Etapa 1
Resumo e pontos-chave da etapa
Levantamento da bagagem de conhecimento dos estudantes; pesquisa em livros didáticos de História; comparação entre os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de artigos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”.
Professor(a), nessa primeira etapa, vamos fazer o levantamento da bagagem de conhecimento da turma, propor uma pesquisa em livros didáticos de História e comparar os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de textos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”. Assim, a proposta para esse momento é a (o) docente verificar a bagagem de conhecimento da turma sobre as seguintes questões:
Atividade 1
Solicite aos estudantes que reflitam e respondam oralmente as questões abaixo para que o professor(a) sistematize no quadro dialogado as respostas. Em seguida os estudantes podem reproduzir as respostas do quadro em seu caderno.
a. “O que aconteceu com os negros após a abolição da escravização em 1888? Para onde os negros foram? O que fizeram?”.
Atividade 2
A proposta para esse momento é que os estudantes se reuniram em grupos de quatro e pesquisem em livros didáticos de História (material didático de História em uso pela turma) as respostas às questões anteriores e registrem como a história dos negros é contada no livro (ou seja, quando e como aparecem nos livros didáticos de história).
Professor(a), as pesquisas consolidadas sobre livros didáticos de história indicam que os negros aparecerão majoritariamente como escravizados e após a abolição desaparecem da história contada. Alguns materiais didáticos trazem boxes com personagens, em geral, como exceções ou deslocados da sua historicidade. Nesse momento a(o) docente também pode recuperar alguns conhecimentos prévios dos estudantes necessários à investigação/pesquisa em História, tais como fontes e sujeitos históricos, procedimentos de investigação;
Atividade 3
A proposta para esse momento é que a(o) docente direcione e oriente os estudantes: a) sistematização dos conhecimentos trazidos pelos estudantes e o conhecimento histórico sobre os negros existente nos livros didáticos das ocorrências/dados localizados a partir das ênfases e ausências; b) comparação entre as ocorrências/dados localizados, problematizando-os. Por fim, concluir essa etapa com a leitura/debate do trecho do artigo Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento e O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu, indicados abaixo. Sugere-se que a (o) docente a turma, juntos, sistematizem uma conclusão do debate que fique registrada nos cadernos.
Trecho 01 – Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento
“(…) A historiografia que investiga trabalhadores pobres e o movimento operário na República tende a não incluir o componente cor dos indivíduos pesquisados em suas páginas. Essa ausência torna-se ainda maior nas pesquisas voltadas para os séculos XX e XXI, quando a cor dos trabalhadores é frequentemente invisibilizada. No tocante àquelas que exploram as últimas décadas da escravidão e as cinco primeiras décadas republicanas, período abordado neste artigo, o leitor perceberá a ausência da participação do negro em boa parte delas (…) Alguns se defendem culpando as fontes que não trazem a cor dos trabalhadores ou alegando que não conseguiram tempo para “ir atrás”, (…) Reconhecemos as dificuldades enfrentadas em alguns trabalhos, mas, perguntamo-nos, será que dialogamos com colegas da escravidão e do pós-abolição para buscarmos outras fontes e ferramentas teóricas e metodológicas sensíveis à participação da experiência de negros e negras na formação do mundo do trabalho e do próprio movimento operário (…) ? (…) Essa ausência leva-nos à reafirmação da história única, marcada pela superioridade cultural e racial dos imigrantes que se avolumaram no Sudeste e Sul do país no fim da escravidão. Retira-nos o conhecimento de uma sociedade cuja diversidade racial era imensa, reduzindo-a à branquidade e à mestiçagem (Sovik, 2004: 376), estando a primeira nos melhores ofícios e posições e a segunda nos limites da pobreza e da sujeição. Impede-nos, ainda, a compreensão dos males provocados pelo racismo para a sobrevivência e ascensão socioeconômica da população negra e indígena do século XIX até os dias atuais. (…) Por que todas essas histórias são importantes nos dias de hoje? Na prova do vestibular da Unicamp de 2001, uma questão causou grande embaraço aos avaliadores: “O que aconteceu com o negro depois da escravidão”. As respostas descreviam os negros como seres patológicos frente a uma sociedade branca, asséptica e superior. Diziam que as negras prostituíram-se, os homens tornaram-se vagabundos, bêbados, presidiários e favelados, por terem sido coisificados na escravidão e, por isso, se terem tornado incapazes de se integrar à sociedade de classes (Nascimento, 2005). A culpa e a anormalidade, que os levara às margens da sociedade, recaíam uma vez mais sobre os próprios negros.
Bom, se prostituir-se foi uma necessidade para negros e negras brasileiras, se roubaram, mendigaram e tiveram de construir telhados de zinco, eles e elas não estavam sozinhos na história. Não são poucos os exemplos na trajetória da humanidade que apresentam grupos, independentemente da sua cor, sem direitos a privilégios ou a uma refeição diária, que se viram forçados a isso (Geremek, 1995; Goldman, 2014; Guy, 1991; Bresciani, 1994). Entendo a maior parte destas ações como formas de sobrevivência para abocanhar o que lhes foi usurpado enquanto direitos, mesmo quando infelizmente a violência foi usada. (…) Não há como negar que a maior parte dos negros(as) foi “bem-comportada”: trabalhou duro, foi explorada, humilhada em charges de jornais, classificada com os mais torpes xingamentos, estudou em escolas mequetrefes, viu sua ingenuidade expirar-se ainda na infância, sofreu algum tipo de assédio sexual, teve seus punhos atados pelas algemas da polícia, (…), perdeu entes queridos por um péssimo diagnóstico médico, foi preterida no emprego. Mas esta população negra também rodava no santo nos terreiros, desfilava seu carnaval, ia à coroação dos Reis do Congo, sambava como um mestre sala dos mares, lutava por um pedaço de terra, trabalhava nas fábricas e indústrias do Mundo do Trabalho”.
Fonte: https://www.scielo.br/j/eh/a/vBTQbYFXtqwMXCHR6sfsN7Q/?lang=pt
Trecho 02 – O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu
“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma história não contada do racismo e das lutas antirracistas – tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida, sobre um único destino para os libertos: “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização.
Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.
De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República, o “povo” e a população negra, sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos, teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas.
[Há] indicadores de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas – muito menos esquecidas no pós-abolição. Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais, mobilizações eleitorais e sindicais, batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”
Fonte: https://conversadehistoriadoras.com/2020/09/06/por-uma-outra-historia-do-brasil-a-aula-5-esta-no-blog/