Chão de Escola #19: Tempos de luta: trabalhadores e política em um contexto de democracia de massas (1945-1964), por José Robson da Silva



José Robson da Silva (Professor na rede pública municipal de Campinas-SP)



Apresentação da atividade

Segmento: 9º ano do Ensino Fundamental, 3º ano do Ensino Médio e EJA.

Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946.

Objetivos gerais:

Discutir o tema do populismo, seus múltiplos significados e a apropriação do conceito por diferentes atores políticos, questionando até que ponto o termo pode ser utilizado para deslegitimar estratégias de luta por direitos por parte das classes populares; 
– Discutir o tema da migração interna como um dos pilares da formação da formação da classe trabalhadora no período em questão;
– Conhecer e refletir sobre algumas formas de organização de base dos trabalhadores no período.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EF09HI06) Identificar e discutir o papel do trabalhismo como força política, social e cultural no Brasil, em diferentes escalas (nacional, regional, cidade, comunidade).
(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos sociais.

Duração da atividade:  

Aulas Planejamento
01Etapa 1 e 2
02Etapa 3
03Etapa 4 e 5
04Etapa 6

Conhecimentos prévios:

– Imigração e movimentos sociais, sobretudo grevistas, na Primeira República;
– Era Vargas, o Trabalhismo e a CLT;
– Partidos políticos e eleições no pós-1945.


Atividade


Recursos: xérox, projetor, cartolina.


Etapa 1

Iniciar a atividade questionando aos alunos se eles já ouviram ou sabem o significado do termo “populismo”.
A partir das respostas, explicar que o termo populismo já teve muitos sentidos dependendo da época e do local e que o termo é muito utilizado para designar o período entre 1945 e 1964, que é a primeira experiência democrática da História do Brasil.
Através de uma aula expositiva dialogada, apresentar que, por muito tempo, a palavra populismo e populista carregou, e ainda hoje carrega, um sentido pejorativo, estando muito ligada à ideia de que as classes populares, especialmente os trabalhadores, eram vítimas de manipulação por parte de políticos inescrupulosos.

Solicite que os estudantes respondam a questão abaixo:

1. Identifique um político da atualidade que é identificado como populista e explique essa qualificação.


Etapa 2

Debata com os alunos até que ponto este sentido atribuído ao termo pode limitar o exercício da cidadania e a luta por direitos sociais em uma sociedade democrática, uma vez que qualquer política que atenda a anseios das camadas populares e que tenha como consequência apoio político e/ou votos pode ser classificada como populista e, assim, deslegitimada.
Após questionar o conceito, para evidenciar que o termo populista poderia ser lido de uma maneira completamente diferente, realizar uma leitura coletiva de um trecho de uma palestra radiofônica de Ademar de Barros em 1949. Como se trata de um texto originalmente falado, seria interessante que ele fosse lido em voz alta.

A partir deste pequeno trecho da palestra, solicitar que os estudantes respondam as questões abaixo:

1. Pesquise quem foi Ademar de Barros e escreva um pequeno perfil do político.
2. Analise o discurso e responda as questões abaixo:
a) A quem o discurso de Ademar de Barros era dirigido?
b) Como ele caracteriza “ser populista”?
c) Para Ademar, quem são aqueles que rejeitam o populismo?


Etapa 3

A partir das discussões chamar a atenção dos alunos para o processo de industrialização iniciado nos anos 1930 que se acelera nos anos 1940 e 1950, levando a um forte processo de migração para as cidades e à formação de uma numerosa classe trabalhadora urbana.
A depender da localização da escola, fazer paralelos entre os bairros periféricos da época e as atuais regiões periféricas das nossas grandes cidades.
Informar que, além das palestras radiofônicas, havia um partido político vinculado a Adhemar (o PSP), bem como uma grande participação de adhemaristas em associações de bairro, como as chamadas Sociedades de Amigos de Bairro (SABs), clubes de futebol e outras associações.
Enfatizar que a relação entre Adhemar e seus eleitores não se baseava apenas na manipulação, mas tinha como pano de fundo demandas efetivas desta população. Para isto, apresente o texto abaixo, que deve ser lido coletivamente, e proponha as questões que o seguem, que devem ser respondidas por escrito e depois socializadas.

Responda as questões abaixo:

1. Os autores concordam ou discordam da ideia de que a relação das classes populares com políticos populistas seria baseada na manipulação? Justifique sua resposta.
2. Ainda segundo os autores, quais eram as questões centrais nas relações das classes populares com o poder público?
3. Para as classes populares, de que maneira o governo poderia agir para garantir a qualidade de vida?
4. O texto aponta duas características fundamentais do sistema populista. Quais seriam elas?
5. De que maneira as classes populares relacionavam-se com o voto no contexto analisado pelos autores?
6. Segundo os autores, em que se baseava o sucesso de Adhemar e Jânio? Isso confirma ou desmente a ideia de que o sucesso desses políticos se devia apenas ao seu carisma e poder de manipulação?


Etapa 4

Retomar a ideia de populismo discutida na etapa anterior, mostrando que ela se aplicava também à relação do Estado com os trabalhadores, vistos como passivos e manipulados pelo aparato estatal e sindicatos pelegos.
Discutir rapidamente os aspectos principais da estrutura sindical criada pós 1930 e da legislação trabalhista. Enfatizar o contraste existente entre a memória do movimento operário pré e pós 1930, na medida em que, na memória do período pré-1930, enfatiza-se um sindicalismo de cunho anarco-sindicalista e esquece-se outras correntes, enquanto no período pós-1930 é enfatizado apenas um sindicalismo do tipo pelego.
Pedir que os alunos levantem hipóteses sobre o que leva a esta diferença na memória relativa aos dois períodos. À medida que as hipóteses forem sendo levantadas, introduzir informações que permitam comparar os dois contextos, como o peso da população urbana e operária nos dois períodos; os tipos de indústria existentes em cada contexto; a forte imigração europeia no pré-1930 e o predomínio da migração interna no pós-1930.
Questionar se uma certa visão estereotipada sobre os imigrantes europeus em oposição aos migrantes nacionais, sobretudo da região nordeste do país, não tem alguma influência nesta memória. 


Etapa 5

Nesta etapa, os alunos, em pequenos grupos, devem realizar no caderno a análise das fontes que discutem a migração por meio da resolução das atividades propostas. 

MIGRAÇÃO – Os relatos abaixo mostram distintas experiências de trabalhadores e trabalhadores migrantes entre os anos 1940 e 1960.

1. A FONTE 1 é um documento oficial produzido pelo estado de São Paulo. Como este documento descreve os migrantes?
2. A FONTE 2 descreve o processo de migração para a cidade de Ipatinga, no interior de Minas Gerais, no início dos anos 1960. Quais aspectos da situação dos trabalhadores migrantes descritos nesta fontesão comuns aos que são descritos na FONTE 1?
3. Quais os elementos indicados na FONTE 3 que podiam influenciar na decisão de um trabalhador em iniciar o processo de migração?
4. Leia com atenção as fontes nº 3 e n° 4 e indique as principais estratégias adotadas pelos trabalhadores migrantes do período.
5. Por que podemos dizer que o processo de migração não significava o fim dos laços sociais e de solidariedade forjados por esses trabalhadores nos seus locais de origem?


Etapa 6

Como atividade de finalização da sequência didática, realize uma roda de conversa com os estudantes, apresentando as fontes e discutindo as questões. Cada grupo deve apresentar as análises sobre cada documento.
Discuta em que medida a imagem da migração nacional como algo desorganizado fazia sentido ou não para explicar a consciência de classe dos trabalhadores.
Explique que ao contrário da imagem de passividade e irracionalidade política, os migrantes realizaram várias lutas para reivindicar direitos sociais para os trabalhadores e a sociedade de amigos de bairro e outras organizações políticas e sociais nas periferias urbanas evidenciam a construção da consciência de classe dos trabalhadores nas cidades.


Bibliografia e Material de apoio:

COSTA, Hélio da. Em busca da memória – Comissão de fábrica, partido e sindicato no pós-guerra. São Paulo, Scrita, 1995.

DUARTE, Adriano Luiz; FONTES, Paulo. O Populismo Visto da Periferia: Adhemarismo e Janismo nos Bairros da Mooca e São Miguel Paulista, 1947-1953. Cadernos AEL: populismo e Trabalhismo n.20/21. Campinas, 2004. pp. 83-121.

FONTES, Paulo. Um Nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-1966). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

FONTES, Paulo; MACEDO, Francisco. Piquetes como repertório: organização operária e redes sociais nas greves de 1957 e 1980. Topoi,Rio de Janeiro , v. 18,n. 34, p. 23-47, Jan. 2017 .

GOMES, Angela Castro. A invenção do trabalhismo. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2005. 

LEAL, Murilo. A reinvenção da classe trabalhadora (1953-1964).Campinas, Editora da Unicamp, 2012.

NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando Teixeira da. Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (org.). O Brasil republicano. O tempo da experiência democrática: Da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

SILVA, Fernando Teixeira e COSTA, Hélio. Trabalhadores urbanos e populismo: um balanço dos estudos recentes. In: FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

MATERIAL DE APOIO: 

https://lehmt.org/2020/12/08/chao-de-escola-07-do-abono-de-natal-ao-decimo-terceiro-salario/

http://memorialdademocracia.com.br/

http://abet-trabalho.org.br/


Créditos da imagem de capa: Fotografia de Marcel Gautherot. Trabalhadores construindo o Congresso Nacional, 1958. Fonte: CPDOC/FGV.



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.

LEHMT, Samuel Oliveira, Claudiane Torres da Silva e Luciana Wollmann

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