Chão de Escola #24: Mulheres operárias, trabalho e sindicalismo na ditadura civil-militar brasileira



Victória Ferreira Cunha



Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Fundamental II (9º ano)

Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946.

Objetivos gerais:

– Contextualizar a emergência da ditadura militar no Brasil e os seus impactos nos mundos do trabalho;
– Identificar o espaço ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho e as condições em que as mesmas estavam inseridas;
– Compreender a dinâmica estabelecida no período da abertura política no país e a emergência da participação popular na construção da nova constituição;
– Caracterizar as reivindicações e contribuições das mulheres trabalhadoras na ampliação dos seus direitos.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EF09HI20) Discutir os processos de resistência e as propostas de reorganização da sociedade brasileira durante a ditadura civil-militar.
(EF09HI22) Discutir o papel da mobilização da sociedade brasileira do final do período ditatorial até a Constituição de 1988.
(EF09HI23) Identificar direitos civis, políticos e sociais expressos na Constituição de 1988 e relacioná-los à noção de cidadania e ao pacto da sociedade brasileira de combate a diversas formas de preconceito, como o racismo.

Duração da atividade: 4 aulas de 50 minutos  

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapas 2
03Etapa 3
04Etapa 4

Conhecimentos prévios:

Ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985) e os processos de resistência.

Atividade


Etapa 1: Trabalhadores, sindicatos e ditadura civil-militar no Brasil

Professor(a), busque discutir os fatores internos e externos que contribuíram para que o golpe se estabelecesse em 1964. É importante ressaltar a ampla participação dos trabalhadores e trabalhadoras, dos sindicatos e do próprio CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), pela garantia de melhores condições de trabalho e de vida, visto que se mobilizaram não somente a partir de greves, como também se constituíram enquanto importante mecanismo de pressão para que as propostas das Reformas de Base se concretizassem. Vale mencionar que a relação de Jango com os trabalhadores e outros movimentos sociais não se deu de maneira homogênea, sendo permeada por conflitos e divergências ao longo do seu mandato.

Atividade 1: Após elucidar as principais questões que findaram no golpe de 1964, trabalhe com os estudantes em sala o texto A emergência do golpe e os mundos do trabalho e discuta as questões propostas, pedindo para que eles as respondam no caderno.

  1. O que motivou determinados grupos sociais a operarem um golpe contra o governo do presidente João Goulart em 1964? Quais grupos eram esses?
  2. Quais seriam os fatores externos que teriam contribuído para a consolidação do golpe?
  3. No que se refere aos trabalhadores e suas entidades, responda:

a) De maneira geral, como a classe trabalhadora buscou se mobilizar nos anos anteriores ao golpe? O que os movimentos sociais que envolviam esses trabalhadores pretendiam?
b) Com a deflagração do golpe, quais foram as medidas que atingiram os trabalhadores? Quando essas medidas foram instituídas?
c) Compare as condições atuais dos trabalhadores do Brasil com as condições dos trabalhadores ao longo da ditadura militar, buscando analisar os seguintes pontos:

  • Salário
  • Inflação
  • Poder aquisitivo
  • Alimentação
  • Acesso ao lazer
  • Acesso à educação

Obs.: De tarefa para a casa, peça que os alunos façam uma breve pesquisa sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho, para que a próxima aula seja iniciada com um debate sobre o tema.

Etapa 2: Mulheres, mercado de trabalho e sindicalização

Professor (a), tendo em vista que os estudantes pesquisaram sobre as mulheres e o mercado de trabalho, promova um debate inicial sobre a inserção dessas mulheres no mundo trabalhista, os cargos ocupados, a desigualdade salarial presente até os dias atuais, assim como as condições que envolvem as mulheres e seu cotidiano entre a esfera privada e a esfera pública. Escreva no quadro as informações que os estudantes oferecem.

Após a abordagem inicial, construa uma narrativa explicando a temática. Para auxiliar, colaboramos com a seguinte discussão sugerimos a utilização do texto As mulheres e os Mundos do Trabalho no Brasil: uma breve abordagem;


Etapa 3 e 4: O trabalho das mulheres através do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais

Professor (a), após discutir o contexto da ditadura civil-militar no Brasil, assim como abordar sobre as mulheres nos mundos do trabalho ao longo do século XX, faça uma breve apresentação sobre o Sindieletro/MG (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais) como estudo de caso já que utilizaremos o periódico dessa entidade classista como fonte que será analisada pelos estudantes.

Periódico Hidrelétrico, órgão do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica de BH 21.

Texto I: Sobre o Sindieletro e seus periódicos

O Sindieletro, atual nome do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais, foi criado em 1946 por trabalhadores da empresa “Força e Luz”, responsável pelo fornecimento de energia aos bondes de Belo Horizonte. A Cemig, criada em 1952, anexou a empresa “Força e Luz” no ano de 1973, tendo o sindicato servido aos trabalhadores de ambas as empresas ao longo dessas sete décadas.
As publicações da entidade contam com quatro diferentes fases de circulação em seus impressos: O primeiro, o Hidro-Elétrico (ou Hidroelétrico) iniciou suas publicações em dezembro de 1956 e permaneceu até dezembro de 1961. O periódico seguinte, Hidrelétrico, circulou de dezembro de 1968 a agosto de 1973 e, após uma interrupção, ficou vigente de junho de 1978 a abril de 1983. O periódico da terceira fase, leva o nome atual do sindicato, Sindieletro, que circulou entre julho de 1983 e julho de 1990. Por último, a quarta fase, ocorreu em janeiro de 1994 sob o título “Chave Geral”, o qual se encontra em circulação até os dias atuais. É possível percorrer diferentes caminhos temáticos a partir desses periódicos, na medida em que estes, ao longo de sessenta e três anos de existência, compreendem diferentes contextos históricos.
É possível traçar um breve histórico da participação feminina nos periódicos, visto que inicialmente a participação da mulher se restringiu à redação da sessão “Página Feminina” e de algumas poesias, na fase posterior do jornal essa presença se estabeleceu mediante a escrita de matérias propriamente políticas e trabalhistas, principalmente por Maria Felícia da Rocha Macedo. Apesar da presença de algumas discussões em torno da condição feminina, tais questões só se estabeleceram realmente no impresso “Sindieletro”.
Nessa perspectiva, situadas uma década depois, a Comissão de Assuntos Femininos e a Comissão de Mães permanecem nesse âmbito político, discutindo, todavia, acerca da cidadania feminina e de sua participação no mundo profissional, especialmente no que se refere à reflexão dos impactos e das dificuldades decorrentes da inserção da mulher no mercado de trabalho. Além disso, essas comissões criaram meios de comunicação entre as sindicalizadas, proporcionando-lhes uma melhor articulação, o que contribuiu para a organização de debates e pautas de reivindicação propriamente femininas.
Algumas discussões culturais e poéticas presentes nos periódicos anteriores praticamente desapareceram no “Sindieletro”. Todavia, um aspecto bastante instigante no jornal foi a presença da coluna “Nós, Mulheres”, redigida e organizada pela “Comissão de Assuntos Femininos” do Sindicato. A coluna abordou, de maneira geral, discussões acerca da condição feminina, da desigualdade entre gêneros no mercado de trabalho, da dupla jornada enfrentada pelas mulheres, assim como publicou convites e discussões decorrentes de encontros nacionais de mulheres.

Atividade 2: Professor (a), para a análise do periódico, divida a turma em grupos e distribua o roteiro de análise a seguir. Esse mesmo roteiro deve ser utilizado por todos os estudantes, visando em um primeiro momento analisar de maneira geral o periódico enquanto fonte, e posteriormente, se detendo às matérias de autoria feminina como indicado em cada documento. Solicite que os estudantes retirem dos documentos e registrem no caderno trechos que evidenciam as condições de trabalho enfrentadas pelas mulheres desenvolvendo o debate sobre o trabalho feminino no contexto da ditadura civil-militar.

  • Como atividade final, solicite que cada grupo de estudantes produza um cartaz com os principais temas retirados dos documentos do periódico sindical sobre o trabalho feminino.

Roteiro de Análise


Bibliografia e Material de apoio:

CORRÊA, Larissa. Disseram que voltei americanizado: Relações sindicais Brasil-Estados Unidos na ditadura militar. Campinas: Editora Unicamp: 2017.

CORRÊA, Larissa; FONTES, Paulo. As falas de Jerônimo: Trabalhadores, sindicatos e a historiografia da ditadura militar brasileira. Anos 90. Porto Alegre, v.23, n. 43, p.129-151, jul.2016.

LUNA, Francisco V. KLEIN, Herbert S. Transformações econômicas no período militar (1964-1985). In: REIS, Daniel Aarão. RIDENTI, Marcelo. MOTTA, Rodrigo P. Sá. A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe. São Paulo: Zahar, 2014.

MATTOS, Marcelo Badaró. O sindicalismo brasileiro após 1930. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.       

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho. São Paulo: Perspectiva, 2002.

NAGASAVA, Heliene. O sindicato que a ditadura queria: O Ministério do Trabalho no governo Castelo Branco (1964-1967). Jundiaí: Paco Editorial, 2018.

NAPOLITANO, Marcos. Recordar é vencer: as vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro. Antíteses, Londrina, V. 8, n. 15, 2015, p. 9-45.

NEGRO, Antonio; CORRÊA, Larissa; FONTES, Paulo. Trabalhadores e Ditadura. Revista Mundos do Trabalho. Florianópolis, v.6, nº 11, p.5-9, jan./jun. 2014.

SANTANA, Marco Aurélio. Ditadura Militar e a resistência operária: O movimento sindical brasileiro do golpe à transição democrática (Dossiê). Política & Sociedade, Santa Catarina, n. 13, 2008.


Créditos da imagem de capa: PASSEATA DE MULHERES NO LARGO CARIOCA À CINELÂNDIA, NO RIO DE
JANEIRO EM 1983 (FOTO: ALMIR VEIGA (CPDOCJB)) acessado no site, https://www.geledes.org.br/ostestemunhos-das-mulheres-que-ousaram-combater-a-ditadura-militar/



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.

LEHMT

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