Lançamento do livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores” em São Paulo e Rio de Janeiro



O LEHMT/UFRJ tem o prazer de convidá-los para os lançamentos do livro “Lugares de Memória dos Trabalhadores”. Publicado pela Editora Alameda em parceria com a Fundação Perseu Abramo e apoio do PPGHIS/UFRJ, a obra é organizada por Paulo Fontes, professor do Instituto de História da UFRJ, e reúne 100 artigos curtos escritos por renomados/as especialistas.

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Baseado na série de mesmo nome do portal lehmt.org, esse livro procura justamente dar visibilidade para essa geografia social, ao estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Os textos contam a história de lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Espaços que demarcaram a história do Brasil.

O lançamento em São Paulo será no sábado, 29 de junho às 15h na Livraria Expressão Popular/Armazém do Campo (Alameda Nothman 806).
No Rio o lançamento será na quarta-feira, 10 de julho entre 17h30 e 20h na Livraria Leonardo da Vinci (Av. Rio Branco 185, subsolo 1).

Vale a Dica #10: Meu querido Zelador, de Mariano Cohn e Gastón Duprat



Na décima edição da série “Vale a Dica”, Yasmin Getirana, doutoranda em história internacional pela London School of Economics e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica a série de comédia argentina “Meu querido Zelador” (El Encargado). Lançada em 2022 e disponível no streaming da Star+, a série conta com duas temporadas e tem como protagonista Eliseo, zelador há 30 anos do mesmo prédio em Buenos Aires. Idoso, Eliseo é confrontado com a possibilidade de ser abruptamente despejado e demitido. O motivo, no entanto, não é nenhuma das muitas falcatruas e armações arquitetados ao longo dos anos por Eliseo, mas sim o desejo dos moradores por valorização imobiliária com a construção de uma piscina. Para ouvir o episódio e entender mais porque essa série é uma boa dica para pensar história social do trabalho.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio

Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo Vale Mais

Está no ar o primeiro episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos de história pública, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No episódio de estreia, conversamos com Bruna Portella e Felipe Azevedo, professores da PUC-Rio e coordenadores do projeto "O Poder e a Escravidão". A iniciativa investiga o papel do Poder Legislativo na sustentação da escravidão no Brasil, propondo uma reflexão crítica sobre a memória oficial e as estruturas de poder que perpetuaram esse sistema — com base na criação de um banco de dados inédito e uma plataforma de divulgação científica. Ouça, compartilhe e acompanhe os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias O Poder e a Escravidão: https://www.opodereaescravidao.com/
  1. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  2. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  3. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  4. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins
  5. Vale a Dica #11: O futuro das profissões, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes

Chão de Escola #42: Memórias canavieiras trabalho, cotidiano e experiência na zona da mata pernambucana

Bárbara Maria Costa e Silva (licenciada em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e mestra pelo Programa de Pós-graduação em História da UFPB)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio

Unidade temática: Trabalhadores rurais, direitos sociais e cidadania na década de 1960.

Objetos de conhecimento:
– As noções de cidadania política

– Formas de registro da História e da produção do conhecimento

Objetivos gerais:
– Compreender elementos do cotidiano e formas de exploração dos trabalhadores canavieiros antes do período de conquistas sindicais da década de 1960;

– Conhecer as memórias coletivas dos cortadores de cana de açúcar do estado de Pernambuco;

– Identificar as formas de resistência dos trabalhadores, por meio das memórias compartilhadas;

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).

(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

Duração da atividade: 3 aulas de 50 minutos

Aulas Planejamento
01Etapa 01
02Etapa 02
03Etapa 03 e 4

Conhecimentos prévios:
– Processo de expulsão dos trabalhadores rurais de suas moradas no campo, ocorrido por volta dos anos 1950 no Nordeste;

– Conflitos agrários locais gerados pela ausência de leis trabalhistas voltadas para os trabalhadores do campo.


Atividade

Recursos: Projetor, caixa de som, computador, quadro, lápis pincel.

Etapa 1Quais as condições em que viviam os trabalhadores canavieiros?

Na primeira aula, leia os trechos das entrevistas abaixo com os estudantes e solicite que respondam as perguntas abaixo. A leitura e a resposta das primeiras duas perguntas podem serem feitas de forma coletiva após a leitura dos trechos.

Os trabalhadores canavieiros Beija-Flor e José Paulo são originários da Zona da Mata pernambucana e foram entrevistados respectivamente nos anos de 2018 e 2019, ambos, no momento da entrevista, já idosos e aposentados, mas ainda bastante atuantes no movimento sindical do Estado de Pernambuco. Os seus relatos foram construídos em torno de suas experiências de vida como cortadores de cana-de-açúcar desde a infância e seu cotidiano de trabalho e militância política. Os trechos apresentados a seguir são recortes de entrevistas extensas e por isso representam apenas uma parte de suas memórias narradas.

“[…] a gente já estava comendo alguma coisa, mas aquilo não era tudo. A gente precisava de mais coisas, e aí eu fui de novo pra cana. Mas aí no sábado eu ia pra Paudalho, da onde eu vim, da cidade de onde eu vim pegar frete. Aí eu levava o balaio de manhã bem cedo, não tinha café, não tinha nada em casa. Quando eu chegava na feira, primeiro lugar que eu ia era onde vendia jaca dura, debaixo dos pés de paus. Aí vinha um pessoal, aí o dono da jaca cortava a jaca, tirava a jaca pra vender, vendia a jaca, os baldes de jaca ao povo, e o mangará que a gente chama mangará, tirava gordo, e jogava no lixo, e eu chegava com o meu balaio. Eu não podia comprar, eu não tinha dinheiro pra comprar pra tomar café, então o meu café era roer o mangará da jaca dura que tava no lixo. Eu não tinha bigode, mas quando eu saía dali, eu ia pro açougue, mercado de carne de charque, de sardinha, mercado de cereal, eu ia pra lá. Aí de lá ninguém dava nada, se você chegasse pedindo alguma coisa levava uma lapada na mão e podia ser capaz de ser preso. Naquele tempo se pedia muito esmola, mais um menino pedindo esmola.”

(…)Aí, até então, quer dizer antes as famílias viviam no campo, num era com duas hectares não, vivia até com dez, era muita terra, mas com a valorização do açúcar e do álcool, a criação do IAA [Instituto do Açúcar e do Álcool], os patrões se ambiciaram muito mais e começaram a tomar as terras dos trabalhadores e plantar cana. Porque antes era uma categoria que até chamava de fornecedores. Plantava cana e fornecia para o engenho ou para a usina e tinha a área pra plantar a lavoura de subsistência que não era pequena, era grande, mas foi se acabando. A mão de obra que era como se fosse a agricultura familiar hoje passou a ser assalariada. Assalariada não, escrava. Porque não tinha salário, eles era quem dizia o quanto ia pagar e combinava com os outros, fechava o circo. O trabalhador ali, morrendo ou chorando, era aquilo mesmo.”
Entrevista de Beija-Flor, trabalhador rural, canavieiro narrando sua experiência de vida nos anos 1960 apud SILVA, 2022, p. 5, 10 – 11

“[…] assim, minha roupa era comprada na padaria, você sabe qual é o pano de padaria, né, que é o saco, e assim eu fui criado nesse período. […] As dificuldades de higiene, nós dormia em cama tirada na mata, chamada de cama de vara, então o colchão era folha de banana seca, nesse tempo não existia higiene nenhuma, então nós dormia e muitas vezes se acordava com a roupa que dormia, mesmo de saco, acordava toda melada de sangue que era justamente um inseto, o percevejo, era a pulga que hoje é do cachorro, então isso geralmente batia um soco, isso perdurou.”
Entrevista de José Paulo, trabalhador rural, canavieiro narrando sua experiência de trabalho nos anos 1960 apud SILVA, 2022, p.12

Após a leitura coletiva e a solicitação de pesquisa (que pode ser feita em sala de aula através de celulares) levante alguns questionamentos com as(os) estudantes sobre como era a vida dos trabalhadores rurais antes da conquista do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) do ano de 1963. Explique como as leis trabalhistas dos anos 1930 e 1940 não foram extensivas aos trabalhadores rurais e isso explica tanto os depoimentos dos canavieiros quanto a publicação do ETR. O objetivo dessa atividade inaugural é viabilizar a visão crítica sobre as condições miseráveis e precárias em que viviam os cortadores de cana, especificamente no Nordeste brasileiro.

a) Descreva as condições de vida dos trabalhadores rurais (formas de pagamento pelo trabalho, condições de vida, rotina etc.) em Pernambuco nos anos 1960, a partir das duas narrativas acima.
b) As condições de vida eram boas ou ruins? Justifique sua resposta.
c) Pesquise sobre o que foi o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) de 1963 e escreva quais direitos eram reivindicados no mesmo.
d) Compare os direitos descritos no Estatuto do Trabalhador Rural e a situação descrita dos trabalhadores.

Etapa 2Exibição do documentário Memórias Camponesas e roda de debate.

Professor(a), como forma de ampliar a discussão da etapa anterior, exiba o documentário Memórias Camponesas (2022) e solicite que realizem as atividades abaixo, com base no filme.

Responda no seu caderno:

a) Quais são as formas de exploração no capitalismo apresentadas no filme?
b) Qual era o modo de vida dos trabalhos dos canavieiros?
c) Como experiências individuais de sofrimento passam a ser vistas como coletivas?
d) De que forma o compartilhamento de memórias se relaciona com o processo de consciência das desigualdades e da injustiça social?

Para encerrar as aulas, faça um debate sobre como os estudantes responderam, a partir de tais questões.

Etapa 3Conceito de luta de classes como ponto de partida.

Como atividade síntese, deverá ser inserido o conceito de luta de classes a fim de evidenciar para os (as) estudantes essa categoria enquanto norteadora dos processos de luta por direitos e melhores condições de trabalho que se seguiram na década de 1960.

Coloque no quadro a seguinte pergunta:

“O que é a luta de classes?”

Definição do conceito: de acordo com o sociólogo alemão Karl Marx e as teorias marxianas, a luta de classes é um fenômeno social marcado por uma oposição de ideias entre grupos diferentes. Essas visões antagônicas podem ser observas em diferentes esferas e muitas vezes referem-se à defesa de próprios interesses.

Parta da discussão e chame a atenção dos estudantes para o vínculo com o conteúdo discutido em aulas de sociologia. Ao final do debate, escreva no quadro uma definição breve sobre o conceito e faça correlação entre a luta dos trabalhadores no campo com outras experiências dos trabalhadores.

Etapa 4Cotidiano canavieiro: exploração e resistência

Após a definição da ideia de luta de classes, o conceito deve ser inserido no tema abordado, de modo a historicizá-lo de acordo com o contexto de experiências dos trabalhadores canavieiros de Pernambuco no século XX.

Discuta com as (os) estudantes sobre a categoria cotidiano e como essa não deve se reduzir apenas à descrição detalhada do dia a dia ou de um fenômeno social, mas ligando-a a subjetividade desenvolvida pelos indivíduos.

Nesse sentido, deve-se conduzir os (as) estudantes ao entendimento da categoria cotidiano enquanto a relação integrada entre subjetividade e objetividade, espaço, tempo e experiência, sendo desse modo, o espaço de relações sociais desiguais entre as classes, geradoras de conflitos e tensões. Sendo compreendida, por fim, como a dimensão prática da história.

Como atividade de encerramento, divida os estudantes em grupo e peça que respondam a questão abaixo

a) Faça em grupo um desenho que represente o cotidiano dos trabalhadores rurais e sua luta social e apresente-o a turma.

Peça que cada grupo apresente o desenho e faça um encerramento discutindo a noção de cotidiano e luta de classes na história dos trabalhadores.

Bibliografia e Material de apoio:

MATTOS, Marcelo Badaró. Classes sociais e luta de classes. In.: E. P. Thompson e a tradição de crítica ativa ao materialismo histórico. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2012, p. 57-116.

PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Dilemas e desafios da historiografia brasileira: a temática da vida cotidiana. In: MESQUITA, Zilá; BRANDÃO, Carlos Rodrigues (orgs.). Territórios do cotidiano: uma introdução a novos olhares e experiências. Porto Alegre: Editora Universitária/UFRGS; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1995, p. 49-66.

SCOTT, James C. Formas cotidianas de resistência camponesa. Tradução: Marilda A. de Menezes e Lemuel Guerra. Raízes, Campina Grande, v. 21, n. 1, p. 10-31, jan./jun. 2002.

SILVA, Bárbara Maria Costa e. Acordo do campo de 1963: memórias das condições de trabalho e das lutas sociais dos trabalhadores canavieiros da Zona da Mata de Pernambuco. Trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em História pela UFPB. João Pessoa, 2019.

SILVA, Bárbara Maria Costa e. Memórias canavieiras: trabalho, cotidiano e experiência na zona da mata pernambucana. In: Pandemia e Futuros Possíveis: Anais do XVI Encontro Nacional de História Oral. Anais…Rio de Janeiro (RJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2022.

THOMPSON, E. P. The history from below. TSL, April 7, 1966.

ASSIS, José Paulo de. [87 anos]. [maio de 2019]. Entrevistadora: Bárbara Maria Costa e Silva. Carpina, Pernambuco. 03 de maio de 2019.

FILHO, Severino Francisco da Luz. [87 anos]. [novembro de 2017]. Entrevistadores: Bárbara Maria Costa e Silva, Claudiana Barbosa da Silva, Maressa Fauzia Pessoa Dantas, Mário Henrique Guedes Ladosky, Moacir Gracindo Soares Palmeira, José Sérgio Leite Lopes e Roberto Véras de Oliveira. Carpina, Pernambuco. 11 de novembro de 2017.

Memórias Camponesas. Direção: José Sergio Leite Lopes, Moacir Palmeira, José Carlos Matos Edição: Agustin Kammerath. Produção de Ricardo Favilla, Rafael Favilla (ICEM). Brasil: 2022.


Créditos da imagem de capa: Nazaré da Mata 1980


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

LMT #130: Rua Diogo Rebolo, Campinas (SP) – Ricardo Pirola



A rua Diogo Rebolo está situada no bairro Jardim Paranapanema, em Campinas (SP), a cerca de cinco quilômetros do centro da cidade. A rua foi criada no ano de 2015, a partir do projeto de lei do vereador Gustavo Petta (PCdoB), depois de ampla mobilização do movimento negro local. O nome da rua é uma homenagem ao principal líder de um plano de insurreição escrava surgido em Campinas em 1832. Originário do norte de Angola, Diogo Rebolo reuniu sob sua liderança centenas de trabalhadores escravizados de mais de 15 engenhos produtores de açúcar, com o objetivo de matar seus senhores para acabar com a escravidão. A eclosão da insurreição estava programada para ocorrer no domingo de Páscoa, quando os proprietários estivessem participando das festividades religiosas. A descoberta antecipada dessa rebelião, seguida da prisão dos acusados e do reforço do número de vigilantes armados nas fazendas, inibiu a eclosão do movimento rebelde. As fazendas envolvidas na trama de rebelião estavam situadas ao norte de Campinas, próximas ao rio Atibaia e nas terras do atual distrito de Barão Geraldo. Ainda hoje é possível visitar uma dessas propriedades. Esse é o caso, por exemplo, da fazenda Tozan/Monte D’este, que na época se chamava Ponte Alta e pertencia ao capitão-mor Floriano de Camargo Penteado.

Apesar de o plano de insurreição de 1832 ter fracassado, os escravizados em Campinas e em diversas outras partes da província de São Paulo não deixaram de lutar e de organizar novos projetos de rebelião. A história da escravidão negra em São Paulo foi marcada por constantes batalhas protagonizadas pelos escravizados em nome da liberdade. Até o final século XVIII, a então capitania de São Paulo era caracterizada pela presença de um grande número de indígenas e por uma parcela pequena de escravizados negros e colonos brancos. Foi apenas no século XIX que a escravidão de africanos e seus descendentes se consolidou nessa região. Dois fenômenos ajudam a explicar o crescimento da escravidão negra em São Paulo. O primeiro deles foi a própria expansão da produção de cana-de-açúcar, como decorrência do aumento do preço dessa mercadoria no cenário internacional a partir de 1790. O segundo elemento foi a descoberta da boa qualidade das terras na província de São Paulo para produção de café, que no século XIX se tornaria uma das bebidas mais consumidas do mundo. Se em meados do século XVIII, os escravizados africanos e seus descendentes não alcançavam 10% dos moradores da capitania de São Paulo, em 1836 essa população já representava cerca de 30% do total de habitantes. Em regiões como a de Campinas, marcada pela larga produção de cana-de-açúcar e café, o número de escravizados negros chegava a 50% nos anos 1830.

O rápido crescimento da população negra escravizada e a grande concentração de africanos provenientes de uma vasta região da África central atuaram como fatores decisivos nos processos de estruturação de planos de rebelião. Os africanos trazidos para São Paulo no século XIX eram provenientes dos portos de Benguela, de Luanda e de territórios localizados ao norte de Angola e do Congo. Esses africanos falavam línguas semelhantes (como o kikongo, kimbundu e Umbundu) e compartilhavam entendimentos religiosos de explicação dos fenômenos naturais. Tal proximidade cultural facilitou a união dos cativos, com origens diversas, para lutar pela liberdade do cativeiro.


A província de São Paulo, na primeira metade do oitocentos, registrou a ocorrência de diversos planos de insurreição.


Os documentos conhecidos atualmente apontam para três regiões da província como polos de agitação escravista: a) Litoral norte, com destaque para São Sebastião e Ubatuba, nas décadas de 1820 e 1830 (nessa região se registrou a existência de plano de insurreição em 1825 e em 1831); b) Oeste paulista, especialmente Campinas (além da trama de 1832, a localidade registrou planos de rebelião em 1830 e 1848) e Itu (existem registros de planos de revolta em 1794 e 1809) ; c) Vale do Paraíba (identificou-se planos de rebelião em Bananal em 1833; em Areias em 1843; e em diversas localidades da fronteira do Vale do Paraíba com o Rio de Janeiro em 1848).

Já na segunda metade do século XIX a ocorrência de planos de insurreição de escravos se alastrou por todo o território da província. Após 1850 a escravidão se disseminou muito além do litoral, do vale do Paraíba e do entorno de Itu e Campinas, atingindo uma vasta região. Nesse período, São Paulo se tornou então a província com o quarto maior número de escravos negros no país, perdendo apenas para Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. As mudanças ocorreram também no perfil demográfico da população escravizada, isto é, o número de africanos diminuiu (como decorrência da lei do fim do tráfico de 1850) e cresceu a presença de cativos trazidos pelo tráfico interno de outras regiões do país. Ao mesmo tempo, a segunda metade do século XIX ficou marcada pela difusão de ideias abolicionistas. Todo esse cenário influenciou diretamente na disseminação dos movimentos de insurreição e na intensificação de outras formas de rebeldia como os assassinatos de senhores e feitores e as fugas em massa das fazendas. Dentre os movimentos de rebeldia nesse período destacam-se a agitação dos cativos em São Roque em 1854, o levante da fazenda Castelo em Campinas no ano de 1882 e as fugas em massa de escravizados de propriedades rurais em Capivari e Montemor em 1887. A forte agitação das senzalas em todo o século XIX acabou contribuindo decisivamente para a abolição da escravidão em 13 de maio de 1888.

Quanto ao Diogo Rebolo, a documentação que nos sobrou sobre o plano de 1832 em Campinas não registra as sentenças dos acusados. De acordo com o código criminal do Império do Brasil, os cativos condenados por liderar uma tentativa de insurreição deveriam ser sentenciados à pena de galés, o que significava prisão com trabalho forçado em obras públicas. O tempo da sentença podia ser de 10 anos (pena mínima) ou durar por toda a vida (pena máxima). É difícil saber qual foi o destino de Diogo Rebolo sem os documentos do século XIX. Contudo, sua coragem continua ainda hoje a inspirar outras lutas por justiça em Campinas. O fato de existir uma rua com seu nome em uma das principais cidade do Estado de São Paulo é sinal de que suas ideias seguem a embalar as esperanças de um mundo mais justo para todos.

Placa da rua Diogo Rebolo em Campinas (SP). Crédito: Ricardo Pirola. 


Para saber mais:

  • AZEVEDO, Elciene. O direito dos escravos: lutas jurídicas e abolicionismo na província de São Paulo. Campinas: Unicamp, 2010.
  • MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro: UFRJ/Edusp, 1994.
  • PIROLA, Ricardo F. Senzala insurgente: malungos, parentes e rebeldes nas fazendas de Campinas (1832). Campinas, SP: Unicamp, 2011.
  • REIS, João José & GOMES, Flávio dos Santos. Revoltas escravas no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
  • SLENES, Robert W. “A árvore de ‘nsanda’ transplantada: cultos Kongo de aflição e identidade escrava no Sudeste brasileiro (século XIX)”. In: LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira. Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, século XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006. p. 273-316.
  • XAVIER, Regina Célia Lima. Religiosidade e escravidão, século XIX: mestre Tito. Porto Alegre: UFRGS, 2008.

Crédito da imagem de capa: Moagem de Cana, fazenda Cachoeira, Campinas, 1830. Autor: Benedito Calixto, acervo: Museu Paulista da USP


MAPA INTERATIVO

Navegue pela geolocalização dos Lugares de Memória dos Trabalhadores e leia os outros artigos:


Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Dossiê: Mundo do trabalho e Ensino de História


A Revista História Hoje (RHHJ) da ANPUH acaba de lançar seu mais novo número, com a publicação do dossiê “Mundo do trabalho e Ensino de História”. Organizado por Claudiane da Silva (SME-Rio), Luciana do Amaral (FME-Niterói), Samuel Oliveira (CEFET-RJ), coordenadores da seção Chão de Escola do portal do LEHMT/UFRJ, o dossiê conta com nove artigos, uma entrevista e uma resenha. Trabalho escravo e indígena nas salas de aula; a discussão sobre o ensino de história em contextos econômicos regionais; as análises sobre o conceito de Revolução Industrial nos livros didáticos e sugestões de transposições didáticas sobre os debates sobre gênero e lazer na formação da classe trabalhadora, são alguns dos temas tratados no dossiê. Além disso, a revista publica uma entrevista com Rosana Fernandes, diretora da Escola Florestan Fernandes do MST.

Link para o Dossiê: https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/issue/view/28

Livros de Classe #41: Combantendo a desigualdade social: O MST e a reforma agrária no Brasil, de Miguel Carter, por Marcelo Rosa

Em celebração aos 40 anos da fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcelo Rosa, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresenta “Combatendo a desigualdade social: O MST e a reforma agrária no Brasil”, organizado por Miguel Carter. O livro reúne pesquisa de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, especialistas nas discussões sobre a disputa política de terras no país e a centralidade do MST nessa disputa.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curta duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares e Paulo Fontes.

Vale a Dica #09: Benzinho, de Gustavo Pizzi



Nesta oitava edição da série “Vale a Dica”, Alexandra Veras, doutoranda em história pela UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica o filme “Benzinho”.
Lançado em 2018, o filme acompanha a trajetória de Irene, que se divide entre estudar, trabalhar como vendedora e cuidar dos quatro filhos. Uma trabalhadora e uma mãe, que cotidianamente se vê no desafio de conciliar as demandas do trabalho doméstico não remunerado, a maternidade, a feminilidade, e as pressões financeiras e da vida social.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias e Eduarda Olimpio

Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo Vale Mais

Está no ar o primeiro episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos de história pública, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No episódio de estreia, conversamos com Bruna Portella e Felipe Azevedo, professores da PUC-Rio e coordenadores do projeto "O Poder e a Escravidão". A iniciativa investiga o papel do Poder Legislativo na sustentação da escravidão no Brasil, propondo uma reflexão crítica sobre a memória oficial e as estruturas de poder que perpetuaram esse sistema — com base na criação de um banco de dados inédito e uma plataforma de divulgação científica. Ouça, compartilhe e acompanhe os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias O Poder e a Escravidão: https://www.opodereaescravidao.com/
  1. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  2. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  3. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  4. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins
  5. Vale a Dica #11: O futuro das profissões, de curadoria de André Couto, Maria Carla Corrochano e Paulo Fontes

MINICURSO HISTÓRIA SOCIAL DO TRABALHO


Está interessado/a em saber mais sobre o que é história social do trabalho? Conhecer as pesquisas mais recentes dessa área? Saber mais sobre o Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ (LEHMT/UFRJ) e como se integrar em suas atividades? Quer conhecer a programação que pensamos para novos integrantes?

Entre maio e novembro, oferecemos um minicurso, vespertino e noturno, com emissão de certificado (e contagem de créditos de extensão para alunos de graduação da UFRJ), sobre diversos temas ligados à história dos mundos do trabalho.

A programação terá início com o LEHMT DAY e o LEHMT NIGHT, um bate papo sobre história social do trabalho e o LEHMT/UFRJ, com o coordenador do Laboratório, Paulo Fontes.

Estudantes de graduação e pós-graduação de todas as áreas e universidades são muito bem vindos/as.

Faça sua inscrição pelo link: https://forms.gle/Kxgg3KYPA1KiXocFA

20 de maio – LEHMT Day – o que é o LEHMT? O que é historial social do trabalho? Com Paulo Fontes

27 de junho – Os mundos do trabalho e a ditadura no Brasil, com Heliene Nagasava e João Christovão

22 de agosto – Gênero e história do trabalho, com Ana Clara Tavares e Isabelle Pires

26 de setembro – Periferias, favelas e os mundos do trabalho, com Mariana Costa e Samuel Oliveira

24 de outubro – Comunismo e mundos do trabalho, com Inghrid Massullo e Luciana Wollman

28 de novembro – Raça e história social do trabalho, com Leonardo Ângelo e Thompson Climaco

6 de junho – LEHMT Night – o que é o LEHMT? O que é historial social do trabalho? Com Paulo Fontes confirmado

19 de junho – Os mundos do trabalho e a ditadura no Brasil, com Heliene Nagasava e João Christovão

27 de agosto – Gênero e história do trabalho, com Ana Clara Tavares e Isabelle Pires

17 de setembro – Periferias, favelas e os mundos do trabalho, com Mariana Costa e Samuel Oliveira

29 de outubro – Comunismo e mundos do trabalho, com Inghrid Massullo e Luciana Wollman

27 de novembro – Raça e história social do trabalho, com Leonardo Ângelo e Thompson Climaco

Chão de Escola #41: Formas de mobilização e de participação política de trabalhadores negros na Primeira República

Professora Carolina Dantas (Escola Politécnica/FIOCRUZ e ProfHistória UFF)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio

Unidade temática: Trabalho, racismo e política

Objetos de conhecimento:
– As noções de cidadania política

– Formas de registro da História e da produção do conhecimento

Objetivos gerais:
– Identificar as formas de exclusão e estratégias de participação política experimentadas por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República;

– Identificar as características principais do processo de racialização ocorrido simultaneamente ao fim da escravização no Brasil;

– Problematizar a desimportância das eleições e do parlamento na Primeira República;

– Analisar os significados dos silenciamentos historiográficos acerca da atuação dos negros, incluindo os trabalhadores, após a abolição, problematizando a produção da naturalização de estereótipos sobre eles.

Aulas Planejamento
01 e 02Etapa 01
03Etapa 02
04 e 05Etapa 03
06Etapa 04
07 e 08Etapa 05

Conhecimentos prévios:
– Abolição da escravização;

– Proclamação da República,

– Eleições e imigração estrangeira na Primeira República;


Atividade

Recursos: Computador; projetor multimídia (datashow); acesso à internet; caixa de som; papel pardo e material de desenho (opcional)

Etapa 1

Resumo e pontos-chave da etapa
Levantamento da bagagem de conhecimento dos estudantes; pesquisa em livros didáticos de História; comparação entre os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de artigos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”.

Professor(a), nessa primeira etapa, vamos fazer o levantamento da bagagem de conhecimento da turma, propor uma pesquisa em livros didáticos de História e comparar os conhecimentos levantados e leitura/discussão de trechos de textos para problematização do “lugar” dos negros, especialmente, dos trabalhadores negros, na “História do Brasil”. Assim, a proposta para esse momento é a (o) docente verificar a bagagem de conhecimento da turma sobre as seguintes questões:

Solicite aos estudantes que reflitam e respondam oralmente as questões abaixo para que o professor(a) sistematize no quadro dialogado as respostas. Em seguida os estudantes podem reproduzir as respostas do quadro em seu caderno.

a. “O que aconteceu com os negros após a abolição da escravização em 1888? Para onde os negros foram? O que fizeram?”.

A proposta para esse momento é que os estudantes se reuniram em grupos de quatro e pesquisem em livros didáticos de História (material didático de História em uso pela turma) as respostas às questões anteriores e registrem como a história dos negros é contada no livro (ou seja, quando e como aparecem nos livros didáticos de história).

Professor(a), as pesquisas consolidadas sobre livros didáticos de história indicam que os negros aparecerão majoritariamente como escravizados e após a abolição desaparecem da história contada. Alguns materiais didáticos trazem boxes com personagens, em geral, como exceções ou deslocados da sua historicidade. Nesse momento a(o) docente também pode recuperar alguns conhecimentos prévios dos estudantes necessários à investigação/pesquisa em História, tais como fontes e sujeitos históricos, procedimentos de investigação;

A proposta para esse momento é que a(o) docente direcione e oriente os estudantes: a)  sistematização dos conhecimentos trazidos pelos estudantes e o conhecimento histórico sobre os negros existente nos livros didáticos das ocorrências/dados localizados a partir das ênfases e ausências; b) comparação entre as ocorrências/dados localizados, problematizando-os. Por fim, concluir essa etapa com a leitura/debate do trecho do artigo Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil, de Álvaro Nascimento e O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural, de Martha Abreu, indicados abaixo. Sugere-se que a (o) docente a turma, juntos, sistematizem uma conclusão do debate que fique registrada nos cadernos.

“(…) A historiografia que investiga trabalhadores pobres e o movimento operário na República tende a não incluir o componente cor dos indivíduos pesquisados em suas páginas. Essa ausência torna-se ainda maior nas pesquisas voltadas para os séculos XX e XXI, quando a cor dos trabalhadores é frequentemente invisibilizada. No tocante àquelas que exploram as últimas décadas da escravidão e as cinco primeiras décadas republicanas, período abordado neste artigo, o leitor perceberá a ausência da participação do negro em boa parte delas (…) Alguns se defendem culpando as fontes que não trazem a cor dos trabalhadores ou alegando que não conseguiram tempo para “ir atrás”, (…) Reconhecemos as dificuldades enfrentadas em alguns trabalhos, mas, perguntamo-nos, será que dialogamos com colegas da escravidão e do pós-abolição para buscarmos outras fontes e ferramentas teóricas e metodológicas sensíveis à participação da experiência de negros e negras na formação do mundo do trabalho e do próprio movimento operário (…) ? (…)  Essa ausência leva-nos à reafirmação da história única, marcada pela superioridade cultural e racial dos imigrantes que se avolumaram no Sudeste e Sul do país no fim da escravidão. Retira-nos o conhecimento de uma sociedade cuja diversidade racial era imensa, reduzindo-a à branquidade e à mestiçagem (Sovik, 2004: 376), estando a primeira nos melhores ofícios e posições e a segunda nos limites da pobreza e da sujeição. Impede-nos, ainda, a compreensão dos males provocados pelo racismo para a sobrevivência e ascensão socioeconômica da população negra e indígena do século XIX até os dias atuais. (…) Por que todas essas histórias são importantes nos dias de hoje? Na prova do vestibular da Unicamp de 2001, uma questão causou grande embaraço aos avaliadores: “O que aconteceu com o negro depois da escravidão”. As respostas descreviam os negros como seres patológicos frente a uma sociedade branca, asséptica e superior. Diziam que as negras prostituíram-se, os homens tornaram-se vagabundos, bêbados, presidiários e favelados, por terem sido coisificados na escravidão e, por isso, se terem tornado incapazes de se integrar à sociedade de classes (Nascimento, 2005). A culpa e a anormalidade, que os levara às margens da sociedade, recaíam uma vez mais sobre os próprios negros.

Bom, se prostituir-se foi uma necessidade para negros e negras brasileiras, se roubaram, mendigaram e tiveram de construir telhados de zinco, eles e elas não estavam sozinhos na história. Não são poucos os exemplos na trajetória da humanidade que apresentam grupos, independentemente da sua cor, sem direitos a privilégios ou a uma refeição diária, que se viram forçados a isso (Geremek, 1995; Goldman, 2014; Guy, 1991; Bresciani, 1994). Entendo a maior parte destas ações como formas de sobrevivência para abocanhar o que lhes foi usurpado enquanto direitos, mesmo quando infelizmente a violência foi usada. (…) Não há como negar que a maior parte dos negros(as) foi “bem-comportada”: trabalhou duro, foi explorada, humilhada em charges de jornais, classificada com os mais torpes xingamentos, estudou em escolas mequetrefes, viu sua ingenuidade expirar-se ainda na infância, sofreu algum tipo de assédio sexual, teve seus punhos atados pelas algemas da polícia, (…), perdeu entes queridos por um péssimo diagnóstico médico, foi preterida no emprego. Mas esta população negra também rodava no santo nos terreiros, desfilava seu carnaval, ia à coroação dos Reis do Congo, sambava como um mestre sala dos mares, lutava por um pedaço de terra, trabalhava nas fábricas e indústrias do Mundo do Trabalho”.
Fonte: https://www.scielo.br/j/eh/a/vBTQbYFXtqwMXCHR6sfsN7Q/?lang=pt

“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma história não contada do racismo e das lutas antirracistas –   tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida, sobre um único destino para os libertos:  “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização. 

Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.

De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República, o “povo” e a população negra, sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos, teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas. 

[Há] indicadores de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas – muito menos esquecidas no pós-abolição.  Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais, mobilizações eleitorais e sindicais, batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”
Fonte: https://conversadehistoriadoras.com/2020/09/06/por-uma-outra-historia-do-brasil-a-aula-5-esta-no-blog/

Etapa 2

Resumo e pontos-chave da etapa
A partir da leitura/análise de dois documentos – um discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre uma manifestação contra a sua exclusão da Câmara dos Deputados em 1909 – conhecer outros lugares/espaços políticos ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República; conhecer quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros.

Professor(a), a partir da leitura/análise de dois documentos: o discurso sobre “preconceito racial” feito no dia 13 de maio de 1902 por Monteiro Lopes e da notícia sobre a manifestação contra a exclusão de Monteiro Lopes da Câmara dos Deputados em 1909, oriente os estudantes a refletirem, conhecerem e problematizarem outros lugares/espaços ocupados por lideranças e trabalhadores negros na Primeira República: a política e o parlamento. Assim, os estudantes estarão conhecendo quem foi Monteiro Lopes e sua base de apoio, que fez dele uma liderança política entre os trabalhadores negros quebrando alguns estereótipos.

Professor(a), a proposta para esse momento é propor uma leitura, contextualização e análise do discurso do advogado e deputado negro Monteiro Lopes feito no dia 13 de maio de 1902 e a notícia da mobilização realizada por trabalhadores negros contra a exclusão desse político da Câmara federal de deputados em 1909. Ambos os documentos foram publicados em jornais na Cidade do Rio de Janeiro. O documento poderá ser projetado para uma leitura coletiva da turma ou reproduzido para os grupos de estudantes.

Professor(a), retome com os estudantes os procedimentos de pesquisa e tratamento da informação característicos do trabalho das (dos) historiadoras(res), como responder às perguntas: “Quando? Onde? Quem? Como? Por que?”. Sinalize que é preciso estar atento para os marcadores raciais que aparecem nos documentos indicados. Lembre-se que o objetivo dessa análise é levar os estudantes a identificar que parte da população negra, especialmente trabalhadores negros, não estavam alheios à política, inclusive em sua dimensão formal, e tinham suas próprias estratégias de atuação e projetos de poder, como o contato e a mobilização de uma rede de associações negras no Rio de Janeiro e pelo Brasil; pressões públicas a políticos; a denúncia pública da discriminação racial; a ocupação de espaços no parlamento, na imprensa, nas ruas e em associações operárias, com comícios e meetings; a reivindicação da ampliação de direitos políticos e sociais, bem como, da igualdade civil de fato e não somente na letra da lei. Ao término dessa etapa, será necessário que o(a) docente sistematize as respostas e conclusões no quadro para que os estudantes anotem no caderno.

“O ilustre advogado negro vem hoje, como em todos os aniversários do 13 de maio, abrir o coração entre seus irmãos.

“Nem tudo está feito, apezar da grandeza da data, em cuja commemoração se associam todas as raças do Brasil.

A escravidão acabou; a tempestade passou é certo, mas ao captiveiro sobreviveu o preconceito de côr, que a ressaca da escravidão (Prolongados aplausos).

Para essa nova companhia, concita as dedicações que se immortalisaram na campanha abolicionista e principalmente do general do 13 de maio, José do Patrocínio. É preciso acabar de dissipar de todo a treva, em que a sociedade tacteia, a noite do preconceito, que não deixa ver a pureza o clarão de fraternidade que a 13 de maio anunciou.

À raça negra não foi restituído integralmente o direito que ella tem à vida social: o preconceito ahi está ainda a fechar-lhe o caminho da igualdade.

O que faz com que não se sinta o mal que opprime ainda a raça sofredora é essa força a que se referiu sr. Sabino Junior; seu amigo e companheiro, desde o tempo da Republica de estudantes negros de Recife; a resignação.

Seja com essa arma, seja pela fria conquista do direito o que é preciso é impedir que o preconceito rasgue a página gloriosa do 13 de maio, realisando sobre os espíritos as torturas que a escravidão já não póde exercer sobre a matéria”. Após a aclamação, é dada a palavra ao eminente sr. Dr. Vieira Fazenda.”
Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (clique p/acessar)

Etapa 3

Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento sobre contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com suas estratégias e contradições; d) Identificar as formas como o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.

Professor(a), a proposta para essa etapa é que os estudantes possam fazer leituras e debate-las, aprofundando a compreensão sobre a atuação de trabalhadores negros e participação política na Primeira República a partir da figura de Monteiro Lopes e de suas bases de apoio, bem como aprofundar o conhecimento do contexto do pós-abolição brasileiro e suas especificidades, de modo: a) compreender da participação política de modo ampliado; b) compreender que as eleições na Primeira República não podem ser reduzidas a práticas fraudulentas e esvaziadas de participação política; c) compreender que trabalhadores negros fazem parte da história do movimento operário, da república e da democracia no Brasil, com duas estratégias e contradições; d) Identificar de formas o racismo e a discriminação racial atingiram sujeitos negros como Monteiro Lopes e seus apoiadores/eleitores.

Dividir a turma em quatro grupos para que, com o auxílio da (o) docente, pesquise as respostas para as seguintes questões:

1) Quem foi Monteiro Lopes?
2) Quem/qual era a sua base de sustentação política que o fez um “líder da raça negra” na Primeira República?
3) De que formas se organizaram e se mobilizaram?
4) Quais foram a suas experiências com o racismo e com a discriminação racial? As respostas devem ser apresentadas por cada grupo oralmente com debate e conclusões direcionados pela (o) docente e registradas no quadro dialogado. Essa atividade também pode ser indicada como “para casa” na aula anterior, caso o(a) docente tenha essa possibilidade. Nesse caso, a “atividade 1” será a apresentação pelos grupos de suas investigações históricas.

Sugere-se que, caso a turma tenha dificuldade, o(a) docente indique as partes específicas do livro para cada grupo, de modo a agilizar o trabalho de pesquisa.

Fonte: Revista O malho, Rio de Janeiro, 25/07/1903. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Fonte: Revista Careta, Rio de Janeiro, 10/04/1909. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

Após as leituras, pesquisas e debate anteriores, é essencial o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos sobre o contexto do pós-abolição brasileiro. Sugere-se a leitura conjunta e o debate dos textos indicados abaixo. Professor(a), selecione trechos dos textos em acordo com os níveis de dificuldade compatíveis com a turma ou mesmo, se for mais adequado ao seu “contexto de sala de aula”, de fazer uma exposição-sistemática ou mapa mental das pesquisas/argumentos de cada artigo. Destaca-se a necessidade de problematização das seguintes questões:

a) O papel das eleições e da participação política de trabalhadores, especialmente negros, na Primeira República e não só no Rio de Janeiro, como o caso da eleição de Monteiro Lopes demonstra;
b) Como ocorreu o processo de crescente racialização simultaneamente ao fim da escravidão no Brasil e sua historicidade;
c) As variadas formas de protagonismo negro na Primeira República.

1) Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil (introdução), de Gabriele Sampaio e Marcelo Balaban, p. 7 a 15 (clique p/acessar)
2) Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas, de Carolina Dantas, p. 141 a 152 (clique p/acessar)
3) A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação, de Angela de Castro Gomes e Martha Abreu (clique p/acessar)
4) À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República, de Felipe Souza e Aldrin Castellucci (clique p/acessar)

Etapa 4

Resumo e pontos-chave da etapa
A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1 e consolidar/sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos (e não históricos) identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um “vídeo-debate” e da exposição pela (o) docente de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.

A proposta para essa etapa é dialogar com as problematizações realizadas na etapa 1, consolidar e sistematizar as aprendizagens anteriormente promovidas a partir de uma reflexão sobre os significados das ausências e silêncios historiográficos e não históricos, identificados e dos sentidos da liberdade para os negros no pós-abolição. Isso deverá ser feito a partir de um vídeo-debate e da exposição pelo professor(a) de alguns conceitos-chave, como Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial e Democracia Racial.

Assistir coletivamente os trechos dos documentários indicados abaixo com o objetivo de provocar os(as) estudantes para o debate sobre os sentidos e experiências da liberdade para a população negra e dos silêncios historiográficos acerca da sua presença e participação política da população na Primeira República, especialmente dos sujeitos em tela nas atividades anteriores. Após assistir e promover o debate, priorizando a produção de um ambiente seguro e de uma escuta atenta dos estudantes, já que estamos tratando de um “tema sensível” (ver indicações de leitura para a (o) docente nas referências bibliográficas). Indica-se também a necessidade do(a) docente fazer breves exposições de conceitos como Racismo, Preconceito Racial, Discriminação Racial e Democracia racial, pontuando com precisão o conteúdo e a historicidade dessas definições, já que são termos/conceitos que certamente apareceram ao longo das atividades e necessitam de embasamento para a consolidação da aprendizagem proposta aqui. Sugere-se para isso o artigo Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão (clique p/acessar), de Nilma Lino Gomes.

O documentário encontra-se disponível no Globoplay (clique p/acessar).

A partir desse momento o professor(a) tem a possibilidade de encerrar essa atividade na Etapa 4 com o vídeo-debate ou prosseguir para a Etapa 5 e fazer uma culminância a partir da preparação realização de uma exposição de minibiografias de personagens históricos negros na escola em integração com a Área de Linguagens (Língua Portuguesa e Literatura).

Etapa 5

Resumo e pontos-chave da etapa
Manuseio por meio de “procedimentos de pesquisa” orientado pela (o) docente do “Banco de informações e imagens de biografias” do “Projeto Personagens do Pós-abolição”; elaboração de critérios para seleção e inclusão de biografados; seleção e pesquisa das biografias a serem expostas; elaboração dos textos/imagens para as minibiografias; montagem da exposição.

Curadoria, elaboração e montagem da Exposição Você me conhece?” – Histórias não contadas da Primeira República: minibiografias de personagens históricos negros.

Professor(a), a partir do banco de informações e imagens disponibilizados no site do Projeto Personagens do Pós-Abolição (clique p/acessar) debata e decida coletivamente com os estudantes quais serão os critérios de inclusão de personagens na Exposição (curadoria) para selecioná-los; nesse momento, oriente que as(os) estudantes sejam divididos em duplas e cada uma delas deverá redigir uma minibiografia em 1ª pessoa (no gênero textual autobiografia), como se fossem o próprio personagem se apresentando ao espectador, buscando produzir um efeito de sentido que responda à pergunta que dará título à Exposição: “Você me conhece?”, pois assim, se poderá induzir o espectador a uma reflexão sobre as possíveis razões que o levam a ignorar a existência daquele personagem e de sua história após anos de escolarização e/ou contato com variadas mídias. Uma imagem do biografado também deverá ser selecionada para estar na minibiografia.

Sugere-se também que a Exposição pode ser elaborada e montada a partir dos recursos disponíveis na Escola: a) em cartazes feitos à mão e com colagem; b) Em papel e impressos a partir do uso de algum aplicativo de edição de texto ou de apresentação de slides; c) em meio digital, a partir da criação de perfil no Instagram, alimentado colaborativamente com as produções dos estudantes. Para a realização das atividades da Etapa 5 sugere-se a integração curricular com professores da Área de Linguagens (Língua Portuguesa, Literatura e Artes. O objetivo da exposição – além de mobilizar habilidades de pesquisa entre os estudantes e problematizar a própria escrita da “História do Brasil” – é também oportunizar, no espaço escolar, a apreciação de outras visualidades sobre os corpos negros (inclusive de trabalhadores negros) diferentes daquela já tão consolidada e que coloca em foco somente os castigos físicos do tempo do cativeiro

Bibliografia e Material de apoio:

ABREU, Martha; DANTAS, Carolina. Monteiro Lopes e Eduardo das Neves: histórias não contadas da Primeira República. Niterói: Eduff, 2020.

BANCO DE IMAGENS SOBRE BIOGRAFIAS NEGRAS NO PÓS-ABOLIÇÃO. Projeto personagens do pós-abolição, disponível em https://personagensdoposabolicao.uff.br/

DANTAS, Carolina. Racialização e mobilização negra nas primeiras décadas republicanas. Cadernos PENESB, Niterói, n. 12, 2010, p. 141-152.

GOMES, Angela de Castro; ABREU, Martha. A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia. Apresentação. Revista Tempo, Niterói, Volume 13,  Nº 26, 2009, p.  1 – 14

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Disponível em https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-debate-sobre-Rela%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-discuss%C3%A3o.pdf

____. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan./Abr. 2012.

MATTOS, Hebe. A vida política. IN: SCHWARCZ, Lilia -M. (coord.) A abertura para o mundo 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 85-131

NASCIMENTO, Álvaro P. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 29, no 59, p. 607-626, setembro-dezembro-2016.

PEREIRA, Nilton M., & SEFFNER, Fernando. Ensino de História: passados vivos e educação em questões sensíveis. Revista História Hoje, volume 7, n. 13, 2018, p.14–33.

SAMPAIO, Gabriela dos R; LIMA, Ivana S.; BALABAN, Marcelo. (Orgs.). O Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2019.

SOUZA, Felipe A. e S.; CASTELLUCCI, Aldrin A. S. À margem dos grandes esquemas: o associativismo político-eleitoral dos trabalhadores de Pernambuco e da Bahia na Primeira República. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 35, nº 75, p. 6-25, Janeiro-Abril 2022


Créditos da imagem de capa: Quadros eleitorais, O malho, Rio de Janeiro, 13/03/1909. Hemeroteca Digital da Biblioteca Digital (clique p/acessar)


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura | EP04 CSN



A CSN apoiou a Ditadura (1964-1985). A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi criada em 1941 como parte fundamental do projeto nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas. A tradição de controle militar da fábrica e da cidade de Volta Redonda teve continuidade e encontrou ápice na Ditadura. Além da precarização das condições de trabalho, pressionadas tanto pela política econômica da Ditadura quanto pelo desrespeito às leis trabalhistas no ambiente fabril, o caso da CSN também desvela uma outra perversidade da Ditadura: aponta como o racismo era institucionalizado no interior da empresa, uma forma específica de violação dos direitos dos trabalhadores.

Esse caso é tema do último episódio da série Trabalhadores atingidos: a colaboração empresarial com a ditadura, do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ, realizada em parceria com o Centro de Memória do Sul Fluminense da UFF e com a rede de pesquisadores envolvidos no projeto “Responsabilidade de empresas por violações de direitos durante a Ditadura” (projeto do CAAF/ UNIFESP com o MPF). São 4 episódios que exploram as colaborações da Petrobrás, CSN, Aracruz e Josapar, com a Ditadura.

O episódio está disponível no link abaixo e nas principais plataformas de podcast. Caso queira conhecer mais sobre as empresas que foram cúmplices da Ditadura, acesse o Informe Público da pesquisa, que além dos quatro casos acima, apresenta dados sobre a colaboração de outras empresas, a saber: Cobrasma, Docas, Fiat, Folha de São Paulo, Itaipu e Paranapanema.

Ficha técnica:

Projeto e execução: Alejandra Estevez, Bruno Cecílio, Deivison Amaral, Larissa Farias, Thompson Climaco | Roteiro: Deivison Amaral | Revisão de Roteiro: Alejandra Esteves | Edição: Thompson Clímaco | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista com Leonardo Angelo: Alejandra Esteves, Deivison Amaral e Larissa Farias | Entrevista com trabalhadores atingidos: Leonardo Angelo

Equipe responsável pela pesquisa sobre a CSN:

Alejandra Estevez | Ana Paula Poll | Leonardo  Angelo | Rafaella Bettamio |  Raphael J. Lima | Raphaela Alves Lopes | Richard Martins |  Bruno Cecílio | Eliege Domingues | Gisele Costa | Helbson de Ávila |  Luís Felipe Silva |  Stella Mendes Reis  |  Thompson Clímaco Alves |  Leonardo Cecílio |  Iohana Viana Araújo |  Ismael Rodrigues dos Santos |  Maria Luiza Rezende Bonamim |  Mariana Alves |  Miguel Tarnapolsky |  Natália Oliveira | Nina Rosa Soares |  Sabrina Pontes