Vale Mais é um podcast do Laboratório de Estudos dos Mundos do Trabalho da UFRJ. O objetivo é discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da perspectiva da história social.
O episódio #02 do Vale Mais discute a Previdência Social no Brasil e apresenta reflexões sobre a importância desse pilar dos direitos sociais para trabalhadores e trabalhadoras. A proposta de reforma da Previdência em discussão em 2019 propõe mudanças profundas no sistema, alterando idade mínima, cálculo de aposentadorias, forma de arrecadação e de gestão do sistema que, se aprovado tal como proposto, abandonará o tradicional sistema de repartição e adotará a capitalização. São vários os pontos polêmicos e só o que se pode afirmar por enquanto é que haverá significativo impacto na vida de trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo dos mais pobres. Para falar sobre isso convidamos o historiador e economista Andrej Slivnik.
Roteiro e Produção: Deivison Amaral. Apresentação: Yasmin Getirana.
Disponível também no Spotify, Apple Podcasts, Castbox e PocketCasts. Ouça e inscreva-se para receber os próximos episódios da temporada do Vale Mais.
Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes –
Vale Mais
ERRATA:
O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo.
Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ!
Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho.
No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio!
Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
O número 21 da Revista Maracanan, publicação da pós-graduação em história da UERJ acaba de ser lançado com o dossiê “Trabalhadores livres e escravizados no Mundo Atlântico” organizados pelos professores Paulo Terra (UFF) e Renata Moraes (UERJ). Além dos artigos do dossiê e de temas livres, esse número também conta com uma entrevista com a professora Fabiane Popinigis, coordenadora do GT Mundos do trabalho. Acesso para o número: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/issue/view/1793/showToc
Entre os dias 7 e 11 de outubro de 2019 ocorrerá a XIV Semana de História Política da UERJ e nela teremos o Simpósio Temático “Mundos do Trabalho: trabalhadores escravizados e livres (Século XIX aos anos de 1930)” sob a coordenação da Profa. Dra. Renata Figueiredo Moraes (UERJ); Prof. Doutorando Vitor Leandro de Souza (UFF). Prof. Doutoranda Isabelle Pires (PPGHIS/UFRJ). As inscrições já estão abertas e vão até o dia 30 de julho. Mais informações no site http://semanahistoriauerj.net/
O
minicurso Trabalhadoras e Trabalhadores
na História do Brasil ocorrerá entre 07 de agosto e 18 de setembro, em
encontros semanais, todas as quartas-feiras no turno da tarde, entre 14h e 18h.
Está dividido em seis módulos que abordarão a história do trabalho no Brasil
entre o final do século XIX até os dias de hoje.
Os
encontros ocorrerão nas dependências do Campus
Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(CEFET-RJ), localizado na Avenida Maracanã, 229. O curso é uma iniciativa do
Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/UFRJ), em
parceria com a Coordenação de História CEFET-RJ.
O
público alvo do minicurso são os estudantes do ensino médio ou daqueles que se
preparam para a realização do ENEM e outras avaliações que solicitam o
conhecimento da História do Brasil. Serão aceitos também a presença da
comunidade escolar que se interessa em conhecer o tempo presente e construir um
conhecimento crítico sobre as profundas transformações do mundo do trabalho na
contemporaneidade.
Serão oferecidas 60 vagas, com a certificação dos estudantes que tiverem no máximo duas faltas. As inscrições são realizadas pelo preenchimento da plataforma do Google Formulários, que pode ser acessada pelo botão abaixo.
A proposta do minicurso procura articular a pesquisa de excelência sobre história social do trabalho do LEHMT com a área de ensino em História e Ciências Sociais. O incremento da qualidade da educação brasileira, a ampliação do espaço de reflexão crítica entre alunos/as, professores/as e comunidade escolar em geral, a construção de uma cultura escolar democrática, bem como uma maior integração entre os conhecimentos produzidos na Universidade e nas escolas de ensino fundamental e médio são os principais objetivos do minicurso.
Estas
discussões ganham ainda maior relevância em um momento de debates e
implementação de uma nova proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
patrocinada pelo Ministério da Educação. Neste contexto, o lugar da disciplina
de História (bem com como das Ciências Sociais em geral) e de seu potencial
papel como um dos componentes estruturadores da cultura escolar do Ensino Médio
tem provocado acirradas disputas políticas e acadêmicas.
O
minicurso procurará destacar o trabalho, os trabalhadores e trabalhadoras como
atores políticos e sociais fundamentais em nossa história. A proposta
curricular enfoca as relações de trabalho, gênero e raça na História do Brasil
nos séculos XIX e XX, apresentando renovações de interpretação da história
social e realiza transposições didáticas que problematizam o tempo presente.
Nesse sentido, a concepção do curso suscita novos debates no ensino e pesquisa,
além de implicar em releituras das relações entre o passado e o presente.
O minicurso procurará valer-se de uma ampla gama de recursos metodológicos e educacionais, sejam audiovisuais, utilização de fontes primárias, dinâmicas de grupo, entre outros. São previstos 6 módulos de 4 horas cada.
Responder a esta pergunta após a recente extinção do Ministério do Trabalho e do Emprego, depois de 88 anos de atividade ininterrupta, pode levar a um texto em tom de obituário. O Ministério do Trabalho – que existiu em diferentes conjunturas políticas e sobreviveu até mesmo à Ditadura Civil-Militar (1964-1988) – teve suas atribuições reduzidas e distribuídas entre outras pastas ministeriais em janeiro de 2019.
A morte do Ministério do Trabalho, escondida por uma retórica de que a gestão eficiente da coisa pública se daria pela diminuição do Estado, é, na verdade, resultado do ataque ao trabalho e a uma cultura de defesa de direitos trabalhistas já arraigada na sociedade brasileira há muitas décadas. A despeito do tom de obituário, é importante entender como o conhecimento histórico interpreta a criação do Ministério, seja para se perceber o que se perdeu ou para se exigir seu retorno.
Trabalhador retira letreiro do prédio do Ministério do Trabalho, 2019. Foto: Daniel Marenco.
Em 26 de novembro de 1930, quando Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 19.433 para a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, apenas 23 dias eram transcorridos desde o início de seu governo. Não por acaso, o primeiro titular da pasta, Lindolfo Collor, o apelidou de “Ministério da Revolução”, dada sua importância estratégica para o projeto político do novo governo.
Implantado após o processo revolucionário de 1930, o governo de Getúlio Vargas colocou como prioridade a resolução da então chamada “questão social” – ou seja, a mediação das relações entre capital e trabalho, bem como a solução para a pobreza crescente devido à exploração predatória de trabalhadores e trabalhadoras. Vargas indicava que haveria acolhida para tais questões nos braços do Estado. Este, portanto, é o principal motivo para a criação do Ministério do Trabalho.
Ao longo das décadas de 1930 e 1940, o Ministério elaborou e decretou medidas protetivas para trabalhadoras e trabalhadores. Por exemplo, em 1932, foram regulamentados os Institutos de Aposentadoria e Pensões; em 1933, foi criada a carteira de trabalho; em 1938, foi instituído o salário mínimo. Essas e outras medidas protetivas foram reunidas, em 1943, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Tais medidas atendiam a demandas antigas do movimento sindical brasileiro e as transformavam em direitos legalmente constituídos. Também no Ministério do Trabalho foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação que deram origem à Justiça do Trabalho. Pode-se dizer que o Ministério do Trabalho foi o primeiro e principal instrumento para a implementação do projeto político do governo Vargas.
O projeto modernizador do primeiro governo de Getúlio Vargas, que previa a aceleração da industrialização do país, dependia da diminuição das tensões sociais causadas pela exploração do trabalho, especialmente nos centros urbanos. Para tanto, o governo criou e difundiu um projeto político e ideológico de valorização do trabalho que tinha como objetivo principal a criação da figura do “cidadão-trabalhador”.
Por considerar essencial que a visão negativa do trabalho e a inevitabilidade da pobreza se tornassem noções superadas na sociedade brasileira, Vargas precisou criar uma visão positiva do trabalhador, que seria o motor das mudanças sociais e econômicas que tentava empreender no país – daí associação da ideia de trabalho à de cidadania.
As medidas adotadas por Vargas fizeram com que ele fosse acusado de ter oferecido direitos aos trabalhadores e trabalhadoras de forma impositiva para controlá-los e evitar a convulsão social. Parte do movimento sindical não via com bons olhos as medidas normativas anunciadas no primeiro governo Vargas, entre elas, a vinculação dos sindicatos ao Estado por meio do registro no Ministério do Trabalho e a obrigatoriedade da formação de um sindicato único por categoria profissional.
Esse grupo era formado, sobretudo, por militantes vinculados ao sindicalismo de estratégia revolucionária da Primeira República e, portanto, críticos à interferência do Estado nos sindicatos.
O jurista Evaristo de Morais Filho, em O problema do sindicato único no Brasil, publicado em 1952, foi mais duro na crítica ao afirmar que a estrutura criada por Vargas solapou a autonomia sindical e limitou a ação reivindicatória. De fato, não se pode negar que houve esta intenção. Mas a coisa não é tão simples assim, como mostraram alguns trabalhos historiográficos.
Em A invenção do trabalhismo, Angela de Castro Gomes demonstrou que, embora o governo de Getúlio Vargas tivesse realmente a intenção de controlar diversos aspectos das relações de trabalho no Brasil, ele foi capaz de absorver temas e reinvindicações que estavam na pauta do movimento operário urbano durante a Primeira República (1889-1930) – muitas das quais jamais tinham sido consideradas pelos governos anteriores. Isso, de certa forma, flexibiliza o aspecto impositivo, muitas vezes enfatizado quando se trata do período.
De acordo com Gomes, o governo incorporou tais demandas, transformou-as em agenda política e interagiu diretamente com as camadas mais populares da sociedade. Atraiu trabalhadoras e trabalhadores diretamente para o seio do governo. O trabalhador-cidadão deveria ser sindicalizado e os sindicatos deveriam ser agregados à estrutura do Estado por meio do registro no Ministério do Trabalho.
Essa estrutura corporativista de organização social, embora tivesse o claro intento de controlar a ação sindical e a luta por direitos, foi rapidamente apropriada pelos trabalhadores e trabalhadoras, que souberam “jogar com as cartas do jogo” a fim de conquistar e garantir o pleno gozo dos direitos sociais.
Manifestação pró-Vargas no 1º de Maio de 1944. Ministério do Trabalho surge em 1930. Estádio do Pacaembú, SP. Foto: CPDOC/FGV.
O aspecto central de toda essa mudança social proporcionada a partir da criação do Ministério do Trabalho é, de certo, o fortalecimento de uma cultura política de (luta por) direitos que perdurou por diferentes conjunturas. O trabalhismo brasileiro foi a tônica das relações entre Estado e classe trabalhadora. Sua longevidade deveu-se à permanência dos instrumentos que criaram e conformaram tal cultura política na estrutura administrativa do Estado ao longo das décadas subsequentes.
O aperfeiçoamento da cidadania no Brasil se deu, em grande medida, graças ao trabalhador e à trabalhadora que reconheciam seus direitos e sabiam a quais mecanismos recorrer para exigi-los dentro da estrutura do Estado, e graças, também, ao Ministério, que teve a função primária de criar e vindoura de fiscalizar o cumprimento das leis.
Ministério do Trabalho: estrutura de proteção ao trabalho
A criação do Ministério do Trabalho foi a primeira medida promovida pelo Estado brasileiro para criar uma estrutura de proteção ao trabalho. Todas as iniciativas anteriores não tiveram caráter universal. Sua importância, contudo, foi duradoura e permaneceu em outras conjunturas políticas. Criado estrategicamente para controlar e viabilizar o projeto varguista, foi apropriado por trabalhadores e trabalhadoras e transformou-se em um baluarte da luta por direitos sociais.
Ao longo dos anos, assumiu mais funções importantes, especialmente, a coordenação de políticas de geração de emprego e renda e, ainda, a fiscalização das condições de trabalho e o combate ao trabalho análogo à escravidão. É preciso destacar, com pesar, que a extinção do Ministério do Trabalho não foi a única mudança recente. Em 2017, a legislação trabalhista criada pelo Ministério do Trabalho ainda nos anos 1930 e aperfeiçoada no correr das décadas seguintes, foi deformada e vários mecanismos de proteção de trabalhadores e trabalhadoras foram extintos.
Se na década de 1930 o Ministério do Trabalho foi criado em um contexto em que se objetivava criar e fortalecer a figura do trabalhador-cidadão, hoje, com essas letras escritas postumamente, pode-se afirmar que sua extinção é sintomática do ataque à cidadania. Na medida em que se diminui a proteção ao trabalho e se extingue o Ministério que foi seu baluarte, percebe-se que sua ausência será sentida imensamente pela parcela mais desprotegida da nossa sociedade.
Nota: O corporativismo é comumente entendido como um sistema de representação de interesses no Estado e foi criado com a finalidade de suprimir as disputas entre as classes sociais. O corporativismo brasileiro é do tipo estatal, ou seja, definido pela subordinação das representações dos grandes interesses sociais à autoridade do Estado. Nesse sentido, entende-se o corporativismo sindical criado nos anos 1930 – que estruturou o sindicalismo brasileiro vinculado ao Ministério do Trabalho – como uma tentativa de controlar a organização autônoma dos trabalhadores. O Estado foi o promotor, criador e, em certa medida, o controlador das associações de interesse, sobretudo dos sindicatos. Sobre o corporativismo, ver Angela Araújo (1998).
Referências Bibliográficas
ARAUJO, Angela Maria Carneiro. A construção do consentimento: corporativismo e trabalhadores no Brasil nos anos 30. São Paulo, SP: Scritta: FAPESP, 1998.
D’ARAÚJO, Maria Celina. Estado, classe trabalhadora e políticas sociais. In: FERREIRA, J., DELGADO, L. A. N. O Brasil Republicano: livro 2: tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2003.
GOMES, Ângela de Castro (Coord.). Ministério do Trabalho: uma história vivida e contada. Rio de Janeiro: CPDOC, 2007.
GOMES, Ângela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2005.
PANDOLFI, Dulce Chaves. (Org.) Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999.
Deivison Amaral possui doutorado em História Social (2015) pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), tese desenvolvida com período de estágio e pesquisa no Centre d’histoire sociale du XXème Siècle da Université de Paris 1 – Panthéon-Sorbonne. Possui graduação em História (2003) e mestrado em Ciências Sociais (2007) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Atualmente, é professor no Departamento de História da PUC-Rio e desenvolve pesquisa de pós-doutorado no CPDOC/FGV sobre a militância católica junto aos trabalhadores de Pernambuco no final do século XIX e início do XX. Em 2017, foi pesquisador visitante na KU Leuven, na Bélgica, com recursos do Scholarship Programme for Young Professors and Researchers from Latin American Universities. Foi editor da Revista Mundos do Trabalho (2009-2013), editor-assistente da Revista Brasileira de História (2016-2017) e da revista Estudos Históricos (2016-2018). Atua em pesquisas principalmente nos seguintes temas: história social, associativismo; história do trabalho e trabalhadorxs; catolicismo e trabalho; Belo Horizonte; movimento operário; memória e história oral. Em 2017, foi pesquisador visitante na KU Leuven, na Bélgica, com recursos do Scholarship Programme for Young Professors and Researchers from Latin American Universities. Foi editor da Revista Mundos do Trabalho (2009-2013), editor-assistente da Revista Brasileira de História (2016-2017) e da revista Estudos Históricos (2016-2018). Atua em pesquisas principalmente nos seguintes temas: história social, associativismo; história do trabalho e trabalhadorxs; catolicismo e trabalho; Belo Horizonte; movimento operário; memória e história oral.
Artigo publicado originalmente em: Café História Data da publicação: 13/05/2019
AMARAL, Deivison. Por que o Ministério do Trabalho foi criado? (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Publicado em 13 de maio de 2019. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/por-que-ministerio-do-trabalho-foi-criado/.
Brazilian Labour History: New Perspectives in Global Context, número especial da prestigiosa revista International Review of Social History, do International Institute of Social History de Amsterdam, Holanda foi organizado por Paulo Fontes, Alexandre Fortes e David Mayer e publicado pela Cambridge University Press. Trata-se da mais completa coletânea sobre história do trabalho no Brasil publicada em inglês. Reunindo 10 artigos de reconhecidos especialistas, o número especial oferece um panorama atual e diversificado da produção brasileira na área em conexão com os debates internacionais sobre a história global do trabalho.
Em meio à onda revisionista e negacionista que o país vive no atual contexto político com relação ao período da ditadura civil-militar, o tema dos direitos humanos ganha ainda mais relevância, dentro e fora da universidade. As investigações impulsionadas pelos trabalhos das comissões da verdade vêm se desdobrando em estudos e atividades que buscam garantir o direito à verdade e à memória da população brasileira a respeito de seu passado autoritário, bem como estimular a reflexão em torno das permanências da violência de Estado no período democrático.
Se os direitos humanos constituem o principal desafio
do século XXI, a classe trabalhadora e os mundos do trabalho continuam sendo
alvos centrais das políticas neoliberais que, agora mais do nunca, ameaçam
direitos trabalhistas há muito conquistados através da luta dos trabalhadores e
trabalhadoras.
No
sentido de aprofundar a interação entre pesquisas voltadas a esse campo de
estudos, o Centro de Memória do Sul
Fluminense Genival Luiz da Silva (CEMESF/UFF), o Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Econômico no Sul Fluminense
(GEDESF/UFF), o Núcleo
Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente (DTA/UFRJ) e o Laboratório de Estudos dos Movimentos
Sociais e Mundos do Trabalho (LEMT/UFRJ) convidam a todos e todas a
participar do II Seminário Memória,
Trabalho e Direitos Humanos. O evento ocorrerá entre os dias 29 e 30 de
maio de 2019, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFF- Aterrado.
Comissão Organizadora: Alejandra Estevez, Ana Paula
Poll, Raphael Lima e Sabrina Moura Dias
Equipe de apoio: Ana Carolina Miranda, Ana Clara Matias Rocha, Eliana Gonçalves de
Souza, Gabriela Rangel Bondezan, Luiz Ricardo Candido Landim, Stella Mendes de
Castro Reis e Tamara Anita Alves Lima Marques
PROGRAMAÇÃO
Dia 29/05
17h-21h – Mesa 1:
Ditadura e Mundos do Trabalho
Faces pouco visíveis da repressão no campo: reflexões a partir do estado do Rio de Janeiro – Leonilde Medeiros (CPDA/UFRRJ) Ditadura militar e a luta pela terra na Amazônia: as diferentes gramáticas da mobilização camponesa – Marcelo Carneiro (UFMA) O Novo Trabalhismo e as estratégias de repressão durante a ditadura militar – Heliene Nagasava (CPDOC/FGV) Empresariado, ditadura e repressão no Brasil: o caso dos empreiteiros de obras públicas – Pedro Campos (IH/UFRRJ) Mediação: Alejandra Estevez
Dia 30/05
10h-12h – Jornada interna de pesquisa 13h30-15h30 – Jornada interna de pesquisa. Troca entre as pesquisas desenvolvidas no âmbito do CEMESF/UFF, GEDESF/UFF, DTA/UFRJ e LEHMT/UFRJ
16h-18h30 –
Mesa 2: Trabalho e Desenvolvimento: questões emergentes
Trabalhadores de TI em PE: perfil sócio-profissional e índice de participação política – Roberto Véras (UFPB) Sob o domínio da ordem econômica: a Inspeção do Trabalho brasileira depois do fim do Ministério do Trabalho – Luiz Felipe Monsores (TRT-VR) Mediação: Sabrina Moura Dias (UFF-VR)
19h – Conferência
de encerramento: Mundo do trabalho, ação
sindical e o debate sobre resistência – José Ricardo Ramalho (UFRJ)
JORNADA INTERNA DE PESQUISA
DIA 30/05
10h-12h – Jornada interna de pesquisa
Marcio Moisés de Souza Barbosa (doutorando PPGSA/UFRJ) – A construção de um mercado de trabalho temporário nos “paradões”: o caso das paradas de manutenção nas Usina Presidente Vargas em Volta Redonda Rafael José Abreu de Lima (PPGS/UFF) – Desterceirização na CSN: um estudo sobre a CBSI Lucas do Amaral Afonso (mestrando PPGS/UFF) – Um projeto político e empresarial de desenvolvimento: as relações entre empresas e políticos na construção do distrito industrial de Itapetininga – SP Yasmin Getirana (mestranda PPGHIS/UFRJ) – Associações de Trabalhadoras Domésticas durante a Ditadura Militar brasileira Ana Paula Poll (Professora CEMESF/UFF)
13h30-15h30 – Jornada interna de pesquisa
Carlos Henrique Moraes dos Santos (mestrando PPGS/UFF) – Relações Trabalhistas e Sindicais em meio à Nova Razão do Mundo: neoliberalismo no Sul Fluminense Maíra Sertã Mansur – Doutoranda (PPGSA/UFRJ) – Corporações transnacionais (CTNs) e shareholder value na mineração: o caso específico da estratégia financeira da Vale S.A. Raffaele Calandro (doutorando PPGSA/UFRJ) – Relações de Trabalho e Dinâmicas Institucionais: o caso da Volkswagen Caminhões e Ônibus e da Renault-Nissan- Mitsubishi no Sul Fluminense Isabelle Pires (doutoranda CPDOC/FGV) – Queremos lutar para honrar o nosso trabalho”: mundos do trabalho, lutas por direitos e relações de gênero no primeiro governo Vargas (1930-1945)
O golpe de 1964 marcou o início de uma nova política para a classe trabalhadora. A ditadura não queria acabar com os sindicatos, mas transformá-los em parceiros do Ministério do Trabalho na aplicação das políticas trabalhistas. A falta de liberdade de organização estava na ordem do dia. Os sindicatos sofreram intervenções e seus líderes foram perseguidos. Muitas vezes, os técnicos do Ministério alertaram sobre as irregularidades dos procedimentos, mas os funcionários do alto escalão ignoraram e decidiram agir politicamente, manobrando para eliminar as opiniões contrárias. O Ministério do Trabalho batalhou com outros ministérios para que sua autoridade e atividades não fossem diminuídas. Algumas contendas foram perdidas, especialmente envolvendo a questão do reajuste salarial. Em outras situações, o Ministério permitiu que as Forças Armadas assumissem atribuições suas. No entanto, alguns projetos e programas do governo só foram possíveis quando o Ministério do Planejamento conseguiu colocar um colaborador como ministro do Trabalho. A aprovação do FGTS e a unificação da Previdência Social são exemplos dessa união. O livro analisa essas disputas, os projetos e programas do primeiro governo da ditadura militar, mostrando que o regime criou um modelo para enquadrar a ação sindical. Para tanto, retiraram direitos e reprimiram quem estava no caminho. Para adquirir a obra: https://www.pacolivros.com.br/ o_sindicato_que_a_ditadura_queria/prod-6172810/
A experiência do trabalho impacta diferentemente homens e mulheres, e as relações que se estabeleciam nas fábricas de tecidos do início do século XX, bem como, as manifestações nas ruas promovidas pelos/as operários/as expressavam essas assimetrias. Assim, no artigo “’A alma da mulher brasileira explodiu em vibrante protesto’: condições de trabalho feminino e formas de resistência em fábricas têxteis do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX” publicado na Trashumante: Revista Americana de História Social, Isabelle Pires e Felipe Ribeiro propõem analisar como se estabeleciam as dinâmicas de trabalho em fábricas têxteis no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, a partir da perspectiva de gênero. Além disso, atentam para os modos de resistência utilizados pela mão de obra feminina nesses espaços explorados e hierarquizados de trabalho, em que as mulheres, geralmente, recebiam remunerações menores do que as pagas aos homens.
Os autores procuram demonstrar que as operárias têxteis buscaram se posicionar frente a formas de exploração, abusos, imposições arbitrárias das companhias e tentaram criar formas para que suas demandas tivessem o protagonismo necessário e implementaram meios para que suas companheiras se sentissem mais à vontade para ocupar os espaços públicos de militância. O artigo possibilita que o/a leitor/a perceba que focalizar as relações de gênero nos espaços de trabalho abre novas possibilidades e questões para as análises dos mundos do trabalho.
Artigo “El alma de la mujer brasileña explotó en vibrante protesta”. Condiciones de trabajo femenino y formas de resistencia en las fábricas textiles de Río de Janeiro en las primeras décadas del siglo XX – Felipe Ribeiro e Isabelle Pires publicado na revista Trashumante. Revista Americana de Historia Social. n 12 (2018). Acessar: http://aprendeenlinea.udea.edu.co/revistas/index.php/trashumante/article/view/334124/20790080
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