Nesta semana, entre os dias
13 e 15 de agosto, será realizado o I Colóquio Sociedade, Cultura e
Trabalho: diálogos sobre fronteiras no Mundo Rural, na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus Poeta
Torquato Neto, em Teresina/PI.
O Colóquio é uma é iniciativa de pesquisadores, professores e
estudantes vinculados ao Núcleo de Estudos e Documentação em História,
Sociedade Trabalho (NEHST), sob a coordenação da Professora Cristiana
Costa da Rocha (UESPI).
A problemática do mundo rural contemporâneo motivou a organização desse
evento científico, alçando a questão das fronteiras do trabalho para o centro
do debate. O evento é nacional e contará com mesas redondas mediadas por
pesquisadores de diversas várias regiões do país, além de duas conferências.
A Conferência de Abertura será proferida pelo Professor Clifford Welch
(UNESP) e a Conferência de Encerramento pelo Professor Paulo Fontes (UFRJ).
Destacam-se ainda mesas-redondas com os seguintes títulos: “Escravizados e
Indígenas na Fronteira”, “Sociedade e Mundos do Trabalho” e “Conflitos
nas Fronteiras do Mundo Rural”.
O Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT)
será representado pelos professores Paulo Fontes (UFRJ), que fará a Conferência
de Encerramento “História Social do Trabalho no Brasil: Trajetórias e
Desafios”; e Felipe Ribeiro (UESPI), compondo a mesa redonda “Sociedade
e Mundos do Trabalho” e ministrando o minicurso “Mundos do
Trabalho e fronteiras historiográficas: o lugar do trabalho rural”.
14h às 16h Credenciamento Local: Auditório Geratec
16h às 18h Conferência de Abertura: “Fronteiras agrícolas no Brasil e suas conflitualidades” Prof. Dr. Clifford Welch (UNIFESP) Local: Auditório Geratec
18h às 20h Mesa I – Escravizados e Indígenas na Fronteira Prof. Dr. João Paulo Peixoto Costa (IFPI) Prof. Dra. Maria da Vitória Barbosa Lima (UESPI) Prof. Dr. Gustavo de Andrade Durão (UESPI) Mediador: Prof. Dr. Alcebíades Costa Filho (UESPI/UEMA) Local: Auditório Geratec
Quarta-Feira, 14 de agosto de 2019
08h30 às 09h30 Sessão de Pôsteres Local: Praça do CCHL
09h30 às 11h30 Mesa II – Conflitos nas Fronteiras do Mundo Rural Prof. Me. Antônio José Medeiros (UFPI) Prof. Dra. Lucineide Barros Medeiros (UESPI) Prof. Dr. Isaac Giribet Bernat (UEMA) Mediador: Prof. Dr. José da Cruz Bispo de Miranda (UESPI) Local: Auditório Geratec
14h00 às 18h00 Simpósios Temáticos Local: Setor 12 e Setor 15
17h30 Atrações Culturais: 01) Peça teatral “O casamento de Maria Feia”. Local: Praça do CCHL 18h00 Lançamento de Livros. Local: Praça do CCHL
Quinta-Feira, 15 de Agosto de
2019
08h00 às 10h00 Simpósios Temáticos Local: Setor 12 e Setor 15
10h00 às 12h00 Mesa III – Sociedade e Mundo do Trabalho Prof. Dr. Felipe Ribeiro (UESPI) Prof. Dr. Antonio Alexandre Isídio de Cardoso (UFMA) Prof. Dra. Marcia Milena Galdez Ferreira (UEMA) Mediador: Profa. Dra. Cristiana Costa da Rocha (UESPI) Local: Auditório Geratec
14h00 às 18h00 Minicursos Local: Setor 12 e Setor 15
18h00 Conferência de Encerramento: “História Social do Trabalho no Brasil: trajetórias e desafios” Prof. Dr. Paulo Fontes (UFRJ) Local: Auditório Geratec
Marcelo Badaró Mattos é professor titular de história do Brasil na Universidade Federal Fluminense (UFF). Suas pesquisas concentram-se em temáticas de história social do trabalho e debates teóricos marxistas. Publicou, em 2019, o livro “A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo”, pela Boitempo Editorial. É autor de diversos outros livros, entre os quais “Escravizados e livres: experiências comuns na formação da classe trabalhadora carioca (Bom Texto, 2008)”, traduzido e publicado em inglês pela Berghahn Books (2017), “Trabalhadores e sindicatos no Brasil (Expressão Popular, 2009)” e “E. P. Thompson e a tradição de crítica ativa do materialismo histórico (Ed. UFRJ, 2012)”.
Labuta é um canal de vídeos do LEHMT sobre história, trabalho e sociedade. A série “O que é história social do trabalho?” inaugura o Labuta. Durante o ano de 2019, publicaremos a série, que tem por objetivo apresentar o campo de estudos da história social do trabalho a partir de entrevistas com especialistas. _ www.lehmt.org Produção do LEHMT – Laboratório de Estudos da História dos Mundos do Trabalho da UFRJ VALE MAIS – PODCAST DO LEHMT LABUTA – VÍDEOS DO LEHMT _ Direção, Roteiro e Produção Deivison Amaral Heliene Nagasava Paulo Fontes Yasmin Getirana Ano de produção 2019 Duração 12’01’
A área
temática Estudos do trabalho e das relações
de classe da LASA – Latin American
Studies Association convida entusiasticamente todos/as os/as estudiosos/as
do trabalho, em diferentes campos disciplinares, a apresentarem propostas de
comunicação e de painéis para o Congresso LASA2020, a ser realizado em
Guadalajara, México, entre 13 e 16 de maio de 2020.
LASA 2020 acontece em um momento
particularmente difícil e desafiador para os trabalhadores e trabalhadoras
latino-americano/as. Desemprego, migrações forçadas e processos de precarização
e desregulamentação do trabalho aprofundam-se. Ao mesmo tempo, a ascensão de
governos de extrema direita com agendas ultraliberais coloca em xeque políticas
de combate à pobreza e às desigualdades sociais no Continente. Enfraquecidos, os
sindicatos e outras organizações de defesa dos trabalhadores são sistematicamente
atacadas e perdem espaço na arena pública e no debate político. A própria
identidade do trabalho como elemento estruturador da ação coletiva parece em
crise.
Por outro lado, iniciativas
inovadoras de organização e luta social despontam em diferentes espaços e dimensões.
Ações que procuram articular classe, raça/etnia, gênero e gerações têm sido particularmente
promissoras. Além disso, e de um ponto de vista mais acadêmico, o crescente
refinamento teórico somado à multiplicação e sofisticação das pesquisas empíricas
têm possibilitado uma interlocução mais efetiva entre diversos campos
disciplinares como a sociologia, antropologia, história, ciência política,
direito, economia, estudos da área da saúde, de gestão, entre outros.
Acreditamos que a área temática Estudos
do trabalho e das relações de classe da LASA seja um espaço singular e
privilegiado para o fomento a esse diálogo fundamental.
A LASA está particularmente comprometida a promover uma agenda interdisciplinar e a estimular a participação de pesquisadores de diferentes gerações. Améfrica Ladina: vinculando mundos y saberes, tejiendo esperanzas será o tema geral da LASA2020 em Guadalajara, numa clara indicação da centralidade dos debates interseccionais neste Congresso. A LASA oferece bolsas para participantes, inclusive para os mais jovens (em Boston foram oferecidas cerca de 500). As propostas devem ser submetidas através do website da LASA (https://www.lasaweb.org/pt/news/call/papers/lasa2020/) até o dia 5 de setembro de 2019, identificando Estudos do trabalho e das relações de classe como área temática. Dúvidas sobre as propostas podem ser direcionadas aos co-chairs da área temática Nadya Araujo Guimaraes (nadya@usp.br) e Paulo Fontes (paulofontes@historia.ufrj.br). Todos/as os/as proponentes deverão estar em dia com a anualidade da instituição.
Crédito da imagem da capa: “Tres Charras” by Gabriel Cristóver Pérez Austin, Texas / April 2013 Parte del equipo Escaramuzas El Rosario de Austin, durante una competencia charreada. Disponível em: https://www.lasaweb.org/pt/
A editora da FGV acaba de disponibilizar o livro Um
Nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista
(1945-1966) de Paulo Fontes no formato “sob demanda”. Nesse modelo, o livro
é impresso e produzido individualmente mediante solicitação. Assim, Um
Nordeste em São Paulo, esgotado há anos, pode ser adquirido novamente em
sua versão impressa.
O livro analisa e descreve, a vida dos migrantes nordestinos
que vieram para o bairro de São Miguel Paulista na segunda metade do século XX
e que tanto contribuíram para as grandes transformações econômicas, sociais e
políticas da cidade de São Paulo e do país. O autor reconstrói o cotidiano
desses trabalhadores, em casa, no trabalho, na rua e no lazer, e apresenta ao
leitor um painel vivo de seus desafios e de suas lutas sociais e
políticas. Em vez de vítimas de processos impessoais, os migrantes atuaram como
sujeitos da sua própria história, é o que Um Nordeste em São Paulo
argumenta e demonstra.
Um Nordeste em São Paulo foi o ganhador do I Prêmio Thomas Skidmore promovido pela Brazilian Studies Association (BRASA) e pelo Arquivo Nacional. Como resultado em 2016 uma versão em inglês do livro foi publicada pela Duke University Press com o título de Migration and the Making of Industrial São Paulo(https://www.dukeupress.edu/migration-and-the-making-of-industrial-sao-paulo)
Vale Mais é um podcast do Laboratório de Estudos dos Mundos do Trabalho da UFRJ. O objetivo é discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da perspectiva da história social.
O episódio #02 do Vale Mais discute a Previdência Social no Brasil e apresenta reflexões sobre a importância desse pilar dos direitos sociais para trabalhadores e trabalhadoras. A proposta de reforma da Previdência em discussão em 2019 propõe mudanças profundas no sistema, alterando idade mínima, cálculo de aposentadorias, forma de arrecadação e de gestão do sistema que, se aprovado tal como proposto, abandonará o tradicional sistema de repartição e adotará a capitalização. São vários os pontos polêmicos e só o que se pode afirmar por enquanto é que haverá significativo impacto na vida de trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo dos mais pobres. Para falar sobre isso convidamos o historiador e economista Andrej Slivnik.
Roteiro e Produção: Deivison Amaral. Apresentação: Yasmin Getirana.
Disponível também no Spotify, Apple Podcasts, Castbox e PocketCasts. Ouça e inscreva-se para receber os próximos episódios da temporada do Vale Mais.
Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima –
Vale Mais
Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No terceiro episódio, conversamos com Thayara de Lima, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro A cultura de luta antirracista e o movimento negro do […]
O número 21 da Revista Maracanan, publicação da pós-graduação em história da UERJ acaba de ser lançado com o dossiê “Trabalhadores livres e escravizados no Mundo Atlântico” organizados pelos professores Paulo Terra (UFF) e Renata Moraes (UERJ). Além dos artigos do dossiê e de temas livres, esse número também conta com uma entrevista com a professora Fabiane Popinigis, coordenadora do GT Mundos do trabalho. Acesso para o número: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/issue/view/1793/showToc
Entre os dias 7 e 11 de outubro de 2019 ocorrerá a XIV Semana de História Política da UERJ e nela teremos o Simpósio Temático “Mundos do Trabalho: trabalhadores escravizados e livres (Século XIX aos anos de 1930)” sob a coordenação da Profa. Dra. Renata Figueiredo Moraes (UERJ); Prof. Doutorando Vitor Leandro de Souza (UFF). Prof. Doutoranda Isabelle Pires (PPGHIS/UFRJ). As inscrições já estão abertas e vão até o dia 30 de julho. Mais informações no site http://semanahistoriauerj.net/
O
minicurso Trabalhadoras e Trabalhadores
na História do Brasil ocorrerá entre 07 de agosto e 18 de setembro, em
encontros semanais, todas as quartas-feiras no turno da tarde, entre 14h e 18h.
Está dividido em seis módulos que abordarão a história do trabalho no Brasil
entre o final do século XIX até os dias de hoje.
Os
encontros ocorrerão nas dependências do Campus
Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
(CEFET-RJ), localizado na Avenida Maracanã, 229. O curso é uma iniciativa do
Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/UFRJ), em
parceria com a Coordenação de História CEFET-RJ.
O
público alvo do minicurso são os estudantes do ensino médio ou daqueles que se
preparam para a realização do ENEM e outras avaliações que solicitam o
conhecimento da História do Brasil. Serão aceitos também a presença da
comunidade escolar que se interessa em conhecer o tempo presente e construir um
conhecimento crítico sobre as profundas transformações do mundo do trabalho na
contemporaneidade.
Serão oferecidas 60 vagas, com a certificação dos estudantes que tiverem no máximo duas faltas. As inscrições são realizadas pelo preenchimento da plataforma do Google Formulários, que pode ser acessada pelo botão abaixo.
A proposta do minicurso procura articular a pesquisa de excelência sobre história social do trabalho do LEHMT com a área de ensino em História e Ciências Sociais. O incremento da qualidade da educação brasileira, a ampliação do espaço de reflexão crítica entre alunos/as, professores/as e comunidade escolar em geral, a construção de uma cultura escolar democrática, bem como uma maior integração entre os conhecimentos produzidos na Universidade e nas escolas de ensino fundamental e médio são os principais objetivos do minicurso.
Estas
discussões ganham ainda maior relevância em um momento de debates e
implementação de uma nova proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
patrocinada pelo Ministério da Educação. Neste contexto, o lugar da disciplina
de História (bem com como das Ciências Sociais em geral) e de seu potencial
papel como um dos componentes estruturadores da cultura escolar do Ensino Médio
tem provocado acirradas disputas políticas e acadêmicas.
O
minicurso procurará destacar o trabalho, os trabalhadores e trabalhadoras como
atores políticos e sociais fundamentais em nossa história. A proposta
curricular enfoca as relações de trabalho, gênero e raça na História do Brasil
nos séculos XIX e XX, apresentando renovações de interpretação da história
social e realiza transposições didáticas que problematizam o tempo presente.
Nesse sentido, a concepção do curso suscita novos debates no ensino e pesquisa,
além de implicar em releituras das relações entre o passado e o presente.
O minicurso procurará valer-se de uma ampla gama de recursos metodológicos e educacionais, sejam audiovisuais, utilização de fontes primárias, dinâmicas de grupo, entre outros. São previstos 6 módulos de 4 horas cada.
Responder a esta pergunta após a recente extinção do Ministério do Trabalho e do Emprego, depois de 88 anos de atividade ininterrupta, pode levar a um texto em tom de obituário. O Ministério do Trabalho – que existiu em diferentes conjunturas políticas e sobreviveu até mesmo à Ditadura Civil-Militar (1964-1988) – teve suas atribuições reduzidas e distribuídas entre outras pastas ministeriais em janeiro de 2019.
A morte do Ministério do Trabalho, escondida por uma retórica de que a gestão eficiente da coisa pública se daria pela diminuição do Estado, é, na verdade, resultado do ataque ao trabalho e a uma cultura de defesa de direitos trabalhistas já arraigada na sociedade brasileira há muitas décadas. A despeito do tom de obituário, é importante entender como o conhecimento histórico interpreta a criação do Ministério, seja para se perceber o que se perdeu ou para se exigir seu retorno.
Trabalhador retira letreiro do prédio do Ministério do Trabalho, 2019. Foto: Daniel Marenco.
Em 26 de novembro de 1930, quando Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 19.433 para a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, apenas 23 dias eram transcorridos desde o início de seu governo. Não por acaso, o primeiro titular da pasta, Lindolfo Collor, o apelidou de “Ministério da Revolução”, dada sua importância estratégica para o projeto político do novo governo.
Implantado após o processo revolucionário de 1930, o governo de Getúlio Vargas colocou como prioridade a resolução da então chamada “questão social” – ou seja, a mediação das relações entre capital e trabalho, bem como a solução para a pobreza crescente devido à exploração predatória de trabalhadores e trabalhadoras. Vargas indicava que haveria acolhida para tais questões nos braços do Estado. Este, portanto, é o principal motivo para a criação do Ministério do Trabalho.
Ao longo das décadas de 1930 e 1940, o Ministério elaborou e decretou medidas protetivas para trabalhadoras e trabalhadores. Por exemplo, em 1932, foram regulamentados os Institutos de Aposentadoria e Pensões; em 1933, foi criada a carteira de trabalho; em 1938, foi instituído o salário mínimo. Essas e outras medidas protetivas foram reunidas, em 1943, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Tais medidas atendiam a demandas antigas do movimento sindical brasileiro e as transformavam em direitos legalmente constituídos. Também no Ministério do Trabalho foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação que deram origem à Justiça do Trabalho. Pode-se dizer que o Ministério do Trabalho foi o primeiro e principal instrumento para a implementação do projeto político do governo Vargas.
O projeto modernizador do primeiro governo de Getúlio Vargas, que previa a aceleração da industrialização do país, dependia da diminuição das tensões sociais causadas pela exploração do trabalho, especialmente nos centros urbanos. Para tanto, o governo criou e difundiu um projeto político e ideológico de valorização do trabalho que tinha como objetivo principal a criação da figura do “cidadão-trabalhador”.
Por considerar essencial que a visão negativa do trabalho e a inevitabilidade da pobreza se tornassem noções superadas na sociedade brasileira, Vargas precisou criar uma visão positiva do trabalhador, que seria o motor das mudanças sociais e econômicas que tentava empreender no país – daí associação da ideia de trabalho à de cidadania.
As medidas adotadas por Vargas fizeram com que ele fosse acusado de ter oferecido direitos aos trabalhadores e trabalhadoras de forma impositiva para controlá-los e evitar a convulsão social. Parte do movimento sindical não via com bons olhos as medidas normativas anunciadas no primeiro governo Vargas, entre elas, a vinculação dos sindicatos ao Estado por meio do registro no Ministério do Trabalho e a obrigatoriedade da formação de um sindicato único por categoria profissional.
Esse grupo era formado, sobretudo, por militantes vinculados ao sindicalismo de estratégia revolucionária da Primeira República e, portanto, críticos à interferência do Estado nos sindicatos.
O jurista Evaristo de Morais Filho, em O problema do sindicato único no Brasil, publicado em 1952, foi mais duro na crítica ao afirmar que a estrutura criada por Vargas solapou a autonomia sindical e limitou a ação reivindicatória. De fato, não se pode negar que houve esta intenção. Mas a coisa não é tão simples assim, como mostraram alguns trabalhos historiográficos.
Em A invenção do trabalhismo, Angela de Castro Gomes demonstrou que, embora o governo de Getúlio Vargas tivesse realmente a intenção de controlar diversos aspectos das relações de trabalho no Brasil, ele foi capaz de absorver temas e reinvindicações que estavam na pauta do movimento operário urbano durante a Primeira República (1889-1930) – muitas das quais jamais tinham sido consideradas pelos governos anteriores. Isso, de certa forma, flexibiliza o aspecto impositivo, muitas vezes enfatizado quando se trata do período.
De acordo com Gomes, o governo incorporou tais demandas, transformou-as em agenda política e interagiu diretamente com as camadas mais populares da sociedade. Atraiu trabalhadoras e trabalhadores diretamente para o seio do governo. O trabalhador-cidadão deveria ser sindicalizado e os sindicatos deveriam ser agregados à estrutura do Estado por meio do registro no Ministério do Trabalho.
Essa estrutura corporativista de organização social, embora tivesse o claro intento de controlar a ação sindical e a luta por direitos, foi rapidamente apropriada pelos trabalhadores e trabalhadoras, que souberam “jogar com as cartas do jogo” a fim de conquistar e garantir o pleno gozo dos direitos sociais.
Manifestação pró-Vargas no 1º de Maio de 1944. Ministério do Trabalho surge em 1930. Estádio do Pacaembú, SP. Foto: CPDOC/FGV.
O aspecto central de toda essa mudança social proporcionada a partir da criação do Ministério do Trabalho é, de certo, o fortalecimento de uma cultura política de (luta por) direitos que perdurou por diferentes conjunturas. O trabalhismo brasileiro foi a tônica das relações entre Estado e classe trabalhadora. Sua longevidade deveu-se à permanência dos instrumentos que criaram e conformaram tal cultura política na estrutura administrativa do Estado ao longo das décadas subsequentes.
O aperfeiçoamento da cidadania no Brasil se deu, em grande medida, graças ao trabalhador e à trabalhadora que reconheciam seus direitos e sabiam a quais mecanismos recorrer para exigi-los dentro da estrutura do Estado, e graças, também, ao Ministério, que teve a função primária de criar e vindoura de fiscalizar o cumprimento das leis.
Ministério do Trabalho: estrutura de proteção ao trabalho
A criação do Ministério do Trabalho foi a primeira medida promovida pelo Estado brasileiro para criar uma estrutura de proteção ao trabalho. Todas as iniciativas anteriores não tiveram caráter universal. Sua importância, contudo, foi duradoura e permaneceu em outras conjunturas políticas. Criado estrategicamente para controlar e viabilizar o projeto varguista, foi apropriado por trabalhadores e trabalhadoras e transformou-se em um baluarte da luta por direitos sociais.
Ao longo dos anos, assumiu mais funções importantes, especialmente, a coordenação de políticas de geração de emprego e renda e, ainda, a fiscalização das condições de trabalho e o combate ao trabalho análogo à escravidão. É preciso destacar, com pesar, que a extinção do Ministério do Trabalho não foi a única mudança recente. Em 2017, a legislação trabalhista criada pelo Ministério do Trabalho ainda nos anos 1930 e aperfeiçoada no correr das décadas seguintes, foi deformada e vários mecanismos de proteção de trabalhadores e trabalhadoras foram extintos.
Se na década de 1930 o Ministério do Trabalho foi criado em um contexto em que se objetivava criar e fortalecer a figura do trabalhador-cidadão, hoje, com essas letras escritas postumamente, pode-se afirmar que sua extinção é sintomática do ataque à cidadania. Na medida em que se diminui a proteção ao trabalho e se extingue o Ministério que foi seu baluarte, percebe-se que sua ausência será sentida imensamente pela parcela mais desprotegida da nossa sociedade.
Nota: O corporativismo é comumente entendido como um sistema de representação de interesses no Estado e foi criado com a finalidade de suprimir as disputas entre as classes sociais. O corporativismo brasileiro é do tipo estatal, ou seja, definido pela subordinação das representações dos grandes interesses sociais à autoridade do Estado. Nesse sentido, entende-se o corporativismo sindical criado nos anos 1930 – que estruturou o sindicalismo brasileiro vinculado ao Ministério do Trabalho – como uma tentativa de controlar a organização autônoma dos trabalhadores. O Estado foi o promotor, criador e, em certa medida, o controlador das associações de interesse, sobretudo dos sindicatos. Sobre o corporativismo, ver Angela Araújo (1998).
Referências Bibliográficas
ARAUJO, Angela Maria Carneiro. A construção do consentimento: corporativismo e trabalhadores no Brasil nos anos 30. São Paulo, SP: Scritta: FAPESP, 1998.
D’ARAÚJO, Maria Celina. Estado, classe trabalhadora e políticas sociais. In: FERREIRA, J., DELGADO, L. A. N. O Brasil Republicano: livro 2: tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2003.
GOMES, Ângela de Castro (Coord.). Ministério do Trabalho: uma história vivida e contada. Rio de Janeiro: CPDOC, 2007.
GOMES, Ângela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2005.
PANDOLFI, Dulce Chaves. (Org.) Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999.
Deivison Amaral possui doutorado em História Social (2015) pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), tese desenvolvida com período de estágio e pesquisa no Centre d’histoire sociale du XXème Siècle da Université de Paris 1 – Panthéon-Sorbonne. Possui graduação em História (2003) e mestrado em Ciências Sociais (2007) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Atualmente, é professor no Departamento de História da PUC-Rio e desenvolve pesquisa de pós-doutorado no CPDOC/FGV sobre a militância católica junto aos trabalhadores de Pernambuco no final do século XIX e início do XX. Em 2017, foi pesquisador visitante na KU Leuven, na Bélgica, com recursos do Scholarship Programme for Young Professors and Researchers from Latin American Universities. Foi editor da Revista Mundos do Trabalho (2009-2013), editor-assistente da Revista Brasileira de História (2016-2017) e da revista Estudos Históricos (2016-2018). Atua em pesquisas principalmente nos seguintes temas: história social, associativismo; história do trabalho e trabalhadorxs; catolicismo e trabalho; Belo Horizonte; movimento operário; memória e história oral. Em 2017, foi pesquisador visitante na KU Leuven, na Bélgica, com recursos do Scholarship Programme for Young Professors and Researchers from Latin American Universities. Foi editor da Revista Mundos do Trabalho (2009-2013), editor-assistente da Revista Brasileira de História (2016-2017) e da revista Estudos Históricos (2016-2018). Atua em pesquisas principalmente nos seguintes temas: história social, associativismo; história do trabalho e trabalhadorxs; catolicismo e trabalho; Belo Horizonte; movimento operário; memória e história oral.
Artigo publicado originalmente em: Café História Data da publicação: 13/05/2019
AMARAL, Deivison. Por que o Ministério do Trabalho foi criado? (Artigo). In: Café História – história feita com cliques. Publicado em 13 de maio de 2019. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/por-que-ministerio-do-trabalho-foi-criado/.
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