Lugares de Memória dos Trabalhadores #25: Quadra dos Bancários, São Paulo (SP) – Lincoln Secco



Lincoln Secco
Professor do Departamento de História USP



A história recente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a partir da emergência do chamado novo sindicalismo, se confunde com a Quadra dos Bancários, espaço fundamental de mobilizações e celebrações não apenas da categoria, mas dos trabalhadores e trabalhadoras de uma maneira geral.

A ampliação do patrimônio do sindicato foi decorrência do novo ciclo de greves bancárias aberto em 1979 e que teve seu auge na greve nacional de 1985. Augusto de Campos, que presidiu o sindicato após a vitória da oposição sindical dos bancários em 1979, contava que, para organizar as greves, os bancários se reuniam no pátio do Colégio São Bento. No entanto, devido aos confrontos com a polícia os monges não quiseram mais alugar o espaço. A Casa de Portugal, localizada no bairro da Liberdade, foi a outra opção. Mas o espaço ficou apertado para as assembleias e, em 1980, o sindicato decidiu comprar um terreno na Rua Tabatinguera. Foi ali que se construiu a Quadra.


Desde logo, a Quadra dos Bancários tornou-se um dos espaços mais importantes da vida sindical e política da cidade de São Paulo. Em 11 de abril de 1983, por exemplo, ela foi palco da comemoração dos 60 anos do sindicato. Naquele dia 2.500 pessoas assistiram ao histórico debate entre Lula, Luiz Carlos Prestes e Teotônio Vilela, que naquele momento representavam vias distintas na luta contra a ditadura. A Quadra também era o espaço de eventos esportivos e festivos da categoria. As assembleias de funcionários de diferentes bancos eram feitas na Praça da Sé, na Casa de Portugal e na Quadra, como aconteceu na greve nacional de 1985 e nas campanhas salariais daquela década.


Sua posição geográfica carrega as marcas da formação de São Paulo. Afinal, o Sindicato dos Bancários sempre teve suas sedes dentro ou nas proximidades do Triângulo histórico formado pelas ruas Direita, São Bento e XV de Novembro, no centro da cidade. A Quadra se situa entre a Capela de Santa Luzia e a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte. E fica próxima à Praça Clóvis e à própria Catedral da Sé, palco de reuniões e conflitos sociais ao longo do século XX. Além disso, a localização das sedes do sindicato (no edifício Martinelli, na Rua São Bento); da Contraf – Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (na Rua Libero Badaró); e da própria Quadra refletiram a concentração bancária paulistana, antes da expansão da praça financeira para a Cidade Nova, além do Anhangabaú; e, posteriormente, para as Avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini.

Ao longo dos anos 1980, o sindicato teve maior capacidade de quebrar a rotina do trabalho e introduzir um caráter lúdico no seu cotidiano. A Quadra era assim, um local tanto das assembleias, quanto de sociabilidade e confraternizações da categoria bancária. A partir dos anos 1990, a Quadra também passou a ser utilizada pelo Sindicato como espaço para a devolução da contribuição assistencial. De espaço da greve, do conflito e da sociabilização dos trabalhadores/as, a Quadra também se tornou uma repartição burocrática onde bancários não sindicalizados uma vez por ano enfrentavam uma fila para abonar a contribuição assistencial.

Mudanças no setor bancário, no perfil da categoria e uma nova conjuntura sindical modificaram, ao longo dos anos 1990, o sentido político da Quadra. A categoria bancária perdeu metade dos seus membros em função da terceirização e da automação. O Internet banking e os caixas eletrônicos se disseminaram. Houve diminuição das greves e, especialmente, de sua dimensão festiva.

Paralelamente, no mesmo período, houve o crescimento institucional do Partido dos Trabalhadores  (PT) e a Quadra passou a ser um lugar simbólico para os petistas da cidade e do estado de São Paulo. Seminários, comícios fechados, encontros e festas de aniversário do partido passaram a ser feitos ali. Até encontros nacionais do PT se realizaram na Quadra dos Bancários. Em abril de 2006, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da abertura do XIII Encontro Nacional do partido. Na ocasião, discursou durante cerca de 1 hora e 10 minutos para quase 2.000 petistas presentes. Também foi para a Quadra dos Bancários que Lula se dirigiu após sua condução coercitiva no dia 4 de março de 2016. Naquele momento ele se declarou candidato às próximas eleições presidenciais e chorou diversas vezes diante de milhares de militantes

A Quadra é ainda hoje um lugar simbólico da presença na cidade de São Paulo do campo político nascido nas greves do final dos anos 1970 e que tem em Lula sua principal e indiscutível  liderança. É ainda um lugar de encontro da classe trabalhadora em sua multiplicidade, portanto, muito além da categoria bancária. Mais que um espaço, ela é uma personagem da história revivida nas assembleias e nos encontros políticos. Em cada um desses momentos as pessoas ali presentes tecem a teia de experiências que as vinculam às gerações passadas, construindo a Quadra dos Bancários como um fundamental lugar de memória da classe trabalhadora em São Paulo.

Luis Carlos Prestes (ao microfone), Florestan Fernandes (de óculos), Claudio Abramo (tomando água) e Luis Gushiken (de cavanhaque) debatem sobre a conjuntura política na Quadra dos Bancários, 17 de abril de 1985.
Fotógrafo: Raul Júnior, Acervo do Sindicato dos Bancários de São Paulo.


Para saber mais:

  • ALMEIDA, Guilherme Ribeiro. Reestruturação do Setor Bancário na Década de Noventa. Campinas, Unicamp, Instituto de Economia, 2003.
  • BLASS, Leila Maria. Estamos em greve! Imagens, gestos e palavras do movimento dos bancários. São Paulo: Hucitec, 1992
  • FONTES, Paulo; MACEDO, Francisco Barbosa e SANCHES, Ana Tércia. (Orgs.). 90 anos fortalecendo a democracia: bancários de São Paulo (1923-2013). São Paulo: Atitude, 2013.
  • KAREPOVS, Dainis (org). A Historia dos Bancários. Lutas e Conquistas. 1923 a 1993. São Paulo: Sindicato dos Bancários, 1994.
  • SECCO, Lincoln. História do PT. 5 ed. São Paulo: Ateliê, 2016.

Crédito da imagem de capa: Assembleia dos trabalhadores do Banespa na Quadra dos Bancários, setembro de 1988. Fotógrafo: Raul Júnior. Acervo do Sindicado dos Bancários de São Paulo.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Lugares de Memória dos Trabalhadores #24: Praça do Comércio, Manaus (AM) – Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro



Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro
Professor do Departamento de História da UFAM



Na virada do século XIX para o XX, o Norte do país vivenciou um momento de grandes transformações motivadas pela expansão da economia de exportação da borracha. Entre 1880 e 1910, a borracha foi o segundo principal produto na pauta de exportações brasileiras. Naquele período, afluíram para a região levas significativas de migrantes nacionais e estrangeiros, que contribuíram para uma sensível mudança na face da região, em especial nas duas capitais (Belém e Manaus) exportadoras do produto. 

O chamado boom da borracha foi fundamental para o processo de urbanização de Manaus. Atribui-se ao governador Eduardo Ribeiro (1890-1896), o principal administrador e urbanista do período, a façanha de ter transformado uma pequena aldeia em cidade moderna, o que, a seguir, acabou dando vazão à representações apologéticas da capital amazonense como a “Paris das Selvas”, vivendo o frescor de sua belle époque.

Em tais representações, foram comuns as descrições do urbanismo modernizador, seu ambiente cosmopolita, seus magazines, vitrines, praças e passeios públicos por onde desfilavam cavalheiros enfatiotados e senhoras em elegantes musselines, em meio a carruagens e as não menos atraentes cocotes “francesas”. Tais representações, no entanto, produziram silêncios importantes sobre um conjunto de práticas e de sujeitos sociais que compunham o universo popular e os mundos do trabalho.

Tendo recebido diversas denominações desde o final do século XIX, o espaço revitalizado nos primeiros anos do século XX, compreendendo o triângulo que se estendia entre os jardins da Igreja matriz, os Armazéns da Manáos Harbour e à Av. Eduardo Ribeiro, com o Prédio da Alfândega em seu vértice, a Praça do Comércio foi local de entrada exclusivo para a capital amazonense até a década de 1940 e, por isso mesmo, o espaço de grandes manifestações populares, que acorriam para ela, seja para a recepção de lideranças políticas chegadas à cidade, seja para as comemorações de datas e eventos cívico religiosos. Mas ela também foi um espaço para as manifestações e protestos da classe operária que começara a se formar e se organizar desde a última década do século XIX.


Foi exatamente a Praça do Comércio, o local escolhido pelos trabalhadores portuários – estivadores, carroceiros, catraieiros e carregadores – para a realização das assembleias e para a concentração de trabalhadores, quando estes decidiram pela realização daquela que pode ser considerada a primeira grande greve operária em Manaus, ocorrida em janeiro de 1899.


A escolha daquele espaço unia, de forma vantajosa, a proximidade dos espaços de trabalho – os armazéns portuários e os trapiches – à dinamicidade do comércio do entorno, o mais importante da cidade e, por isso mesmo, espaço de intenso trânsito de populares. Visto por esse ângulo, a informação de época, de que o movimento grevista de 1899 chegou a concentrar 3.000 pessoas na praça  – cerca de 5% da população de Manaus –, não parece exagerada.

Além de impactar centralmente a dinâmica da cidade, as greves de trabalhadores que passaram a ocupar a praça com grande frequência, durante todo o período da Primeira República, frequentemente recebiam a solidariedade da população manauara. Pela imprensa amazonense é possível perceber como os trabalhadores disputaram os espaços da cidade e, em muitos momentos tomaram-nos a seu favor para entabular suas demandas, reivindicações e protestos. Assim, em 1911, um diário da cidade, o Jornal do Comércio, informava que às seis horas da manhã do dia 4 de janeiro de 1911, os trabalhadores portuários ocuparam a praça com “avultado comparecimento”, para em seguida enfatizar que no início da tarde, “já era extraordinário o movimento de trabalhadores na Praça do Comércio”.

O mesmo ocorreu em 1919, quando os trabalhadores de diversas categorias da cidade ensaiaram uma greve geral, transformando novamente a praça no espaço central das  mobilizações e manifestações operárias, o que a imprensa noticiou como um “movimento popular  extraordinário”.

Com o crescimento de Manaus e o consequente espraiamento do solo urbano, a Praça do Comércio foi lentamente cedendo espaço como lócus prioritário das concentrações e mobilizações populares e operárias. A Praça do Comércio, no entanto, jamais saiu de cena e, mesmo hoje, ainda é um importante espaço de manifestações, ao lado das praças da Saudade e São Sebastião, assim como em outros momentos dividiu essa função com o Teatro Alcazar ou o ginásio do Olímpico Clube. Como na Praça do Comércio, em Manaus, a história e memória do trabalho e dos trabalhadores impregnam os espaços da cidade ressignificando-os com suas vivências, aspirações e lutas, e incrustando neles memórias silenciadas que precisam vir à tona.

Notícia sobre manifestação, em janeiro de 1911, na Praça do Comércio de estivadores e carroceiros em greve. Correio do Norte, 5 de janeiro de 1911. Hemeroteca Digital Brasileira


Para saber mais:

  • DIAS, Edinea Mascarenhas. A ilusão do fausto: Manaus, 1890-1920. Manaus; Valer, 1999.
  • COSTA, Deusa. Quando o viver ameaça a ordem urbana: trabalhadores de Manaus (1890/1915). Manaus: Valer/Fapeam, 2014.
  • MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus, história e arquitetura, 1852-1910. Manaus: Edua, 1997.
  • PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A cidade sobre os ombros: trabalho e conflito no porto de Manaus (1899-1925). 3ª ed. Manaus: Edua, 2015.
  • PINHEIRO, Luís Balkar Sá Peixoto; PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Mundos do trabalho na cidade da borracha: trabalhadores, lideranças, associações e greves operárias em Manaus (1880-1930). Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2017.

Crédito da imagem de capa: Praça do Comércio, circa 1953. Domínio público.  Disponível em: https://www.facebook.com/Manausdeantigamente/


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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Lugares de Memória dos Trabalhadores #23: Pedra Lisa, Japeri (RJ) – Leonilde Servolo de Medeiros



Leonilde Servolo de Medeiros
Professora do CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro



Pedra Lisa é uma pequena localidade rural, situada no município de Japeri, a poucos quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. Hoje, os moradores reivindicam para ela o estatuto de “Comunidade Tradicional dos Camponeses de Pedra Lisa”.

Uma enorme pedra, em formato de pão-de-açúcar, indica a origem do nome do local. No sopé da pedra, um campinho de futebol, usado pelas crianças e demais moradores, uma escola e uma casa até há pouco mal conservada. Na sua parede, lia-se até antes da reforma recentemente realizada pelos moradores, uma inscrição bastante apagada: “Cooperativa de Pedra Lisa”, entidade criada pela Sociedade de Lavradores e Posseiros de Pedra Lisa, no final da década de 1940. Hoje, a casa é a sede do “Núcleo Agrário Miguel Couto Filho”.

Na frente da escola, há uma placa de bronze, onde se lê:


Os camponeses de Pedra Lisa, posseiros de mais de séculos dessas terras, por sucessões hereditárias e de compra e venda, perseguidos por grileiros, que lhes queimavam as casas e destruíam as plantações, testemunham neste bronze sua imorredoura gratidão ao governador Miguel Couto Filho, pelo seu ato justo e sábio desapropriando estas mesmas terras em favor daqueles que as ocupam e as cultivam e resolvem dar o seu nome a este núcleo agrário, que passará, de hoje em diante, chamar-se Miguel Couto Filho. 13-07-58.


Pedra Lisa é um dos lugares mais significativos das memórias dos trabalhadores em suas lutas por terras no Estado do Rio de Janeiro. A área de influência da associação de lavradores e posseiros abrangia terras que passaram a ser disputadas pelas famílias Guinle e Paes Leme. Os limites são imprecisos, mas nela se situava também a localidade de Jaceruba, atualmente pertencente a Nova Iguaçu (até 1991, Japeri era um distrito de Nova Iguaçu).

As fazendas Santo Antônio do Mato e Limeira, alguns dos polos dos conflitos, foram desapropriadas em 1958 pelo então governador do Rio de Janeiro, Miguel Couto Filho. Dois anos depois, a Fazenda São Pedro, vizinha a elas, mas situada em Jaceruba, foi desapropriada pelo governador seguinte, Roberto Silveira.

Nessa região foi criada, em 1948, uma das primeiras associações de lavradores do Estado, liderada por José Matias, assassinado por um jagunço em novembro de 1953. Desde então, na liderança dos posseiros, destacou-se a figura de Bráulio Rodrigues da Silva. A história do grupo não se separa da trajetória desse líder. Nascido em Minas Gerais, veio para o município de Volta Redonda, Rio de Janeiro, onde se tornou operário e depois foi para a “roça” para, como militante do Partido Comunista, organizar “camponeses”, como eram chamados pelos comunistas os lavradores do país. Na Baixada Fluminense, esses camponeses eram em sua grande maioria posseiros, muitos deles descendentes de migrantes, vindos, em especial do Nordeste e de Minas Gerais ou mesmo de outras localidades do estado do Rio, em busca de local para morar e trabalhar. Havendo terras “livres”, ou seja, abandonadas, nelas se fixavam.

As disputas por terra em Pedra Lisa, bem como em outras áreas do Rio de Janeiro, se iniciaram quando os que se diziam proprietários passaram a tentar expulsar os posseiros, quer por meio de violência direta, quer por despejos judiciais. Na entrada da região, considerada pela imprensa como “região conflagrada”, havia uma tabuleta onde se lia: “Aqui em Pedra Lisa não entra polícia. Nem grileiros. Estas terras têm donos. Cada palma de chão roubado há de custar a vida de todos nós”. Em 1956, ocorreu um primeiro confronto aberto: os posseiros resistiram, armados (foices, picaretas, armas de caça), a uma tentativa de despejo. O fato repercutiu na imprensa e após muitas pressões conseguiram, em 1958, a desapropriação.

A ação da Sociedade dos Lavradores e Posseiros de Pedra Lisa, sob liderança de Bráulio Rodrigues, foi além dos limites municipais, levando os camponeses de Pedra Lisa a prestarem apoio a lavradores, em situação similar, em outras localidades da Baixada Fluminense.

Quando ocorreu o golpe de 1964, foi forte a repressão na região. Casas foram invadidas, revistadas com violência. Os militares e a polícia queriam saber onde estavam as armas (e só achavam velhas espingardas de caça) e as lideranças. Bráulio saiu da região e ficou escondido em diferentes lugares por mais de dois anos, só sendo preso bem depois.

Após os momentos iniciais de violência, parte das famílias optou por permanecer no local, mantendo as atividades agrícolas e dando à região, ainda hoje, características bastante rurais. Mesmo com pouco apoio governamental sobrevivem nas terras que conquistaram a duras penas. Muitos ainda se lembram das atividades da antiga associação e têm uma memória viva e carinhosa de Bráulio Rodrigues, falecido em 20 de junho de 2019.

A criação de uma nova associação, a reivindicação pelo seu reconhecimento como camponeses, a recuperação, pelos próprios moradores, da sede da antiga associação são indicadores da permanência das lembranças dos conflitos e da luta desenvolvida para garantir a permanência na terra.

Pedra Lisa é, assim, um dos lugares de memória dos trabalhadores rurais mais importantes do Estado do Rio de Janeiro.

Imagem contemporânea da comunidade de Pedra Lisa com o morro que lhe dá o nome ao fundo. Fotografia de Leonilde Medeiros, 2015.


Para saber mais:

  • BASTOS, Gabriel Souza. Conflitos de terra em Nova Iguaçu: uma análise a partir do caso de Pedra Lisa. Estudos Sociedade e Agricultura, fevereiro de 2017, vol. 25, n. 1, p. 179-207.
  • GRYNSZPAN, M. Mobilização Camponesa e Competição Política no Estado do Rio de Janeiro (1950-1964). (dissertação de mestrado) Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social/UFRJ, 1987.
  • MEDEIROS, Leonilde Servolo de (org), Ditadura, conflitos e repressão no campo: A resistência camponesa no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Consequência, 2018.
  • SILVA, Bráulio Rodrigues da. Memórias da Luta pela Terra na Baixada Fluminense. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008. Introdução, organização e notas de Leonilde Servolo de Medeiros.

Crédito da imagem de capa: Camponeses de Pedra Lisa após conflito com grileiros e a política. Imprensa Popular, 20/07/1957.


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As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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Lugares de Memória dos Trabalhadores #22: Praça da Bandeira, Moreno (PE) – Marcio Romerito da Silva Arcoverde



Marcio Romerito da Silva Arcoverde
Professor do Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas da UFRPE



A Praça da Bandeira foi construída no centro da cidade operária de Moreno simultaneamente à construção da fábrica e de outras edificações no início do século XX. Fica localizada entre a fábrica têxtil, parte da vila operária e o clube Societé. A cidade de Moreno foi planejada pela Societé Cotonière Belge Bresilienne S. A., empresa belga que montou todo o aparato urbano nas terras do outrora engenho açucareiro Catende.  Além de uma fábrica com vila operária e outros espaços públicos e privados, a Societé construiu a praça, que até hoje é o maior centro de sociabilidade da cidade.

Localizada estrategicamente em frente ao portão principal da fábrica, a praça reunia centenas de operários e operárias diariamente esperando a abertura dos portões para trabalhar. Nas horas de lazer, entre conversas e festividades diversas, era um ponto de encontro dos jovens operários. Nas memórias de alguns antigos trabalhadores ela aparece como um importante espaço de sociabilidade. Como se lembra Zita Brito, na praça “tinha retreta. Sabe o que é retreta? Retreta era assim; porque Moreno tinha uma banda musical. E então tinha semanas que se fazia retreta.” As retretas musicais embalavam diversões dos jovens que “ficavam passeando ali, em volta da praça, e a banda lá, tocando. Era um dos divertimentos também da época”.                                        

As retretas realizadas pela banda da fábrica atraíam centenas de trabalhadores que, em suas horas de lazer, buscavam divertimento ao som empolgante da banda operária. Ao seu embalo, os operários confraternizavam-se nos fins de semana, nas festividades carnavalescas e após as festas no clube Societé. Em muitos momentos, festas no clube eram animadas ao som da Jazz Band e na praça pelo frevo do bloco operário. “No auge da alegria, os invejados tricolores [referência aos que compunham o clube Societé] improvisaram assaltos à Praça da Bandeira, ao som do magnífico conjunto de Neco Pedrosa, onde se fez apreciar gigantesco desfile dos foliões que faziam o acrobático passo pernambucano”, noticiava o jornal Correio de Moreno em março de 1950.         


Era também na praça onde se realizavam os festejos e comícios políticos, as mobilizações dos trabalhadores e a distribuição dos boletins e jornais operários, como os da ação grevista contra as mudanças administrativas de 1952. Foi na Praça da Bandeira que muitos operários foram presos pela polícia política da DOPS, tidos como “comunistas que levam seus boletins subversivos” para a agitação do operariado.


Era também nela que se comemoravam as vitórias dos movimentos grevistas ou ocorriam comícios. Foi o que ocorreu, por exemplo, em agosto de 1954, quando o  deputado João Cleofas e o ex-ministro do trabalho João Goulart foram recebidos pelo prefeito Ney Maranhão, assim como seus convidados, membros do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).                        

O espaço público da Praça da Bandeira foi componente no fazer-se da classe trabalhadora local com suas sociabilidades, reivindicações, atuações e interlocuções políticas. Era um espaço de encontro para articular as reivindicações nascidas no chão da fábrica, um ponto de sociabilidade, de divertimento, um lugar de trocas de ideias e de mobilização de classe.

Hoje a praça não conta mais com a presença dos operários a caminho do trabalho. A Societé Cotonière Belge Bresilienne encerrou suas atividades na década de 1960. Porém, a Praça da Bandeira ainda concentra os principais acontecimentos culturais e políticos da cidade. Em frente aos portões cerrados da antiga fábrica se reúnem, diariamente, dezenas de ex-operários nas suas conversas e rodas de jogos. A configuração econômica e social do município mudou, mas podemos afirmar que muito da tradição cultural e política de Moreno foi forjada pelos operários e operárias de tecido em suas atividades e cotidiano na Praça da Bandeira.

Bloco operário nos anos 1950 em Moreno.
Arquivo pessoal Vera Lopes.

Para saber mais:

  • ARCOVERDE, Márcio Romerito da Silva. Lutas operárias num espaço semirrural: Trabalho e conflitos sociais em Moreno- PE. (1946-1964) Dissertação (Mestrado em história social da cultura regional) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de História, Recife,  2014.
  • ABREU e LIMA, Maria do Socorro. Construindo o sindicalismo rural: lutas, partidos, projetos. 2 ed. – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012.
  • LOPES, José Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São Paulo/ Brasília, Marco Zero/ Editora da UnB, 1988.

Crédito da imagem de capa: Praça da Bandeira em Moreno (PE) nos anos 1950, com a Fábrica Societé Cotonière Belge Bresilienne S. A. ao fundo.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores #21: Companhia Cimento Portland Itaú, Contagem (MG) – Carolina Dellamore



Carolina Dellamore
Doutora em História pela UFMG



De vários pontos de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, é possível avistar as chaminés da antiga Companhia Cimento Portland Itaú. Fundada em 1941 e desativada em 1984, a Itaú segue sendo lembrada. Se de um lado, os antigos operários guardam uma memória positiva da fábrica, por outro, muitos moradores da cidade recordam a emissão de pó de cimento das chaminés e as doenças respiratórias advindas da poluição. Nos anos de 1970, muitos deles engajaram-se na luta ambiental, mobilizando-se para exigir a instalação de filtros antipoluentes na empresa.

A fábrica de cimento Itaú foi a primeira implantada no Parque Industrial de Contagem. O Parque, projeto do governo de MG, procurava estimular o desenvolvimento industrial do Estado. Sua implantação atraiu trabalhadores de diversos municípios mineiros e de outros estados do país para empregarem-se na construção da fábrica, sendo absorvidos como operários posteriormente. Construíram grandes galpões, um prédio administrativo em estilo Art Déco e quatro fornos com suas respectivas chaminés. No terreno da Companhia também foi erguida uma vila operária destinada aos trabalhadores considerados indispensáveis à produção de cimento.


Os moradores não pagavam aluguel, as casas eram emprestadas e vinham mobiliadas. A vila possuía posto médico e dentário, farmácia, clube, cinema, armazém, capela e um teatro. Além do Conjunto Musical Itaú, que animava os bailes, havia um time de futebol e a banda de música Sociedade Musical Itaú.


Tudo isso criou um modo de vida dos trabalhadores que contribui para a construção, de um modo geral, de uma memória positiva do “tempo da vila”. Contudo, os trabalhadores que ali viviam também se reclamam da falta de privacidade e de ficarem totalmente à disposição da empresa, já que a produção de cimento se estendia pelas 24 horas do dia.

A instalação da Itaú em Contagem, no entanto, representou um desafio para a empresa, pois a jazida de calcário, matéria prima necessária para a produção de cimento ficava em São José da Lapa, na época distrito de Lagoa Santa. Para solucionar a questão, a Itaú construiu um teleférico com 28 quilômetros de extensão ligando a jazida à Contagem. Formado por uma estrutura de postes de concreto por onde passavam cabos de aço que sustentavam caçambas, o teleférico além do transporte de calcário, servia aos moradores da região para transportar alimentos e outras mercadorias e não era raro ver trabalhadores da fábrica e crianças pegarem carona nas caçambas. O teleférico foi desativado há muitos anos, mas os postes ainda podem ser vistos na paisagem local, remetendo a lembranças divertidas das caronas, principalmente de moradores do bairro Água Branca.

Nos anos 1960, a Itaú já tinha implantado mais três fornos, aumentando sua capacidade produtiva e convertendo-a na principal fornecedora de cimento para a construção de Brasília. A ampliação da produção, contudo, elevou consequentemente os níveis de poluição em Contagem. A imagem dos telhados brancos das casas em função do pó de cimento que caia diariamente das chaminés é algo muito comum nas memórias dos moradores que também conviviam com diversos problemas de saúde, principalmente respiratórios.

Na década de 1970, a situação tornou-se insustentável, provocando grande mobilização popular para exigir a instalação de filtros antipoluentes. Em 1975, pressionada, a Prefeitura de Contagem, por meio de um decreto municipal determinou o fechamento da fábrica até que fossem colocados os filtros. Os moradores reforçaram a ação da prefeitura e saíram às ruas, em passeata, exigindo o cumprimento do decreto.  

No entanto, um dia depois de iniciado o fechamento da Itaú, o presidente da República, General Ernesto Geisel, promulgou um decreto que tornava responsabilidade exclusiva do governo federal “determinar ou cancelar a suspensão do funcionamento de estabelecimento industrial cuja atividade seja considerada de alto interesse do desenvolvimento e da segurança nacional”. Assim, em plena ditadura militar, o fechamento da Itaú era cancelado. Alguns moradores do entorno da fábrica foram monitoradas pela polícia política durante toda mobilização. Transformada em questão de segurança nacional, a fábrica de cimento seguiu funcionando sem os filtros antipoluentes e lançando pó de cimento no ar de Contagem até sua desativação em 1984.

Em 1998, a Itaú foi parcialmente demolida para a construção de um complexo comercial. Em função da rápida ação dos técnicos da Diretoria de Memória e Patrimônio Cultural e do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Contagem (Compac) as quatro chaminés e o prédio administrativo da Companhia foram tombados como patrimônio cultural do município em 2001 e incorporados ao novo empreendimento. Essas edificações patrimonializadas são marcas materiais da efervescência da indústria em Contagem e possibilitam conhecer um tipo de industrialização e o modo de vida de trabalhadores, sua memória e seus saberes. Além disso, as chaminés que tanto poluíram, preservadas, podem ser lidas como símbolo da luta dos trabalhadores da região por melhores condições de vida.

Caçambas de transporte de matéria-prima de São José da Lapa para a Companhia Cimento Portland Itaú. Década de 1960.
Acervo Casa da Cultura Nair Mendes Moreira, Museu Histórico de Contagem (MG).


Para saber mais:

  • ANDRADE JÚNIOR, Adebal de. Abrindo patrimônios: objetos, práticas e sentidos do tombamento. Rio de Janeiro: Multifoco, 2016.
  • CONTAGEM. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Dossiê de tombamento das Chaminés e prédio administrativo da antiga Companhia Cimento Portland Itaú. Contagem: Superintendência de Cultura, 1999.
  • DELLAMORE, Carolina. Forjando lideranças: comportamentos políticos e militância operária no Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem (1957-1984). 2019. 443f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em História, Belo Horizonte/MG.
  • NEVES, Magda de Almeida. Trabalho e Cidadania: as trabalhadoras de Contagem. Petrópolis-RJ: Vozes, 1994.
  • SILVA, Ronaldo André Rodrigues. Patrimônio industrial: história, memória e cultura. Revista Por dentro da história, Contagem, n.5, 2012, p. 12-15. Disponível em: http://www.contagem.mg.gov.br/arquivos/publicacoes/revistapordentrodahistoria1608bx5-20190614030541.pdf?x=20191027121922

Crédito da imagem de capa: Companhia Cimento Portland Itaú em funcionamento. Acervo Casa da Cultura Nair Mendes Moreira, Museu Histórico de Contagem (MG).


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Lugares de Memória dos Trabalhadores #20: Colégio Nossa Senhora de Sion, São Paulo (SP) – Josué Medeiros



Josué Medeiros
Professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ



Nas narrativas sobre as origens do Partido dos Trabalhadores, o ato de fundação do partido é lembrado com orgulho e emoção. O encontro marcava um novo momento da esquerda brasileira, reunindo lideranças populares de todo o país, jovens sindicalistas como Olívio Dutra, Jacob Bittar e Lula; históricos militantes como Manoel da Conceição e Apolônio de Carvalho e intelectuais e artistas do porte de Lélia Abramo, Paul Singer, Sérgio Buarque de Holanda, Antônio Cândido e Mario Pedrosa. O local de fundação, no entanto, merece pouca atenção. O Colégio Nossa Senhora de Sion, localizado em Higienópolis, bairro de elite da cidade de São Paulo, é sempre mencionado en passant, como um detalhe a mais, tal como o horário ou o dia do ato.

As cerca de 2 mil pessoas presentes no Colégio Sion representavam uma miríade de tradições políticas, organizações, movimentos sindicais e sociais, intelectuais, movimentos religiosos vinculados à teologia da libertação, que lutavam pela redemocratização do país e tinham como projeto estratégico a constituição de uma ação política autônoma e permanente das classes populares. Mais importante, representavam a energia da explosão social verificada no Brasil desde 1978, com as greves do ABC paulista lideradas por Luiz Inácio Lula da Silva, e que logo se espalhou para todo o país.

“O PT surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la”. Esta primeira frase do Manifesto de Fundação sintetizava o momento histórico e as tarefas vindouras: era preciso legalizar o partido, o que só foi feito dois anos depois, e viabilizá-lo politicamente, o que só ocorreria, de fato, nas eleições presidenciais de 1989, quando Lula quase chegou lá.

De toda forma, havia um (aparente) paradoxo no fato de um partido de trabalhadores ser fundado em um colégio tradicional da elite paulistana. O Colégio Sion foi criado em 1901 pela Congregação das Religiosas de Nossa Senhora de Sion, influente ordem religiosa internacional. Inicialmente voltado para o ensino feminino, logo se tornou conhecido como a “escola das meninas ricas da cidade”.

Apesar de suas origens, o Colégio Sion, desde os anos 1960, seria fortemente influenciado pela teologia da libertação e pela marcante presença do catolicismo progressista na cidade de São Paulo, sob  a liderança do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. O colégio foi, por exemplo, a sede paulista do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), importante organização de assessoria aos movimento sociais. Do ponto de vista pedagógico, a escola foi pioneira na adoção do Método Montessori, considerado uma forma de ensino humanista.

Apolônio de Carvalho, histórico militante comunista que lutou na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o Nazismo e que foi dirigente petista até 1987 comentou a atmosfera que envolvia o colégio no final dos anos 1970:


“Passei a ir a certas reuniões, no Colégio Sion, o que me permitia admirar profundamente a imagem, envelhecida aparentemente, mas tão radiosa, tão jovem, tão cheia de vida, da diretora do colégio, que abrigava o empenho de formação de um novo partido popular, dentro do seu colégio ligado às camadas sociais mais altas”.


A escolha do Colégio Sion para sediar a fundação do PT indicava os profundos vínculos entre o catolicismo progressista e o movimento político que deu origem ao partido. Também havia razões práticas. A localização central da escola facilitava o acesso e fornecia o conforto necessário para muitos dos convidados, vários deles políticos e intelectuais idosos. Mas havia igualmente estratégia política. A reunião no Colégio Sion dava respeitabilidade e prestígio a um partido de massas, que se pretendia aberto a todos os setores progressistas que reconhecessem o protagonismo dos trabalhadores.

O Colégio Sion representa simbolicamente um momento de abertura de parte das elites à ideia de que o Brasil precisava de um partido popular, que representasse os “de baixo”. No final dos anos 1970, a oposição policlassista à ditadura possibilitou um raro momento de convergência em torno da ideia de que só teríamos democracia com um sério enfrentamento das desigualdades sociais e com a ação autônoma das classes trabalhadoras. Não é por acaso que ao PT aderem personalidades importantes das classes altas. Um exemplo foi a ex-aluna do Colégio Sion, Marta Suplicy, que anos depois seria prefeita de São Paulo, deputada e senadora, além de ministra de Lula e Dilma. No mesmo sentido, podemos dizer que o rompimento de Marta com o PT durante o golpe de 2016 simboliza o atual fechamento das elites econômicas e políticas brasileiras à possibilidade de uma democracia que aceite o protagonismo popular.

Distante da efervescência política do final da ditadura, o Colégio Sion permanece como uma das mais importantes instituições de ensino da cidade. Seu prédio, projetado por Ramos de Azevedo, foi tombado como Patrimônio Estadual em 2016. Mas foi aquele histórico e entusiasmado encontro de militantes no dia 10 de fevereiro de 1980 que marcou para sempre o Colégio Sion como um fundamental lugar de memória dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.


Foto 1: Lula, Jacó Bittar, Olívio Dutra, Paulo Skromov e outras sindicalistas dirigem a reunião de fundação do PT no Colégio Sion, 10/02/1980. Acervo O Estado de São Paulo.
Foto 2: Mário Pedrosa, Lélia Abramo e Sérgio Buarque de Holanda presentes ao ato de fundação do PT no Colégio Sion, 10/02/1980. Fotógrafo Juca Martins, Acervo Olhar Imagens.


Para saber mais:

  • FERREIRA, Marieta; FORTES, Alexandre (Org.). Muitos caminhos, uma estrela: memórias de militantes do PT. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2008. v.1.
  • FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Projeto Memória e História. Partido dos Trabalhadores: Trajetórias – das origens a vitória de Lula. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
  • PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos (1979-1998). São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998.
  • SECCO, Lincoln. História do PT. 5 ed. São Paulo: Ateliê, 2016.
  • VANNUCCHI, Camilo. Marisa Letícia Lula da Silva. São Paulo: Alameda Editorial, 2020.

Crédito da imagem de capa: Ato de fundação do Partido dos Trabalhadores no Auditório do Colégio Sion em São Paulo, 10/02/1980. Foto Juca Martins, Acervo Olhar Imagens.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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Lugares de Memória dos Trabalhadores #19: Prédio do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Rio de Janeiro (RJ) – Angela de Castro Gomes



Angela de Castro Gomes
PROFESSORA TITULAR APOSENTADA DA UFF E PROFESSORA EMÉRITA DO CPDOC/FGV



No dia 8 de setembro de 1997, Arnaldo Sussekind – então o único integrante vivo da comissão que elaborou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943 – era o centro das homenagens de uma cerimônia que dava seu nome ao edifício que abriga, até hoje, o Tribunal Regional do Trabalho da 1a Região, situado na Avenida presidente Antônio Carlos, 251, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Em discurso de agradecimento, relembrou a forte carga simbólica do prédio que passava a se chamar Fórum Ministro Arnaldo Sussekind, uma vez que o próprio terreno onde fora edificado tinha uma história que remontava aos eventos da Revolução de 30.

Naquele local situava-se a movimentada Esplanada do Castelo, onde, em 2 de janeiro de 1930, Getúlio Vargas realizou um comício de campanha que se tornou célebre, não só porque reuniu milhares de pessoas (o que era incomum), como porque foi nesse momento que ele anunciou o compromisso de elaborar leis de proteção social ao trabalhador. O “Discurso da Esplanada” transformou-se numa peça chave da plataforma do candidato da Aliança Liberal que, se não inovou ao tratar da “questão social”, foi o primeiro a reconhecê-la como uma real questão econômica, que precisava ser enfrentada. Para Vargas, ignorar a necessidade de regulamentar as relações capital-trabalho era o que prejudicava o progresso do Brasil, não o contrário.

Lembrado diversas vezes depois de Vargas chegar ao poder, esse discurso demonstraria, de acordo com seus apoiadores, o vínculo existente, “desde o início”, entre o presidente Vargas e o “povo trabalhador” do Brasil. Não por acaso, logo depois de tomar posse, em outubro de 1930, Vargas criou dois novos ministérios para assinalar as grandes mudanças que a Revolução de 30 desejava promover: o ministério da Educação e Saúde e o ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC). Considerados como os “ministérios da revolução”, eles evidenciavam a presença do Estado em assuntos de “interesse social”, o que exigia a montagem de uma nova e moderna burocracia, que se dedicasse a elaborar políticas públicas destinadas à resolução dos problemas existentes nessas áreas tão importantes e, até então, estranhas à regulamentação estatal.

Portanto, os dois ministérios nascem destinados a ocupar uma posição central na administração pública, com ministros poderosos politicamente, espelhando, em suas ações, o perfil do Estado que se inaugurava em 1930. No caso do MTIC, esse propósito foi cumprido à risca. Pode-se dizer que entre 1931 e 1937, principalmente durante as gestões dos ministros Lindolfo Collor e Salgado Filho, portanto, antes da instalação do Estado Novo, a maioria absoluta da legislação trabalhista e previdenciária foi planejada e implementada, além de fiscalizada, ainda que com muitas dificuldades. Contudo, esse ministério não tinha uma sede, abrigando-se provisoriamente em outros espaços públicos. Quando se decidiu que ganharia uma sede, não por acaso, o local escolhido foi justamente um grande terreno situado junto à Esplanada do Castelo.

O edifício do MTIC foi concebido em dimensões monumentais e seguindo os princípios da moderna arquitetura de inspiração norte-americana, cujos requisitos eram funcionalidade e comodidade. O projeto, em estilo “art déco brasileiro” – uma das variantes da arquitetura moderna da época – era do engenheiro Mário Santos Maia, funcionário do próprio MTIC. Embora os estudos para a construção datem de 1933, a pedra fundamental só foi lançada em agosto de 1936, com a inauguração ocorrendo na data festiva de 10 de novembro de 1938, o primeiro aniversário do Estado Novo.


Nesse momento, pela primeira vez, Vargas discursou usando o vocativo “Trabalhadores do Brasil”, que se tornaria seu bordão ao encarnar o papel de  líder trabalhista. A ocasião foi festiva, havendo um desfile de organizações sindicais, algo bem ao gosto das manifestações patrióticas que passariam a acontecer, até o fim do regime em 1945.


O “Palácio do Trabalho”, em seus primeiros anos, foi muito mais o símbolo do poder de um Estado autoritário, que rigidamente procurava controlar os sindicatos e as reivindicações dos trabalhadores. Mas já nos anos 1950, sob o segundo governo Vargas, essa situação começou a se alterar, em especial na gestão do ministro do Trabalho, João Goulart (1953/4). Ele iria estabelecer a prática de receber tanto lideranças sindicais como simples trabalhadores, para conversar sobre variadas questões afetas a esse ministério. Dessa forma, o pesado prédio passou a ser um lugar em que os trabalhadores transitavam com frequência e desembaraço.

Com a transferência da capital para Brasília, em 1960, o edifício perdeu sua principal finalidade, mas continuou vinculado ao mundo do trabalho, sediando o TRT da 1a Região. Porém, em 2019, um dos primeiros atos do governo Bolsonaro foi acabar com o Ministério do Trabalho e Emprego, numa indicação evidente do espaço que os trabalhadores ocupariam em sua agenda e do quanto os direitos sociais do trabalho deixariam de ter significado para promover o desenvolvimento do país e o bem-estar do povo trabalhador.

Comício de Getulio Vargas atrai milhares de pessoas para a Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro, durante a campanha eleitoral de 1930. No mesmo local, alguns anos depois, seria construída a sede do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
Fonte: reprodução da revista Careta n. 1.125.


Para saber mais:

  • CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-1960), Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.
  • GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo, Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2015 (3a ed.).
  • GOMES, Angela de Castro. O Tribunal Regional do Trabalho da 1a Região e a Justiça do Trabalho no Brasil, Rio de Janeiro, TRT, 2006.

Crédito da imagem de capa: Cartão postal retrata o prédio do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio no Rio de Janeiro (circa 1940). Fonte: Site Arquivos Digitais – Rio de Janeiro em postais ilustrados.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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Lugares de Memória dos Trabalhadores #18: Praça da Sé, São Paulo (SP) – Murilo Leal



Murilo Leal
Professor da Universidade Federal de São Paulo (campus Osasco)



Chegando ao topo das escadarias da Catedral da Sé, na capital paulista, o cidadão ou cidadã pode tirar sua câmera da mochila ou o celular do bolso e enquadrar o cenário no visor antes de disparar. Procurará o melhor ângulo, pegando o Marco Zero lá em baixo e os que, à sua volta, observam e fotografam a Catedral, incluindo o(a) fotógrafo(a) no cenário. Com os sentidos aguçados e uma certa tensão, antes de calcar o dedo e fixar a realidade daquele dia, captará, por trás do véu da tarde, cenas que os desatentos deixam passar. Surpreso, encontrará poças de sangue no piso de outra praça, ainda não remodelada pelas obras do metrô, derramado em um 7 de outubro de 1934, durante a Batalha da Sé, marco histórico da luta antifascista no Brasil.

Naquele dia, socialistas, comunistas, anarquistas, trotskistas e sindicalistas, em frente única, organizaram uma “contramanifestação” de protesto e enfrentamento à manifestação comemorativa dos dois anos do lançamento do Manifesto Integralista, promovida pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Os gritos de Anauê, a saudação dos integralistas, e a cantoria do hino oficial da AIB foram abafados por palavras-de-ordem antifascistas e logo ouviram-se disparos de várias direções. Policiais da Guarda Civil, do Corpo de Bombeiros, do Exército, cavalarianos, fascistas e antifascistas se enfrentaram e, no final, sete pessoas jaziam sem vida, trinta estavam feridas e a data dos dois anos do documento dos camisas-verdes não pôde ser comemorada.

As disputas pela presença naquele espaço haviam, de fato, começando bem antes e talvez sejam constitutivas de sua própria construção material e simbólica. O erguimento de uma Igreja Matriz no Largo da Sé, na Vila de São Paulo, no século XVI; o início das obras da Catedral, em 1913; a inauguração do Marco Zero pela Prefeitura, em 1934, geravam uma centralidade religiosa e política que atraía também a imaginação dos trabalhadores. Já na greve de 1917, cordões policiais foram rompidos para a realização, naquele local, de um enorme comício após o enterro do jovem anarquista espanhol assassinado em frente à fábrica de tecidos Mariângela, no bairro do Brás.


A instalação de terminais de ônibus na Sé e posteriormente na vizinha Praça Clovis Bevilácqua e a localização de sedes de sindicatos em prédios da própria praça, como o célebre Palacete Santa Helena, que também abrigava ateliês de artistas como Alfredo Volpi e Francisco Rebolo, certamente intensificaram a circulação, os usos e os significados da praça como ponto de encontro para a luta, dos(as) trabalhadores(as) mas também para o lazer nos bares, restaurantes, botequins e salões de sinuca.


Quando as comemorações de 1º de Maio começaram a ganhar as ruas, nas décadas iniciais do século XX, o primeiro local ocupado foi o Largo da Concórdia, no Brás. Logo em 1933, a Federação Operária convocou uma manifestação para a Praça da Sé, impedida pela polícia. Na década de 1950, os sindicatos combativos privilegiavam outros espaços para o Dia do Trabalhador, como o Hipódromo da Mooca (1953/54), o Parque D. Pedro (1955) e o Ibirapuera (1956), embora passeatas importantes, como na Greve dos 300 Mil, que durou 27 dias, de março a abril de 1953, tenham trazido à Sé o semblante desafiador de metalúrgicos, têxteis, vidreiros e gráficos.

Os sindicatos conservadores ou ligados ao catolicismo comemoraram o 1º de Maio na Sé em 1962 e 1963, com a presença do Governador Adhemar de Barros e em 1964 o ritual repetiu-se, com vinda do ditador Castelo Branco em pessoa. O controle oficial do território para comemorações daquela data foi rompido em 1968, quando o governador Abreu Sodré, foi expulso do palanque oficial. Assim, trabalhadores e estudantes reconquistavam, por um momento, o seu dia e a sua praça, tomavam a palavra e as ruas, dirigindo-se em passeata à Praça da República, clamando contra o arrocho salarial e a ditadura militar.

Com a redemocratização, os trabalhadores estabeleceram hegemonia sobre o terreno e diversas manifestações e comemorações foram ali realizadas. Em 27 de agosto de 1978, por exemplo, o Movimento do Custo de Vida, reuniu cerca de 20 mil pessoas no ato de encerramento de uma campanha que colhera cerca de 1.200.000 assinaturas contra a carestia de vida. Foi na Sé que trabalhadores e seus sindicatos participaram ativamente do icônico comício da Campanha das Diretas Já em 25 de janeiro de 1984. No ano seguinte, a praça seria o palco de manifestações e assembleias da maior greve bancária da história.

Finalmente, o cidadão ou cidadã comprimirá o botão do obturador e observará o resultado. Surgirão moradores de rua, pregadores religiosos, bancas de jornal e barraquinhas de comida. Parecerá ter captado a imagem da praça de uma cidade do interior, só que maior e mais vistosa. A transformação de São Paulo em uma megalópole polifônica fez com surgissem outros pontos de encontro para protestos e performances, como o vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP), na avenida Paulista, o Vale do Anhangabaú e o Largo da Batata, em Pinheiros, mas a Sé continua sendo um lugar de memória dos trabalhadores e ponto de encontro para suas manifestações.

Manifestação do Movimento do Custo de Vida em agosto de 1978 na Praça da Sé.
Acervo: Pulsar Imagens. Fotógrafo Juca Martins.


Para saber mais:

  • ABRAMO, Fúlvio . A revoada dos galinhas verdes. Uma história do antifascismo no Brasil. São Paulo: Veneta, 2014.
  • BLASS, Leila Maria da Silva. Estamos em Greve!: imagens, gestos e palavras do movimento dos bancários. São Paulo: Ed. Hucitec: 1992.
  • LEAL, Murilo. A reinvenção da classe trabalhadora (1953-1964). Campinas: Editora da Unicamp, 2011.
  • MONTEIRO, Thiago Nunes. Como pode um povo vivo viver nesta carestia: o Movimento do Custo de Vida em São Paulo (1973-1982). São Paulo: Humanitas-Fapesp, 2017.
  • RUIZ, Vicente Garcia. De alma aberta: crônicas libertárias sobre a vida e o chão de fábrica. São Paulo: Edição do Autor, 2015.

Crédito da imagem de capa: Protesto de trabalhadores e estudantes durante as celebrações do Primeiro de Maio de 1968 na Praça da Sé. Acervo: Folhapress.


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As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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Lugares de Memória dos Trabalhadores #17: Monumento ao Trabalhador, Goiânia (GO) – Nélio Borges Peres



Nélio Borges Peres
Professor da Universidade Estadual de Goiás



O “passado foi duro, mas deixou o seu legado” para os que se fazem de “pedra de segurança dos valores que vão desmoronando”, dizem os versos de Cora Coralina aos nascidos em tempos rudes e que aprendem a aceitar “contradições, lutas e pedras como lições de vida”. Instalado na Praça dos Trabalhadores (antiga Praça Americano do Brasil) em 1959, diante da Estação Ferroviária de Goiânia (que funcionou entre as décadas de 1950 a 1980), o Monumento ao Trabalhador representou o crescimento das lutas trabalhistas e das ideias de justiça social que entusiasmavam vastos setores da população e repercutiam no mundo político.

O Monumento foi uma reivindicação de vários sindicatos de Goiás. Pedro Ribeiro dos Santos, então presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria no Estado de Goiás (FTIEG), foi um dos mais entusiasmados defensores da proposta. Ele argumentava que a obra deveria retratar tanto a importância do trabalhador na construção de Goiânia e na produção de riquezas em todo o mundo, quanto a força e relevância das lutas sindicais e dos rituais da classe, como as celebrações do Primeiro de Maio. No final dos anos 1950, José Feliciano, governador de Goiás pelo PSD e o prefeito de Goiânia, Jaime Câmara do mesmo partido, atenderam as reivindicações dos sindicalistas e aprovaram a construção do Monumento.

A execução da obra contou com os trabalhos do engenheiro Farid Helou, do arquiteto Elder Rocha Lima, e do artista plástico Clóvis Graciano, autor dos mosaicos intitulados “O mundo do trabalho” e “As lutas dos trabalhadores”. Graciano foi um artista figurativo (não abstracionista) conhecido por seus murais com temas sociais. No Monumento ao Trabalhador, projetou desenhos com pastilhas de cerâmica com imagens históricas que evocavam cenas do trabalho mecanizado e de lutas sociais como a dos chamados mártires de Chicago.


O Monumento causou grande controvérsia e resistência dos setores conservadores locais. De qualquer forma, no contexto anterior ao golpe de 1964, os trabalhadores já haviam tomado a praça para si e a transformado em um lugar de manifestações populares e comemorações do Primeiro de Maio.


Em 1969, no auge da ditadura militar, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) atacou o Monumento ao Trabalhador. A finalidade do grupo era a destruição da obra. Ao derramar piche fervido nas duas superfícies, os desenhos desapareceram da vista. Parcialmente destruído, o Monumento foi “esquecido” num contexto de repressão e silenciamento, particularmente em relação às lutas e memória dos trabalhadores. O descaso e animosidade dos gestores públicos locais em relação ao Monumento ficaram ainda mais evidentes em 1973, quando foi feita uma raspagem das pastilhas deterioradas sem plano de recuperação da obra.

Abandonado na Praça do Trabalhador até a redemocratização do país, a obra caía aos pedaços quando, na gestão do prefeito Joaquim Roriz (PMDB, de 1987 a 1988), os cavaletes de concreto foram retirados, sob alegação de que a Avenida Goiás seria prolongada para o norte da cidade e atravessaria a Praça dos Trabalhadores. No entanto, a extensão da avenida acabou seguindo trajeto diferente e a praça continuou sendo usada pelos trabalhadores para atos cívicos e manifestações populares, embora o Monumento e seu simbolismo continuassem relativamente esquecidos.

Ao longo dos anos 1990, porém, algumas tentativas frustradas de recuperação do monumento demonstram que sua memória permanecia viva entre alguns setores da sociedade goianiense. Em 2003, na gestão do prefeito Pedro Wilson (PT, de 2001 a 2004), agentes políticos e culturais vinculados a movimentos sociais de esquerda voltaram a reivindicar o Monumento como referência histórica e simbólica da política goiana. Um Grupo de Trabalho foi criado para fazer estudos que concluíram que o a obra era um “objeto-testemunho” que expressava a solidariedade entre os trabalhadores. Infelizmente, no entanto, a recuperação do Monumento nunca foi colocada em prática.

A Praça dos Trabalhadores foi reformada em 2019, mas sem o símbolo da presença dos trabalhadores na cidade, embora ainda seja um espaço de manifestações populares. Para quem admira o passado enquanto é empurrado para o futuro, o Monumento ao Trabalhador em Goiânia pode refletir a “destruição” da memória representativa da vida do trabalhador moderno. Para seres miméticos, como nós, que aprendemos a imitar modelos dominantes de representação, esquecer o trabalho, a corporeidade e a psique pode representar a morte. Contínua e contraditória, a história do Monumento ao Trabalhador passa pelo processo de esquecimento entre os jovens que cresceram e crescem sem referências culturais alternativas ao que é dado como memória dos vencedores, proclamados heróis.

Legenda: Reprodução de detalhes dos mosaicos do Monumento ao Trabalhador, de autoria do artista plástico Clóvis Graciano.



Para saber mais:

  • ARRAIS, Cristiano Alencar. “As imagens da cidade e a memória do conflito”. In. SANDES, Noé Freire. Memória e Região. Brasília: Ministério da Integração Nacional, Goiânia: UFG, 2002.
  • BERNARDES, Genilda d’Arc. O cotidiano dos trabalhadores da construção de Goiânia: o mundo do trabalho e extratrabalho. Revista UFG, vol. 11, n. 6, 2009.
  • BORGES, Pedro Célio. Mudanças urbanas e fragilidades da política de memória (a destruição do Monumento ao Trabalhador). Sociedade e Estado, vol. 32, n. 2, Brasília, 2017.
  • CHAUL, Nars Fayad. Caminhos de Goiás: da construção de Goiânia aos limites da modernidade. Goiânia: UFG, 1997.
  • MACHADO, Roniery Rodrigues. “Monumento ao Trabalhador” em Goiânia: uma história de luta. A Nova Democracia. Ano XVI, n. 193, 2017. Disponível em https://anovademocracia.com.br/no-193/7234-monumento-ao-trabalhador-de-goiania-uma-historia-de-luta.

Crédito da imagem de capa: Manifestação de Primeiro de Maio diante do Monumento ao Trabalhador, 1961. Relatório: Monumento ao Trabalhador – estudos para reconstrução. Prefeitura de Goiânia: Grupo de Trabalho, 2003.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Lugares de Memória dos Trabalhadores #16: Mercado Público de Desterro (Florianópolis – SC) – Fabiane Popinigis e Henrique Espada Lima



Fabiane Popinigis
Professora do Departamento de História da UFRRJ

Henrique Espada Lima
Professor do Departamento de História da UFSC




Para ao Cisne disputar
Populares afeições
Chama às reuniões
Negras aves d’ultramar



No poema “A assembleia das aves”, de 1847, Marcelino Antônio Dutra, escritor e político associado aos liberais em Santa Catarina, nos deixa entrever um pouco de sua visão, que certamente compartilhava com outros, sobre a eleição daquele ano. Nos versos acima, em que o “Cisne” representava o candidato liberal e as “negras aves africanas” eram os trabalhadores escravos e libertos, Dutra criticava os conservadores por tal aliança. Segundo ele, a união daqueles “pássaros” num “clube eleitoral” teria produzido uma “liga monstruosa” que deixava a polícia em alerta.

A principal disputa naqueles anos dava-se em torno do local de construção de um prédio de mercado para acolher o comércio de gêneros alimentícios em Desterro (atual Florianópolis). Na praça central, em frente à Igreja da Matriz e próximo da praia, desde há muito tempo as quitandeiras de origem africana estendiam seus panos – como em outras cidades portuárias do Atlântico – para vender comidas prontas, frutas, peixes e outros alimentos, enquanto trabalhadores escravizados e libertos carregavam e descarregavam navios. Muitos dos escravos e escravas se empenhavam em acumular pecúlio com esse trabalho para comprar a própria alforria. Pessoas de origem africana vieram como escravizados principalmente do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX. Em 1855, dos 5.611habitantes de Desterro, 1.436  eram escravizados.

Também para aquela praça, pequenos lavradores levavam seus produtos, em canoas, do interior da Ilha de Santa Catarina, para ali vendê-los. O espaço do mercado configurava-se assim como um local de intensa concentração de homens e mulheres trabalhadoras, dedicados à manutenção da estrutura de abastecimento e serviços da cidade portuária.  

Desde 1838 havia um controverso projeto para a construção de um prédio de mercado na praça central da cidade. As autoridades locais aproveitaram a passagem de D. Pedro II pela cidade, em 1845, para remover dali as barraquinhas, que, para muitos “enfeiavam” a praça ladeada pelos prédios do governo. Depois da visita do Imperador, a pendenga voltou à baila, dividindo os que queriam o mercado fora da praça e os que queriam que o mercado voltasse para onde sempre estivera, com os peixes e alimentos exibidos “aos pés dos pretos e pretas quitandeiras”. Nas ruas que a margeavam, comerciantes da cidade haviam estabelecido seus negócios. Outros, acalentavam projetos de “aformoseamento” e “saneamento” para os espaços centrais da cidade, a exemplo de outras capitais.

As “negras aves africanas” a que se referiu o liberal Dutra eram os libertos, que foram ali representados pela ave “Anu”, de cor preta e barulhenta. Embora libertos africanos, mulheres de qualquer origem e escravizados, não pudessem votar, o resultado das eleições lhes interessava e, suas posições e apoios faziam diferença na vida política da cidade. O clube eleitoral  dos conservadores parece ter sofrido essa influência, articulada no propósito comum de manter o pequeno comércio, marcado pela forte presença africana, na praça central da cidade, o que contemplava também seus negócios nos arredores.

Na eleição de 1847, os conservadores ganharam o pleito e também a disputa sobre o mercado, que seria construído ali mesmo na praça. Em janeiro de 1851, foi inaugurado o primeiro Mercado Público de Desterro, no alinhamento da Rua do Príncipe (atual Conselheiro Mafra), junto ao mar. 


Foi trabalhando nesse mercado que pessoas como a quitandeira Maria Mina acumularam pecúlio para a compra de sua liberdade, enquanto pequenos produtores, comerciantes e caixeiros vendiam seus produtos, e prostitutas encontravam seus clientes nos arredores da praça, onde passavam carregadores e carroceiros e barqueiros.


O primeiro Mercado Público de Florianópolis não existe mais. Foi substituído, no final do século XIX, por outro prédio, num local próximo, mas fora da praça principal. As tradicionais quitandeiras de origem africana foram excluídas do novo Mercado. Parte de um imaginário que cultua Santa Catarina como o “estado mais branco do Brasil”, a memória que foi construída sobre os primórdios do Mercado elimina completamente o papel dos africanos, celebrando a presença “açoriana” e dos colonos alemães. No entanto, os/as trabalhadores/as negros não desapareceram. Continuaram carregando, comerciando e lutando por seus direitos. Foram comuns as reclamações de quitandeiras enviadas à Câmara Municipal contra os altos impostos que pagavam para expor seus produtos na praia. Em 1900, o escritor Virgílio Várzea registrava a presença dessas vendedores negros passando com suas frutas e verduras por vários pontos da cidade, denominando-as de “formigas carregadoras”. Entre aves e formigas, esses homens e mulheres identificados por sua cor foram parte fundamental dos mundos do trabalho da capital catarinense no século XIX e início do XX. O Mercado Público foi seu principal território, um lugar de memória dos trabalhadores e trabalhadoras negligenciado pela história oficial.

Trabalhadores e trabalhadoras envolvidos no comércio de gêneros em área próxima onde se construiu o primeiro mercado público de Desterro.
Referência: Recorte da obra original de Victor Meirelles de Lima (1832-1903), Antiga  Rua Augusta, Desterro (Florianópolis, SC ), 1851. Óleo s/cartão, 33,9×49,2cm. Pertencente ao acervo do MNBA/IBRAN/MinC – Rio de Janeiro.



Para saber mais:

  • DUTRA, Marcelino Antônio Dutra, A Assembleia das Aves. Poemeto em quatro cantos dedicado aos amigos e aos verdadeiros amigos do Exmo.Sr. Conselheiro Jerônimo Francisco Coelho.  Disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/assembleia_das_aves_de_marcelino_antonio_dutra.htm
  • MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti; VIDAL, Joseane Zimmermann (orgs.). História diversa: africanos e afrodescendentes na ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013.
  • POPINIGIS, Fabiane, “‘Aos pés dos pretos e pretas quitandeiras’: experiências de trabalho e estratégias de vida em torno do primeiro mercado público de Desterro – 1840-1890)” Afro-Ásia, 46, 2012.
  • VARZEA, Virgílio dos Reis. Santa Catarina: a ilha. Florianópolis: IOESC, 1984.
  • Site para consulta: http://santaafrocatarina.ufsc.br/santaafrocatarina/

Crédito da imagem de capa: Carregadores no cais junto ao antigo Mercado Público de Desterro, antes de 1890. Acervo fotográfico do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (Florianópolis, SC). Autor desconhecido.


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