Chão de Escola

Chão de Escola #51: “Não vamos morrer de trabalhar!”: a luta dos/as trabalhadores/as pela redução da jornada de trabalho no Brasil e pela defesa dos direitos já conquistados.

01 DE SETEMBRO DE 2025

             Bianca Amarante (doutoranda em História Social pelo PPGHIS-UFRJ, professora da rede básica na cidade de Fortaleza/CE e integrante do LEHMT).
Luciana Pucu Wollmann Amaral (doutora em História pela FGV, professora da rede municipal de Niterói e da rede estadual do Rio de Janeiro e integrante do LEHMT).
Romerito Arcoverde (doutorando em História pela PUC Rio, professor EBTT do CODAI-UFRPE e integrante do LEHMT).

Apresentação da atividade

Segmento: Ensino médio (regular e EJA)

Unidade temática: Movimentos Sociais e Política.

Objeto de conhecimento: Primeira República, Era Vargas, Brasil contemporâneo.

Objetivos gerais:

Refletir sobre o movimento pelo fim da escala 6X1, analisando a sua trajetória e os seus antecedentes históricos.

– Analisar de que forma a nossa herança colonialista e escravocrata impactam até hoje as relações de trabalho no Brasil.

-Compreender a agência da classe trabalhadora na luta pelos direitos trabalhistas no Brasil.

– Apresentar a legislação atinente à jornada de trabalho no Brasil, .com ênfase na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

– (EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

-(EM13CHS603) Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, relacionando-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual.

– (EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remidiação de produções multissemióticas, multimídia e transmídia, desenvolvendo diferentes modos de participação e intervenção social.

Duração da atividade:

AulasPlanejamento
01 e 02Etapa 1
03, 04, 05 e 06Etapa 2
07, 08 e 09Etapa 3

Conhecimento prévio:

– Movimentos Sociais na Primeira República;

– Período Vargas;

– Movimentos Sociais contemporâneos;

Atividade

Atividade e recursos: Data-show, notebook, som, cópias impressas.

Em uma roda de conversas, o/a professor/a pode propor um papo a fim de coletar as possíveis informações que os/as estudantes já dispõem sobre o assunto. Sugerimos as seguintes perguntas para nortear o debate: Vocês já ouviram falar sobre o movimento pelo fim da escala de trabalho 6X1? Quais informações vocês têm a respeito do assunto? Qual é a opinião de vocês sobre o tema? Vocês acham que essa é uma luta que se iniciou agora ou possui antecedentes históricos?  

Conforme os/as estudantes forem trazendo as informações e questões para o debate, o/a professor/a, pode ir trazendo informações a fim de contextualizar e aprofundar as reflexões sobre a temática.

Como sugestão, sugerimos passar o vídeo abaixo para os/as estudantes:

Recurso 1: vídeo:  “Movimento Vida Além do Trabalho e o Fim da Escala 6×1”

https://www.youtube.com/watch?v=5JF7MaKYgJU

SUGESTÕES PARA O DEBATE:

Qual a importância de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), tal como a PEC 8/2025   que prevê a redução de 44 para 36 horas de trabalho semanais –  ter nascido de uma iniciativa popular? Para ver a PEC8/2025 na íntegra, acessar:

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2485341

O “Movimento Vida além da Trabalho – VAT” se popularizou através das redes sociais. Em qual medida as redes são importantes para amplificar e acelerar o alcance de movimentos como esse e de que forma elas impactam a mobilização popular nas ruas? 

Antes de se tornar vereador no Rio de Janeiro, Rick Azevedo (Psol) foi balconista de farmácia e trabalhou em escala 6X1. Vocês acham que a trajetória do criador do “Movimento Vida além da Trabalho – VAT” têm impacto na sua atuação parlamentar? Vocês acham que todo parlamentar oriundo da classe trabalhadora traz para o plenário os interesses da sua classe?

O deputado federal Delegado Éder Mauro (PL-PA) posicionou-se contrário à PEC 8/25 argumentando que tal medida iria “quebrar” pequenas e médias empresas; já o deputado Marco Feliciano (PL- SP), que é pastor e empresário, afirmou que na sua opinião pessoal, a iniciativa é uma “excrescência” e defendeu, em seu discurso, que as pessoas trabalhassem até a exaustão. O que vocês acham dessas afirmativas?

O vídeo menciona a jornada dupla, tripla das mulheres. O que vocês pensam a respeito?

Rick Azevedo classifica a escala 6X1 como “escravidão moderna”. O que vocês acham dessa analogia?


Separados em grupos, os/ as estudantes receberão uma folha de atividades. Os grupos deverão registrar as respostas na folha e depois, compartilhá-las com a turma. 


Atividade 1: Raízes escravocratas

Fonte nº1

“A gente não pode deixar que esse regime escravocrata continue nos escravizando porque estamos acomodados. Eu não passo fome porque tenho uma mãe que me socorre e tenho outras fontes, mas tem gente que trabalha e não tem o que comer. Estamos vivendo escravidão na pele sem fazer nada” (Rick Azevedo).

Fonte: “Quem é Rick Azevedo, vereador eleito que fundou movimento contra escala 6×1”. 12/11/2024.

Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2024/11/12/quem-e-rick-azevedo-vereador-eleito-que-fundou-movimento-contra-escala-6×1.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 12/8/2025.


Fonte nº2

                       O Malho, outubro de 1917. Biblioteca Nacional (hemeroteca)
Na legenda, lê-se: “- Somos duplamente escravas: escravas do serviço e escravas do patrão!     Não vamos nessa onda! Queremos horas certas no trabalho e ar e luz nas officinas!
                        

O PATRÃO: – Sob pena de…
Sob pena de virarmos homens!
O PATRÃO: ?!?!
De virarmos bichos contra os homens que nos escravizam!”


Fonte nº 3

“Eu fui viver outro serviço escravo no Lloyd Brasileiro (*em 1944). Aí cheguei lá no carvão, eu trabalhei o primeiro mês, aí eu fui receber, eles não me pagaram domingo remunerado, salário família, disse que não tinha férias, só recebia os dias que eu trabalhei. Aí eu reclamei um pouco, aí o cara respondeu: ó o senhor vai ficar aqui pra reclamar é melhor o senhor pedir as contas de uma vez. Aí eu disse, não eu prefiro trabalhar mais um mês. Trabalhei mais um mês, mas tentei arrumar um jeito de me libertar daquela prisão. Se você visse aquele serviço escravo do Lloyd você dizia assim isso não é homem, isso não é gente é animal, bicho”.

(MACHADO, Abdiel Vieira. Entrevista concedida ao Laboratório de História Oral (LABHOI) da UFF. 25/11/1993. In: AMARAL, Luciana Pucu Wollmann do. Niterói Operária: trabalhadores, política e lutas sociais (1942-1964). Rio de Janeiro: APERJ: IOERJ, 2023. p. 67). 


Fonte nº 4

“Mas não se tratava de trabalho pouco, nem mole. Era trabalho duro, estafante – “trabalho negro”, como se dizia, pois o branco não o fazia, e mesmo o crioulo nativo parecia recusar. Os visitantes estrangeiros se impressionaram com a energia investida pelos africanos nas tarefas que cumpriam nas ruas de Salvador. ‘É quase impossível imaginar um trabalho mais estafante’, escreveu Robert Wilson (*em 1808) sobre ganhadores de pau e corda que ele viu transportar pesadas caixas de açúcar no início do século XIX. Na mesma época, Quirijin ver Huell deixou testemunho mais detalhado sobre cena protagonizada por cangueiros numa ladeira que ligava dois planos da cidade: ‘Uma vintena de escravos negros levava nos ombros ladeira acima, com dificuldade, uma caixa de açúcar extremamente pesado; cada um, a sua vez, emitia um grito curto e pausado”. Cena comum era a circulação na área do porto de cangueiros a carregar caixas de açúcar de quase quatrocentos quilos”.

(REIS, João José. Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 75).

Cangueiros. REIS, João José. Op. Cit, p. 47.

Nota: *Datas inseridas pelos autores da SD.

Fonte nº 5

A escala 6X1 e a herança da escravidão na moderna economia brasileira

debate sobre a escala 6×1, que limita o trabalhador a apenas um dia de descanso para cada seis de trabalho, não é apenas uma discussão sobre jornadas ou produtividade: é um reflexo profundo da mentalidade histórica que ainda rege as relações de trabalho no Brasil. O argumento de que melhorar as condições dos trabalhadores “prejudicará a economia” tem raízes coloniais e encontra ecos em diferentes momentos da história do país, como a resistência ao fim da escravidão, à regulamentação das oito horas diárias e, mais recentemente, aos direitos assegurados pela CLT. A economia, nos termos dos privilegiados, sempre precisou de sacrifícios, mas não os deles.

A resistência às reformas trabalhistas sempre usou o mesmo discurso: “É inviável.” Em 1932, quando os operários lutaram pelas oito horas diárias de trabalho, os argumentos contrários eram semelhantes aos que hoje defendem a escala 6×1. Diziam que o Brasil “não estava pronto”, que os negócios quebrariam, que o progresso econômico dependia do sacrifício de quem trabalha. O que nunca se colocou em discussão foi o custo humano dessa exploração: vidas exauridas, famílias desestruturadas e uma sociedade que normalizou o sofrimento do trabalhador enquanto celebra o crescimento econômico.

A escala 6×1 carrega essa mesma lógica. Ela se alimenta da ideia de que descanso é um privilégio, e não um direito. É uma forma contemporânea de manter a classe trabalhadora à disposição, como se seus corpos fossem meras engrenagens de uma máquina de lucro. Essa mentalidade remonta ao Brasil escravocrata, quando a exploração não tinha limites e a vida humana era reduzida à capacidade de gerar riqueza. Não é coincidência que os setores mais afetados pela escala 6×1 sejam aqueles historicamente marginalizados, como os trabalhadores do comércio e da indústria, que muitas vezes pertencem a camadas racializadas e empobrecidas.

(FRANÇA, Rodrigo. Metrópoles. 19/11/2024. Texto na íntegra disponível em: https://www.metropoles.com/colunas/rodrigo-franca/a-escala-6×1-e-a-heranca-da-escravidao-na-moderna-economia-brasileira. Acesso em: 13/8/2025).


Questões:

Complete o quadro abaixo:

 Tipologia da fonteAno/ século a que se refereData da produçãoResumo da fonte
Fonte nº 1    
Fonte nº 2    
Fonte nº 3    
Fonte nº 4    
Fonte nº 5    

Apesar de produzidas em períodos diferentes, as fontes acima possuem algo em comum entre si? Se sim, argumente por quê.

Quais fontes se referem diretamente às desigualdades raciais e de gênero? Quais são os seus argumentos a respeito dessas desigualdades?

Qual das fontes acima mais chamou a atenção do grupo? Justifique a sua escolha. 


Atividade 2: Uma luta histórica

Separados em grupos, os/ as estudantes receberão uma folha de atividades. Os grupos deverão registrar as respostas na folha e depois, compartilhá-las com a turma. 


Fonte nº 1

A Rua, 25/7/1917. Rio de Janeiro, 25/7/1917. Biblioteca Nacional (hemeroteca)

Em um trecho do documento, lê-se: “O que querem os operários de estamparia:  Os operários das fábricas de estamparia em folha de Flandres estão dirigindo aos proprietários das mesmas uma circular contendo as suas reivindicações, que são as seguintes:

a. O dia de 8 horas
b. Aumento de 20% nas obras até 5$ e de 10% nas quantias maiores de 5$000
c. A exclusão das mulheres e menores de 12 anos e analfabetos do serviço das fábricas
d. O trabalho somente até as 15 horas nos domingos e dias feriados
e. O pagamento dobrado nos serões e extraordinários

Fonte nº 2
         
“A primeira greve pós-30 em Porto Alegre foi decretada a 29 de outubro de 1933 em reação ao descumprimento do Decreto n. 23.140/33 sobre as condições de trabalho na indústria da panificação, que estabelecia (entre outros itens) a semana de trabalho de 48 horas semanais, a jornada de 8 horas e o repouso dominical, salvo convenção coletiva em contrário. Enquanto o sindicato pressionava a Inspetoria Regional do Trabalho (IRT) no sentido de que essa garantisse o cumprimento da nova lei, pela qual o trabalho não reiniciaria aos domingos antes das 24 horas, os empresários do setor propunham uma convenção estabelecendo o reinício do trabalho aos domingos às 20 horas no verão e às 18 horas no inverno (…)

As raízes do caso padeiral eram, entretanto, mais profundas. O direito ao repouso semanal aos domingos fora conquistado por uma greve em 1913 e novamente estabelecido por legislação municipal em 1927 – após uma série de greves que causaram até conflitos de morte no seio da categoria – mas em ambas as ocasiões, voltara a ser descumprido por algum tempo. Na sessão de oficialização do sindicato e filiação à Forgs, ocorrida após a frustrada negociação sobre a aplicação da lei da jornada de trabalho de 1932, o sócio Heitor Tanhasco lembrava ‘os companheiros desaparecidos, os quais foram os incansáveis batalhadores e mártires da organização dos padeiros para o descanso dominical”. 

(FORTES, Alexandre. Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas. Caxias do Sul, RS: Educs; Rio de Janeiro: Garamond, 2004, p. 319)


Fonte nº 3

Imagem da capa do Diário Popular, em dezembro de 1962, sobre a greve dos bancários que conquistou, dentre outros garantias, o fim do trabalho aos sábados (Arquivo do Estado – reprodução Sérgio Meker, em 1993). Disponível em: https://spbancarios.com.br/11/2024/trabalho-no-sabado-dos-outros-e-refresco

Fonte nº 4

Tribuna Metalúrgica, junho de 1985. Após greve de 54 dias, os metalúrgicos do ABC lutaram pela jornada de trabalho de 40 e 44 horas semanais. Disponível em: https://smabc.org.br/memoria-campanha-salarial-1985-a-conquista-da-reducao-de-jornada-de-trabalho/

Fonte nº 5

“A jornada de trabalho de oito horas diárias na indústria, instituída no Brasil em 4 de maio de 1932 por Getúlio Vargas (…).

Foi a partir de 1932, com o início da implantação da ampla reforma trabalhista da Era Vargas, que o tema passou a ser tratado com profundidade. Em 4 de maio, o presidente baixou o decreto 21.364, que instituiu a jornada de oito horas diárias e 48 horas semanais na indústria. Decreto semelhante (21.186) já havia sido editado pouco antes, em 22 de março, referente aos trabalhadores do comércio.

Os decretos de 32, como observou a consultora legislativa Roberta Assis, iniciaram o processo de proteção à jornada de trabalho, que viria a ser aperfeiçoado em 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho. A CLT limitou o período de trabalho adicional a duas horas-extras diárias. Além disso, criou as férias de 30 dias e, posteriormente, incorporou o descanso semanal remunerado (Lei 605/1949).

Fonte: Agência Senado. 3/5/2007. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2007/05/03/jornada-de-trabalho-de-8-horas-na-industria-completa-75-anos


Fonte nº 6

“A redução da jornada de trabalho foi um dos maiores embates da Assembleia Nacional Constituinte. Desde o início, em fevereiro de 1987, até a votação do texto final da Constituição, em 1988, o tema mobilizou a sociedade e dividiu os parlamentares. Enquanto muitos deputados e senadores defendiam a manutenção das 48 horas semanais até então vigentes, outros lutavam pela diminuição para 40 horas. No fim, prevaleceu o meio-termo: 44 horas, regime que perdura até hoje. (…).

Também constituinte, o então deputado Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) por diversas vezes ocupou a tribuna na defesa da redução da jornada trabalhista, que ele declarou ser a questão “mais atacada pelo poder econômico”, ao lado da estabilidade de emprego. Ex-dirigente sindical, Lula argumentava que, em todos os países desenvolvidos do mundo, a diminuição da carga horária foi a forma encontrada para minimizar o desemprego.

— Dizer que este país está precisando de uma jornada mais longa é, no mínimo, querer submeter a classe trabalhadora a uma jornada de escravidão. O que precisamos fazer, e outros países já o fizeram, é diminuir a jornada de trabalho, para que as empresas contratem mais trabalhadores, a fim de que haja um aumento da produção não pela escravidão, mas pela duplicação da mão de obra — salientou na época o atual presidente da República”.

(PIMENTA, Paulo. De volta à pauta legislativa, jornada de trabalho causou embates na Constituinte. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/de-volta-a-pauta-legislativa-jornada-de-trabalho-causou-embates-na-constituinte. Acesso em 17/8/2025).


Questões:

Desde o início do século XX, ocorreram várias greves de trabalhadores no Brasil reivindicando a jornada máxima de 8 horas de trabalho diárias. Cláudio Batalha (2000), identificou algumas dessas greves, entre as quais podemos citar: Porto Alegre em 1906, São Paulo em 1907 e Juiz de Fora em1912. Em 1917, uma greve geral de grandes proporções sacudiu o Brasil. Entre as reivindicações, figurava a jornada de trabalho de 8 horas diárias. A partir da análise das fontes acima, identifique as greves apresentadas e complete o quadro a seguir:

N º DA FONTECATEGORIAANOREIVINDICAÇÃO (sobre jornada de trabalho)
    
    
    
    

No tocante à legislação, identifique nas fontes nº 5 e 6 o tipo do documento citado, a data da sua publicação e o que ele prevê em relação à jornada de trabalho.

Analise o processo que regulamentou a jornada de trabalho no Brasil a partir da pergunta: ela foi resultado da “benevolência” de um chefe de estado ou de um processo de lutas? Justifique.


Nesta etapa, trazemos como proposta um aprofundamento do que é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como uma análise sobre os ataques recentes sofridos pela legislação trabalhista. Para isso, propomos a utilização do material abaixo produzidos pelo Chão de Escola.


Após a apresentação do material, em uma roda de conversas, o/a professor/a pode sugerir alguns questionamentos, entre os quais sugerimos:

A culpa é da CLT, como sugerem os memes sobre o assunto?

A CLT é uma conquista, uma “dádiva” ou uma forma de controle dos trabalhadores? O que vocês pensam a respeito?

Como o empresariado recebeu a ideia da CLT na época em que foi concebida e como veem hoje a legislação trabalhista ainda vigente?

Como a Reforma Trabalhista de 2017 impactou as relações contratuais de trabalho no país?

A CLT precisa ser aperfeiçoada? Como a discussão em torno do fim da escala 6X1 influencia essa discussão?


Atividade 3: A culpa não é da CLT!

Separados em grupos, os/ as estudantes receberão uma folha de atividades. Os grupos deverão registrar as respostas na folha e depois, compartilhá-las com a turma. 


Fonte nº 1

Centrão e Faria Lima querem acabar com o descanso semanal e impor 7 x 0, diz Boulos

Cleber Lourenço

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) denunciou, em entrevista ao ICL Notícias, uma articulação entre o Centrão e setores do mercado financeiro para aprovar um projeto que, segundo ele, representa o fim do descanso semanal para os trabalhadores brasileiros. A proposta, já aprovada na Câmara dos Deputados e em análise no Senado, permite jornadas aos domingos e feriados sem necessidade de acordo coletivo.

“Há uma articulação do Centrão com a Faria Lima para impor pautas impopulares e sabotar o governo, de olho nas eleições de 2026. A proposta de escala 7×0 retira direitos para beneficiar o poder econômico em detrimento dos trabalhadores de todo o Brasil”, afirmou Boulos. Ele considera simbólico o fato de o projeto avançar no momento em que o debate público gira em torno do fim da escala 6×1, que garante ao menos um dia de descanso por semana.

O parlamentar também criticou o baixo engajamento da sociedade no debate sobre a proposta, atribuindo isso à influência do capital financeiro sobre a agenda pública. “O poder econômico da Faria Lima e das grandes corporações coopta o Centrão e direciona o debate para os interesses do 0,1% mais rico. Precisamos mobilizar a sociedade num contra-ataque efetivo que dispute a narrativa hegemônica. Já estamos trabalhando nesse sentido”, afirmou.

Parte dos senadores está articulando a votação de três projetos que derrubam a regra do governo Lula — a Portaria MTE 3.665/2023, que garante folga aos trabalhadores aos domingos e feriados. “Na prática, isso significa que milhões de pessoas poderão ser obrigadas a trabalhar sete dias por semana, sem nenhuma folga garantida”, alertou Boulos.

Disponível em:https://iclnoticias.com.br/querem-impor-7×0-diz-boulos/. Acesso em 24/8/2025.


Fonte n º2

Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/charge-os-empreendedores/

Questões:

A partir das fontes apresentadas acima, analise a posicionamento do empresariado, de grande parte do legislativo e da imprensa hegemônica a respeito da redução da jornada de trabalho.
Quais são os seus principais argumentos? O que vocês acham a respeito?

A partir da reforma trabalhista, é possível encontrar hoje no Brasil trabalhadores trabalhando diariamente, sem descanso? Quem seriam esses profissionais? Por que isso hoje é possível nos termos da lei?

Hoje, muitos empregos celetistas são mal remunerados e funcionam em escala 6X1. No entanto, cabe a pergunta: “isso é culpa da CLT?”

Bibliografia e Material de apoio:

AMARAL, Luciana Pucu Wollmann do. Niterói Operária: trabalhadores, política e lutas sociais (1942-1964). Rio de Janeiro: APERJ: IOERJ, 2023.
BATALHA, Claudio Henrique de Moraes. O movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.
FORTES, Alexandre. Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas. Caxias do Sul, RS: Educs; Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
REIS, João José. Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.


Créditos da imagem de capa: Divulgação/Movimento Vida Além do Trabalho. Disponível em: Fim da escala 6×1: marcada a primeira grande manifestação pela pauta que mobiliza o Brasil | Revista Fórum


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Alexandra Veras

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