É com grande satisfação que Luciana Pucu Wollmann, coordenadora do Chão de Escola, seção do Lehmt-UFRJ, convida a todos e todas para a cerimônia de lançamento do seu livro “Niterói Operária: trabalhadores (as), política e lutas sociais (1942-1964)”. A publicação é resultado do Concurso de Monografias – Prêmio APERJ 2021.
O lançamento integra a programação de 93 anos do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). Quem desejar participar do evento, deve se inscrever no link: www.93aperj.com
Na décima segunda edição da série “Vale a Dica”, João Christovão, doutor em História Social e pesquisador do LEHMT/UFRJ, indica o espetáculo teatral SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins. SAL é um espetáculo teatral que aborda a decadência das salinas fluminenses na segunda metade do século XX e os dramas e lutas vividos pelos trabalhadores do sal daquela região ao longo desse processo. O espetáculo utilizou como uma de suas fontes de pesquisa a tese de doutorado “Trabalhadores do Sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabofrienses – 1940/1974”, de autoria de João Christovão. Tendo estreado no dia 15 de agosto, o espetáculo ficará em cartaz até o dia 8 de setembro, sempre de quinta a domingo, às 20h30, no teatro SESC-Copacabana, que fica na rua Domingos Ferreira, 160.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio
Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima –
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Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No terceiro episódio, conversamos com Thayara de Lima, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro A cultura de luta antirracista e o movimento negro do […]
Neste episódio, Caio Paião, pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta o livro “Nasci nas matas, nunca tive senhor: história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas”, de Eurípedes Funes. Publicado em 2022, o livro é fruto de sua tese de doutorado, defendida em 1995, e aborda o processo de construção de comunidades mocambeiras, formadas durante o século XIX no Estado do Pará.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Sérgio Carvalho de Lima Mestre em História Social pela Universidade Federal do Amazonas
Quem transita hoje pelo cruzamento das avenidas Sete de Setembro e Castelo Branco, confluência dos bairros de Cachoeirinha e Educandos, na zona sul de Manaus, e observa a permanência de uma parte da antiga Usina de Viação dos bondes, talvez não imagine que, durante muito tempo, funcionou ali um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. O lugar ficou conhecido como a ‘rua do carvão’, nome pelo qual grande parte dos produtores e vendedores de carvão, os carvoeiros, a ele se referiam. Entre as décadas de 1940 e 2010 foi um espaço de sustento para dezenas de famílias.
Pelo menos desde o início do século XX, em virtude da ausência de carvão mineral no Amazonas e das dificuldades de sua importação, o carvão vegetal, juntamente com a lenha, sustentava a cidade como uma das matérias-primas para a geração de energia, tanto nos mais diferentes ramos de atividades, quanto no ambiente doméstico. Isso contribuiu para que uma parcela significativa da população se dedicasse à produção de carvão vegetal nos arredores da cidade e municípios próximos, assim como a comercialização do produto. Escritores e memorialistas, sobretudo das décadas de 1940 e 1950, como Moacir Andrade, Jeferson Peres e Thiago de Melo, destacam em suas obras a atividade carvoeira nas ruas de Manaus. Também mencionam os locais de produção do valioso item, como Tarumã, Estrada do Aleixo, Colônia Campos Sales, àquela época nos arrabaldes da cidade, hoje bairros populosos.
Foi nesse contexto que se constituiu, nas proximidades da antiga Usina de Viação, um dos maiores pontos de comercialização de carvão na cidade. A partir de 1939, a Usina de Viação tornou-se uma Sub-Usina de luz, ficando responsável também pela geração de parte da energia elétrica da cidade e funcionando à base de carvão vegetal e lenha, o que certamente tornou-se um atrativo para muitas pessoas que trabalhavam com a produção e comercialização destes produtos.
Nesta época, o Amazonas viveu um breve momento de euforia econômica, ocorrido com a chamada “Batalha da Borracha” (1943-1945), quando milhares de migrantes foram mobilizados para os seringais amazônicos a fim de produzir borracha para os aliados na Segunda Guerra Mundial.
Com o fim da guerra, em 1945 Manaus passou a receber um intenso fluxo migratório de nordestinos e ribeirinhos em busca de novas alternativas econômicas de sobrevivência, sendo que muitos deles se dedicarão à atividade da carvoaria.
Neste cenário, a área onde funcionava a Sub-Usina revelava-se estratégica para a comercialização do carvão, pois além da demanda pelo produto oriunda da própria usina, havia ainda as necessidades da população dos bairros próximos. Além disso, segundo relatos de antigos trabalhadores, como Wilton Pereira, a proximidade com o Igarapé do Educandos, um curso d’água que se conecta ao Rio Negro, facilitava os negócios com o produto, sobretudo das cargas vindas do interior, geralmente transportadas em canoas e batelões. A opção por aquele local revelava um senso de racionalidade ao mesmo tempo que desmistifica a ideia de que estes trabalhadores seriam movidos por um mero instinto de sobrevivência.
Embora não haja estatísticas específicas, pode-se afirmar que havia muitos trabalhadores envolvidos nessa atividade, haja vista os relatos que mencionam os diversos pontos de produção e comercialização do produto tanto em pontos fixos, quanto ambulantes. Embora a maior parte dos envolvidos nessa atividade fosse composta por homens, não era incomum haver mulheres comercializando carvão. Além disso, muitas crianças acompanhavam seus pais, fabricando ou vendendo o produto. A partir da década de 1970 o carvão vegetal foi perdendo espaço como fonte energética essencial da cidade, mas não deixou de continuar presente no cotidiano urbano.
Em outubro de 2003 a ‘rua do carvão’ foi alvo do Ministério Público do Amazonas que instaurou um inquérito civil cujo foco era exatamente o comércio de carvão realizado no local. A empresa concessionária de energia elétrica, então denominada Manaus Energia, proprietária do prédio da antiga Usina de Viação, acionou o órgão alegando danos ao seu patrimônio e à saúde dos funcionários, ocasionados, segundo a empresa, pela emissão de poeira gerada com o descarregamento e manuseio de carvão na área. A denúncia ocorreu em um contexto de intervenções urbanas promovidas pelo Estado, que visavam sanear os igarapés, suas margens e promover o ‘embelezamento’ dos entornos. Este projeto, implementado no início dos anos 2000, foi denominado Prosamin (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus).
Após sete anos de conflitos e resistência dos trabalhadores da “rua do carvão”, a Prefeitura de Manaus conseguiu retirar os carvoeiros do espaço que por décadas ocuparam. Nos últimos anos, a área que atualmente abriga uma das sedes da empresa Amazonas Energia, foi reurbanizada e qualquer referência à histórica presença e trabalho os carvoeiras foi apagada.
Ao longo de pelo menos sete décadas, os carvoeiros fizeram parte do cotidiano da cidade neste local específico, atendendo às demandas econômicas de moradores e diversos setores da economia manauara. Na sua luta diária por trabalho, moradia e sobrevivência, foram testemunhas de diversas transformações sociais e urbanas ocorridas na cidade, sendo que nesse processo acabaram sendo tragados por elas.
Local onde funcionou a rua do carvão na atualidade. Fonte: Google Maps, 2023.
LIMA, Sérgio Carvalho de. Carvoeiros – trajetória do trabalho e dos trabalhadores carvoaria em Manaus (1945-1967). Dissertação de Mestrado. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2017.
LIMA, Sérgio Carvalho. ‘Não existia emprego e a gente se virava’ A cidade em crise e o trabalho dos carvoeiros e carvoeiras: Manaus (1945-1967). Canoa do Tempo (UFAM), v. 10, p. 153-175, 2018.
Crédito da imagem de capa: Rua do Carvão em Manaus. Fonte: Jornal Amazonas em Tempo (15/06/2004).
MAPA INTERATIVO
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Lugares de Memória dos Trabalhadores
As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.
A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.
Neste episódio de Livros de Classe, Marilane Teixeira, professora do Instituto de Economia da Unicamp, apresenta o livro “A mulher na sociedade de classes: mito e realidade”, de Heleieth Saffioti. Publicada em 1969, a obra é um clássico dos estudos sobre as relações de gênero e os mundos do trabalho.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Na décima primeira edição da série “Vale a Dica”, Isabelle Pires, pós-doutoranda em História Social pelo PPGHIS/UFRJ/CNPq e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica a exposição autoral do SESI Lab “O futuro das profissões”, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes, que está aberta à visitação até o dia 21 de julho na Casa Firjan, no Rio de Janeiro. Essa mostra é uma versão resumida da exposição que ficou no SESI Lab em Brasília. Diferentes formatos como trechos de vídeos, fragmentos de depoimentos de trabalhadores, jogos e um quiz fazem parte da exposição que procura fazer uma reflexão crítica sobre as transformações nos mundos do trabalho e sobre o que podemos esperar das profissões e do trabalho no futuro, tudo de forma lúdica e interativa. Ouça este episódio e fique sabendo um pouco mais sobre essa mostra que é uma boa dica para pensar sobre a história social do trabalho.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio
Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima –
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Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No terceiro episódio, conversamos com Thayara de Lima, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro A cultura de luta antirracista e o movimento negro do […]
Neste episódio de Livros de Classe, José Ricardo Ramalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresenta o livro “Trabalhando para a Ford: trabalhadores e sindicalistas na indústria automobilística”, de Huw Beynon. Publicado originalmente em 1973 e traduzido para o português em 1995, o livro tornou-se imediatamente um clássico da sociologia e da história do trabalho por sua originalidade teórico-metodológica. A obra aponta as estratégias adotadas pelos operários em uma fábrica da Ford em Liverpool, na Inglaterra, nos anos 1960 e evidencia a experiência e organização desses trabalhadores.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
O LEHMT/UFRJ tem o prazer de convidá-los para os lançamentos do livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”. Publicado pela Editora Alameda em parceria com a Fundação Perseu Abramo e apoio do PPGHIS/UFRJ, a obra é organizada por Paulo Fontes, professor do Instituto de História da UFRJ, e reúne 100 artigos curtos escritos por renomados/as especialistas.
As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Baseado na série de mesmo nome do portal lehmt.org, esse livro procura justamente dar visibilidade para essa geografia social, ao estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Os textos contam a história de lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Espaços que demarcaram a história do Brasil.
O lançamento em São Paulo será no sábado, 29 de junho às 15h na Livraria Expressão Popular/Armazém do Campo (Alameda Nothman 806). No Rio o lançamento será na quarta-feira, 10 de julho entre 17h30 e 20h na Livraria Leonardo da Vinci (Av. Rio Branco 185, subsolo 1).
Na décima edição da série “Vale a Dica”, Yasmin Getirana, doutoranda em história internacional pela London School of Economics e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica a série de comédia argentina “Meu querido Zelador” (El Encargado). Lançada em 2022 e disponível no streaming da Star+, a série conta com duas temporadas e tem como protagonista Eliseo, zelador há 30 anos do mesmo prédio em Buenos Aires. Idoso, Eliseo é confrontado com a possibilidade de ser abruptamente despejado e demitido. O motivo, no entanto, não é nenhuma das muitas falcatruas e armações arquitetados ao longo dos anos por Eliseo, mas sim o desejo dos moradores por valorização imobiliária com a construção de uma piscina. Para ouvir o episódio e entender mais porque essa série é uma boa dica para pensar história social do trabalho.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio
Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima –
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Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No terceiro episódio, conversamos com Thayara de Lima, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro A cultura de luta antirracista e o movimento negro do […]
Bárbara Maria Costa e Silva (licenciada em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e mestra pelo Programa de Pós-graduação em História da UFPB)
Apresentação da atividade
Segmento: Ensino Médio
Unidade temática: Trabalhadores rurais, direitos sociais e cidadania na década de 1960.
Objetos de conhecimento: – As noções de cidadania política
– Formas de registro da História e da produção do conhecimento
Objetivos gerais: – Compreender elementos do cotidiano e formas de exploração dos trabalhadores canavieiros antes do período de conquistas sindicais da década de 1960;
– Conhecer as memórias coletivas dos cortadores de cana de açúcar do estado de Pernambuco;
– Identificar as formas de resistência dos trabalhadores, por meio das memórias compartilhadas;
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):
(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
Duração da atividade: 3 aulas de 50 minutos
Aulas
Planejamento
01
Etapa 01
02
Etapa 02
03
Etapa 03 e 4
Conhecimentos prévios: – Processo de expulsão dos trabalhadores rurais de suas moradas no campo, ocorrido por volta dos anos 1950 no Nordeste;
– Conflitos agrários locais gerados pela ausência de leis trabalhistas voltadas para os trabalhadores do campo.
Atividade
Recursos: Projetor, caixa de som, computador, quadro, lápis pincel.
Etapa 1 – Quais as condições em que viviam os trabalhadores canavieiros?
Na primeira aula, leia os trechos das entrevistas abaixo com os estudantes e solicite que respondam as perguntas abaixo. A leitura e a resposta das primeiras duas perguntas podem serem feitas de forma coletiva após a leitura dos trechos.
Os trabalhadores canavieiros Beija-Flor e José Paulo são originários da Zona da Mata pernambucana e foram entrevistados respectivamente nos anos de 2018 e 2019, ambos, no momento da entrevista, já idosos e aposentados, mas ainda bastante atuantes no movimento sindical do Estado de Pernambuco. Os seus relatos foram construídos em torno de suas experiências de vida como cortadores de cana-de-açúcar desde a infância e seu cotidiano de trabalho e militância política. Os trechos apresentados a seguir são recortes de entrevistas extensas e por isso representam apenas uma parte de suas memórias narradas.
Entrevista 1 – Trabalhador rural em Pernambuco fala sobre sua experiência nos anos 1960
“[…] a gente já estava comendo alguma coisa, mas aquilo não era tudo. A gente precisava de mais coisas, e aí eu fui de novo pra cana. Mas aí no sábado eu ia pra Paudalho, da onde eu vim, da cidade de onde eu vim pegar frete. Aí eu levava o balaio de manhã bem cedo, não tinha café, não tinha nada em casa. Quando eu chegava na feira, primeiro lugar que eu ia era onde vendia jaca dura, debaixo dos pés de paus. Aí vinha um pessoal, aí o dono da jaca cortava a jaca, tirava a jaca pra vender, vendia a jaca, os baldes de jaca ao povo, e o mangará que a gente chama mangará, tirava gordo, e jogava no lixo, e eu chegava com o meu balaio. Eu não podia comprar, eu não tinha dinheiro pra comprar pra tomar café, então o meu café era roer o mangará da jaca dura que tava no lixo. Eu não tinha bigode, mas quando eu saía dali, eu ia pro açougue, mercado de carne de charque, de sardinha, mercado de cereal, eu ia pra lá. Aí de lá ninguém dava nada, se você chegasse pedindo alguma coisa levava uma lapada na mão e podia ser capaz de ser preso. Naquele tempo se pedia muito esmola, mais um menino pedindo esmola.”
(…)Aí, até então, quer dizer antes as famílias viviam no campo, num era com duas hectares não, vivia até com dez, era muita terra, mas com a valorização do açúcar e do álcool, a criação do IAA [Instituto do Açúcar e do Álcool], os patrões se ambiciaram muito mais e começaram a tomar as terras dos trabalhadores e plantar cana. Porque antes era uma categoria que até chamava de fornecedores. Plantava cana e fornecia para o engenho ou para a usina e tinha a área pra plantar a lavoura de subsistência que não era pequena, era grande, mas foi se acabando. A mão de obra que era como se fosse a agricultura familiar hoje passou a ser assalariada. Assalariada não, escrava. Porque não tinha salário, eles era quem dizia o quanto ia pagar e combinava com os outros, fechava o circo. O trabalhador ali, morrendo ou chorando, era aquilo mesmo.” Entrevista de Beija-Flor, trabalhador rural, canavieiro narrando sua experiência de vida nos anos 1960 apud SILVA, 2022, p. 5, 10 – 11
Entrevista 2 – Trabalhador rural em Pernambuco fala sobre sua experiência nos anos 1960
“[…] assim, minha roupa era comprada na padaria, você sabe qual é o pano de padaria, né, que é o saco, e assim eu fui criado nesse período. […] As dificuldades de higiene, nós dormia em cama tirada na mata, chamada de cama de vara, então o colchão era folha de banana seca, nesse tempo não existia higiene nenhuma, então nós dormia e muitas vezes se acordava com a roupa que dormia, mesmo de saco, acordava toda melada de sangue que era justamente um inseto, o percevejo, era a pulga que hoje é do cachorro, então isso geralmente batia um soco, isso perdurou.” Entrevista de José Paulo, trabalhador rural, canavieiro narrando sua experiência de trabalho nos anos 1960 apud SILVA, 2022, p.12
Após a leitura coletiva e a solicitação de pesquisa (que pode ser feita em sala de aula através de celulares) levante alguns questionamentos com as(os) estudantes sobre como era a vida dos trabalhadores rurais antes da conquista do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) do ano de 1963. Explique como as leis trabalhistas dos anos 1930 e 1940 não foram extensivas aos trabalhadores rurais e isso explica tanto os depoimentos dos canavieiros quanto a publicação do ETR. O objetivo dessa atividade inaugural é viabilizar a visão crítica sobre as condições miseráveis e precárias em que viviam os cortadores de cana, especificamente no Nordeste brasileiro.
a) Descreva as condições de vida dos trabalhadores rurais (formas de pagamento pelo trabalho, condições de vida, rotina etc.) em Pernambuco nos anos 1960, a partir das duas narrativas acima. b) As condições de vida eram boas ou ruins? Justifique sua resposta. c) Pesquise sobre o que foi o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) de 1963 e escreva quais direitos eram reivindicados no mesmo. d) Compare os direitos descritos no Estatuto do Trabalhador Rural e a situação descrita dos trabalhadores.
Etapa 2 – Exibição do documentário Memórias Camponesas e roda de debate.
Professor(a), como forma de ampliar a discussão da etapa anterior, exiba o documentário Memórias Camponesas (2022) e solicite que realizem as atividades abaixo, com base no filme.
Documentário 1 – Memórias Camponesas
Responda no seu caderno:
a) Quais são as formas de exploração no capitalismo apresentadas no filme? b) Qual era o modo de vida dos trabalhos dos canavieiros? c) Como experiências individuais de sofrimento passam a ser vistas como coletivas? d) De que forma o compartilhamento de memórias se relaciona com o processo de consciência das desigualdades e da injustiça social?
Para encerrar as aulas, faça um debate sobre como os estudantes responderam, a partir de tais questões.
Etapa 3 – Conceito de luta de classes como ponto de partida.
Como atividade síntese, deverá ser inserido o conceito de luta de classes a fim de evidenciar para os (as) estudantes essa categoria enquanto norteadora dos processos de luta por direitos e melhores condições de trabalho que se seguiram na década de 1960.
Coloque no quadro a seguinte pergunta:
“O que é a luta de classes?”
Definição do conceito: de acordo com o sociólogo alemão Karl Marx e as teorias marxianas, a luta de classes é um fenômeno social marcado por uma oposição de ideias entre grupos diferentes. Essas visões antagônicas podem ser observas em diferentes esferas e muitas vezes referem-se à defesa de próprios interesses.
Parta da discussão e chame a atenção dos estudantes para o vínculo com o conteúdo discutido em aulas de sociologia. Ao final do debate, escreva no quadro uma definição breve sobre o conceito e faça correlação entre a luta dos trabalhadores no campo com outras experiências dos trabalhadores.
Etapa 4 – Cotidiano canavieiro: exploração e resistência
Após a definição da ideia de luta de classes, o conceito deve ser inserido no tema abordado, de modo a historicizá-lo de acordo com o contexto de experiências dos trabalhadores canavieiros de Pernambuco no século XX.
Discuta com as (os) estudantes sobre a categoria cotidiano e como essa não deve se reduzir apenas à descrição detalhada do dia a dia ou de um fenômeno social, mas ligando-a a subjetividade desenvolvida pelos indivíduos.
Nesse sentido, deve-se conduzir os (as) estudantes ao entendimento da categoria cotidiano enquanto a relação integrada entre subjetividade e objetividade, espaço, tempo e experiência, sendo desse modo, o espaço de relações sociais desiguais entre as classes, geradoras de conflitos e tensões. Sendo compreendida, por fim, como a dimensão prática da história.
Como atividade de encerramento, divida os estudantes em grupo e peça que respondam a questão abaixo
a) Faça em grupo um desenho que represente o cotidiano dos trabalhadores rurais e sua luta social e apresente-o a turma.
Peça que cada grupo apresente o desenho e faça um encerramento discutindo a noção de cotidiano e luta de classes na história dos trabalhadores.
Bibliografia e Material de apoio:
MATTOS, Marcelo Badaró. Classes sociais e luta de classes. In.: E. P. Thompson e a tradição de crítica ativa ao materialismo histórico. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2012, p. 57-116.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Dilemas e desafios da historiografia brasileira: a temática da vida cotidiana. In: MESQUITA, Zilá; BRANDÃO, Carlos Rodrigues (orgs.). Territórios do cotidiano: uma introdução a novos olhares e experiências. Porto Alegre: Editora Universitária/UFRGS; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1995, p. 49-66.
SCOTT, James C. Formas cotidianas de resistência camponesa. Tradução: Marilda A. de Menezes e Lemuel Guerra. Raízes, Campina Grande, v. 21, n. 1, p. 10-31, jan./jun. 2002.
SILVA, Bárbara Maria Costa e. Acordo do campo de 1963: memórias das condições de trabalho e das lutas sociais dos trabalhadores canavieiros da Zona da Mata de Pernambuco. Trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em História pela UFPB. João Pessoa, 2019.
SILVA, Bárbara Maria Costa e. Memórias canavieiras: trabalho, cotidiano e experiência na zona da mata pernambucana. In: Pandemia e Futuros Possíveis: Anais do XVI Encontro Nacional de História Oral. Anais…Rio de Janeiro (RJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2022.
THOMPSON, E. P. The history from below. TSL, April 7, 1966.
ASSIS, José Paulo de. [87 anos]. [maio de 2019]. Entrevistadora: Bárbara Maria Costa e Silva. Carpina, Pernambuco. 03 de maio de 2019.
FILHO, Severino Francisco da Luz. [87 anos]. [novembro de 2017]. Entrevistadores: Bárbara Maria Costa e Silva, Claudiana Barbosa da Silva, Maressa Fauzia Pessoa Dantas, Mário Henrique Guedes Ladosky, Moacir Gracindo Soares Palmeira, José Sérgio Leite Lopes e Roberto Véras de Oliveira. Carpina, Pernambuco. 11 de novembro de 2017.
Memórias Camponesas. Direção: José Sergio Leite Lopes, Moacir Palmeira, José Carlos Matos Edição: Agustin Kammerath. Produção de Ricardo Favilla, Rafael Favilla (ICEM). Brasil: 2022.
Créditos da imagem de capa:Nazaré da Mata 1980
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil. Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.