade do Grupo 2

  1. Faça uma leitura do texto e debata as questões propostas, registrando-as em seu caderno.

A Gripe Espanhola e as greves de 1918 e 1919

Entre 1918 e 1920, foi a vez da pandemia de Gripe Espanhola atingir a humanidade em escala global. Iniciada nos Estados Unidos, a gripe ganhou o nome de “espanhola” porque esse país declarou-se neutro na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e por esse motivo, divulgava sem censura notícias da pandemia através da imprensa. Transmitida pelo vírus Influenza (H1N1), a Gripe Espanhola deixou um rastro de cerca de 50 milhões de mortos, um saldo cinco vezes maior do que os mortos pelo conflito mundial em curso.
E foi justamente nos anos de 1918 e 1919, com a pandemia em curso, que uma onda de greves tomou conta dos Estados Unidos. Em setembro de 1918, cerca de 300.000 trabalhadores do aço paralisaram o seu trabalho, na primeira greve nacional da categoria no país. No início do ano seguinte, 35.000 trabalhadores costureiros – (90% do sexo feminino) declararam greve para exigir uma jornada de trabalho de quarenta e quatro horas e um aumento de 15% nos salários (FREEMANN, 2020). Segundo o pesquisador Joshua Freemann, ainda que não possamos fazer correlações diretas entre a epidemia de gripe e a onda de greves no EUA, a conjuntura de guerra e de crise conectam os dois. Nesses mesmos anos, eclodiram greves no Canadá, na Argentina, na Inglaterra, Portugal, França, Itália, África do Sul, entre outros. Não podemos perder de vista que esses acontecimentos ocorrem sobre o rastro de destruição deixado pela Primeira Guerra Mundial e sobre o eco de esperança trazida pela Revolução Socialista ocorrida na Rússia em outubro de 1917.
No Brasil, um novo ciclo de greves também se iniciou em 1918 e 1919. No ano anterior, o país fora sacudido pela Greve Geral de 1917, que articulara diferentes categorias de trabalhadores de vários estados e contou com a participação direta de trabalhadores anarquistas e socialistas. Nos dois anos seguintes, ocorreram greves em várias cidades que haviam se mobilizado em 1917, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Recife, entre outras. Entre as reivindicações, podemos citar: aumento salarial, jornada de trabalho de 8 horas diárias, direito à associação, proibição do trabalho para menores de 14 anos, abolição do trabalho noturno para mulheres e melhores condições de trabalho.
Ainda que não seja possível associar diretamente o aumento do número de greves com a Gripe Espanhola, a carestia e a alta do custo de vida daquele período, que agravavam ainda mais as condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do país,  somado à precariedade do sistema de saúde pública para assistir os acometidos pela gripe – muitos deles trabalhadores – desnudavam ainda mais as desigualdades já existentes. Segundo a pesquisadora Christiane Maria Cruz de Souza, o número de trabalhadores adoecidos pela Gripe Espanhola em Salvador variou entre 100% a 80%  nas fábricas onde a produção exigia uma maior proximidade entre os operários, tais como as de roupas, vestuário, de acessórios, cigarros e embalagens (SOUZA, 2009). Ainda que aquela fosse apontada como uma doença “democrática”, pois atingia a todos aqueles que tivessem contato com o vírus Influenza, as condições de trabalho, moradia, alimentação e acesso à saúde dos mais pobres, deixava-os mais à deriva naquela conjuntura de crise, doença e morte. 
Ainda que reprimidas pelos patrões, pelo governo e pela polícia, as greves dos anos 1910 tiveram um impacto político significativo. Travadas meio às mortes causadas pela guerra e pela pandemia, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo naqueles anos foram fundamentais para a conquista de seus direitos obtidos pelos mesmos nas duas décadas subsequentes.

Trabalhadores da capital baiana reunidos durante a greve de 1919.
Fonte: http://sintracom.org.br/2016/2016/04/01/os-trabalhadores-da-construcao-civil-na-greve-geral-de-1919/

Questões:

  1. Trabalhando com fontes históricas.

Observe as imagens abaixo extraídas do jornal O Malho e identifique o que elas nos fornecem de informações sobre as greves dos anos 1910 no Brasil.

O Malho, outubro de 1917. Biblioteca Nacional (hemeroteca)

O Malho, abril de 1918. Biblioteca Nacional (hemeroteca)


Bibliografia:

ABREU, Alzira Alves de et al. (coords). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (DHBB). Rio de Janeiro: FGV, 2001. Greve (verbete).
CASTELLUCCI, Aldrin Armstrong Silva. Salvador dos Operários: uma história da Greve Geral de 1919 na Bahia. UFBA: Salvador, 2001. Dissertação de mestrado.
CAVALCANTE, Luciane do Nascimento. Movimento operário e as peculiaridades da luta armada no Recife a partir da atuação de José Elias e Joaquim Pimenta (1919-1920). Anais do IV Colóquio de História. UNICAP: Recife, 2010.
FREEMANN, Joshua. Pandemias podem gerar ondas de greves. 16/05/2020. Disponível em: http://www.dmtemdebate.com.br/pandemias-podem-gerar-ondas-de-greve/
SOUZA, Christiane Maria Cruz. A espanhola em Salvador – o cotidiano da cidade doente. Varia hist. vol.25 nº.42 Belo Horizonte Julho/Dezembro 2009.
QUEIRÓS, Cézar Augusto Bubolz. Estratégias e identidades: relações entre governo estadual, patrões e trabalhadores nas grandes greves da Primeira República em Porto Alegre (1917/1919). UFRGS, Porto Alegre, 2012.
Anarquia ou Barbarie: https://anarquiabarbarie.wordpress.com/category/historia/greve-de-1918/

ETAPA 3

Atividades do Grupo 3

1) Faça uma leitura do texto e debata as questões propostas, registrando-as em seu caderno.

A pandemia do Coronavírus: um novo ciclo de luta por direitos?

O novo agente do coronavírus, chamado de novo Coronavírus, foi descoberto no fim de dezembro de 2019 após ter casos registrados na China. Em poucos meses, a pandemia do COVID 19 se espalhou pelo globo, o que obrigou a grande parte dos países mais atingidos a adotar medidas de isolamento social.
A maior vulnerabilidade dos mais pobres à doença vem sendo apontado pelas estatísticas: de acordo com um levantamento feito pelo programa Cidades Sustentáveis, as taxas de mortalidade são maiores entre a população que está abaixo da linha da pobreza. Fatores como a falta de acesso á saúde e ao saneamento básico e a alta densidade populacional existente em favelas e bairros periféricos (ESTADO DE MINAS, 3/6/2020), colaboram para as altas estatísticas de mortandade entre os mais pobres. Poderíamos acrescentar que a insegurança alimentar gerada pelos altos índices de desemprego e informalidade entre a população de baixa renda, também são fatores determinantes para essa vulnerabilidade.
Cabe acrescentar, que muitas dessas pessoas por questões de sobrevivência, vêm-se impelidas a continuar trabalhando, mesmo diante das orientações de isolamento social. Alguns desses trabalhadores, inclusive, estão sendo apontados como “essenciais” nesse cenário pandêmico. Além dos profissionais de saúde, entregadores, motoristas, balconistas, caixas de supermercado, lixeiros, porteiros, trabalhadores das indústrias alimentícia e farmacêutica, entre outros, seguem em uma jornada de trabalho ininterrupta o que, inevitavelmente, coloca a sua vida em risco. Neste sentido, algumas questões relativas aos direitos e segurança desses trabalhadores vêm sendo colocadas. Isso é bastante visível em alguns movimentos, como os protestos de entregadores de  apps exigindo que as empresas de aplicativos ofereçam mais segurança como álcool em gel e máscaras para o exercício de sua atividade diária e a greve dos trabalhadores de call center para que o seu trabalho fosse realizado em regime de home office. Esses movimentos ocorridos em escala nacional, também são verificados em diversos países do globo, principalmente naqueles em que a pandemia atingiu altos índices de mortalidade, tais como Espanha, Itália e Estados Unidos.
Assim como em outras conjunturas pandêmicas, tais como a Peste Negra do século XIV e a Gripe Espanhola (1918-1920), a pandemia do Coronavírus desnuda a situação de extrema vulnerabilidade em que os mais pobres – muitos deles trabalhadores chamados “braçais” – se encontram. Ainda que não possamos ignorar as suas profundas diferenças entre essas três conjunturas, a situação desses trabalhadores e trabalhadoras meio à pandemia evidencia as desigualdades já existentes e acabam colocando em xeque à estrutura vigente. Nos dois primeiros casos, elas também geraram momentos de inflexão que só foram percebidos em longo prazo. No caso das recentes manifestações dos trabalhadores em virtude da Covid-19, ainda é cedo para fazermos um prognóstico (FONTES, 2020), mas já assistimos algumas reações que podem desencadear mudanças mais profundas. Isso é patente quando assistimos as manifestações dos trabalhadores e protestos de massa como o “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”) que vem ocorrendo em escala global meio à pandemia. Será o prenúncio de um novo ciclo de lutas por direitos? As respostas virão quando o relógio da História girar…

O movimento “Black Lives Matter” surgiu em 2013, nos Estados Unidos. Após o assassinato de um homem negro, George Floyd, por um policial branco, Derek Chauvin, em maio de 2020, os protestos contra o genocídio negro se alastraram pelo mundo.
Fonte da imagem: https://rj.casadosaber.com.br/cursos/blacklivesmatter/mais-informacoes

Questões para o debate:

2) Trabalhando com imagens.
Explique o conteúdo da charge abaixo: 

Fonte da imagem: http://www.dmtemdebate.com.br/o-mosaico-da-exploracao-do-trabalho/


Bibliografia:

COVID: Desigualdade no país afeta taxa de mortalidade, diz pesquisa. Estado de Minas, 3/6/2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/06/03/interna_gerais,1153504/covid-desigualdade-no-pais-afeta-taxa-de-mortalidade-diz-pesquisa.shtml
FONTES, Paulo. Entrevista ao Jornal da ADUFRJ. 30/4/2020. Disponível em: https://lehmt.org/2020/05/16/nao-existe-sociedade-sem-trabalhadores-entrevista-de-paulo-fontes-para-o-jornal-da-adufrj/
Entregadores antifascistas: “Não quero gado. Quero formar entregadores pensadores”. 7/6/2020. Entrevista disponível em: https://apublica.org/2020/06/entregadores-antifascistas-nao-quero-gado-quero-formar-entregadores-pensadores/
O movimento ”Black Lives Matter” organiza-se e procura definir-se politicamente. 31/5/2020. Disponível em:: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Antifascismo/O-movimento-Black-Lives-Matter-organiza-se-e-procura-definir-se-politicamente/47/47651
Pandemia evidencia condições inadequadas de trabalho em call centers no Rio. 30/5/2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/03/30/pandemia-evidencia-condicoes-inadequadas-de-trabalho-em-call-centers-no-rio


Crédito da imagem de capa: Trabalhadores em greve deixam um estaleiro em Seattle, 1919. Fotografia: Webster & Stevens/Museum of History and Industry. Fonte: http://www.dmtemdebate.com.br/pandemias-podem-gerar-ondas-de-greve/


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.

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