Chão de Escola #25: A classe trabalhadora construindo a cidade entre lutas e resistências: Rio de Janeiro, início do século XX, por Vitor Monteiro


Vitor José da Rocha Monteiro


Apresentação da atividade

Segmento: Educação de Jovens e Adultos II – período final (aproximadamente 8º e 9º anos do Ensino Fundamental).

Objetivo de conhecimento:

– Afro-brasileiros, imigrantes e trabalho na sociedade do pós-abolição.
– Transformações urbanísticas e ideais de modernização no início da República.
– Organização e lutas da classe trabalhadora na Primeira República.

Objetivos gerais:

– Perceber o importante papel da classe trabalhadora na construção e transformação do espaço vivido.
– Entender o processo de exploração, criminalização e invisibilização da classe trabalhadora como parte de um projeto do Estado brasileiro no início da República.
– Compreender as razões da organização, lutas e resistências da classe trabalhadora na Primeira República.
– Comparar as condições de vida e trabalho da classe trabalhadora do início do século XX com a da atualidade

Duração da atividade: 4 aulas de aproximadamente 50 minutos a 01 hora.

Aulas Planejamento
01Etapa 1 e 2
02Etapas 3 e 4
03Etapa 5 e 6
04Etapa 7

Conhecimentos prévios:

– Abolição oficial da escravidão no Brasil em 1888.
– Mudança do tipo de governo no Brasil, em 1889, da monarquia para a república.


Atividade

Recursos: Projetor, caixa de som, computador, quadro, fotocopiadora, caderno

Etapa 1: Uma sociedade de trabalhadores(as) invisíveis?

Professor(a), levante alguns questionamentos com as(os) estudantes sobre quem são as pessoas que construíram o espaço ao redor – a sala de aula, a escola, as ruas, prédios e outras construções ao redor. Seria relevante construir, através de um breve debate, uma visão crítica das narrativas que supervalorizam os heróis, políticos, homens públicos e empresários em detrimento do importante papel de trabalhadoras e trabalhadores na formação do espaço vivido e seus aspectos socioeconômicos. Nesse sentido, para auxiliar nessa construção, vale a pena analisar o poema Perguntas de um trabalhador que lê (Documento 1), de 1935, do poeta, dramaturgo e diretor teatral Bertolt Brecht. O referido poema pode ser disponibilizado às (aos) estudantes através de reprodução em fotocopiadora ou de projeção no quadro. Se possível, seria interessante realizar uma dupla leitura: a primeira, individual e silenciosa; a segunda, em voz alta, com as(os) estudantes alternando-se na leitura, de maneira que boa parte da turma participe da ação.

Etapa 2: Reflexão e resolução de questões.

Realizados os questionamentos e debate da etapa anterior, disponibilize e leia com as (os) estudantes as questões a seguir e peça que as respondam em seus cadernos.

  1. Indique uma grande construção (monumento, prédio público, rodovia, avenida, ferrovia etc.) que está localizada nas proximidades de sua residência, escola ou seu trabalho.
  2. Reflita um pouco e mencione que tipos de conhecimentos e profissões/profissionais foram importantes para a realização da construção citada? 

Após terminarem de responder às questões, caso seja viável, valeria a pena as (os) estudantes lerem as suas respostas para compará-las.

Etapa 3: Classe trabalhadora no pós-abolição.

Professor(a), discuta com as (os) estudantes sobre o contexto do trabalho e da classe trabalhadora no pós-abolição da escravidão no Brasil, sobretudo no que se refere à precariedade do trabalho livre e da invisibilização e criminalização de trabalhadoras e trabalhadores. Vale ressaltar, nesse sentido, a forte presença de grupos populacionais de origem afro-brasileira e de imigrantes na região central de cidades como o Rio de Janeiro. Essa presença construiu e reforçou, do ponto de vista cultural e socioeconômico, territórios específicos dentro dessas cidades como, por exemplo, a Pequena África carioca.

Etapa 4: Análise de documentos e roda de conversa.

Como forma de ampliar a discussão da etapa anterior acerca da classe trabalhadora no pós-abolição, seria de suma importância disponibilizar às (aos) estudantes, através de fotocópias ou de projeção em um quadro, a seguinte documentação:

Seria interessante, se possível, realizar a leitura dos documentos em duas fases: a primeira, individual e silenciosa; a segunda, em voz alta, com as(os) estudantes alternando-se na leitura, de maneira que boa parte da turma participe da ação. Em seguida, organize uma roda de conversa em que as (os) estudantes busquem interpretar os referidos documentos tendo como base os seguintes questionamentos:

  • Que atividades estavam sendo criminalizadas no trecho analisado do Código Penal de 1890?
  • Essas atividades são criminalizadas na atualidade? Elas são reprimidas pelas forças estatais de segurança?
  • Que atividades vieram desempenhar os imigrantes analisados pela Tabela?
  • De que nacionalidades são os maiores contingentes de imigrantes no período explorado pela Tabela?
  • Que anos tivemos mais entradas de imigrantes dentro do período analisado na Tabela?
  • Afro-brasileiros e imigrantes (em geral, brancos) eram reprimidos e punidos pelo Código Penal de igual maneira?

Enquanto há o desenvolvimento da roda de conversa, as (os) estudantes podem ser estimulados a registrarem seus apontamentos no caderno para posteriores leituras, comparações e/ou reflexões.

Etapa 5: Transformações urbanísticas do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX.

Professor(a), elabore uma breve contextualização das transformações urbanísticas ocorridas no Rio de Janeiro, então capital federal, iniciadas na prefeitura de Pereira Passos (1902-1906). Esse conjunto de transformações esteve ligado, no período conhecido como Belle Époque, a ideais de modernização da sociedade e do Brasil que excluíam a classe trabalhadora. Cabe pontuar que não foi um processo que se desenrolou unicamente no Distrito Federal, mas em outras grandes cidades do país, como São Paulo, Manaus, Belo Horizonte etc.

Etapa 6: Análise do documentário O Rio dos trabalhadores, breve debate sobre o filme e elaboração de tópicos com seus principais temas.

Após breve introdução do tema na etapa anterior, pode-se dar início à projeção e análise do documentário O Rio dos trabalhadores, de Maria Ciavatta e Paulo Castiglioni (19min), de 2001 . A obra foi realizada a partir da pesquisa “O Mundo do Trabalho em Imagens – a fotografia como fonte histórica (Rio de Janeiro, 1900/1930)” no Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho e Educação NEDDATE – do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense – UFF. O filme retrata o ambiente de modernização do Rio de Janeiro, no início do século XX e as transformações das relações de trabalho. A referida obra aponta, também, a participação ativa de trabalhadoras e trabalhadores no processo de mudanças no mundo do trabalho do escravismo até a obtenção de direitos trabalhistas mínimos, através de organização, greves e mobilizações.Depois de analisar o documentário, seria interessante estimular as (os) estudantes, a partir de um rápido debate, a elencarem os principais temas do documentário O Rio dos trabalhadores, registrando-os em seus cadernos.

Etapa 7: Roda de conversa e produção de texto coletivo sobre a classe trabalhadora no início do século XX

Professor(a), junto com as (os) estudantes, rememore os principais aspectos do filme O Rio dos trabalhadores, analisado na etapa anterior. Para isso, vale recorrer aos apontamentos construídos anteriormente pelas (os) estudantes quando do breve debate após a projeção do filme em questão. A partir disso, organize uma roda de conversa cujo objetivo seja construir um texto coletivo tendo como base, além dos itens elencados pelas (os) estudantes, dois elementos da narrativa do documentário:

  • A lista de greves, manifestações e revoltas da classe trabalhadora ocorridas no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX (próximo aos 6min 45seg).
  • Uma frase dita pelo narrador: “Valorizava-se o trabalho, desvalorizando o trabalhador” (próximo aos 11min 35seg).

O texto coletivo a ser produzido, a partir da roda de conversa, pode ter como proposta responder ao seguinte questionamento:

  • Quais eram as condições de vida, trabalho e luta da classe trabalhadora brasileira nas primeiras décadas do século XX?

A elaboração do texto coletivo pode ser realizada a partir do encadeamento de frases surgidas na conversa, formando dois ou três parágrafos, ou através de tópicos. Em qualquer uma das formas, o(a) professor(a) deverá ir registrando no quadro o resultado da construção discente até a formatação final do texto. Ao término da produção, as (os) estudantes registram o texto final em seus cadernos. Uma alternativa seria a produção em um editor de texto para ser impresso e exibido na escola como ação final da atividade, o que poderia suscitar futuros debates com outras turmas e/ou membros da comunidade escolar.

Bibliografia e Material de apoio:

BENCHIMOL, Jayme Larry. Pereira Passos: um Haussman tropical. A revolução urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: SMCTE-RJ, 1992.

BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. In: ________. Poemas e canções. São Paulo: Civilização Brasileira, 1966, p. 75.

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

CHALOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim:  o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque. São Paulo: Brasiliense, 1986.

CIAVATTA, Maria. O Rio dos trabalhadores – A educação do olhar e a fotografia como fonte histórica. Revista Trabalho Necessário, 18(35), 2020, p. 240-263. Disponível em: https://doi.org/10.22409/tn.v18i35.40506. Acesso em: 30 jun. 2022.

DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira. Volume 3: República – Memórias (1889-1950). Rio de Janeiro: Le Ya, 2017.

IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000. Apêndice: Estatísticas de 500 anos de povoamento. p. 226. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/imigracao-por-nacionalidade-1884-1933.html. Acesso em: 30 jun. 2022.

PRESIDÊNCIA da República. Código Penal dos Estados Unidos do Brazil: Decreto nº  847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D847.htmimpressao.htm. Acesso: 30 jun. 2022.


Créditos da imagem de capa: MALTA, Augusto. Obras de demolição do morro do Castelo na atual rua México; à esquerda, os fundos da Biblioteca Nacional; no alto, a igreja de São Sebastião. 29 out. 1921. Domínio público / Acervo do Instituto Moreira Salles.



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral, Samuel Oliveira, Felipe Ribeiro, João Christovão, Flavia Veras e Leonardo Ângelo.

LEHMT

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