Raphael Rajão Ribeiro (CPDOC-FGV e Museu Histórico Abílio Barreto)
Apresentação da atividade
Segmento: 2º e 3º anos do Ensino Médio
Unidade temática: Brasil Republicano e cultura operária
Objetivos gerais:
– Identificar, a partir do caso do futebol, a relação entre construção da cultura operária e as práticas de lazer;
– Reconhecer o estabelecimento de redes de sociabilidade a partir dos locais de trabalho;
– Examinar o papel desempenhado pelas fábricas e por seus operários na popularização do futebol no Brasil;
– Observar medidas de controle sobre o lazer operário a partir das direções das fábricas;
– Identificar as diferentes percepções do movimento operário organizado sobre o lazer dos trabalhadores;
– Perceber as interações entre mundo do trabalho e lazer, bem como os limites entre profissão e atividades do tempo livre;
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana (estilos de vida, valores, condutas etc.), desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade e preconceito, e propor ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às escolhas individuais.
Duração da atividade: 5 aulas de 50 min
Aulas | Planejamento |
01 | Etapa 1 |
02 | Etapa 2 e 3 |
03 | Etapa 4 |
04 | Etapa 5 e 6 |
05 | Etapa 7 e 8 |
Conhecimentos prévios:
– Primeira República no Brasil
– Industrialização e movimentos operários no Brasil
– Regulamentação das leis trabalhistas no Estado Novo
Atividade
Recursos: Projetor multimídia; impressora
Etapa 1: Futebol nas fábricas e a popularização do esporte
Leitura anterior à aula e levantamento de informações prévias sobre o texto abaixo.
Leia o Documento 1, o extrato do capítulo de abertura da 2ª edição da obra “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista Mário Filho, de 1964.
O trecho transcrito compõe a obra “O Negro no Futebol Brasileiro”, publicada originalmente em 1947 e reeditada com acréscimos em 1964. Seu autor foi o jornalista Mário Filho, que atuou na crônica esportiva por cerca de quatro décadas. O livro dialoga com diversos estudos ensaísticos, realizados entre os anos 1930 e 1940, que propunham debater a formação da identidade nacional, com destaque para a produção do sociólogo Gilberto Freyre. Seu objeto principal é narrar a ascensão do negro no futebol brasileiro, da condição de excluído ao protagonismo da modalidade esportiva mais popular do país.
A partir da leitura, desenvolva as seguintes questões:
- Faça uma pesquisa e trace uma breve biografia de Mario Filho. Informe suas origens, sua atuação profissional, sua produção literária e sua inserção na meio cultural brasileiro, com as principais iniciativas de que participou.
- O autor cita diversos termos em inglês, referentes à prática do futebol naquele período. Identifique os termos e produza um glossário com os seus significados.
- Como indicado, a obra escrita nos anos 1940, tinha como foco as relações raciais em torno do futebol. Observe as expressões utilizadas pelo autor para descrever os personagens e escreva um texto dissertativo respondendo as seguintes questões:
- Como os termos usados por ele soam atualmente?
- Em que medida eles podem ser classificados como preconceituosos?
- Como o autor identifica as distinções entre nacionalidades? Havia uma hierarquia entre elas?
- Explique a relação entre trabalho e lazer, observando de que maneira as condições da Companhia Progresso Industrial do Brasil influenciaram a formação da equipe do Bangu.
Etapa 2: Futebol na fábrica do Bangu
Na segunda aula, faça uma correção da atividade de leitura do texto de Mário Filho.
Debata o texto do Documento 1, a partir de questões iniciais e de problemas indicados pelos estudantes. Nesse momento, de acordo com os pontos levantados pelos alunos, podem ser desenvolvidas questões sobre a sociabilidade em zonas fabris, a introdução do futebol no Brasil e sua relação com a presença estrangeira, as tensões nacionais e raciais no meio operário etc.
Etapa 3: Futebol na fábrica do Bangu
Façauma leitura coletiva do Documento 2, um texto histórico informativo intitulado “Bangu e fábrica: um casamento (in)feliz?”, de Nei Jorge Santos Júnior:
A partir da leitura, debata a importância da fábrica para o desenvolvimento do futebol na região de Bangu e para a manutenção do time, comparando com o texto de Mário Filho.
Solicite a resolução da questão abaixo:
1 – Em seu texto, Mário Filho faz uma extensa descrição da fotografia do primeiro time organizado pelo Bangu, em 1905. Observe a foto a que ele faz referência (projete a imagem):
Com a imagem projetada, retome a leitura coletiva da descrição da fotografia presente no texto de Mario Filho, buscando identificar os elementos apontados por ele.
Responda as seguintes questões:
- De que forma o autor pontua a cultura masculina do período em sua descrição? Quais códigos essa cultura mobiliza e o que eles são capazes de comunicar aos demais? É possível identificar códigos semelhantes nos dias de hoje? É possível observar códigos no cotidiano escolar e na vida dos estudantes?
- Mario Filho aponta uma relação entre as formas de se vestir e a busca de uma distinção social e de uma aceitação pelo grupo. De que forma esses esforços apontam para uma diferenciação racial e social entre os integrantes da equipe?
- Um dos objetivos das regras nos esportes é a garantia de uma situação de igualdade entre todos os participantes de uma competição. Segundo a avaliação do autor, esse pressuposto que vigorava no momento de duração da partida se estendia para o convívio cotidiano entre os integrantes do time do Bangu? Quais tipos de diferenças existiam entre eles? Enumerem as diferenças.
Etapa 4: Futebol de fábrica, controle e organização operária
Na terceira aula, é indicada a leitura do artigo “Anarquistas e comunistas no Futebol em São Paulo”, de Fátima Martin Antunes:
Deve-se estabelecer um tempo para os estudantes lerem o texto em sala. Os alunos devem identificar os termos e referências espaciais desconhecidas e o professor deve esclarecer as dúvidas, de modo a garantir a melhor compreensão do texto.
A partir da leitura, propõe-se uma aula expositiva dialogada, com a montagem de um quadro, em duas colunas, com argumentos utilizados pelos integrantes do movimento operário contra e a favor da prática do futebol entre os trabalhadores.
Observem argumentos relativos à utilização do tempo livre pelo trabalhador, o sentido atribuído ao lazer (esportes, bailes, encontros sociais), o significado da prática esportiva, as possibilidades de convivência entre formação intelectual e desenvolvimento físico, as possibilidades de mobilização pelo esporte etc.
Considerando os pontos de vista adotados naquele período, solicite aos estudantes a preparação de argumentos para um debate em defesa e em contraposição à prática do futebol a ser realizar na próxima aula.
Etapa 5: Debate sobre fábrica, controle e organização operária
Na aula 4, debata sobre controle e autonomia no futebol dos trabalhadores.
Prepare uma breve exposição retomando questões dos movimentos operários na Primeira República, em suas tendências anarquistas e comunistas, e debata sobre o controle exercido por empresários em contextos fabris e iniciativas de resistência pelos trabalhadores.
Em vista da preparação para o debate feito na aula anterior, escolha estudantes (de acordo com a organização e possibilidade que o(a) professor(a) encontrar na sala), para realizar o debate a favor e contra a prática de esportes, em vista dos argumentos comunistas e anarquistas. Os estudantes devem ser orientados a assumir um lado na discussão.
Etapa 6: Debate sobre fábrica, controle e organização operária
Após o debate, leia coletivamente em sala o texto sobre a prática esportiva em Porto Alegre, e discuta as questões que segue.
Considerem que vocês sejam associados do Grêmio Esportivo Renner. Com base no debate realizado a partir dos argumentos do movimento operário a favor e contrário à condução de clubes de futebol pelas fábricas, avaliem o mascote proposto pelo Departamento de Propaganda da empresa:
- Quais as opiniões da turma sobre a mascote proposta? Ela é representativa do que os operários esperam de um time de futebol? Esse é o tipo de imagem que gostariam de utilizar para simbolizar a equipe? Argumentem a favor e contra o modelo proposto.
- Ao final do debate, considerando sua condição de associado, a turma deve votar pela adoção ou não da mascote.
Etapa 7: As relações empregatícias no futebol profissional e na várzea
Na aula 5, a turma deve ser dividida em grupos para analisar as relações de trabalho no futebol operário, considerando a profissionalização e a prática na várzea.
Organize a classe em cinco grupos (ou em grupos múltiplos de cinco) para analisar os seguintes excertos sobre as relações de trabalho no futebol:
Selecionado e distribuídos os excertos pelos grupos, eles devem proceder a leitura do trecho indicado. E responder as questões abaixo:
- Que tipo de texto foi analisado pelo grupo? Quando foi escrito?
- Grifar os termos desconhecidos e buscar seu significado, com vistas à melhor compreensão do texto.
- Identificar o clube tratado e qual a sua inserção no circuito competitivo do futebol. De que campeonatos participava? Era classificado como amador ou profissional?
- Delimitar qual era o regime de contratação dos jogadores citados. Como eles se vinculavam ao clube e de que forma eram mantidos? De onde originavam os seus rendimentos?
- Os casos tratados nos trechos referem-se aos anos 1940, 1950 e 1960, momento em que já havia uma distinção no futebol entre clubes profissionais e amadores. Com base na relação empregatícia dos jogadores tratados, é possível afirmar se o clube ao qual eles pertenciam era completamente profissional ou amador?
- E do ponto de vista das relações de trabalho estabelecidas pelos jogadores com seus clubes, ela se configura em um vínculo empregatício?
Após analisarem os trechos e responderem às questões, os grupos devem apresentar os resultados à classe.
Feitas as apresentações é possível ao professor estabelecer uma roda de conversa sobre as fronteiras entre relações formais e informais de emprego, pensando na multiplicidade de vínculos existentes não apenas no universo esportivo, mas nas relações cotidianas das comunidades onde os alunos estão inseridos.
Etapa 8: As relações empregatícias no futebol profissional e na várzea
Para finalizar a última aula, o professor deve realizar uma breve recapitulação de pontos chave sobre a regulamentação das relações trabalhistas e da edição da CLT no Estado Novo e abordar, de maneira panorâmica, o processo de institucionalização do profissionalismo no futebol brasileiro, considerando a prática não regulada do “amadorismo marrom” nas décadas iniciais do século XX e o processo de profissionalização entre 1933 e 1938.
Bibliografia e Material de apoio:
ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. Futebol de fábrica em São Paulo. 1992. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
Cadernos AEL. Dossiê esportes e trabalhadores. Campinas/SP, v. 16, n. 28, primeiro semestre de 2010.
CIOCCARI, Marta Regina. Do gosto da mina, do jogo e da revolta: Um estudo antropológico sobre a construção da honra em uma comunidade de mineiros de carvão. 2010. Tese (Doutorado em Antropologia) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
FONTES, Paulo; HOLLANDA, Bernardo Buarque de (Org.). The Country of Football: Politics, Popular Culture, and the Beautiful Game in Brazil. Londres: Hurst Publishers, 2014.
LOPES, José Sérgio Leite. Da usina de açúcar ao topo do mundo do futebol nacional: trajetória de um jogador de origem operária. Cadernos AEL, Campinas, v. 16, n. 28, p. 13-40, 2010.
PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: Uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
RODRIGUES FILHO, Mario. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.
SANTOS JUNIOR, Nei Jorge dos. A construção do sentimento local: o futebol nos arrabaldes de Bangu e Andaraí. Rio de Janeiro, Multifoco, 2014.
SILVA, Daniela Alves da. Cultura operária: um estudo de caso do Villa Nova Atlético Clube. 2007. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
STÉDILE, Miguel Enrique. Da fábrica à várzea: clubes de futebol operário em Porto Alegre. 2011. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
Créditos da imagem de capa: Alured Bell, The Beautiful Rio de Janeiro, Londres: W. Heinemann, 1914, p. 182
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira