LEHMT-UFRJ no VIII Seminário Internacional Mundos dos Trabalho: Lançamento do Livro “Na casa e na causa: A organização sindical das trabalhadoras domésticas (Rio de Janeiro, 1961-1973)”, de Yasmin Getirana


No dia 10 de outubro, durante o GT Mundos do Trabalho na UFSC, será o lançado o livro “Na casa e na causa: A organização sindical das trabalhadoras domésticas (Rio de Janeiro, 1961-1973)”. Vencedor do prêmio Ana Lugão Rios, de melhor dissertação do PPGHIS/UFRJ em 2023, o livro de Yasmin Getirana aborda as complexidades das relações e articulações políticas e sindicais do período da Ditadura Civil-Militar a partir da trajetória da Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro (APED-RJ). A pesquisa que deu origem ao livro se baseou em fontes diversas, como entrevistas, jornais da grande imprensa, acervos particulares de militantes, documentos da polícia política e documentos sindicais, bem como leis e projetos de lei.

A diversidade documental ajudou a detalhar com riqueza o cenário político e social dos anos de 1960 e 1970, quando a organização sindical de trabalhadoras domésticas se proliferou no país. Entre os marcos legais da categoria, a lei 5.859/72, geralmente entendida como pouco efetiva, ganha uma nova conotação quando analisamos a lei a partir das intensas negociações ocorridas ao longo da década de 1960 entre diferentes atores políticos e movimentos sociais e sindicais. Ao mesmo tempo, a partir do uso da História Oral, veremos como as trajetórias de vida de cinco trabalhadoras domésticas militantes no Rio de Janeiro foram impactadas e ressignificadas por suas experiências enquanto participantes da APED-RJ.

Livros de Classe #45: Linhas de montagem, de Antonio Luigi Negro, por Francisco Macedo

Neste episódio de Livros de Classe, Francisco Macedo, professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), apresenta “Linhas de Montagem: o industrialismo nacional-desenvolvimentista e a sindicalização dos trabalhadores”, de Antonio Luigi Negro. Publicado em 2004, o livro é fruto da tese de doutorado do autor, defendida em 1997. A obra aborda a organização e resistência dos operários na indústria automobilística do ABC paulista. Através de uma análise detalhada, Negro explora como a construção das identidades operárias e as lutas de classe moldaram o cenário industrial no país.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #43: Minicurso “Mundos do Trabalho e Ensino de História” no VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho



09/10 a 11/10, turno da manhã, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC

O minicurso apresenta a questão da didática da história, a partir das práticas articulas na seção Chão de Escola (https://ghostwhite-beaver-264367.hostingersite.com/category/chao-de-escola/) – projeto que criou uma rede com professores e comunidades de ensino na discussão da História Social do Trabalho. Assim, elabora como as noções de experiência, em E. P. Thompson, e educação popular criam interfaces entre educação e ensino de história. 

Os seguintes temas serão abordados: as bases teóricas para reflexão sobre o ensino de história e os mundos do trabalho; o conceito de transposição didática e sua relação com a renovação da história social; os projetos de história pública e ensino de história, a partir da experiência do Chão de Escola; ocurrículo escolar e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC); e a produção de materiais didáticos numa oficina com uso de documentos.

O público alvo são os estudantes de graduação em história e pedagogia (ou outras licenciaturas), os professores de história das redes públicas e privadas, e os pesquisadores do evento VIII Seminário Internacional Mundos do Trabalho. Espera-se que ao final do curso os participantes compreendam o significado da didática da história na historiografia contemporânea e a maneira como a História Social do Trabalho oferece subsídios para refletir sobre a questão do ensino e na formulação de materiais didáticos.

9/10, horário 8h às 10h – Didática da História e Mundos do Trabalho: comunidades de ensino e história pública (Aula expositiva-dialogada)

10/10, horário 8h às 10h – Currículo escolar, BNCC e educação para relações étnico-raciais: perspectivas da história social do trabalho e transposição didática (Aula expositiva-dialogada e oficina)

11/10, horário 8h às 10h – Imagens, mapas e trabalhadores no ensino de história (Aula expositiva-dialogada e oficina).

BERGER, John. O terno e a fotografia. In: BERGER, John. Para entender uma fotografia, 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

CHERVEL, A. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, v. 2, p. 177- 229, 1990.

CHRISTOVÃO, João. (2024). Entre o planejado e o vivido: aspectos da estrutura educacional formal da cidade de Cabo Frio e a experiência vivida pelos trabalhadores da cadeia produtiva do sal como elementos de reflexão sobre os desafios do ensino da História Regional hoje. Revista História Hoje, São Paulo, 13(27), p.162-185, 2024.

CITRON, Suzane. Ensinar história hoje. Lisboa: Livros Horizonte, 1990.

FORTES, Alexandre. “E. P. Thompson e Paulo Freire: Agência histórica e educação popular”. Dossiê Especial 100 anos de E. P. Thompson (2024). Laboratório de Estu-dos de História dos Mundos do Trabalho. Disponível em: https://ghostwhite-beaver-264367.hostingersite.com/e-p–thompson-e-paulo-freire-agencia-historica-e-educacao-popular-alexandre-for-tes/. Acesso em: 13 mar. 2024.

GOMES, Ângela de Castro. Direitos e cidadania: algumas considerações preliminares In: ABREU, Martha e SOIHET, Rachel (org). Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia, 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

HOOKS, bell. Ensinar a transgredir. Rio de Janeiro: Martinz, 2013

JOSHI, Chitra. Além da polêmica do provedor: mulheres, trabalho e história do trabalho. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 1, n. 2, p. 147-170, nov. 2009. ISSN 1984-9222.

KOUTSOUKOS, Sandra S. M. Negros livres, forros e escravos no estúdio do fotógrafo. In: KOUTSOUKOS, Sandra S. M. Negros no estúdio do fotógrafo: Brasil, segunda metade do século XIX – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Trabalhadores negros e o paradigma da ausência: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, set./dez. 2016.

OLIVEIRA, Samuel, PUCU, Luciana, TORRES, Claudiane. Mundos do Trabalho e Ensino de História. Revista História Hoje, São Paulo, 13(27), p.4-30, 2024.

_______. Ensino de História e Mundos do Trabalho nas escolas: o “Chão da Escola” como prática de História Pública. In: BEZERRA, Danilo Alves, RIBEIRO, Felipe Augusto Alves dos Santos. (Org.). Ensino de História: teoria, práticas e novas abordagens. Recife: Edupe, 2023, p. 267-289

_______. A História Social do Trabalho em sala de aula. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, n.391, p. 1-7, 2022

RÜSEN, Jörn. Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Editora UFPR, 2010

THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011 (Vol.1, 2, 3).

THOMPSON, Edward Palmer. Educação e Experiência. In: E. P Thompson. Os Românticos.  A  Inglaterra  na  era  revolucionária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Lançamento “Niterói Operária: trabalhadores (as), política e lutas sociais (1942-1964)”, de Luciana Pucu Wollmann


É com grande satisfação que Luciana Pucu Wollmann, coordenadora do Chão de Escola, seção do Lehmt-UFRJ, convida a todos e todas para a cerimônia de lançamento do seu livro “Niterói Operária: trabalhadores (as), política e lutas sociais (1942-1964)”. A publicação é resultado do Concurso de Monografias – Prêmio APERJ 2021.

O lançamento integra a programação de 93 anos do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). Quem desejar participar do evento, deve se inscrever no link: www.93aperj.com

Quem quiser comparecer ao lançamento apenas, pode acessar o link do evento “lançamento do livro” e se inscrever “adquirindo o ingresso R$0,00”. Segue o link:
https://www.93aperj.com/event-details/lancamento-do-livro-vencedor-do-premio-aperj

Data: 30 de agosto de 2024, às 16h
Local: APERJ – Praia Botafogo, 480 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ.

Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins



Na décima segunda edição da série “Vale a Dica”, João Christovão, doutor em História Social e pesquisador do LEHMT/UFRJ, indica o espetáculo teatral SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins. SAL é um espetáculo teatral que aborda a decadência das salinas fluminenses na segunda metade do século XX e os dramas e lutas vividos pelos trabalhadores do sal daquela região ao longo desse processo. O espetáculo utilizou como uma de suas fontes de pesquisa a tese de doutorado “Trabalhadores do Sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabofrienses – 1940/1974”, de autoria de João Christovão. Tendo estreado no dia 15 de agosto, o espetáculo ficará em cartaz até o dia 8 de setembro, sempre de quinta a domingo, às 20h30, no teatro SESC-Copacabana, que fica na rua Domingos Ferreira, 160.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio

Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo Vale Mais

Está no ar o primeiro episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos de história pública, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No episódio de estreia, conversamos com Bruna Portella e Felipe Azevedo, professores da PUC-Rio e coordenadores do projeto "O Poder e a Escravidão". A iniciativa investiga o papel do Poder Legislativo na sustentação da escravidão no Brasil, propondo uma reflexão crítica sobre a memória oficial e as estruturas de poder que perpetuaram esse sistema — com base na criação de um banco de dados inédito e uma plataforma de divulgação científica. Ouça, compartilhe e acompanhe os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias O Poder e a Escravidão: https://www.opodereaescravidao.com/
  1. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  2. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  3. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  4. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins
  5. Vale a Dica #11: O futuro das profissões, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes

Livros de Classe #44: Nasci nas matas, nunca tive senhor: história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas, de Eurípedes Funes, por Caio Paião

Neste episódio, Caio Paião, pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta o livro “Nasci nas matas, nunca tive senhor: história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas”, de Eurípedes Funes. Publicado em 2022, o livro é fruto de sua tese de doutorado, defendida em 1995, e aborda o processo de construção de comunidades mocambeiras, formadas durante o século XIX no Estado do Pará.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

LMT #131: A ‘Rua do Carvão’, Manaus (AM) – Sérgio Carvalho de Lima



Quem transita hoje pelo cruzamento das avenidas Sete de Setembro e Castelo Branco, confluência dos bairros de Cachoeirinha e Educandos, na zona sul de Manaus, e observa a permanência de uma parte da antiga Usina de Viação dos bondes, talvez não imagine que, durante muito tempo, funcionou ali um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. O lugar ficou conhecido como a ‘rua do carvão’, nome pelo qual grande parte dos produtores e vendedores de carvão, os carvoeiros, a ele se referiam. Entre as décadas de 1940 e 2010 foi um espaço de sustento para dezenas de famílias.

Pelo menos desde o início do século XX, em virtude da ausência de carvão mineral no Amazonas e das dificuldades de sua importação, o carvão vegetal, juntamente com a lenha, sustentava a cidade como uma das matérias-primas para a geração de energia, tanto nos mais diferentes ramos de atividades, quanto no ambiente doméstico. Isso contribuiu para que uma parcela significativa da população se dedicasse à produção de carvão vegetal nos arredores da cidade e municípios próximos, assim como a comercialização do produto. Escritores e memorialistas, sobretudo das décadas de 1940 e 1950, como Moacir Andrade, Jeferson Peres e Thiago de Melo, destacam em suas obras a atividade carvoeira nas ruas de Manaus. Também mencionam os locais de produção do valioso item, como Tarumã, Estrada do Aleixo, Colônia Campos Sales, àquela época nos arrabaldes da cidade, hoje bairros populosos.

Foi nesse contexto que se constituiu, nas proximidades da antiga Usina de Viação, um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. A partir de 1939, a Usina de Viação tornou-se uma Sub-Usina de luz, ficando responsável também pela geração de parte da energia elétrica da cidade e funcionando à base de carvão vegetal e lenha, o que certamente tornou-se um atrativo para muitas pessoas que trabalhavam com a produção e comercialização destes produtos.

Nesta época, o Amazonas viveu um breve momento de euforia econômica, ocorrido com a chamada “Batalha da Borracha” (1943-1945), quando milhares de migrantes foram mobilizados para os seringais amazônicos a fim de produzir borracha para os aliados na Segunda Guerra Mundial.


Com o fim da guerra, em 1945 Manaus passou a receber um intenso fluxo migratório de nordestinos e ribeirinhos em busca de novas alternativas econômicas de sobrevivência, sendo que muitos deles se dedicarão à atividade da carvoaria.


Neste cenário, a área onde funcionava a Sub-Usina revelava-se estratégica para a comercialização do carvão, pois além da demanda pelo produto oriunda da própria usina, havia ainda as necessidades da população dos bairros próximos. Além disso, segundo relatos de antigos trabalhadores, como Wilton Pereira, a proximidade com o Igarapé do Educandos, um curso d’água que se conecta ao Rio Negro, facilitava os negócios com o produto, sobretudo das cargas vindas do interior, geralmente transportadas em canoas e batelões. A opção por aquele local revelava um senso de racionalidade ao mesmo tempo que desmistifica a ideia de que estes trabalhadores seriam movidos por um mero instinto de sobrevivência.

Embora não haja estatísticas específicas, pode-se afirmar que havia muitos trabalhadores envolvidos nessa atividade, haja vista os relatos que mencionam os diversos pontos de produção e comercialização do produto tanto em pontos fixos, quanto ambulantes. Embora a maior parte dos envolvidos nessa atividade fosse composta por homens, não era incomum haver mulheres comercializando carvão. Além disso, muitas crianças acompanhavam seus pais, fabricando ou vendendo o produto. A partir da década de 1970 o carvão vegetal foi perdendo espaço como fonte energética essencial da cidade, mas não deixou de continuar presente no cotidiano urbano.

Em outubro de 2003 a ‘rua do carvão’ foi alvo do Ministério Público do Amazonas que instaurou um inquérito civil cujo foco era exatamente o comércio de carvão realizado no local. A empresa concessionária de energia elétrica, então denominada Manaus Energia, proprietária do prédio da antiga Usina de Viação, acionou o órgão alegando danos ao seu patrimônio e à saúde dos funcionários, ocasionados, segundo a empresa, pela emissão de poeira gerada com o descarregamento e manuseio de carvão na área. A denúncia ocorreu em um contexto de intervenções urbanas promovidas pelo Estado, que visavam sanear os igarapés, suas margens e promover o ‘embelezamento’ dos entornos. Este projeto, implementado no início dos anos 2000, foi denominado Prosamin (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus).

Após sete anos de conflitos e resistência dos trabalhadores da “rua do carvão”, a Prefeitura de Manaus conseguiu retirar os carvoeiros do espaço que por décadas ocuparam. Nos últimos anos, a área que atualmente abriga uma das sedes da empresa Amazonas Energia, foi reurbanizada e qualquer referência à histórica presença e trabalho os carvoeiras foi apagada.  

Ao longo de pelo menos sete décadas, os carvoeiros fizeram parte do cotidiano da cidade neste local específico, atendendo às demandas econômicas de moradores e diversos setores da economia manauara. Na sua luta diária por trabalho, moradia e sobrevivência, foram testemunhas de diversas transformações sociais e urbanas ocorridas na cidade, sendo que nesse processo acabaram sendo tragados por elas.

Local onde funcionou a rua do carvão na atualidade. Fonte: Google Maps, 2023.


Para saber mais:

  • ANDRADE, Moacir. Manaus: Ruas, Fachadas e Varandas. Manaus: Editora Umberto Calderaro,1985.
  • LIMA, Sérgio Carvalho de. Carvoeiros – trajetória do trabalho e dos trabalhadores carvoaria em Manaus (1945-1967). Dissertação de Mestrado. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2017.
  • LIMA, Sérgio Carvalho. ‘Não existia emprego e a gente se virava’ A cidade em crise e o trabalho dos carvoeiros e carvoeiras: Manaus (1945-1967). Canoa do Tempo (UFAM), v. 10, p. 153-175, 2018.
  • LIMA, Sérgio Carvalho. “Carvoeiros: O trabalho e as relações com o espaço urbano (Manaus: 1945-1967)” Maduarisawa, v. 5, p. 41-53, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/manduarisawa/article/view/9183.

Crédito da imagem de capa: Rua do Carvão em Manaus. Fonte: Jornal Amazonas em Tempo (15/06/2004).


MAPA INTERATIVO

Navegue pela geolocalização dos Lugares de Memória dos Trabalhadores e leia os outros artigos:


Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Livros de Classe #43: A mulher na sociedade de classes, de Heleieth Saffioti, por Marilane Teixeira

Neste episódio de Livros de Classe, Marilane Teixeira, professora do Instituto de Economia da Unicamp, apresenta o livro “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade”, de Heleieth Saffioti. Publicada em 1969, a obra é um clássico dos estudos sobre as relações de gênero e os mundos do trabalho.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares e Paulo Fontes.

Vale a Dica #11: O futuro das profissões, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes



Na décima primeira edição da série “Vale a Dica”, Isabelle Pires, pós-doutoranda em História Social pelo PPGHIS/UFRJ/CNPq e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica a exposição autoral do SESI Lab “O futuro das profissões”, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes, que está aberta à visitação até o dia 21 de julho na Casa Firjan, no Rio de Janeiro. Essa mostra é uma versão resumida da exposição que ficou no SESI Lab em Brasília. Diferentes formatos como trechos de vídeos, fragmentos de depoimentos de trabalhadores, jogos e um quiz fazem parte da exposição que procura fazer uma reflexão crítica sobre as transformações nos mundos do trabalho e sobre o que podemos esperar das profissões e do trabalho no futuro, tudo de forma lúdica e interativa. Ouça este episódio e fique sabendo um pouco mais sobre essa mostra que é uma boa dica para pensar sobre a história social do trabalho.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio

Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo Vale Mais

Está no ar o primeiro episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos de história pública, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No episódio de estreia, conversamos com Bruna Portella e Felipe Azevedo, professores da PUC-Rio e coordenadores do projeto "O Poder e a Escravidão". A iniciativa investiga o papel do Poder Legislativo na sustentação da escravidão no Brasil, propondo uma reflexão crítica sobre a memória oficial e as estruturas de poder que perpetuaram esse sistema — com base na criação de um banco de dados inédito e uma plataforma de divulgação científica. Ouça, compartilhe e acompanhe os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias O Poder e a Escravidão: https://www.opodereaescravidao.com/
  1. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  2. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  3. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  4. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins
  5. Vale a Dica #11: O futuro das profissões, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes

Livros de Classe #42: Trabalhando para a Ford, de Huw Beynon, por José Ricardo Ramalho

Neste episódio de Livros de Classe, José Ricardo Ramalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresenta o livro “Trabalhando para a Ford: trabalhadores e sindicalistas na indústria automobilística”, de Huw Beynon. Publicado originalmente em 1973 e traduzido para o português em 1995, o livro tornou-se imediatamente um clássico da sociologia e da história do trabalho por sua originalidade teórico-metodológica. A obra aponta as estratégias adotadas pelos operários em uma fábrica da Ford em Liverpool, na Inglaterra, nos anos 1960 e evidencia a experiência e organização desses trabalhadores.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares e Paulo Fontes.