A Josapar apoiou a Ditadura (1964-1985). A Josapar é uma empresa de produtos alimentícios com sede no Rio Grande do Sul. Durante a Ditadura, a Josapar começou a investir em terras em outras regiões do país, incluindo o estado do Pará, onde violentos conflitos com trabalhadores rurais ocorreram. Juntas, empresa e Ditadura, trabalharam para acentuar a concentração fundiária no país e aumentar a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.
Esse caso é tema do terceiro episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura.
O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesse o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema.
Projeto e execução: Alejandra Estevez, Bruno Cecílio, Deivison Amaral, Larissa Farias, Thompson Climaco | Roteiro: Deivison Amaral | Revisão de Roteiro: Alejandra Esteves | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista com Alessandra Gasparotto: Alejandra Esteves e Deivison Amaral | Entrevista com trabalhadores atingidos: Alessandra Gasparotto
Equipe responsável pela pesquisa sobre aJosapar:
Alessandra Gasparotto | Airton dos Reis Pereira | Alex Monteiro Rodrigues | Barbara de La Rosa Elia | Eduardo Fernandes de Araújo | Elisandra de Araújo Galvão | Fabricio Teló | Gabriel Pereira da Silva Teixeira | Gilney Amorim Viana | Graciela Bonassa Garcia |Halyme Franco Antunes | José Carlos Moreira Filho | José Ribamar Lira Oliveira | Leonilde Servolo Medeiros | Letícia Lopes Felix | Paulo Roberto Ferreira | Regina Coelly Fernandes Saraiva | Renato Della Vechia | Ricardo José Braga Amaral de Brito | Sérgio Sauer | Venize Nazaré Ramos Rodrigues
Crédito da música: Hidden by Piotr Hummel. Free Music Archive and license CC BY-ND.
Elísio Estanque Sociólogo, pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal
Se me perguntarem se o 25 de Abril de 1974 foi um golpe de estado ou uma revolução, respondo: depende, se você considera apenas a data, foi um golpe militar que destituiu o governo e pôs fim ao regime do Estado Novo de António Salazar e Marcelo Caetano; se você pretende entender as mudanças socioeconômicas mais profundas que ele desencadeou, considero que foi uma Revolução, política, social e cultural.
Portugal viveu durante 48 anos (1926-1974) sob um regime autoritário, imperial, conservador e repressivo, desde os anos 1960 com larga parte do orçamento do Estado (acima dos 20%) a ser gasto em despesas militares numa guerra colonial que, nas suas várias frentes (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau) tirou a vida a cerca de 10.000 soldados portugueses e onde, no conjunto morreram mais de 48.000 vítimas, incluindo civis. O país apresentava no início da década de 1970 elevadíssimos índices de pobreza (30%) e analfabetismo (25,7%), percentuais que eram variáveis em função da dimensão do agregado familiar, do gênero e da região geográfica (litoral ou interior).
Por um lado, para fugir da miséria, por outro para fugir das guerras em África, largos milhares de portugueses emigraram na década anterior, em especial para países europeus (França, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, etc.). O Movimento das Forças Armadas (MFA) programou e organizou o golpe, visando essencialmente pôr fim a uma guerra colonial que todo o mundo já tinha percebido que não teria solução militar, pelo que era necessário negociar a independência com os movimentos da guerrilha (MPLA, Frelimo, PAIGC). O então comandante militar da Guiné, general António de Spínola – que viria a ser o 1º Presidente da República após a revolução – havia publicado no início de 1974 o seu livro «Portugal e o Futuro» que apontava para uma solução negociada, e terá inspirado o movimento, mas sabe-se que um ano antes terá permitido o assassinato de Amílcar Cabral, líder do PAIGC (cometido à traição por ex-camaradas seus, no dia 20 de janeiro de1973). Os mentores do MFA foram sobretudo capitães milicianos, ainda jovens, que protagonizaram as ações militares do dia 25 de abril de1974, muitos deles tinham sido ativistas estudantis na universidade, expulsos pelo regime na sequência de protestos, em especial após a “crise acadêmica” de 1969, em Coimbra. A contestação dos estudantes, exigindo liberdade de ensino, democracia na universidade e o fim da guerra colonial deu lugar a uma greve aos exames que suscitou uma violenta resposta policial, com repressão, prisão e mobilização militar compulsiva dos principais ativistas. A ditadura, além de autoritária e violenta, era estúpida, pois ao disseminar pelos quartéis os líderes rebeldes da Universidade, permitiu contaminar muitos outros oficiais com o vírus da democracia.
25 de abril de 1974 nas ruas de Lisboa. Fto Iamago/Zuma/Keystone
O conhecido lema segundo o qual as revoluções começam num beco sem saída, aplica-se ao caso português. O regime anacrônico, a guerra, a crise estavam num beco sem saída em 1974. Naquela madrugada, com início às 0:00 horas exatas, passou na rádio a primeira “senha” combinada pelos líderes do MFA, a canção “Grândola, Vila Morena”, cantada por Zeca Afonso, mensagem que sinalizou o arranque das operações militares, conforme combinado; e três horas mais tarde uma outra canção popular, «E Depois do Adeus» na voz de Paulo de Carvalho, seria o segundo sinal a confirmar o sucesso das operações com as colunas militares de várias origens a caminho de Lisboa para o assalto final ao Estado Novo. O comando operacional mais geral foi coordenado por Otelo Saraiva de Carvalho enquanto a unidade militar dirigida a neutralizar as forças do governo (a GNR), partiu da cidade de Santarém e foi comandada pelo capitão Salgueiro Maia (considerado o herói da Revolução, mas que sempre recusou protagonismo mediático) até ao Terreiro do Paço onde se encontrou e conseguiu que se rendessem as últimas forças do regime. Ao mesmo tempo, a escassas centenas de metros, ocorria o cerco ao Quartel do Carmo junto ao Bairro Alto (centro de Lisboa) onde se haviam refugiado o presidente e o Primeiro Ministro do governo deposto, que saíram sob proteção após a rendição.
A verdadeira revolução começou exatamente nessa manhã, quando as vendedoras de flores nas ruas da baixa começaram a oferecer cravos aos militares, já em celebração em cima dos carros de combate. Com as flores vermelhas a ornamentar aquele arsenal, crianças e jovens desobedeceram às regras e começaram a saltar para cima dos chaimites (carros de combate) ocupando toda a cobertura e desencadeando um entusiasmo contagiante que arrebatou toda a sociedade, num clamor de liberdade, de norte a sul do país. O momento apoteótico de celebração da liberdade ocorreu uma semana mais tarde, no dia 1º de Maio de 1974, uma data simbólica até então demonizada e cuja celebração era violentamente reprimida.
Recuando na história, vale lembrar que importantes lutas, ações grevistas e diversas formas de resistência ocorreram ao longo de todo o período do Estado Novo, a primeira delas foi a Greve Geral dinamizada pelos operários vidreiros da Marinha Grande, de 1934, envolvendo diversos tipos de ações incluindo uma tentativa (falhada) de assassinato de Salazar. Mas também durante o período da II Guerra Mundial onde ocorreu um significativo ciclo grevista, principalmente na região centro do país (indústrias têxteis, lanifícios e também do calçado). Já na fase crespuscular do velho regime diversas greves, desde o setor bancário às lutas sindicais na região industrial de Lisboa e Setúbal, deixavam antever o potencial do movimento operário. Na indústria naval (estaleiros da Lisnave e Setenave) diversas ações e paralisações vinham ocorrendo desde o ano anterior, embora com resultados insignificantes.
No próprio dia do golpe militar os trabalhadores da Lisnave viveram intensamente os acontecimentos através da rádio, como de resto aconteceu no país inteiro (nas fábricas, nos campos e nos quartéis), e dois dias depois enviaram até uma nota de saudação à Junta de Salvação Nacional e ao MFA. A partir do momento em que os acontecimentos de 25 de abril iam sendo divulgados pela TV, rádios e jornais, quando se percebeu que havia sido derrubada a ditadura, explodiu nas ruas e praças um clima de excitação febril, e de imediato as figuras conotadas com o salazarismo (patrões, dirigentes, polícia política, a célebre PIDE, etc.) tornaram-se alvos da fúria popular. Muitos foram obrigados a fugir, outros foram presos e entregues ao MFA. Logo no calor dos acontecimentos as assembleias de trabalhadores multiplicaram-se em diversos setores e as associações sindicais transcenderam as reivindicações materiais para priorizar objetivos organizativos, tornando-se alvo de disputas partidárias. Reuniões amplas e altamente participadas trataram de extinguir estruturas corporativas ligadas ao passado, abrindo espaço a um sindicalismo agora livre e que naquela conjuntura, apesar do esforço organizativo, foi levado por arrasto no caudal das dinâmicas de base, paralisações, protestos espontâneos, manifestações de rua e, pouco depois, ocupação de fábricas. A linguagem de classe revestiu-se rapidamente das cores marxistas e a politização começou a generalizar-se. Primeiro, o combate aos símbolos do fascismo foi o principal motivo das mobilizações populares que se seguiram ao 25 de Abril, conseguindo barrar as várias tentativas de retrocesso (como o golpe falhado de 28 de setembro de 1974) criando uma dinâmica popular que suplantou as próprias organizações partidárias, inclusive as mais enraizadas no mundo operário, como o Partido Comunista Português. O chamado PREC – Processo Revolucionário Em Curso, que se seguiu ao 11 de março de 1975 (mais um golpe neutralizado que abriu caminho às nacionalizações) com os governos provisórios, de hegemonia comunista (liderados pelo general Vasco Gonçalves) foi o climax dessa efervescência político-ideológica, cavando profundas divisões quer no seio do MFA, quer no conjunto do país. Esse processo culminou com uma outra data marcante, o 25 de Novembro de 1975, ainda hoje foco de inúmeras polêmicas. Para uns, foi a viragem que recolocou o país na senda da democracia, barrando o projeto comunista pró-soviético; para outros, os setores mais engajados na militância de esquerda, foi o fim da Revolução. Mas o espírito de Abril permanece, 50 anos depois. Viva a Revolução dos Cravos!!
Primeiro de Maio de 1974, a maior manifestação popular da história de Portugal. Acervo Jornal de Notícias
PARA SABER MAIS:
Léonard, Yves. Breve História do 25 de Abril. Lisboa: Ed. 70, 2024;
Pimentel, Irene Flunser. Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975. Lisboa: Temas&Debates, 2024.
Rosas, Fernando. Ensaios de Abril. Lisboa: Tinta da China, 2023.
Vários Autores. 25 de Abril, roteiro da revolução. Lisboa: Parsifal, 2017.
Crédito da imagem de capa: Povo comemora com soldados nas ruas de Lisboa a queda da ditadura no dia 25 de abril. Nas mãos, os cravos que simbolizariam a Revolução. Acervo El País.
Neste episódio de Livros de Classe, Isabel Bilhão, professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), apresenta o livro “Que a União Operária Seja Nossa Pátria! História das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações”, de Silvia Petersen. Publicada em 2001, a obra logo se tornou uma referência na bibliografia sobre o movimento operário na Primeira República ao analisar a organização dos trabalhadores gaúchos entre o final do século XIX e a década de 1920, destacando a importância das associações beneficentes e a influência anarquista e socialista.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
O projeto “Desindustrialização e história social: a construção de um campo de pesquisa (Brasil e Alemanha)”, do Programa PROBRAL da CAPES/DAAD abre processo seletivo para a concessão de uma bolsa de pós-doutorado para estágio de pesquisa na Universidade do Ruhr- Bochum, Alemanha. Os/as candidatos/as deverão ter obtido o título de doutor/a há menos de 8 (oito) anos. As inscrições para seleção deverão ser feitas até o dia 10 de maio.
Nestes 60 anos do golpe de 1964, o portal do LEHMT/UFRJ convida à reflexão sobre o lugar dos mundos do trabalho neste evento decisivo para a história brasileira. Toda segunda-feira de abril, publicamos um episódio com entrevistas de historiadores/as abordando diferentes aspectos da relação entre os trabalhadores e o golpe.
No quarto episódio da série especial “Os trabalhadores e o golpe”, Larissa Corrêa (PUC-Rio) fala sobre o importante papel do sindicalismo estadunidense na conjuntura do golpe de 1964. Analisa também as relações entre Brasil e Estados Unidos no contexto da política que ficou conhecida como Aliança para o Progresso. Por fim, faz um balanço do lugar dos trabalhadores/as e suas organizações na historiografia sobre a ditadura militar.
A Aracruz apoiou a Ditadura (1964-1985). Durante o regime autoritário, a empresa expandiu seus negócios com incentivos e benefícios do governo. Instalada no Espírito Santo, atingiu mortalmente terras indígenas e quilombolas. Indígenas foram deslocados forçadamente dos territórios em que a empresa atuaria. Terras quilombolas foram invadidas e seus remanescentes expulsos. Posteriormente, os que ficaram foram submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão. Esse caso é tema do segundo episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura. O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesso o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema.
LEHMT/UFRJ apresenta Os trabalhadores e o golpe – Ep. 03: Leonilde Medeiros (UFRRJ): Os camponeses e a Reforma Agrária “na lei ou na marra”.
Nestes 60 anos do golpe de 1964, o portal do LEHMT/UFRJ convida à reflexão sobre o lugar dos mundos do trabalho neste evento decisivo para a história brasileira. Toda segunda-feira de abril, publicamos um episódio com entrevistas de historiadores/as abordando diferentes aspectos da relação entre os trabalhadores e o golpe.
Nesse terceiro episódio, Leonilde Medeiros (UFRRJ) fala sobre as impressionantes lutas e mobilizações dos trabalhadores rurais no final dos anos 1950 e início dos 60, analisando como a demanda por Reforma Agrária tornou-se uma questão central na disputa política durante o governo de João Goulart. Leonilde comenta ainda sobre o papel das Ligas Camponesas e dos sindicatos rurais naquela conturbada conjuntura.
Continuem nos acompanhando para os próximos episódios! Todas as segundas-feiras de abril um novo episódio no “Labuta”, canal do LEHMT/UFRJ no YouTube.
A Petrobrás apoiou a Ditadura (1964-1985). A empresa agiu em cumplicidade com o regime autoritário e atuou como braço repressor sobre os trabalhadores. Já no primeiro dia da Ditadura, em 1º de abril de 1964, houve a detenção de um grupo expressivo de trabalhadores da empresa. Muitas prisões aconteceram nos locais de trabalho, que tiveram seus alojamentos transformados em centros de detenção e tortura.
Esse caso é tema do primeiro episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura.
O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesse pelo link abaixo o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema.
Projeto e execução: Alejandra Estevez, Bruno Cecílio, Deivison Amaral, Larissa Farias, Thompson Climaco | Roteiro: Deivison Amaral | Revisão de Roteiro: Alejandra Esteves | Edição: Deivison Amaral e Thompson Climaco | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista com Luci Praun: Alejandra Esteves, Deivison Amaral e Larissa Farias | Entrevista com trabalhadores atingidos: Luci Praun.
Equipe responsável pela pesquisa sobre a Petrobras:
Luci Praun (Ufac, pesquisadora responsável) | Alex de Souza Ivo (Ifba) | Carlos E. S. de Freitas (Ufba – Uneb) | Claudia Lima da Costa (Jornalista) | Júlio Cesar P. de Carvalho (UFF) | Márcia Costa Misi (UEFS) | Ana Letícia de Fiori (Ufac) | Marcos de Almeida Matos (Ufac) | Vitor Góis (Pesquisador Unir)
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Maria Luiza Coelho (estudante de licenciatura em História pela UFF, residente pedagógica do PIRP/CAPES desde outubro de 2022)
Matheus Lira da Silva (graduando de licenciatura em História pela UFF, residente pedagógico do PIRP/CAPES desde maio de 2023).
Luciana Pucu Wollmann (professora de História da rede municipal de Niterói e da rede estadual do Rio de Janeiro. Doutora em História pela FGV e integrante do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/ UFRJ), onde coordena a seção “Chão de Escola”)
Apresentação da atividade
Segmento: 6º ano do Ensino Fundamental
Unidade temática: Lógicas de organização política e História: tempo, espaço e formas de registro.
Objetos de conhecimento: – As noções de cidadania política
– Formas de registro da História e da produção do conhecimento
Objetivos gerais: – Contextualizar o período anterior ao golpe de 1964, procurando apresentar os principais aspectos que identificam esse período como uma “democracia de massas”;
– Apresentar como se deu a instalação da ditadura empresarial-militar no Brasil em 1964;
– Identificar os atores políticos que resistiram e lutaram contra a ditadura, bem como o aparato repressivo montado pela ditadura para reprimi-los;
– Correlacionar o contexto que levou ao golpe de 1964 com os capítulos da história recente do Brasil;
– Sensibilizar os/as estudantes para o uso de fontes históricas, bem como para o de cruzamento das fontes;
– Refletir sobre o trabalho do/a historiador/a, que se baseia em evidências e também na interpretação das fontes.
Aulas
Planejamento
02
Apresentação do tema e contextualização
03
Realização da atividade
04
Apresentação dos grupos
Conhecimentos prévios: – Reflexões sobre o que é História e sobre o ofício do/a historiador/a;
– As fontes históricas, a suas tipologias e variedades;
Atividade
Recursos: datashow, som e cópias impressas.
Etapa 1:Apresentação do tema e contextualização
Sugerimos ao/ à colega que contextualize o período histórico anterior ao golpe de 1964, bem como as principais características da ditadura que se instalou no Brasil e perdurou por 21 anos (1964-1985). A ideia aqui é procurar debater com os/as alunos/as que, apesar de ser um capítulo recente da História do Brasil, este é um tema pouco estudado e conhecido entre a população brasileira.
Achamos pertinente ainda, correlacionar o golpe de 1964 com acontecimentos recentes, tais como o golpe de 2016, que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a tentativa de golpe em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Como material de apoio, sugerimos os materiais abaixo:
1945 a 1964 – Democracia de massas (Memorial da Democracia):
Série “Incontáveis” (Fórum da Ciência e Cultura da UFRJ). Episódio 1 (Trabalhadores na ditadura):
Sugerimos ao ou à colega que projete em um data-show as seguintes imagens:
No dia 30 de abril de 1968, o trabalhador Luiz Fernando foi encontrado morto longe de sua casa, no município de Osasco, em São Paulo. A vítima trabalhava em uma empresa metalúrgica há alguns anos e, dentro dessa empresa, era conhecido por sua determinação em lutar pelos direitos dos trabalhadores, o que o tornou uma figura conhecida pelas autoridades e por grandes empresários locais. Sua morte deixou a comunidade em estado de choque e apreensiva em relação ao que realmente ocorreu naquela noite.
Segundo a polícia militar, havia duas hipóteses sobre a morte de Luiz Fernando. A primeira hipótese é de que Luiz Fernando teve a sua casa invadida por assaltantes e que, ao tentar reagir, foi sequestrado e morto a tiros. A segunda hipótese da polícia é de que Luiz Fernando participava de muitos conflitos dentro da empresa e que por isso, algum colega da empresa poderia ter cometido o assassinato.
Luiz era conhecido por ser uma pessoa bastante querida entre os seus colegas de trabalho e também por ajudar os seus vizinhos em suas tarefas domiciliares. A polícia averiguou que a maçaneta da casa de Luiz Fernando estava quebrada, porém, não conseguiu identificar nenhum pertence roubado da casa, apenas um caixa com alguns folhetos que estavam bagunçados no chão. Além disso, segundo testemunhas da região, não foi possível ouvir nenhum disparo naquela noite.
Algumas evidências ajudam a elucidar o caso. Dentre os documentos encontrados no chão da casa de Luiz Fernando, havia diversos folhetins referentes a uma greve que iria ocorrer nas semanas seguintes:
Com a vítima, além de seus pertences, foi encontrada também uma carteirinha de filiação:
Uma notícia de jornal que coletou relatos de outros trabalhadores da fábrica também traz algumas pistas sobre o caso:
1 de maio de 1968, Osasco, São Paulo DIA DO TRABALHADOR COM GRANDE PERDA OPERÁRIA
Trabalhadores da Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários (Cobrasma) relataram a nossa equipe jornalística que a morte do operário Luiz Fernando Moreira da Silva, registrada no dia 30 de abril, véspera do Dia do Trabalhador, teria sido negligenciada pela polícia.
Um dos operários entrevistados, que preferiu não se identificar, nos contou:
• Luizinho era gente fina. . . não tem porque alguém ter feito isso com ele. Sabe um cara que não tem inimigos? Quer dizer, até tinha, mas aí já não me cabe, senão também eu me prejudico. Mas que essa história tá estranha, tá sim!
Um morador da vizinhança onde Luiz Fernando morava com sua família também relatou:
• Olha, eu ouvi sim um som de porta arrombada, mas som de tiro não teve não. Não faz sentido também terem roubado só a casa de Luiz! Todo mundo acha que tá estranho isso, mas ninguém quer falar. . . é melhor ficar quieto pra não ser o próximo.
Procuramos também a esposa de Luiz Fernando, mas os vizinhos informaram que no dia seguinte à tragédia a viúva já havia se mudado para a casa de uma tia em outro estado.
A polícia militar chegou à conclusão de que as evidências encontradas não tinham relevância para a conclusão do caso e encerrou o inquérito afirmando que a morte de Luiz Fernando foi ocasionada por uma tentativa de assalto. Após a notícia do caso chegar aos jornais, houve indignação dos familiares de Luiz e dos trabalhadores da empresa metalúrgica. Segundo eles, a polícia ignorou qualquer evidência encontrada no caso e decidiu encerrar o inquérito rapidamente. Além disso, segundo os mesmos, alguns militares que trabalhavam no caso demonstraram repulsa em relação às práticas organizadas pelos sindicalistas.
Agora que você já tem as evidências, reúna-se com seus colegas para responder às seguintes perguntas:
1) A versão do crime emitida pela polícia parece ser verdadeira? 2) Se a resposta for negativa, quem você acha que assassinou Luiz Fernando? 3) Escreva aqui a reconstituição do crime, explicando as pistas apresentadas.
Etapa 3:Apresentação dos grupos
Nesta etapa, cada grupo deve apresentar a sua versão do crime. O/a professor/a deve registrar no quadro o resultado de cada equipe. É possível identificar que, por mais próximas que as versões se apresentem, elas apresentam algumas diferenças. A ideia aqui é aproveitar a atividade e explicar que é possível verificarmos algo parecido na disciplina histórica, que ainda que se baseie em evidências, pode apresentar diferentes versões.
Ao final da atividade, o docente deve explicar que não existe propriamente uma resposta correta para as perguntas. O objetivo do trabalho era fazer os/as estudantes atentarem para as informações das fontes, inserindo-as dentro do contexto. Sendo assim, desempenhou bem a atividade os grupos que conseguiram correlacionar às fontes para construir a sua versão.
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil. Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
LEHMT/UFRJ apresenta “Os trabalhadores e o golpe”Episódio 2: Murilo Leal (UNIFESP): A “República sindicalista”: greves, política e o golpe
Nesses 60 anos do golpe de 1964, o portal do LEHMT/UFRJ convida à reflexão sobre o lugar dos mundos do trabalho neste evento decisivo para a história brasileira. Toda segunda-feira de abril, publicamos um episódio com entrevistas de historiadores/as abordando diferentes aspectos da relação entre os trabalhadores e o golpe.No segundo episódio, Murilo Leal (UNIFESP) fala sobre o lugar central do movimento sindical na efervescente conjuntura que antecedeu o golpe de 1964. Leal analisa a crescente presença pública de lideranças sindicais e seu papel na construção de uma agenda de reformas sociais no país. Comenta ainda sobre as greves e as mobilizações em geral daquele período.Não percam! Todas as segundas-feiras de abril um novo episódio no Labuta, canal do LEHMT/UFRJ no Youtube.
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