Minicurso Fontes, arquivos e história social do trabalho


O LEHMT/UFRJ oferece, em parceria com o Laboratório de Conexões Atlânticas da PUC-Rio e o NEPHS-UFRRJ, o minicurso de extensão Fontes, arquivos e história social do trabalho.

O minicurso oferece sete oficinas que abordam metodologias e fontes de pesquisa no campo da História Social do Trabalho, com foco em arquivos, história oral e sistematização de dados. O objetivo é proporcionar aos participantes uma compreensão aprofundada desses temas e suas aplicações tanto na universidade, quanto fora dela. Além de discussões teóricas e conceituais, serão oferecidos exemplos concretos e exercícios aos participantes.

Público-alvo: Estudantes de graduação e pós-graduação em História, Ciências Sociais, Geografia, Educação, Comunicação, Economia e áreas afins; professores do ensino fundamental, médio e universitário, e profissionais interessados em história social em geral e história do trabalho em particular.

Objetivo: Debater a importância da história pública nos dias atuais, refletindo sobre como historiadores podem atuar nas plataformas digitais e disputar narrativas. Particular atenção será dada para a relação entre história pública e os mundos do trabalho, com ênfase na experiência do LEHMT/UFRJ.

Vespertino: Dia 07 de maio, entre 15h e 18h – PUC-Rio: Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea
Noturno: Dia 09 de maio, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Apresentar alguns dos principais arquivos e tipologias de fontes utilizadas na pesquisa histórica no campo da história social do trabalho, destacando os desafios e as potencialidades do uso dessas fontes para a construção do conhecimento histórico nessa área. Particular atenção será dada às possibilidades de pesquisa no Arquivo Nacional,  no Museu da Justiça e no APERJ (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro).

Vespertino: Dia 05 de junho, entre 14h e 17h – CPDA-UFRRJ: Avenida Presidente Vargas, 417 – Centro
Noturno: Dia 04 de junho, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Explorar técnicas para a pesquisa em acervos internacionais, destacando a importância de integrar fontes globais à História Social do Trabalho no Brasil. A oficina abordará experiências em arquivos dos Estados Unidos, México, Europa e América Latina, ampliando o horizonte metodológico dos participantes.

Vespertino: Dia 26 de junho, entre 14h e 17h – PUC-Rio: Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea

Noturno: Dia 25 de junho, entre 18h e 20h  – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Capacitar os participantes no uso do GIS para a organização e análise de dados históricos, com foco na história social do trabalho. O curso abordará a aplicação de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) na sistematização de fontes quantitativas e qualitativas, permitindo a identificação de padrões espaciais e a visualização de tendências históricas. Os participantes aprenderão a estruturar grandes volumes de dados e a utilizar ferramentas do QGIS para enriquecer suas pesquisas acadêmicas por meio da análise espacial.

Vespertino: Dia 07 de agosto, entre 14h e 17h – PUC-Rio: Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea

Noturno: Dia 13 de agosto, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Abordar os conceitos e as práticas de história oral como ferramenta de pesquisa histórica, enfocando as metodologias de coleta e análise de depoimentos. Analisar a trajetória dos usos de história oral na historiografia do trabalho tanto internacionalmente, quanto no Brasil. Discutir como a história oral pode ser utilizada como ferramenta importante na pesquisa de história do trabalho.

Vespertino: Dia 04 de setembro, entre 14h e 17h – CPDA-UFRRJ: : Avenida Presidente Vargas, 417 – Centro

Noturno: Dia 11 de setembro, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Capacitar os participantes a utilizar ferramentas digitais, como o Heurist, para sistematizar, organizar e analisar pesquisas quantitativas relacionadas à história social do trabalho, aplicando essas ferramentas para enriquecer a análise histórica. Como utilizar ferramentas como o Heurist para organizar grandes volumes de dados históricos, facilitando a análise e a visualização de tendências e padrões.

Vespertino: Dia 09 de outubro, entre 14h e 17h – PUC-Rio: Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea

Noturno: Dia 20 de outubro, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Objetivo: Explorar o potencial do FamilySearch como ferramenta para pesquisa em história do trabalho, demonstrando como registros genealógicos podem revelar trajetórias profissionais, dinâmicas familiares e fluxos migratórios ao longo do tempo. Como integrar dados do FamilySearch com outros acervos e bases estatísticas para aprofundar análises sobre a história do trabalho.

Vespertino: Dia 6 de novembro, entre 14h e 17h – CPDA-UFRRJ: Avenida Presidente Vargas, 417 – Centro

Noturno: Dia 12 de novembro, entre 18h e 20h – IH-UFRJ: Largo São Francisco de Paula, 1 – Centro

Atividades extras:  Visitas guiadas ao Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro (AMORJ) no IFCS/UFRJ; ao Núcleo de Memórias da PUC-Rio e ao Centro de Documentação e Imagem da UFRRJ (CEDIM).

Formato: Presencial, no Instituto de História da UFRJ, no CPDA da UFRRJ e na PUC-Rio, com aulas no turno vespertino e noturno.

LMT#134: Rampa da Imperatriz, Manaus (AM) – Caio Giulliano Paião


Quem chegasse de vapor na Manaus dos anos 1880 veria o navio fundear um tanto distante da orla. Um silvo estridente dava início a uma confusão a bordo. Os passageiros reuniam suas bagagens e a marinhagem preparava o desembarque. Esse serviço era feito no meio do rio. Encostar o barco arriscaria um encalhe. Sem demora, os botes chegavam para o traslado. Eram as catraias. Tinham em torno de oito metros, eram pintadas de branco e suas toldas protegiam os passageiros do sol inclemente. Esse calor amazônico parecia desafiado pelo remador – o catraieiro – que usava boné de lã, camisa quadriculada de manga comprida, calça de brim e tamancos. Remava de pé, com um par de remos compridos. Na popa, uma placa semicircular trazia o nome da catraia, geralmente uma distante cidade natal dos catraieiros; a maioria vinha de Portugal. Ela tomaria o rumo da única entrada da cidade naquele tempo: a rampa da Imperatriz. Em 1884, os catraieiros fariam ali a primeira greve que se teve notícia em Manaus. Uma greve em tons abolicionistas que mudou para sempre aquela vida portuária.

Os passageiros que desembarcavam na rampa eram envolvidos por uma explosão de sensações: o aroma de peixes frescos, frutas, legumes e ervas misturava-se ao vozerio das vendeiras, ambulantes, carroceiros, carregadores, estivadores, marítimos. Esse cenário de intenso movimento humano era relativamente recente. Décadas antes, não se via tamanha aglomeração, com tantas profissões, nacionalidades, cores de pele, origens étnicas e diferentes condições jurídicas. Mulheres e homens, livres e libertos, conviviam e ajustavam suas diferenças com a população negra escravizada, cuja presença seria ampliada se dependesse do tráfico interno. Na região, o número de escravizados crescia entre as décadas de 1870 e 1880, contrastando com a redução vista em outras partes do país. Manaus concentrou boa parte desse contingente em atividades urbanas e domésticas, enquanto outras levas eram enviadas para os seringais e propriedades rurais. O tráfico interprovincial beneficiava não apenas os senhores, mas gente que lucrava com os fundos de emancipação. Falando em economia, o Amazonas gozava da boa recepção da borracha amazônica e de outros produtos no mercado internacional. Havia um frenesi de vapores que não paravam de aportar na capital.


Tudo passava pela rampa da Imperatriz, dominada pelos catraieiros e seu sistema de desembarque. Esse controle já vinha incomodando as autoridades e logo se tornaria uma grande dor de cabeça para os senhores e traficantes de escravizados.


Em 1883, havia 113 catraias para 159 catraieiros, quase todos portugueses. Muitos deles eram originários de Póvoa de Varzim, onde aprenderam a construir e manejar embarcações. Eles chegaram a Manaus e Belém após uma crise no setor pesqueiro, provocada pela expansão de empresas britânicas que gerou uma onda de desemprego na pesca artesanal de Portugal. Muitos jovens solteiros acabaram seduzidos para imigrarem ao Brasil. Familiarizados com a lida marítima, eles se estabeleceram nos portos das “capitais da borracha” em vez do trabalho nos seringais. Foi assim que os catraieiros se depararam com o tráfico interprovincial realizado pelos vapores. 

Em julho de 1883, um grupo de abolicionistas de Belém publicou nos jornais o caso de um escravizado que resistiu para embarcar no vapor Pará, em direção à Manaus, para não ficar afastado de um familiar. Sua resistência conseguiu chamar a atenção de autoridades portuárias, que vetaram seu embarque. Essa publicação visava sensibilizar os catraieiros para que, seguindo exemplo dos jangadeiros do Ceará, se recusassem a transportar escravizados/as dos vapores.

A ação dos jangadeiros foi crucial para que o Ceará se tornasse a primeira província a abolir a escravidão, em 25 de março de 1884. Na Amazônia, o ativismo abolicionista via nos catraieiros um papel semelhante. Os de Belém foram os primeiros a aderirem, integrando a Sociedade Abolicionista 28 de Setembro. Já em Manaus, o fechamento do porto veio por uma ação conjunta com abolicionistas brancos.

Os catraieiros fizeram o seu cálculo: com a alta do fluxo de navios, esses escravizados poderiam vir a substituí-los, o que favoreceria negociantes do setor portuário e de exportação. Ocupar a rampa da Imperatriz paralisaria a cidade, destacaria a defesa de seus postos de trabalho e consolidaria uma aliança estratégica com abolicionistas brancos e políticos locais. Além disso, como responsáveis por esses desembarques desumanos, certamente razões humanitárias também motivaram a adesão ideológica ao abolicionismo.

No dia 7 de maio de 1884, os catraieiros enviaram um ofício ao presidente da província do Amazonas, anunciando a greve. É provável que o movimento tenha contado com o apoio de embarcadiços e demais trabalhadores negros. Embora os detalhes da parede sejam desconhecidos, sua eficácia foi incontestável: dois dias depois foi decretado o fechamento do porto de Manaus para o tráfico interprovincial. Os abolicionistas e os catraieiros declararam a rampa da Imperatriz como território livre. No dia 10 de julho de 1884, possivelmente eles estavam no largo 28 de Setembro (atual praça Heliodoro Balbi), comemorando a Abolição, agora concretizada no Amazonas. Sua mobilização tinha parcela nessa conquista, evidenciando a força organizativa de trabalhadores imigrantes imersos nas disputas políticas e no movimento abolicionista local, mas também preocupados em proteger seus próprios interesses.

Até que, em 1900, a Lei do Beneficiamento da Borracha exigiu uma infraestrutura adequada para o escoamento do produto, o que levou à adaptação do porto de Manaus à economia de exportação. O domínio dos catraieiros foi minado de uma vez por todas. Entre 1903 e 1907, foi construído o novo porto, e a rampa da Imperatriz deu lugar ao imponente prédio da Alfândega, hoje um marco arquitetônico da capital. Esse foi o soterramento literal do lugar de memória da greve de 1884, e de outras agências nas lutas contra a escravidão. 

George Huebner. Rampa da Imperatriz [fotografia], Manaus, c.1890-c.1902. Acervo: Coleção particular.  


Para saber mais:

  • ALVES-MELO, Patrícia. “Superfaturamento e verba pública: como elite lucrou com abolição ‘precoce’”. Disponível em: <Superfaturamento e verba pública: como elite lucrou com abolição “precoce” – 20/07/2022 – UOL Notícias>.
  • COSTA, Jéssyka Sâmya. Por todos os cantos da cidade: escravos negros no mundo do trabalho na Manaus oitocentista (1850-1884). Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2016 (Dissertação de Mestrado).
  • LAURINDO JÚNIOR, Luiz Carlos. Rios de escravidão: tráfico interno e o mercado de escravos no Vale do Amazonas (1840-1888). São Paulo, Universidade de São Paulo, 2021 (Tese de Doutorado).
  • PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. “Migração, trabalho e etnicidade: portugueses e ingleses no porto de Manaus, 1880-1920”. Varia História, vol. 30, n. 54, 2014.
  • POZZA NETO, Provino. Aves Libertas: ações emancipatórias no Amazonas Imperial. Manaus, Universidade Federal do Amazonas, 2011 (Dissertação de Mestrado).

Crédito da imagem de capa: Huebner & Amaral [estúdio]. Manáos – Porto de desembarque [cartão postal], Manaus, c.1901. Acervo: Coleção particular.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Mensalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

LMT #133: Santa Marina Atlético Clube (SMAC), Água Branca, São Paulo (SP) – Aira Bonfim


A história do clube esportivo Santa Marina Atlético Clube (SMAC) está intrinsecamente ligada ao processo de industrialização da cidade de São Paulo. A região que se estende dos bairros da Água Branca à Freguesia do Ó, situada nas áreas alagáveis ao redor do Rio Tietê, era conhecida por abrigar depósitos de areia com cor e qualidade ideais para a produção de vidro branco.

Em 1895, Antônio da Silva Prado e Elias Fausto Pacheco Jordão fundaram a empresa Prado & Jordão, na Água Branca, que inicialmente se dedicava à produção de vidros planos. A partir de 1896, a fábrica passou a se dedicar à produção de garrafas, em resposta ao desenvolvimento da indústria cervejeira brasileira. A Fábrica de Vidros Santa Marina, foi oficialmente estabelecida em 1901, após a aquisição, por Antônio Prado, da parte da sociedade pertencente aos herdeiros de Jordão. O nome da empresa foi escolhido em homenagem à filha falecida de Prado. Parcela importante dos trabalhadores da fábrica era composta de vidreiros especializados vindos da França, mas a presença de imigrantes italianos também era relevante.

Naquele mesmo período, a questão habitacional para os operários era objeto de discussão na cidade, dado o rápido crescimento populacional e a difusão de cortiços, o que levantava preocupações sanitárias. Em resposta a essas preocupações, em 1894, foi elaborado o Código Sanitário, que estipulava as diretrizes para a construção e a estruturação das vilas operárias. A responsabilidade pela construção das vilas foi transferida para a iniciativa privada, levando diversas empresas a erguerem esses empreendimentos para seus próprios funcionários.

Essa medida, além de garantir um maior controle sobre os trabalhadores,  visava tornar o negócio mais lucrativo, já que, devido às dificuldades de acesso às fábricas e às frequentes inundações do Rio Tietê (especialmente na região da Água Branca), os operários muitas vezes ficavam impedidos de chegar ao trabalho. Nesse contexto, no início da década de 1910, Antônio Prado inaugurou duas vilas operárias contíguas à fábrica Santa Marina: a Vila Velha, pioneira, e posteriormente a Vila Nova.

Francisco Ingegnere, conhecido como Chiquinho, ex-trabalhador da empresa, jogador amador e atual presidente do Santa Marina Atlético Clube (SMAC), relata que a prática do futebol entre os trabalhadores remonta exatamente a esse período. Oficialmente, o clube, inicialmente denominado Santa Marina Football Club, foi organizado em 1913 por um grupo de operários, a partir da iniciativa de José Bonelli, um dos trabalhadores da vidraçaria.

Antônio Prado Jr., filho do fundador da empresa, teria contribuído para a criação do time, o que é destacado pela presença de um busto em sua homenagem na área de convivência do clube. Ter o nome da fábrica estampado nas camisas dos jogadores (e trabalhadores) aumentava a visibilidade e o reconhecimento da marca da empresa, associando-a positivamente ao esporte e à comunidade local. Além disso, o patrocínio de times de futebol amadores era uma estratégia para fortalecer os laços com a comunidade operária.


Por outro lado, o futebol estreitava os laços horizontais e de solidariedade entre os trabalhadores forjando muitas vezes uma consciência crítica em relação aos patrões, frequentemente criando um senso de identidade comunitária e de classe. Em muitos momentos, essas identidades se expressaram em protestos e greves como a de 1909 que paralisou completamente a fábrica.


Assim, o clube tornou-se um espaço fundamental para o lazer e sociabilidade de toda comunidade de trabalhadores e seus familiares. Em meio ao seu rico acervo iconográfico preservado, é possível reconhecer vestígios de excursões pelas cidades do interior de São Paulo, confraternizações diversas e a iniciação esportiva através do boxe, halterofilismo, ciclismo e futebol.

Em meio às transformações que envolveram a profissionalização do esporte bretão no Brasil na década de 1930, o SMAC teve uma breve incursão no futebol profissional, participando do Campeonato da Liga Esportiva de Comércio e Indústria (LECI) de 1959 a 1960 e do Campeonato Paulista da 3ª Divisão em 1960. Com o passar dos anos, o clube passou a cumprir não apenas a função de recreação, mas também de assistência e segurança social para as comunidades de toda aquela região.

A empresa Santa Marina foi adquirida pela multinacional francesa Saint-Gobain na década de 1960. Mesmo sem manter as operações no antigo terreno da fábrica da Santa Marina nos dias atuais, parte da estrutura fabril permanece no mesmo local. As chaminés do forno da empresa foram oficialmente tombadas em 2009. No entanto, o tombamento inclui apenas a preservação integral das chaminés e de algumas outras estruturas arquitetônicas da fábrica.

Já o clube de várzea do Santa Marina não foi incluído no tombamento, apesar  de representar uma rara conformação cultural-esportiva-popular que resiste às transformações urbanas e especulação imobiliária. Nos últimos quinze anos, a associação tem enfrentado ameaças de despejo da Saint-Gobain. No entanto, o clube tem resistido e se mobilizado, inclusive com o uso de uma Ação Civil Pública, amparada em um novo instrumento chamado de Proteção de Área Cultural.

A despeito dos desafios recentes, a comunidade segue organizada e em luta, e espera colaborar para novas maneiras de pensar os patrimônios coletivos e de trabalhadores, que levem em conta o direto às atividades de lazer bem como assegurem a existência das iniciativas autônomas e populares de preservação da memória.

Finais do “Campeonato Popular de Box”  na década de 1950. Acervo SMAC | Direitos Reservados.


Para saber mais:

  • BONFIM, Aira F. Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941). Edição da Autora, 2023.
  • SANTOS, Regina Helena Vieira. Vilas Operárias como patrimônio industrial. . Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/VI_coloquio_t2_vilas_operarias.pdf. Portal do IPHAN, VI Colóquio Vilas Operárias, 2012.
  • DOS SANTOS, Alberto Luiz; BONFIM, Aira; SPAGGIARI, Enrico. Mapeamento do futebol de várzea de São Paulo (SP): Reflexões para processos de proteção ao patrimônio. Revista Desenvolvimento Social, v. 28, n. 1, p. 122-152, 2022.
  • OLIVEIRA, Gabriel Yukio Shinoda. Entre a bola e a fábrica: reflexos da industrialização paulistana no clube de fábrica Santa Marina. Revista Hydra: Revista Discente de História da UNIFESP, v. 5, n. 9, p. 339-356, 2021.
  • RODRIGUES, Angela Rosch. Patrimônio industrial e atividade fabril: o caso da antiga Vidraria Santa Marina. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/264044619_Patrimonio_industrial_e_atividade_fabril_o_caso_da_antiga_Vidraria_Santa_Marina
  • Portal Researchgate, VI Colóquio Latino-Americano: sobre recuperação e preservação do patrimônio industrial, São Paulo, 2012.

Crédito da imagem de capa: Vista aérea da fábrica e do campo de futebol de várzea do Santa Marina Atlético Clube. Direitos Reservados. 


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Chão de Escola #46: O colonialismo e as relações de trabalho na contemporaneidade – um olhar através do cinema africano, por David Marinho


David Marinho de Lima Junior (Professor de História nos municípios de Cabo Frio e Maricá)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio

Unidade temática: Política e Trabalho

Objetos de conhecimento:
Descolonização da África contemporânea, relações étnico raciais na contemporaneidade e relações de trabalho na contemporaneidade

Objetivos gerais:
– Apresentar aos educandos uma narrativa africana sobre o desdobramento do processo de independência política do continente.
– Analisar as questões de classe, raça e gênero presentes no filme “La Noire de …
– Identificar nas relações de trabalho da contemporaneidade as permanências do colonialismo europeu.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc, desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.

Duração da atividade: 

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2
03Etapa 3

Conhecimentos prévios:
– Política colonial francesa em África;
– Contexto das independências africanas no pós 1945;
– Panafricanismo


Atividade

Atividade e recursos: Computador com acesso à internet, projetor e caixa de som, ou TV com acesso à internet

Considerando que os educandos já estão familiarizados com o contexto pós 1945 no continente africano, a primeira etapa consiste em apresentar a biografia de Ousmane Sembène. O professor pode contextualizar a trajetória do cineasta em uma aula expositiva ou usar o storytelling como ferramenta. A proposta é ressaltar a agência africana frente ao colonialismo e despertar o interesse dos educandos pela sua obra. Para facilitar, seguem alguns destaques da trajetória do cineasta:

Ousmane Sembène nasceu em 1923 na região da Casamansa, território ao sul da Gâmbia que hoje faz parte do Senegal, marcado pela insurgência e pela pluralidade étnica. A Casamansa nunca foi completamente pacificada pelos franceses, até hoje existe uma luta separatista pela independência da região. Importante ressaltar que a manutenção de sua pluralidade é uma das principais bandeiras da região, contrariando uma percepção comum sobre as realidades africanas de que a pluralidade étnica resulta em conflitos e enfraquecimento.
Sembène teve uma educação corânica em sua família (o Islã é a religião majoritária na região) e teve acesso ao sistema de educação francês por conta de seu pai ser originalmente de Dacar. (Dacar era uma das quatro comunas francesas que davam acesso à “cidadania” francesa aos africanos colonizados através da política de assimilação cultural. Obviamente, uma cidadania de segunda classe)
O futuro cineasta foi expulso da escola francesa na Casamansa após revidar a agressão de um professor francês e em 1938 se mudou para Dacar, sob os cuidados de um tio, onde deu sequência aos estudos em outra escola francesa.
Em 1943 se alistou nos Atiradores Senegaleses, tropa que reunia africanos de toda a antiga África Ocidental Francesa (AOF) para lutar na Segunda Guerra Mundial.
A guerra foi um marco na formação da visão de mundo de Sembène, no exército ele vivenciou o racismo e a segregação racial, passando a questionar a suposta dívida que os africanos teriam com os franceses, segundo a educação oferecida pelos franceses nos moldes assimilacionistas.
Em 1946, ele deixa o exército e vai tentar a vida em Marselha, na França. Trabalhou como estivador e se aproximou do movimento sindical. Já não era mais uma pessoa religiosa e se ressentia pela falta de reconhecimento da participação de soldados negros africanos na guerra.
Filiou-se ao Partido Comunista Francês, se tornando um proeminente membro da Confédération générale du travail (CGT) em 1950.
No início da década de 1950, sofreu um grave acidente de trabalho que o levou a ficar meses de cama. Nesse tempo, se dedicou aos livros da biblioteca da CGT, notando assim uma ausência sistemática de protagonistas africanos na literatura. Movido por esse incômodo, decidiu se dedicar à literatura com a finalidade de contribuir para o fim dessa exclusão.
Publicou alguns livros de boa repercussão até a década de 1960, quando percebeu que a literatura tinha um alcance muito restrito em África, percebeu que suas obras ficavam restritas a círculos intelectuais e que, para alcançar o grande público africano, o cinema seria uma ferramenta mais eficiente.
Com a mediação de alguns contatos da CGT, no início da década de 1960 Sembène vai estudar cinema na União Soviética, onde foi discípulo de Mark Donskoy, e retornou pronto para revolucionar o cinema e dar início ao que conhecemos como Cinema Africano.


O filme possui aproximadamente uma hora, portanto é possível exibi-lo na íntegra em dois tempos de aula com uma certa folga, já contando pequenos imprevistos. Para a exibição do filme, é importante criar um roteiro de análise para os educandos e educandas. Seguem uma sugestão de roteiro e uma análise isotópica do filme que pode servir de subsídio para o professor se preparar para a exibição:

Sugestão de roteiro de análise:

  1. O que a França e os patrões brancos representavam para a protagonista?
  2. Essa visão é compartilhada por outros personagens africanos presentes no filme? Exemplifique:
  3. As relações de trabalho encontradas na França atenderam as expectativas da protagonista? Explique:
  4. Mesmo o filme retratando um Senegal independente, é possível identificar a presença do colonialismo nas relações? Exemplifique:
  5. É possível identificar formas de resistência ao colonialismo no filme? Explique:
  6. É possível traçar paralelos entre as relações apresentadas no filme e a nossa realidade, tanto presente quanto passada? Justifique:

A última etapa consiste em uma roda de conversa tendo como base o roteiro de análise respondido pelos educandos e educandas e conduzido pelo professor ou professora no sentido de relacionar as permanências do colonialismo em nossas relações sociais, especialmente nas relações do mundo do trabalho.
O professor ou professora deve aproveitar os pontos trazidos pelos educandos, mas buscar sempre manter o foco na maneira como a mentalidade introduzida pelo colonialismo europeu (racista, sexista, escravista) ainda pode ser claramente percebida em nosso cotidiano, ressaltando a atualidade de uma história contada através de um filme de 1966.
Para fechar, sugiro pegar o gancho das questões presentes no filme para trazer essas questões para ainda mais próximo com alguns apontamentos sobre a “PEC das Domésticas” e suas repercussões na mídia e na classe média brasileira. Ressaltando as resistências para a superação de claros traços de nossa herança escravista, ao considerar a conquista de direitos básicos para as empregadas domésticas como um problema para o Brasil.


Bibliografia e Material de apoio:

ARMES, Roy. O cinema africano: uma tentativa de definição. In: África: um continente no cinema. FERREIRA, Carolin Overhoff (org.). São Paulo: Editora Unifesp, 2014

BAMBA, Mahomed. O(s) Cinema(s) Africano(s): No singular e no plural. In: Cinema Mundial Contemporâneo. BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando (orgs.). Campinas: Papirus, 2008.

BOAHEN, A. Adu.; SURET-CANALE, Jean. A África Ocidental In: História Geral da África – África desde 1935. MAZRUI, Ali A.; WONDJI, Christophe. (editores). São Paulo: Cortez, 2011.

GADJIGO, Samba. Ousmane Sembène – The Making of a Militant Artist. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 2010.

ILIFFE, JOHN. Os africanos – História dum continente. Lisboa: Terramar, 1999

LIMA JUNIOR, David Marinho de. Descolonizando as mentes – Ousmane Sembène e a proposta de um cinema africano da década de 1960. 115 f. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ, 2012.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.

PARADA, Mauricio; MEIHY, Murilo Sebe Bon; MATTOS, Pablo de Oliveira. História da África Contemporânea. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio : Pallas, 2013.

THIONG’O, Ngugi Wa. A descolonização da mente é um pré-requisito para a prática criativa do cinema africano? In: Cinema no Mundo – Indústria, política e mercado. MELEIRO, Alessandra (org.). São Paulo: Escrituras Editora, 2007.

__________. Decolonising the Mind – The Politics of Language in African Literature. London: James Currey, 1997.

Filme
La Noire de … (Black Girl)
Senegal / França – 1966 – 65m – preto e branco – 35mm
Produção: Les Actualités Françaises (França) / Films Domirev (Senegal) / Ministère Coopération (França)


Créditos da imagem de capa: Ousmane Sembène, pioneiro do cinema africano, atuando como um professor de escola popular em seu filme “La Noire de …”


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Livros de Classe #47: A integração do negro na sociedade de classes, de Florestan Fernandes, por Ana Rodrigues

Neste episódio de Livros de Classe, Ana Rodrigues, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apresenta o livro “A integração do negro na sociedade de classes”, de Florestan Fernandes. A obra é fruto da tese de cátedra do autor, defendida em 1964 e publicada como livro no ano seguinte.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Livro: Tem pano para manga: Histórias do trabalho têxtil no Brasil, organizado por Felipe Ribeiro, Juçara Mello e Lucas Porto


Durante o VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho, no dia 10 de outubro de 2024, foi lançado o livro Tem pano para manga: Histórias do trabalho têxtil no Brasil, publicado pela Paco Editorial e organizado por Felipe Ribeiro, Juçara Mello e Lucas Porto. O evento foi realizado em Florianópolis-SC na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A obra reúne estudos acadêmicos, dedicados ao trabalho têxtil no Brasil, articulando trabalhadores e fábricas de tecidos, no intuito de apresentar um panorama mais abrangente da produção historiográfica sobre esse relevante setor industrial do país, particularmente no contexto pós Segunda Guerra Mundial.

Ressalta-se que, desde a obra clássica do brasilianista Stanley Stein – publicada originalmente em 1957 – não foi produzido um balanço mais denso sobre o trabalho têxtil no Brasil. Desse modo, o livro Tem pano para manga apresenta um instigante panorama sobre as pesquisas dedicadas a esta temática, contemplando diversas regiões do país a partir das experiências de trabalhadores e trabalhadoras em fábricas de tecidos, abordando aspectos como trabalho feminino, empresariado têxtil, paternalismo industrial, formas de organização e lutas da classe trabalhadora tecelã e processos de desindustrialização.

Com prefácio de José Sergio Leite Lopes e pareceres de Fabiane Popinigis, Paulo Keller, Maria Letícia Mazzucchi Ferreira e Felipe Loureiro, o livro reúne 10 artigos assinados por Anna Litwak, Eltern Vale, Alessandra Belo, Felipe Ribeiro, Daniela Tristan, Telma Bessa, Jormana Araújo, Caroline Matoso, Juçara Mello, Romerito Arcoverde, Lucas Porto e Cristina Ferreira, englobando principalmente estudos sobre fábricas e trabalhadores(as) no Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Juçara Mello, Romerito Arcoverde e Lucas Porto no lançamento do livro durante o VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho

Um dos coorganizadores da obra e autor do artigo intitulado Por uma historiografia social do trabalho têxtil no Brasil, Felipe Ribeiro é pesquisador do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT), assim como Romerito Arcoverde, autor do artigo Trabalho têxtil em Pernambuco sob o olhar de um historiador oriundo da classe trabalhadora: uma análise a partir da Fábrica Belga na cidade de Moreno-PE. Vale ressaltar que José Sérgio Leite Lopes em seu prefácio utiliza publicações do site do LEHMT na série Lugares de Memória dos Trabalhadores para dimensionar a efervescência de estudos sobre trabalho têxtil no país nas últimas décadas, que se reflete na coletânea de artigos reunidos na obra.

No dia 1º de novembro foi realizado outro lançamento da obra em Sobral-CE, durante a Semana de Recepção do Curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e, ao longo do mês de novembro, serão realizados mais dois eventos de lançamento do livro: um no dia 14/11, em Recife-PE, durante o XII Seminário do Laboratório História e Memória (LAHM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e outro no dia 29/11 em atividade do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

O livro Tem pano para manga: Histórias do trabalho têxtil no Brasil encontra-se disponível no site da editora Paco Editorial e de diversas livrarias, tanto na versão impressa, quanto em e-book.

Seguem os links:

Paco Editorial: https://www.pacolivros.com.br/tem-pano-para-manga
Amazon: https://amzn.to/3Xeuano
Apple: https://apple.co/3VFBOpX
Google: https://bit.ly/3VyF7iE

Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus



Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

Chão de Escola #45: Jogo “Cidade Operária”, por Claudiane Torres, João Christovão, Luciana Wollman e Matheus Lira


Claudiane Torres da Silva (Doutora em História e professora do Ensino Fundamental II da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro e coordenadora da equipe de História do Pré Vestibular Cederj do Estado do Rio de Janeiro)


Apresentação da atividade

Segmento: 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio (regular e EJA)

Unidade temática: O nascimento da República no Brasil e os processos históricos até a metade do século XX/ Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946.

Objetos de conhecimento:
O período varguista e suas contradições; O Brasil da era JK e o ideal de uma nação moderna: a urbanização e seus desdobramentos em um país em transformação; A ditadura civil-militar e os processos de resistência; O processo de redemocratização.

Objetivos gerais:
– Conhecer, de maneira lúdica, capítulos importantes da história da classe trabalhadora brasileira, da Era Vargas até a redemocratização do país após a ditadura, em 1985.
– Estimular o conhecimento sobre a história dos/as trabalhadores/as do Brasil, possibilitando ao/a estudante que tenha acesso a informações nem sempre disponíveis em materiais didáticos voltados para o seu segmento;
– Possibilitar o trabalho em equipe e o compartilhamento de conhecimentos e informações entre os/as estudantes.

Duração da atividade: 

Aulas Planejamento
01Apresentação e organização
02 e 03Jogo

Conhecimentos prévios:
– Era Vargas (1930-1945)
– Período nacional-desenvolvimentista (1945-1964)
– Ditadura empresarial-militar (1964-1985)
– Redemocratização do Brasil pós 1985

Atividade

Atividade e recursos:

  • Impressora

Ler as regras junto com eles mostrando como as questões são organizadas. Estabelecer um tempo para que as equipes respondam às perguntas.

Após o jogo o professor pode propor ao grupo que faça uma reflexão sobre as questões com que eles se depararam para saber qual o nível de dificuldades que eles atribuem às questões, além de buscar saber se a percepção deles com relação aos trabalhadores e suas lutas mudou a partir do que eles passaram a conhecer.

Regras do jogo Cidade Operária

Número de participantes: de 3 a 6 participantes individuais ou de 3 a 6 equipes de até 5 jogadores.

Cada jogador ou equipe escolhe uma peça que irá representá-lo no jogo. A ordem dos jogadores será definida pela sorte no dado, sendo o primeiro aquele que tirar o maior número e assim sucessivamente.

O jogo se inicia com o primeiro jogador jogando o dado e respondendo a questão que lhe venha a ser atribuída.

A cada resposta correta o jogador acumula o número de pontos estabelecido na carta em que estava a sua pergunta. Caso o jogador não acerte ele não somará pontos.

O objetivo do jogo não é chegar primeiro ao fim da trilha do tabuleiro. O objetivo é somar o maior número de pontos. Ganha quem, ao final da partida tiver acertado o maior número de questões e obtido o maior número de pontos. Cada carta vale 3 pontos.

Assim, o jogo pode ser jogado em duas modalidades de duração da partida.

1. O jogo pode ser jogado até que um dos participantes chegue ao final. Sendo que o vencedor não será o que chegar primeiro ao fim, mas aquele que somar mais pontos.
2. Ou o jogo poderá ser jogado até que um dos participantes/grupo alcance um determinado número de pontos estabelecido previamente e, assim, consiga se sagrar vencedor.

Bibliografia e Material de apoio:

ABREU, Alzira Alves de et al. (Coord.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (DHBB). Rio de Janeiro: FGV, 2001.

Atlas Histórico FGV: https://atlas.fgv.br/verbete/7794#:~:text=As%20ligas%20camponesas%20foram%20associa%C3%A7%C3%B5es,de%20Jo%C3%A3o%20Goulart%20em%201964 , acessado em 28 de outubro de 2024.

CHRISTOVÃO, João Henrique de Oliveira. Trabalhadores do sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974 https://repositorio.fgv.br/items/3c822297-d054-462b-bd22-e67fe47b4606 , acessado em 28 de outubro de 2024.

DOMINGUES, Joelza Ester. Blog Ensinar História, https://ensinarhistoria.com.br/1-de-maio-dos-trabalhadores/ ,acessado em 28 de outubro de 2024.

PEREIRA, Walter Luiz Carneiro de Mattos. Cabo das tormentas e vagas da modernidade: uma história da Companhia Nacional de Álcalis e de seus trabalhadores. Cabo Frio (1943 – 1964) Arraial do Cabo. 2009. https://app.uff.br/riuff;/handle/1/26823 acessado em 28 de outubro de 2024.

https://lehmt.org/lmt-130-rua-diogo-rebolo-campinas-sp-ricardo-pirola/ acessado em 28 de outubro de 2024.

https://atlas.fgv.br/verbetes/greve-geral-de-1917 acessado em 28 de outubro de 2024.

https://www.youtube.com/watch?v=Z6WMPuQyHxw acessado em 28 de outubro de 2024.

https://www.seperj.org.br/wp-content/uploads/2021/03/boletim3434.pdf acessado em 28 de outubro de 2024.

https://smabc.org.br/a-greve-de-marco-de-1979-que-ninguem-nunca-mais-ouse-duvidar-da-capacidade-de-luta-dos-trabalhadores/ acessado em 28 de outubro de 2024.

https://lehmt.org/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-estadio-de-vila-euclides-sao-bernardo-do-campo-sp-john-french/ acessado em 28 de outubro de 2024.

https://lehmt.org/contribuicao-especial-25-a-greve-dos-300-mil-70-anos/ acessado em 28 de outubro de 2024.


Créditos da imagem de capa: Jogo.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Livros de Classe #46: A ressaca da marujada: recrutamento e disciplina na Armada Imperial, de Álvaro Nascimento, por David Lacerda

Livros de Classe é uma série mensal do portal do LEHMT-UFRJ, na qual um especialista fala sobre um livro importante para a história dos mundos do trabalho e para a sua formação, em um vídeo de curta duração.

Neste episódio, David Lacerda, professor do departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), apresenta “A ressaca da marujada: recrutamento e disciplina na Armada Imperial”, de Álvaro Nascimento. Fruto da dissertação de mestrado do autor, a obra aborda os antecedentes da Revolta da Chibata, demonstrando que as mobilizações de marujos eram constantes desde o período imperial.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #44: As condições de vida do trabalhador na Agroindústria do Açúcar na perspectiva de Vasconcelos Torres e Oliveira Viana


Patrine Pereira Oliveira (licenciada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e atua como Coordenadora Pedagógica no Rio de Janeiro)

Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio

Unidade temática: Condições de vida dos trabalhadores rurais, assistência social, intervencionismo estatal no Estado Novo.

Objetos de conhecimento:
– A obra de Vasconcelos Torres no estudo do desenvolvimento social dos trabalhadores da agroindústria no campo;
– Utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) aplicadas ao Ensino de História.
– A condição de vida dos trabalhadores rurais em regiões canavieiras, com ênfase na região fluminense.

Objetivos gerais:
– Pesquisar a biografia de João Batista de Vasconcelos Torres e Francisco José de Oliveira Viana, de modo a contextualizá-los em seu tempo e destacar as atuações políticas no I Governo Vargas junto aos trabalhadores.
– Ler e interpretar os principais pontos de discussão na obra de Vasconcelos Torres a respeito das condições de alimentação e salários do trabalhador rural fluminense;
– Articular e problematizar fontes documentais no contexto do trabalhismo.
– Desenvolver uma perspectiva crítica acerca do comunismo como ideologia no 1º Governo Vargas.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc).
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.
(EM13CHS402) Analisar e comparar indicadores de emprego, trabalho e renda em diferentes espaços, escalas e tempos, associando-os a processo de estratificação e desigualdade socioeconômica;
(EM13CHS602) Identificar, caracterizar e relacionar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, do diálogo e da promoção da cidadania;

Duração da atividade: 

Aulas Planejamento
01Etapa 01
02Etapa 02
03 e 04Etapa 03 e 4

Conhecimentos prévios:
– O processo de racionalização das forças de trabalho na agroindústria canavieira como um setor produtivo em transformação; A modernização produtiva, o conceito de agroindústria e as transformações nos mundos do trabalho.
– O processo de modernização e investimento na produção interna que serviu como estratégia para recuperação da economia brasileira pós crise de 1929; O 1º Governo Vargas (1930-1945): A política econômica no campo e na cidade.
– Intensificação da intervenção estatal como forma de regular a economia e mediar conflitos de interesses entre industriais e setores de produção rural; 1º Governo Vargas (1930-1945): Conceitos de populismo, trabalhismo e corporativismo estatal.


Atividade

Atividade e recursos:

  • Levantar a biografia de João Batista de Vasconcelos Torres e Francisco José de Oliveira Viana e suas respectivas atuações durante o Estado Novo; 
  • Leitura e interpretação dos trechos selecionados do prefácio da obra de Torres encontrados nas páginas: XIV a XVI;
  • Ler os trechos selecionados nas páginas 33, 39 e 103;
  • Recursos físicos: Quadro, papel e caneta;
  • Recursos digitais: Computadores que permitam o acesso ao site CPDOC- FGV,  Hemeroteca digital e Arquive Internet;

Etapa 1

Vasconcelos Torres conduziu uma pesquisa em 5 estados do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Sergipe, visitou 47 usinas e entrevistou mais de 400 famílias camponesas. A principal fonte que conduziu a pesquisa, foram os relatos orais dos trabalhadores e proprietários. Seu trabalho aponta para o argumento que o padrão de vida da classe agrária era ínfimo e que o desejo do trabalhador rural era criar condições de vida equiparadas às condições do trabalhador urbano. Outrossim, discorre sobre a necessidade de uma justa distribuição de terras aos trabalhadores para cultivo racional e fixação de um regime cooperativista como incentivo à produção. Além desses aspectos, é necessário destacar que a obra foi editada pelo Instituto do Açúcar e Álcool. Nela, são apresentados: dados, imagens e índices como resultados de sua pesquisa que mapeiam as questões em torno da necessária assistência social.
No prefácio da obra, escrito por Oliveira Vianna, é destacado que a política de melhoria de condições de vida seria finalmente viabilizada com o impulso da revolução de 30 e que o problema social do Brasil seria resolvido salvo de qualquer eiva comunista ou extremista. Para ele, a condição de vida do trabalhador canavieiro é o problema mais árduo e complexo a ser enfrentado naquele contexto e que a razão do êxodo não diz somente respeito ao direito à terra, mas principalmente à produtividade. Nessa perspectiva, a sequência didática a seguir apresenta como principal intuito a ampliação da capacidade analítica do estudante em interpretar o contexto político e econômico e correlacionar com os impactos nas estruturas sociais das classes trabalhadoras urbanas e rurais.

Na primeira aula, contextualizar o período de crise de 1929 e o I Governo Vargas, a reorganização do Estado e a intensificação da intervenção na economia, política e questões sociais. A referência base para o professor estará na leitura da primeira parte do artigo do professor e economista Wilson Cano: “Crise e industrialização no Brasil entre 1929 e 1954: a reconstrução do Estado Nacional e a política nacional de desenvolvimento”. https://doi.org/10.1590/0101-31572015v35n03a04

A seguir, direcione os estudantes à leitura e sintetização da biografia de João Batista de Vasconcelos Torres e Franciso José de Oliveira Viana disponíveis para consulta em busca simples no dicionário histórico-biográfico do CPDOC- FGV: João Batista de Vasconcelos Torres e Francisco José de Oliveira Viana  de modo a contextualizá-los temporalmente e espacialmente com o intuito de compreender suas ocupações na política de governo do Estado Novo.



Etapa 2

Leitura dos excertos selecionados, localizados nas páginas XIII a XVI do Prefácio da obra de Torres: Condições de vida do Trabalhador na Agroindústria do Açúcar

Com base nos trechos selecionados, responder, com base nas concepções do pensador político:

  • Qual aspecto ideológico/político é apresentado como inviável na resolução dos problemas sociais do campo?
  • Quais são os dois problemas preliminares da vida rural?
  • Quais doenças são apresentadas como entraves ao progresso do homem rural?
  • Por que a modernização da produção traria uma nova dignidade ao trabalhador do campo?

Etapa 3

Leitura e interpretação dos trechos selecionados nas páginas 33, 39 e 103 para responder às questões propostas e debater os resultados em grupo.

Com base na leitura dos trechos do prefácio da obra de Torres, responder às seguintes questões de modo a suscitar um debate coletivo:

  1. Na concepção de Torres, quais aspectos impediam a classe agrária de atingir um grau de civilidade?
  2. O autor compara o trabalhador rural com o industrial em quais aspectos?
  3. Por que o senhor de engenho teve que se adaptar com a introdução do trabalho livre?

Etapa 4

1) Ler o artigo da Revista Brasil Açucareiro e identificar quais eram os principais alimentos que compunham a alimentação do trabalhador na indústria açucareira fluminense.
2) Analisar o gráfico que indica os salários médios rurais e industriais por usina no Estado do Rio. Apontando em quais municípios do Estado esses salários estavam relativamente equiparados e em quais municípios a diferença era discrepante.

Disponível em: https://archive.org/details/agroindacucar1945/page/118/mode/2up

Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=11841

Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=11325

Preparar um resumo individual que exponha as principais ideias de Vasconcelos Torres acerca do Padrão de vida do trabalhador Rural com base no artigo publicado na Revista Brasil Açucareiro: https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=11032

Bibliografia e Material de apoio:

CANO, Wilson. Crise e industrialização no Brasil entre 1929 e 1954: a reconstrução do Estado Nacional e a política nacional de desenvolvimento. Revista de economia política, v. 35, nº3, pp. 444-460, julho-setembro 2015.

LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Terra prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus. 1999.

SZMRECSÁNYI,Tamás. O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: HUCITEC/Universidade Estadual de Campinas. 1979.

TORRES, Vasconcelos. Condições de Vida do Trabalhador na Agroindústria do Açúcar. Rio de Janeiro. Instituto do Açúcar e do Álcool. 1945.

WELCH, Clifford Andrew. Vargas e a reorganização da vida rural no Brasil (1930-1945). Revista Brasileira de História. Volume 36, nº 71. p. 81-105.2016.

https://archive.org/details/agroindacucar1945/page/n9/mode/2up

https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=11032

https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=12439

https://memoria.bn.gov.br/docreader/DocReader.aspx?bib=002534&pagfis=11841


Créditos da imagem de capa: Cortadores de cana: fotografia retirada em pesquisa de campo sobre alimentação dos trabalhadores rurais de Minas Gerais. Referência: TORRES, Vasconcelos. Condições de Vida do Trabalhador na Agroindústria do Açúcar. Rio de Janeiro. Instituto do Açúcar e do Álcool. p 151.1945.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.