MINICURSO HISTÓRIA SOCIAL DO TRABALHO


Está interessado/a em saber mais sobre o que é história social do trabalho? Conhecer as pesquisas mais recentes dessa área? Saber mais sobre o Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ (LEHMT/UFRJ) e como se integrar em suas atividades? Quer conhecer a programação que pensamos para novos integrantes?

Entre maio e novembro, oferecemos um minicurso, vespertino e noturno, com emissão de certificado (e contagem de créditos de extensão para alunos de graduação da UFRJ), sobre diversos temas ligados à história dos mundos do trabalho.

A programação terá início com o LEHMT DAY e o LEHMT NIGHT, um bate papo sobre história social do trabalho e o LEHMT/UFRJ, com o coordenador do Laboratório, Paulo Fontes.

Estudantes de graduação e pós-graduação de todas as áreas e universidades são muito bem vindos/as.

Faça sua inscrição pelo link: https://forms.gle/Kxgg3KYPA1KiXocFA

20 de maio – LEHMT Day – o que é o LEHMT? O que é historial social do trabalho? Com Paulo Fontes

27 de junho – Os mundos do trabalho e a ditadura no Brasil, com Heliene Nagasava e João Christovão

22 de agosto – Gênero e história do trabalho, com Ana Clara Tavares e Isabelle Pires

26 de setembro – Periferias, favelas e os mundos do trabalho, com Mariana Costa e Samuel Oliveira

24 de outubro – Comunismo e mundos do trabalho, com Inghrid Massullo e Luciana Wollman

28 de novembro – Raça e história social do trabalho, com Leonardo Ângelo e Thompson Climaco

6 de junho – LEHMT Night – o que é o LEHMT? O que é historial social do trabalho? Com Paulo Fontes confirmado

19 de junho – Os mundos do trabalho e a ditadura no Brasil, com Heliene Nagasava e João Christovão

27 de agosto – Gênero e história do trabalho, com Ana Clara Tavares e Isabelle Pires

17 de setembro – Periferias, favelas e os mundos do trabalho, com Mariana Costa e Samuel Oliveira

29 de outubro – Comunismo e mundos do trabalho, com Inghrid Massullo e Luciana Wollman

27 de novembro – Raça e história social do trabalho, com Leonardo Ângelo e Thompson Climaco

Chão de Escola #41: Formas de mobilização e de participação política de trabalhadores negros na Primeira República

Professora Carolina Dantas (Escola Politécnica/FIOCRUZ e ProfHistória UFF)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio

Unidade temática: Trabalho, racismo e política

Objetos de conhecimento:
– As noções de cidadania política

– Formas de registro da História e da produção do conhecimento

Objetivos gerais:
– Identificar as formas de exclusão e estratégias de participação política experimentadas por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República;

– Identificar as características principais do processo de racialização ocorrido simultaneamente ao fim da escravização no Brasil;

– Problematizar a desimportância das eleições e do parlamento na Primeira República;

– Analisar os significados dos silenciamentos historiográficos acerca da atuação dos negros, incluindo os trabalhadores, após a abolição, problematizando a produção da naturalização de estereótipos sobre eles.

Aulas Planejamento
01 e 02Etapa 01
03Etapa 02
04 e 05Etapa 03
06Etapa 04
07 e 08Etapa 05

Conhecimentos prévios:
– Abolição da escravização;

– Proclamação da República,

– Eleições e imigração estrangeira na Primeira República;


Atividade

Recursos: Computador; projetor multimídia (datashow); acesso à internet; caixa de som; papel pardo e material de desenho (opcional)

Etapa 1

Resumo e pontos-chave da etapa
Levantamento da bagagem de conhecimento dos estudantes; pesquisa em livros didáticos de História; comparação entre os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de artigos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”.

Professor(a), nessa primeira etapa, vamos fazer o levantamento da bagagem de conhecimento da turma, propor uma pesquisa em livros didáticos de História e comparar os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de textos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”. Assim, a proposta para esse momento é a (o) docente verificar a bagagem de conhecimento da turma sobre as seguintes questões:

Solicite aos estudantes que reflitam e respondam oralmente as questões abaixo para que o professor(a) sistematize no quadro dialogado as respostas. Em seguida os estudantes podem reproduzir as respostas do quadro em seu caderno.

a. “O que aconteceu com os negros após a abolição da escravização em 1888? Para onde os negros foram? O que fizeram?”.

A proposta para esse momento é que os estudantes se reuniram em grupos de quatro e pesquisem em livros didáticos de História (material didático de História em uso pela turma) as respostas às questões anteriores e registrem como a história dos negros é contada no livro (ou seja, quando e como aparecem nos livros didáticos de história).

Professor(a), as pesquisas consolidadas sobre livros didáticos de história indicam que os negros aparecerão majoritariamente como escravizados e após a abolição desaparecem da história contada. Alguns materiais didáticos trazem boxes com personagens, em geral, como exceções ou deslocados da sua historicidade. Nesse momento a(o) docente também pode recuperar alguns conhecimentos prévios dos estudantes necessários à investigação/pesquisa em História, tais como fontes e sujeitos históricos, procedimentos de investigação;

A proposta para esse momento é que a(o) docente direcione e oriente os estudantes: a)  sistematização dos conhecimentos trazidos pelos estudantes e o conhecimento histórico sobre os negros existente nos livros didáticos das ocorrências/dados localizados a partir das ênfases e ausências; b) comparação entre as ocorrências/dados localizados, problematizando-os. Por fim, concluir essa etapa com a leitura/debate do trecho do artigo Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento e O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu, indicados abaixo. Sugere-se que a (o) docente a turma, juntos, sistematizem uma conclusão do debate que fique registrada nos cadernos.

“(…) A historiografia que investiga trabalhadores pobres e o movimento operário na República tende a não incluir o componente cor dos indivíduos pesquisados em suas páginas. Essa ausência torna-se ainda maior nas pesquisas voltadas para os séculos XX e XXI, quando a cor dos trabalhadores é frequentemente invisibilizada. No tocante àquelas que exploram as últimas décadas da escravidão e as cinco primeiras décadas republicanas, período abordado neste artigo, o leitor perceberá a ausência da participação do negro em boa parte delas (…) Alguns se defendem culpando as fontes que não trazem a cor dos trabalhadores ou alegando que não conseguiram tempo para “ir atrás”, (…) Reconhecemos as dificuldades enfrentadas em alguns trabalhos, mas, perguntamo-nos, será que dialogamos com colegas da escravidão e do pós-abolição para buscarmos outras fontes e ferramentas teóricas e metodológicas sensíveis à participação da experiência de negros e negras na formação do mundo do trabalho e do próprio movimento operário (…) ? (…)  Essa ausência leva-nos à reafirmação da história única, marcada pela superioridade cultural e racial dos imigrantes que se avolumaram no Sudeste e Sul do país no fim da escravidão. Retira-nos o conhecimento de uma sociedade cuja diversidade racial era imensa, reduzindo-a à branquidade e à mestiçagem (Sovik, 2004: 376), estando a primeira nos melhores ofícios e posições e a segunda nos limites da pobreza e da sujeição. Impede-nos, ainda, a compreensão dos males provocados pelo racismo para a sobrevivência e ascensão socioeconômica da população negra e indígena do século XIX até os dias atuais. (…) Por que todas essas histórias são importantes nos dias de hoje? Na prova do vestibular da Unicamp de 2001, uma questão causou grande embaraço aos avaliadores: “O que aconteceu com o negro depois da escravidão”. As respostas descreviam os negros como seres patológicos frente a uma sociedade branca, asséptica e superior. Diziam que as negras prostituíram-se, os homens tornaram-se vagabundos, bêbados, presidiários e favelados, por terem sido coisificados na escravidão e, por isso, se terem tornado incapazes de se integrar à sociedade de classes (Nascimento, 2005). A culpa e a anormalidade, que os levara às margens da sociedade, recaíam uma vez mais sobre os próprios negros.

Bom, se prostituir-se foi uma necessidade para negros e negras brasileiras, se roubaram, mendigaram e tiveram de construir telhados de zinco, eles e elas não estavam sozinhos na história. Não são poucos os exemplos na trajetória da humanidade que apresentam grupos, independentemente da sua cor, sem direitos a privilégios ou a uma refeição diária, que se viram forçados a isso (Geremek, 1995; Goldman, 2014; Guy, 1991; Bresciani, 1994). Entendo a maior parte destas ações como formas de sobrevivência para abocanhar o que lhes foi usurpado enquanto direitos, mesmo quando infelizmente a violência foi usada. (…) Não há como negar que a maior parte dos negros(as) foi “bem-comportada”: trabalhou duro, foi explorada, humilhada em charges de jornais, classificada com os mais torpes xingamentos, estudou em escolas mequetrefes, viu sua ingenuidade expirar-se ainda na infância, sofreu algum tipo de assédio sexual, teve seus punhos atados pelas algemas da polícia, (…), perdeu entes queridos por um péssimo diagnóstico médico, foi preterida no emprego. Mas esta população negra também rodava no santo nos terreiros, desfilava seu carnaval, ia à coroação dos Reis do Congo, sambava como um mestre sala dos mares, lutava por um pedaço de terra, trabalhava nas fábricas e indústrias do Mundo do Trabalho”.
Fonte: https://www.scielo.br/j/eh/a/vBTQbYFXtqwMXCHR6sfsN7Q/?lang=pt

“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma história não contada do racismo e das lutas antirracistas –   tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida, sobre um único destino para os libertos:  “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização. 

Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.

De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República, o “povo” e a população negra, sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos, teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas. 

[Há] indicadores de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas – muito menos esquecidas no pós-abolição.  Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais, mobilizações eleitorais e sindicais, batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”
Fonte: https://conversadehistoriadoras.com/2020/09/06/por-uma-outra-historia-do-brasil-a-aula-5-esta-no-blog/

Etapa 2

Resumo e pontos-chave da etapa
A partir da leitura/análise de dois documentos – um discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre uma manifestação contra a sua exclusão da Câmara dos Deputados em 1909 – conhecer outros lugares/espaços políticos ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República; conhecer quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros.

Professor(a), a partir da leitura/análise de dois documentos: o discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre a manifestação contra a exclusão de Monteiro Lopes da Câmara dos Deputados em 1909, oriente os estudantes a refletirem, conhecerem e problematizarem outros lugares/espaços ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República: a política e o parlamento. Assim, os estudantes estarão conhecendo quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros quebrando alguns estereótipos.

Professor(a), a proposta para esse momento é propor uma leitura, contextualização e análise do discurso do advogado e deputado negro Monteiro Lopes feito no dia 13 de maio de 1902 e a notícia da mobilização realizada por trabalhadores negros contra a exclusão desse político da Câmara federal de deputados em 1909. Ambos os documentos foram publicados em jornais na Cidade do Rio de Janeiro. O documento poderá ser projetado para uma leitura coletiva da turma ou reproduzido para os grupos de estudantes.

Professor(a), retome com os estudantes os procedimentos de pesquisa e tratamento da informação característicos do trabalho das (dos) historiadoras(res), como responder às perguntas: “Quando? Onde? Quem? Como? Por que?”. Sinalize que é preciso estar atento para os marcadores raciais que aparecem nos documentos indicados. Lembre-se que o objetivo dessa análise é levar os estudantes a identificar que parte da população negra, especialmente trabalhadores negros, não estavam alheios à política, inclusive em sua dimensão formal, e tinham suas próprias estratégias de atuação e projetos de poder, como o contato e a mobilização de uma rede de associações negras no Rio de Janeiro e pelo Brasil; pressões públicas a políticos; a denúncia pública da discriminação racial; a ocupação de espaços no parlamento, na imprensa, nas ruas e em associações operárias, com comícios e meetings; a reivindicação da ampliação de direitos políticos e sociais, bem como, da igualdade civil de fato e não somente na letra da lei. Ao término dessa etapa, será necessário que o(a) docente sistematize as respostas e conclusões no quadro para que os estudantes anotem no caderno.

“O ilustre advogado negro vem hoje, como em todos os aniversários do 13 de maio, abrir o coração entre seus irmãos.

“Nem tudo está feito, apezar da grandeza da data, em cuja commemoração se associam todas as raças do Brasil.

A escravidão acabou; a tempestade passou é certo, mas ao captiveiro sobreviveu o preconceito de côr, que a ressaca da escravidão (Prolongados aplausos).

Para essa nova companhia, concita as dedicações que se immortalisaram na campanha abolicionista e principalmente do general do 13 de maio, José do Patrocínio. É preciso acabar de dissipar de todo a treva, em que a sociedade tacteia, a noite do preconceito, que não deixa ver a pureza o clarão de fraternidade que a 13 de maio anunciou.

À raça negra não foi restituído integralmente o direito que ella tem à vida social: o preconceito ahi está ainda a fechar-lhe o caminho da igualdade.

O que faz com que não se sinta o mal que opprime ainda a raça sofredora é essa força a que se referiu sr. Sabino Junior; seu amigo e companheiro, desde o tempo da Republica de estudantes negros de Recife; a resignação.

Seja com essa arma, seja pela fria conquista do direito o que é preciso é impedir que o preconceito rasgue a página gloriosa do 13 de maio, realisando sobre os espíritos as torturas que a escravidão já não póde exercer sobre a matéria”. Após a aclamação, é dada a palavra ao eminente sr. Dr. Vieira Fazenda.”
Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (clique p/acessar)

Etapa 3

Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento sobre contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com suas estratégias e contradições; d) Identificar as formas como o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.

Professor(a), a proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento do contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com duas estratégias e contradições; d) Identificar de formas o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.

Dividir a turma em quatro grupos para que, com o auxílio da (o) docente, pesquise as respostas para as seguintes questões:

1) Quem foi Monteiro Lopes?
2) Quem/qual era a sua base de sustentação política que o fez um “líder da raça negra” na Primeira República?
3) De que formas se organizaram e se mobilizaram?
4) Quais foram a suas experiências com o racismo e com a discriminação racial? As respostas devem ser apresentadas por cada grupo oralmente com debate e conclusões direcionados pela (o) docente e registradas no quadro dialogado. Essa atividade também pode ser indicada como “para casa” na aula anterior, caso o(a) docente tenha essa possibilidade. Nesse caso, a “atividade 1” será a apresentação pelos grupos de suas investigações históricas.

Sugere-se que, caso a turma tenha dificuldade, o(a) docente indique as partes específicas do livro para cada grupo, de modo a agilizar o trabalho de pesquisa.

Fonte: Revista O malho, Rio de Janeiro, 25/07/1903. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Fonte: Revista Careta, Rio de Janeiro, 10/04/1909. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Após as leituras, pesquisas e debate anteriores, é essencial o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos sobre o contexto do pós-abolição brasileiro. Sugere-se a leitura conjunta e o debate dos textos indicados abaixo. Professor(a), selecione trechos dos textos em acordo com os níveis de dificuldade compatíveis com a turma ou mesmo, se for mais adequado ao seu “contexto de sala de aula”, de fazer uma exposição-sistemática ou mapa mental das pesquisas/argumentos de cada artigo. Destaca-se a necessidade de problematização das seguintes questões:

a) O papel das eleições e da participação política de trabalhadores, especialmente negros, na Primeira República e não só no Rio de Janeiro, como o caso da eleição de Monteiro Lopes demonstra;
b) Como ocorreu o processo de crescente racialização simultaneamente ao fim da escravidão no Brasil e sua historicidade;
c) As variadas formas de protagonismo negro na Primeira República.

1) Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil (introdução), de Gabriele Sampaio e Marcelo Balaban, p. 7 a 15 (clique p/acessar)
2) Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas, de Carolina Dantas, p. 141 a 152 (clique p/acessar)
3) A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação, de Angela de Castro Gomes e Martha Abreu (clique p/acessar)
4) À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República, de Felipe Souza e Aldrin Castellucci (clique p/acessar)

Etapa 4

Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1 e consolidar/sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos (e não históricos) identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um “vídeo-debate” e da exposição pela (o) docente de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.

A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1, consolidar e sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos e não históricos, identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um vídeo-debate e da exposição pelo professor(a) de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.

Assistir coletivamente os trechos dos documentários indicados abaixo com o objetivo de provocar os(as) estudantes para o debate sobre os sentidos e experiências da liberdade para a população negra e dos silêncios historiográficos acerca da sua presença e participação política da população na Primeira República, especialmente dos sujeitos em tela nas atividades anteriores. Após assistir e promover o debate, priorizando a produção de um ambiente seguro e de uma escuta atenta dos estudantes, já que estamos tratando de um “tema sensível” (ver indicações de leitura para a (o) docente nas referências bibliográficas). Indica-se também a necessidade do(a) docente fazer breves exposições de conceitos como Racismo, Preconceito Racial, Discriminação Racial e Democracia racial, pontuando com precisão o conteúdo e a historicidade dessas definições, já que são termos/conceitos que certamente apareceram ao longo das atividades e necessitam de embasamento para a consolidação da aprendizagem proposta aqui. Sugere-se para isso o artigo Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão (clique p/acessar), de Nilma Lino Gomes.

O documentário encontra-se disponível no Globoplay (clique p/acessar).

A partir desse momento o professor(a) tem a possibilidade de encerrar essa atividade na Etapa 4 com o vídeo-debate ou prosseguir para a Etapa 5 e fazer uma culminância a partir da preparação realização de uma exposição de minibiografias de personagens históricos negros na escola em integração com a Área de Linguagens (Língua Portuguesa e Literatura).

Etapa 5

Resumo e pontos-chave da etapa
Manuseio por meio de “procedimentos de pesquisa” orientado pela (o) docente do “Banco de informações e imagens de biografias” do “Projeto Personagens do Pós-abolição”; elaboração de critérios para seleção e inclusão de biografados; seleção e pesquisa das biografias a serem expostas; elaboração dos textos/imagens para as minibiografias; montagem da exposição.

Curadoria, elaboração e montagem da Exposição Você me conhece?” – Histórias não contadas da Primeira República: minibiografias de personagens históricos negros.

Professor(a), a partir do banco de informações e imagens disponibilizados no site do Projeto Personagens do Pós-Abolição (clique p/acessar) debata e decida coletivamente com os estudantes quais serão os critérios de inclusão de personagens na Exposição (curadoria) para selecioná-los; nesse momento, oriente que as(os) estudantes sejam divididos em duplas e cada uma delas deverá redigir uma minibiografia em 1ª pessoa (no gênero textual autobiografia), como se fossem o próprio personagem se apresentando ao espectador, buscando produzir um efeito de sentido que responda à pergunta que dará título à Exposição: “Você me conhece?”, pois assim, se poderá induzir o espectador a uma reflexão sobre as possíveis razões que o levam a ignorar a existência daquele personagem e de sua história após anos de escolarização e/ou contato com variadas mídias. Uma imagem do biografado também deverá ser selecionada para estar na minibiografia.

Sugere-se também que a Exposição pode ser elaborada e montada a partir dos recursos disponíveis na Escola: a) em cartazes feitos à mão e com colagem; b) Em papel e impressos a partir do uso de algum aplicativo de edição de texto ou de apresentação de slides; c) em meio digital, a partir da criação de perfil no Instagram, alimentado colaborativamente com as produções dos estudantes. Para a realização das atividades da Etapa 5 sugere-se a integração curricular com professores da Área de Linguagens (Língua Portuguesa, Literatura e Artes. O objetivo da exposição – além de mobilizar habilidades de pesquisa entre os estudantes e problematizar a própria escrita da “História do Brasil” – é também oportunizar, no espaço escolar, a apreciação de outras visualidades sobre os corpos negros (inclusive de trabalhadores negros) diferentes daquela já tão consolidada e que coloca em foco somente os castigos físicos do tempo do cativeiro

Bibliografia e Material de apoio:

ABREU, Martha; DANTAS, Carolina. Monteiro Lopes e Eduardo das Neves: histórias não contadas da Primeira República. Niterói: Eduff, 2020.

BANCO DE IMAGENS SOBRE BIOGRAFIAS NEGRAS NO PÓS-ABOLIÇÃO. Projeto personagens do pós-abolição, disponível em https://personagensdoposabolicao.uff.br/

DANTAS, Carolina. Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas. Cadernos PENESB, Niterói, n. 12, 2010, p. 141-152.

GOMES, Angela de Castro; ABREU, Martha. A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação. Revista Tempo, Niterói, Volume 13,  Nº 26, 2009, p.  1 – 14

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Disponível em https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-debate-sobre-Rela%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-discuss%C3%A3o.pdf

____. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan./Abr. 2012.

MATTOS, Hebe. A vida política. IN: SCHWARCZ, Lilia -M. (coord.) A abertura para o mundo 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 85-131

NASCIMENTO, Álvaro P. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 29, no 59, p. 607-626, setembro-dezembro-2016.

PEREIRA, Nilton M., & SEFFNER, Fernando. Ensino de História: passados vivos e educação em questões sensíveis. Revista História Hoje, volume 7, n. 13, 2018, p.14–33.

SAMPAIO, Gabriela dos R; LIMA, Ivana S.; BALABAN, Marcelo. (Orgs.). O Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2019.

SOUZA, Felipe A. e S.; CASTELLUCCI, Aldrin A. S. À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 35, nº 75, p. 6-25, Janeiro-Abril 2022


Créditos da imagem de capa: Quadros eleitorais, O malho, Rio de Janeiro, 13/03/1909. Hemeroteca Digital da Biblioteca Digital (clique p/acessar)


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura | EP04 CSN



A CSN apoiou a Ditadura (1964-1985). A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi criada em 1941 como parte fundamental do projeto nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas. A tradição de controle militar da fábrica e da cidade de Volta Redonda teve continuidade e encontrou ápice na Ditadura. Além da precarização das condições de trabalho, pressionadas tanto pela política econômica da Ditadura quanto pelo desrespeito às leis trabalhistas no ambiente fabril, o caso da CSN também desvela uma outra perversidade da Ditadura: aponta como o racismo era institucionalizado no interior da empresa, uma forma específica de violação dos direitos dos trabalhadores.

Esse caso é tema do último episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura.

O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesse o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema.

Ficha técnica:

Projeto e execução: Alejandra Estevez, Bruno Cecílio, Deivison Amaral, Larissa Farias, Thompson Climaco | Roteiro: Deivison Amaral | Revisão de Roteiro: Alejandra Esteves | Edição: Thompson Clímaco | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista com Leonardo Angelo: Alejandra Esteves, Deivison Amaral e Larissa Farias | Entrevista com trabalhadores atingidos: Leonardo Angelo

Equipe responsável pela pesquisa sobre a CSN:

Alejandra Estevez | Ana Paula Poll | Leonardo  Angelo | Rafaella Bettamio |  Raphael J. Lima | Raphaela Alves Lopes | Richard Martins |  Bruno Cecílio | Eliege Domingues | Gisele Costa | Helbson de Ávila |  Luís Felipe Silva |  Stella Mendes Reis  |  Thompson Clímaco Alves |  Leonardo Cecílio |  Iohana Viana Araújo |  Ismael Rodrigues dos Santos |  Maria Luiza Rezende Bonamim |  Mariana Alves |  Miguel Tarnapolsky |  Natália Oliveira | Nina Rosa Soares |  Sabrina Pontes

LMT Especial: Publicação do livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”


Para celebrar o Primeiro de Maio, o LEHMT/UFRJ tem a satisfação de anunciar a publicação do livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”. Publicado pela Editora Alameda em parceria com a Fundação Perseu Abramo e apoio do PPGHIS/UFRJ, a obra é organizada por Paulo Fontes, professor do Instituto de História da UFRJ, e reúne 100 artigos curtos escritos por renomados/as especialistas. As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Baseado na série de mesmo nome do portal lehmt.org, esse livro procura justamente dar visibilidade para essa geografia social, ao estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Os textos contam a história de lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que marcaram a história do trabalho no Brasil.
Pré-venda disponível pelo site da Editora Alameda (https://www.alamedaeditorial.com.br/) e pelo email (vendas@alamedaeditorial.com.br).
Em breve, mais detalhes sobre lançamentos presenciais do livro no Rio, em São Paulo e outras cidades.
Para acessar o índice do livro Lugares de Memória dos Trabalhadores, veja:


Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Os trabalhadores e o golpe – Ep. 5: Heliene Nagasava (Arquivo Nacional): O Ministério do Trabalho e o golpe militar

Nestes 60 anos do golpe de 1964, o portal do LEHMT/UFRJ convida à reflexão sobre o lugar dos mundos do trabalho neste evento decisivo para a história brasileira. Toda segunda-feira de abril, publicamos um episódio com entrevistas de historiadores/as abordando diferentes aspectos da relação entre os trabalhadores e o golpe.

No quinto e último episódio da série, Heliene Nagasava (Arquivo Nacional) fala sobre o fundamental papel do Ministério do Trabalho na conjuntura do golpe de 1964. Comenta também sobre a repressão aos trabalhadores nos primeiros instantes da ditadura, sobre as intervenções sindicais e as políticas trabalhistas do novo regime.

Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura | EP03 Josapar



A Josapar apoiou a Ditadura (1964-1985). A Josapar é uma empresa de produtos alimentícios com sede no Rio Grande do Sul. Durante a Ditadura, a Josapar começou a investir em terras em outras regiões do país, incluindo o estado do Pará, onde violentos conflitos com trabalhadores rurais ocorreram. Juntas, empresa e Ditadura, trabalharam para acentuar a concentração fundiária no país e aumentar a exploração  dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.

Esse caso é tema do terceiro episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura.

O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesse o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema. 

Ficha técnica:

Projeto e execução: Alejandra Estevez, Bruno Cecílio, Deivison Amaral, Larissa Farias, Thompson Climaco | Roteiro: Deivison Amaral | Revisão de Roteiro: Alejandra Esteves | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista com Alessandra Gasparotto: Alejandra Esteves e Deivison Amaral | Entrevista com trabalhadores atingidos: Alessandra Gasparotto

Equipe responsável pela pesquisa sobre a Josapar:

Alessandra Gasparotto | Airton dos Reis Pereira | Alex Monteiro Rodrigues |  Barbara de La Rosa Elia | Eduardo Fernandes de Araújo | Elisandra de Araújo Galvão | Fabricio Teló | Gabriel Pereira da Silva Teixeira | Gilney Amorim Viana | Graciela Bonassa Garcia |Halyme Franco Antunes | José Carlos Moreira Filho | José Ribamar Lira Oliveira | Leonilde Servolo Medeiros |  Letícia Lopes Felix | Paulo Roberto Ferreira | Regina Coelly Fernandes Saraiva | Renato Della Vechia | Ricardo José Braga Amaral de Brito | Sérgio Sauer | Venize Nazaré Ramos Rodrigues

Crédito da música: Hidden by Piotr Hummel. Free Music Archive and license CC BY-ND.

Contribuição Especial #33: O 25 de Abril de 1974, uma revolução com cravos vermelhos – Elísio Estanque



Se me perguntarem se o 25 de Abril de 1974 foi um golpe de estado ou uma revolução, respondo: depende, se você considera apenas a data, foi um golpe militar que destituiu o governo e pôs fim ao regime do Estado Novo de António Salazar e Marcelo Caetano; se você pretende entender as mudanças socioeconômicas mais profundas que ele desencadeou, considero que foi uma Revolução, política, social e cultural.

Portugal viveu durante 48 anos (1926-1974) sob um regime autoritário, imperial, conservador e repressivo, desde os anos 1960 com larga parte do orçamento do Estado (acima dos 20%) a ser gasto em despesas militares numa guerra colonial que, nas suas várias frentes (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau) tirou a vida a cerca de 10.000 soldados portugueses e onde, no conjunto morreram mais de 48.000 vítimas, incluindo civis. O país apresentava no início da década de 1970 elevadíssimos índices de pobreza (30%) e analfabetismo (25,7%), percentuais que eram variáveis em função da dimensão do agregado familiar, do gênero e da região geográfica (litoral ou interior).

Por um lado, para fugir da miséria, por outro para fugir das guerras em África, largos milhares de portugueses emigraram na década anterior, em especial para países europeus (França, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, etc.). O Movimento das Forças Armadas (MFA) programou e organizou o golpe, visando essencialmente pôr fim a uma guerra colonial que todo o mundo já tinha percebido que não teria solução militar, pelo que era necessário negociar a independência com os movimentos da guerrilha (MPLA, Frelimo, PAIGC). O então comandante militar da Guiné, general António de Spínola – que viria a ser o 1º Presidente da República após a revolução – havia publicado no início de 1974 o seu livro «Portugal e o Futuro» que apontava para uma solução negociada, e terá inspirado o movimento, mas sabe-se que um ano antes terá permitido o assassinato de Amílcar Cabral, líder do PAIGC (cometido à traição por ex-camaradas seus, no dia 20 de janeiro de1973). Os mentores do MFA foram sobretudo capitães milicianos, ainda jovens, que protagonizaram as ações militares do dia 25 de abril de1974, muitos deles tinham sido ativistas estudantis na universidade, expulsos pelo regime na sequência de protestos, em especial após a “crise acadêmica” de 1969, em Coimbra. A contestação dos estudantes, exigindo liberdade de ensino, democracia na universidade e o fim da guerra colonial deu lugar a uma greve aos exames que suscitou uma violenta resposta policial, com repressão, prisão e mobilização militar compulsiva dos principais ativistas. A ditadura, além de autoritária e violenta, era estúpida, pois ao disseminar pelos quartéis os líderes rebeldes da Universidade, permitiu contaminar muitos outros oficiais com o vírus da democracia.

25 de abril de 1974 nas ruas de Lisboa. Fto Iamago/Zuma/Keystone

O conhecido lema segundo o qual as revoluções começam num beco sem saída, aplica-se ao caso português. O regime anacrônico, a guerra, a crise estavam num beco sem saída em 1974. Naquela madrugada, com início às 0:00 horas exatas, passou na rádio a primeira “senha” combinada pelos líderes do MFA, a canção “Grândola, Vila Morena”, cantada por Zeca Afonso, mensagem que sinalizou o arranque das operações militares, conforme combinado; e três horas mais tarde uma outra canção popular, «E Depois do Adeus» na voz de Paulo de Carvalho,  seria o segundo sinal a confirmar o sucesso das operações com as colunas militares de várias origens a caminho de Lisboa para o assalto final ao Estado Novo. O comando operacional mais geral foi coordenado por Otelo Saraiva de Carvalho enquanto a unidade militar dirigida a neutralizar as forças do governo (a GNR), partiu da cidade de Santarém e foi comandada pelo capitão Salgueiro Maia (considerado o herói da Revolução, mas que sempre recusou protagonismo mediático) até ao Terreiro do Paço onde se encontrou e conseguiu que se rendessem as últimas forças do regime. Ao mesmo tempo, a escassas centenas de metros, ocorria o cerco ao Quartel do Carmo junto ao Bairro Alto (centro de Lisboa) onde se haviam refugiado o presidente e o Primeiro Ministro do governo deposto, que saíram sob proteção após a rendição.

A verdadeira revolução começou exatamente nessa manhã, quando as vendedoras de flores nas ruas da baixa começaram a oferecer cravos aos militares, já em celebração em cima dos carros de combate. Com as flores vermelhas a ornamentar aquele arsenal, crianças e jovens desobedeceram às regras e começaram a saltar para cima dos chaimites (carros de combate) ocupando toda a cobertura e desencadeando um entusiasmo contagiante que arrebatou toda a sociedade, num clamor de liberdade, de norte a sul do país. O momento apoteótico de celebração da liberdade ocorreu uma semana mais tarde, no dia 1º de Maio de 1974, uma data simbólica até então demonizada e cuja celebração era violentamente reprimida.

Recuando na história, vale lembrar que importantes lutas, ações grevistas e diversas formas de resistência ocorreram ao longo de todo o período do Estado Novo, a primeira delas foi a Greve Geral dinamizada pelos operários vidreiros da Marinha Grande, de 1934, envolvendo diversos tipos de ações incluindo uma tentativa (falhada) de assassinato de Salazar. Mas também durante o período da II Guerra Mundial onde ocorreu um significativo ciclo grevista, principalmente na região centro do país (indústrias têxteis, lanifícios e também do calçado). Já na fase crespuscular do velho regime diversas greves, desde o setor bancário às lutas sindicais na região industrial de Lisboa e Setúbal, deixavam antever o potencial do movimento operário. Na indústria naval (estaleiros da Lisnave e Setenave) diversas ações e paralisações vinham ocorrendo desde o ano anterior, embora com resultados insignificantes.

No próprio dia do golpe militar os trabalhadores da Lisnave viveram intensamente os acontecimentos através da rádio, como de resto aconteceu no país inteiro (nas fábricas, nos campos e nos quartéis), e dois dias depois enviaram até uma nota de saudação à Junta de Salvação Nacional e ao MFA. A partir do momento em que os acontecimentos de 25 de abril iam sendo divulgados pela TV, rádios e jornais, quando se percebeu que havia sido derrubada a ditadura, explodiu nas ruas e praças um clima de excitação febril, e de imediato as figuras conotadas com o salazarismo (patrões, dirigentes, polícia política, a célebre PIDE, etc.) tornaram-se alvos da fúria popular. Muitos foram obrigados a fugir, outros foram presos e entregues ao MFA. Logo no calor dos acontecimentos as assembleias de trabalhadores multiplicaram-se em diversos setores e as associações sindicais transcenderam as reivindicações materiais para priorizar objetivos organizativos, tornando-se alvo de disputas partidárias. Reuniões amplas e altamente participadas trataram de extinguir estruturas corporativas ligadas ao passado, abrindo espaço a um sindicalismo agora livre e que naquela conjuntura, apesar do esforço organizativo, foi levado por arrasto no caudal das dinâmicas de base, paralisações, protestos espontâneos, manifestações de rua e, pouco depois, ocupação de fábricas. A linguagem de classe revestiu-se rapidamente das cores marxistas e a politização começou a generalizar-se. Primeiro, o combate aos símbolos do fascismo foi o principal motivo das mobilizações populares que se seguiram ao 25 de Abril, conseguindo barrar as várias tentativas de retrocesso (como o golpe falhado de 28 de setembro de 1974) criando uma dinâmica popular que suplantou as próprias organizações partidárias, inclusive as mais enraizadas no mundo operário, como o Partido Comunista Português. O chamado PREC – Processo Revolucionário Em Curso, que se seguiu ao 11 de março de 1975 (mais um golpe neutralizado que abriu caminho às nacionalizações) com os governos provisórios, de hegemonia comunista (liderados pelo general Vasco Gonçalves) foi o climax dessa efervescência político-ideológica, cavando profundas divisões quer no seio do MFA, quer no conjunto do país. Esse processo culminou com uma outra data marcante, o 25 de Novembro de 1975, ainda hoje foco de inúmeras polêmicas. Para uns, foi a viragem que recolocou o país na senda da democracia, barrando o projeto comunista pró-soviético; para outros, os setores mais engajados na militância de esquerda, foi o fim da Revolução. Mas o espírito de Abril permanece, 50 anos depois. Viva a Revolução dos Cravos!!

Primeiro de Maio de 1974, a maior manifestação popular da história de Portugal. Acervo Jornal de Notícias


PARA SABER MAIS:

Léonard, Yves. Breve História do 25 de Abril. Lisboa: Ed. 70, 2024;

Pimentel, Irene Flunser. Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975. Lisboa: Temas&Debates, 2024.

Rosas, Fernando. Ensaios de Abril. Lisboa: Tinta da China, 2023.

Vários Autores. 25 de Abril, roteiro da revolução. Lisboa: Parsifal, 2017.


Crédito da imagem de capa: Povo comemora com soldados nas ruas de Lisboa a queda da ditadura no dia 25 de abril. Nas mãos, os cravos que simbolizariam a Revolução. Acervo El País.

Livros de Classe #40: Que a União Operária Seja Nossa Pátria!, de Silvia Petersen, por Isabel Bilhão

Neste episódio de Livros de Classe, Isabel Bilhão, professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), apresenta o livro “Que a União Operária Seja Nossa Pátria! História das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações”, de Silvia Petersen. Publicada em 2001, a obra logo se tornou uma referência na bibliografia sobre o movimento operário na Primeira República ao analisar a organização dos trabalhadores gaúchos entre o final do século XIX e a década de 1920, destacando a importância das associações beneficentes e a influência anarquista e socialista.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares e Paulo Fontes.

EDITAL DE SELEÇÃO DE BOLSISTA DE PÓS-DOUTORADO


O projeto “Desindustrialização e história social: a construção de um campo de pesquisa (Brasil e Alemanha)”, do Programa PROBRAL da CAPES/DAAD abre processo seletivo para a concessão de uma bolsa de pós-doutorado para estágio de pesquisa na Universidade do Ruhr- Bochum, Alemanha. Os/as candidatos/as deverão ter obtido o título de doutor/a há menos de 8 (oito) anos. As inscrições para seleção deverão ser feitas até o dia 10 de maio.

Os trabalhadores e o golpe – Ep. 4: Larissa Corrêa (PUC-Rio): O sindicalismo estadunidense e o golpe no Brasil


Nestes 60 anos do golpe de 1964, o portal do LEHMT/UFRJ convida à reflexão sobre o lugar dos mundos do trabalho neste evento decisivo para a história brasileira. Toda segunda-feira de abril, publicamos um episódio com entrevistas de historiadores/as abordando diferentes aspectos da relação entre os trabalhadores e o golpe.

No quarto episódio da série especial “Os trabalhadores e o golpe”, Larissa Corrêa (PUC-Rio) fala sobre o importante papel do sindicalismo estadunidense na conjuntura do golpe de 1964. Analisa também as relações entre Brasil e Estados Unidos no contexto da política que ficou conhecida como Aliança para o Progresso. Por fim, faz um balanço do lugar dos trabalhadores/as e suas organizações na historiografia sobre a ditadura militar.