Neste episódio, Fernando Pureza, Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), apresenta o livro “Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas”, de Alexandre Fortes. Fruto de sua tese de doutorado defendida na Unicamp, “Nós do quarto distrito”, ao articular os processos de formação de classe e de identidades étnicas, analisa de forma inovadora a história dos bairros operários de Porto Alegre entre o início do século XX e os anos 1950. Além disso, o livro tornou-se uma referência fundamental para os estudos das relações políticas entre classe trabalhadora, empresariado e Estado, desafiando as abordagens tradicionais sobre o populismo e o trabalhismo.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Há 40 anos era fundada a maior e mais duradoura confederação sindical da história do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para refletir sobre aquela importante conjuntura política e sindical, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que participaram da fundação da CUT. Em nosso último episódio, Zé Ferreira, metalúrgico do ABC Paulista, nos conta detalhes sobre as grandes greves operárias que abalaram o Brasil no final dos anos 1970, sobre as articulações sindicais e a importância da Conclat de 1981 em Praia Grande. Já como vereador em São Bernardo, eleito em 1982, Zé Ferreira teve papel destacado nas negociações para a liberação do Pavilhão Vera Cruz, onde foi realizado o Congresso de Fundação da CUT em agosto de 1983.
Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Deivison Amaral | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Inghrid Masullo
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Juliana da Silva Barros (Mestra em Ensino de História UFPB-PROFHISTÓRIA e professora do Instituto Educacional Professora Bernadete Marinho)
Apresentação da atividade
Segmento: Ensino Fundamental Anos Finais – 8º e 9º ano
Unidade temática: Mundos do Trabalho – formas de organização social, econômica e cultural
Objetos de conhecimento:
– Condições de trabalho e exploração em diferentes contextos históricos;
– Os protagonismos da sociedade civil e as alterações da sociedade brasileira;
– Brasil e suas relações na era da globalização.
Objetivos gerais:
– Debater sentidos e conceito de trabalho;
– Identificar as condições de trabalho e exploração no meio rural e urbano;
– Compreender as marcas da exploração do trabalho como um processo histórico;
– Reconhecer os processos de lutas por direitos trabalhistas e melhores condições de vida;
– Perceber os avanços da Precarização nas condições de trabalho no contexto atual.
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):
(EF08HI03) Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.
(EF08HI20) Identificar e relacionar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados da escravidão no Brasil e discutir a importância de ações afirmativas.
(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos sociais.
(EF09HI32) Analisar mudanças e permanências associadas ao processo de globalização, considerando os argumentos dos movimentos críticos às políticas globais.
(EF09HI33) Analisar as transformações nas relações políticas locais e globais geradas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.
Duração da atividade: 3 aulas de 50 minutos
Aulas
Planejamento
1
Etapa 1 e 2
2
Etapa 3
3
Etapa 4
4
Etapa 4 e 5
5
Etapa 5 e 6
Conhecimentos prévios:
Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas;
História do Brasil: transformações políticas, econômicas, sociais e culturais a partir de 1930.
Atividade
Recursos: lousa e caneta pincel; livro didático; textos complementares (cópias); projetor multimídia, celular, computador conectado à internet ou fotografias impressas.
Etapa 1: Apresentação da temática
A introdução da temática pode ser feita de maneira bem simples, por meio de perguntas geradoras, no sentido de avaliar o conhecimento comum dos alunos. No desenvolvimento utilizei a dinâmica do mapa conceitual: escreva na lousa os conceitos-chave da temática abordada (exemplo: trabalho, condição de vida, exploração). Em seguida questione cada aluno da turma sobre o que aquela palavra representa. Anote as respostas ou solicite que os alunos escrevam na lousa.
Exemplo de mapa conceitual realizado com uma turma do 8º ano (2021). Reprodução/Acervo da autora
Em seguida, debater sobre como essas definições foram elaboradas, de onde buscaram informações ou como chegaram a essa conclusão. Introduzir as definições históricas, procurando gerar uma reflexão entre o senso comum e o conhecimento científico.
O trecho abaixo pode ser usado como referência:
A noção de trabalho, como toda ideia humana, muda de definição ao longo do tempo. Em sua definição mais comum, trabalho é toda ação de transformação da matéria natural em cultura, ou seja, toda transformação executada por ação humana. Mas o trabalho tem significados diferentes de acordo com a cultura que o vivencia e, em muitos casos, o que é considerado trabalho em uma não é na outra.
No contexto do mundo industrial, e pós-industrial, o trabalho é uma categoria que representa um esforço coletivo e socialmente organizado. Porém cada cultura vê o trabalho de forma diferente: Na maior parte do Brasil, influenciado pela tradição da Reforma Católica na Idade Moderna, para a qual o trabalho era um castigo imposto ao homem por Deus, trabalhar é uma atividade necessária, mas vista como imposição.
Podemos ver o conceito de trabalho em nossa sociedade na definição do IBGE, para quem trabalho são todas as ocupações remuneradas em dinheiro, mercadoria ou benefício, desenvolvidas na produção de bens e serviços, assim como qualquer ocupação remunerada no serviço doméstico e qualquer ocupação não remunerada na produção de bens e serviços desenvolvidas em, pelo menos, uma hora por semana. Essa definição, apesar de bastante ampla e de incluir as empregadas domésticas, exclui as donas de casa, que continuam a ser consideradas, no Brasil, economicamente inativas.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. ed. 2. p. 400-404 (adaptado pela autora)
Questões Geradoras: 1) Por que o Trabalho é um elemento social importante? 2) Todos temos direito a boas condições de Trabalho?
Etapa 2: Atividade Prática – produção fotográfica
Nesse momento, incentive os alunos a sintetizarem os conhecimentos da aula por meio da fotografia. Essa atividade pode ser solicitada como “tarefa de casa”, uma vez que os alunos precisam de tempo para explorar o seu entorno e realizar os registros fotográficos. Caso tenha oportunidade, outra estratégia muito válida é conduzir os alunos aos espaços no entorno da escola (ruas, praças, etc.), onde possam observar e fotografar.
Para que os alunos compreendam melhor a dinâmica, é necessária uma explicação detalhada, em vez de exercícios e textos escritos. A tarefa consiste em apresentar os conceitos e temáticas apreendidas em uma fotografia autoral, que eles podem realizar com o próprio celular ou outra ferramenta de captura de imagem que tiver a disposição, também estão livres para editar as fotografias como preferir por meio de aplicativos, redes sociais ou sites da internet.
Etapa 3: Problematização do objeto fotográfico como fonte de conhecimento histórico
O objetivo desse momento é problematizar as fotografias como documento/monumento histórico e objeto de mediação na compreensão dos contextos históricos. Como texto provocador, sugiro a leitura coletivo das conclusões do artigo de Ana Maria Mauad (1996), reproduzo o trecho a seguir:
Nunca ficamos passivos diante de uma fotografia: ela incita nossa imaginação, nos faz pensar sobre o passado, a partir do dado de materialidade que persiste na imagem. Um indício, um fantasma, talvez uma ilusão que, em certo momento da história, deixou sua marca registrada, numa superfície sensível.
Discute-se a possibilidade de mentir da imagem fotográfica. A revoluçãodigital, provocada pelos avanços da informática, torna cada vez maior esta possibilidade, permitindo até que os mortos ressurjam para tomar mais um chope, tal como a publicidade já mostrou. Não importa se a imagem mente; o importante é saber porque mentiu e como mentiu. O desenvolvimento dos recursos tecnológicos demandará uma nova crítica, que envolva o conhecimento das tecnologias feitas para mentir.
Toda a imagem é histórica. O marco de sua produção e o momento da sua execução estão indefectivelmente decalcados nas superfícies da foto, do quadro, da escultura, da fachada do edifício. A história embrenha as imagens, nas opções realizadas por quem escolhe, uma expressão e um conteúdo, compondo através de signos, de natureza não verbal, objetos de civilização, significados de cultura.
MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história – interfaces. Revista Tempo. Rio de Janeiro: dez 1996. v.1. n. 2. p. 73-98, (adaptado pela autora).
Questões geradoras podem guiar o debate e a interpretação do texto: 1) Qual a importância das fotografias nos registros históricos? 2) Como analisar uma fotografia de forma histórica? 3) O que esse objeto pode nos revelar sobre as sociedades passadas?
Etapa 4: Análise temática
Momento dedicado a análise da fotografia como fonte histórica para a compreensão dos Mundos do Trabalho. Os registros fotográficos escolhidos procuraram se aproximar da realidade vivida pelos alunos, tratar de contextos locais e nacionais e relacionar passado e presente. Outra sugestão para a seleção das fotografias é recorrer a exemplares presentes no próprio livro didático, inclusive para inserir o aluno no processo de problematização das fotografias vinculadas a esse material.
As fotografias podem ser visualizadas coletivamente utilizando projetor multimídia e computador, impressas e distribuídas entre os alunos, ou ainda podem ser acessadas pelos celulares dos próprios alunos, uma vez que as fotografias estejam disponíveis na internet. Inclusive, acessando as páginas de origem das fotografias, os estudantes terão acesso a um grande leque de informações.
Após essa primeira leitura visual, seguindo as proposições de Bittencourt (2011), dê início a análise interna e externa das fotografias junto aos alunos.
Fotografia 1: Agricultores em uma Plantação de abacaxi na cidade de Pilar – PB, 1938
Análise interna a) Descrever a cena, os personagens e demais elementos retratados; b) Identificar a temática, os contextos e as informações históricas apresentadas; c) Identificar as diferentes técnicas de fotografia usadas em cada imagem.
Análise externa a) Autor da fotografia; b) Ano; c) Local onde foi registrada; d) Identificar o porquê e o para que foram realizadas.
As análises podem ser feitas de forma individual ou em grupo, anotadas pelos alunos e depois debatidas coletivamente.
Baseado nas informações recolhidas, o próximo passo é a problematização da temática em si, situando as reflexões dos conteúdos em cada contexto histórico apresentado nas fotografias. Ao logo do debate é importante que o professor acrescente informações a fim de mediar a leitura do aluno a respeito da sociedade que originou a fotografia. Para substanciar o debate, some à análise das fotografias, a textos introdutórios de acordo com as temáticas que pretende evidenciar. Importante destacar que uma mesma fotografia pode servir de mediação para uma variedade de temáticas. A escolha do que será abordado pode ficar a critério do professor ou dos elementos identificados pelos alunos.
Nessa proposta, procure destacar tanto nas fotografias quanto nos textos introdutórios os elementos que levem os estudantes a perceber formas de exploração no trabalho, a precarização das condições de vida e a importância dos diretos trabalhistas no espaço rural e urbano, procurando fazê-los relacionar passado e presente.
Atividade Fotografia 1
Refletir sobre as condições de trabalho e de vida no mundo rural relacionando passado e presente; Debater o fato de que os trabalhadores rurais não foram diretamente atingidos pelos direitos garantidos com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 1943).
Sugestão de Leitura coletiva: A era Vargas e a legislação trabalhista aplicada aos trabalhadores rurais
Em tese, a CLT aplicou regras semelhantes aos trabalhadores rurais e urbanos no que se refere ao salário mínimo, ao contrato de trabalho, aviso prévio, férias, entre outros benefícios, possibilitando aos trabalhadores do campo pleitear o mínimo de direitos. No entanto, a CLT não abarcava as particularidades do trabalho rural[…].
No estado atual da nossa legislação o homem do campo, lavrador ou não, desde que se julgue prejudicado poderá se dirigir a Justiça acionando quem lhe pareça responsável pela lesão aos seus interesses. Mas para que os Juízes de Direito, no interior, funcionem como magistrados trabalhistas, é preciso que seja comprovada a existência de um contrato de trabalho entre as partes litigantes. Comprovada a relação contratual especial ver-se-á se o pedido é baseado em disposições sobre salários, […] aviso-prévio. A competência da Justiça do Trabalho é restrita. Verificada a existência de uma parceria entre as partes a incompetência se denúncia.
Dois aspectos importante se destacam: o reconhecimento da inexistência de órgãos trabalhistas especializados no interior do país; bem como o fato de que a reclamação deveria ser acompanhada pela comprovação do contrato de trabalho, algo bastante incomum uma vez que as relações de trabalho no mundo rural se sustentavam pela informalidade dos contratos trabalhistas. Além desses trâmites legais, as tímidas normas postas pela CLT não representaram grandes mudanças no cotidiano dos trabalhadores em algumas atividades, a maioria vivia em casas que pareciam senzalas, sem direito a fazer a lavoura. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) não lhe foi especificamente concedida.
COSTA, Lidineide Vieira da. A conquista de Direitos Trabalhistas: lutas sociais dos assalariados rurais da cana-de-açúcar noagreste e brejo paraibano (1980-1987). Dissertação de Mestrado – UFPB, 2019 (Adaptado pela autora).
Questões geradoras: 1) Quais os regimes de Trabalho vivenciados pelos trabalhadores no meio rural brasileiro? 2) As leis trabalhistas têm conseguido garantir os direitos sociais desses trabalhadores? 3) É possível identificar movimentos de lutas e resistências de trabalhadores rurais por melhores condições de vida e de Trabalho?
Atividade Fotografia 2
Trabalhar os conceitos de Empreendedorismo e Uberização; Debater a questão da precarização das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores no mundo capitalista globalizado e seus antecedentes históricos.
Sugestão de leitura coletiva: Empreendedorismo e Uberização
Segundo a Associação Brasileira de Letras o termo Uberização é usado paraindicar a transição para o modelo de negócio sob demanda caracterizado pela relação informal de trabalho, que funciona por meio de um aplicativo (plataforma de economia colaborativa), criado e gerenciado por uma empresa de tecnologia que conecta os fornecedores de serviços diretamente aos clientes, a custos baixos e alta eficiência; por extensão, designa a adoção deste tipo de relação (na esfera econômica, política, etc.), com as implicações suscitadas por este novo formato. O termo é derivado do nome da empresa Uber Technologies Inc., uma multinacional americana que introduziu este novo tipo de negócio em vários setores e serviços.
Por sua vez a palavra “empreendedorismo” teria origem no termo francês “entrepeneur” usado para se referir às pessoas que assumem risco e começam algo novo. O dicionário define o termo como a capacidade de projetar novos negócios ou de idealizar transformações inovadoras e arriscadas nas companhias e empresas ou a vocação, aptidão e habilidade de desconstruir, de gerenciar e de desenvolver projetos, atividades ou negócios.
Embora em muitos contextos associem a Uberização a uma prática empreendedora, é importante perceber que os termos são diferentes estruturalmente. Essa associação é bastante comum no Brasil, tendo em vista o crescente desemprego e desvalorização do trabalho formal, o Empreendedorismo passou a ser valorizado, para ele foi criado toda uma estrutura de idealização da informalidade nas relações de trabalho, visto como uma forma de melhorar a qualidade do trabalho e as condições de vida da classe trabalhadora brasileira. Como afirmou o sociólogo Ricardo Antunes, em entrevista à Uol: o Empreendedorismo é mito em país que não cria trabalho digno. Em resumo essa hipervalorização do trabalho informal provida pelas novas relações de trabalho como o Empreendedorismo e a Uberização mascaram o contexto de precarização do trabalho, aumento da exploração e o esvaziamento dos direitos trabalhistas, conquistados pela luta permanente da classe trabalhadora.
Questões geradoras: 1) De que maneira os conceitos de Empreendedorismo e Uberização se relacionam? 2) A partir de qual contexto histórico podemos observar as crescentes mudanças nas relações de trabalho? 3) Quais impactos o processo de globalização tem causado nas relações de trabalho no Brasil e no mundo? 4) De que forma as leis trabalhistas e os movimentos sociais de trabalhadores têm lidado com a crescente precarização das condições de trabalho? 5) Por que o trabalho informal baseado em sistema como o Empreendedorismo e a Uberização vem se tornando cada vez mais valorizado no mundo globalizado?
Etapa 5: Encaminhamentos finais
Após os debates gerais sobre os conteúdos, retome os dados da análise interna e externa das fotografias, inserindo a ideia de fotografia como mediação de uma realidade histórica. Por fim, solicite aos alunos que levantem hipóteses (que podem ser socializadas de forma oral ou escrita) sobre o contexto de produção de cada fotografia abordada:
Questões geradoras: 1) Que visões de trabalho são vinculadas a partir dessas fotografias? 2) O que as imagens retratadas podem nos mostrar sobre a sociedade e o contexto históricos em que foram realizadas?
Caminhando para o encerramento da oficina, é feita a retomada da produção fotográfica dos alunos. Abordando o fato de que as fotografias realizadas por eles são produtoras de conhecimentos e mediadoras de uma realidade histórica, que além de estudantes, eles são sujeitos históricos, filtros culturais de contextos históricos que foram registrados na imagem fotográfica. Suas fotografias, portanto, são perpetuadoras de sentidos e memórias das perspectivas dos Mundos de Trabalho em que eles vivem.
A fim de compreender melhor essa reflexão, procurei estimular os alunos a comentar sobre o processo que eles realizaram para a seleção do que buscaram retratar, bem como a mensagem que eles procuraram transmitir ao realizar a fotografia.
Etapa 5: Encaminhamentos finais
Como momento de encerramento da oficina, instrui aos alunos que atribuam uma legenda para suas fotografias. Em seguida, destaquem a importância da socialização do conhecimento histórico dentro e fora da escola, estimulando-os a publicizar suas fotografias e conhecimentos apreendidos, por meio das redes sociais de imagens, a exemplo do Instagram ou Facebook. Outra sugestão muito válida é a elaboração de uma exposição fotográfica na escola.
Importante ter em mente que as fotografias produzidas também podem despontar para outros aprendizados e temáticas. Destaco alguns exemplos produzidos e sugestões de utilização didática em novos debates:
Fotografia 03: Trabalho rural
Um aluno retratou o universo do trabalho rural, do qual ele e sua família fazem parte. Embora a base econômica de muitas cidades pequenas seja predominantemente a agricultura, as relações de trabalho e experiências dos trabalhadores que vivem dessa atividade hoje, no geral, são pouco conhecidas. A fotografia pode servir de provocação para diversos aspectos acerca de como essas relações de trabalho são mantidas, tais como as questões da segurança desses trabalhadores (notar os poucos equipamentos de proteção), como se dão os contratos de trabalho e os salários pagos, as horas de trabalho e os direitos que são garantidos a esses trabalhadores na atualidade, os sindicatos e outras organizações de trabalhadores que existam na cidade.
Fotografia 04: Trabalho informal durante a pandemia de Covid-19
Em outra fotografia, que retrata um motorista por aplicativo, destacam-se as condições de trabalho informal durante a pandemia do Covid-19, as necessidades do trabalho, dificuldades e os perigos enfrentados pelos trabalhadores que colocaram suas vidas em risco ao exerceram suas atividades durante a pandemia, uma vez que nesse contexto não houve, por parte dos órgãos governamentais, debates ou medidas que promovessem a segurança adequada desses trabalhadores.
Fotografia 05: Permanência das profissões manuais
Por fim, compartilho essa fotografia realizada no entorno da escola. O trabalhador em questão é um marceneiro. Os alunos do 8º ano podem observar que as profissões manuais, como a marcenaria, não são mais tão comuns e identificaram essa transformação como resultado das mudanças produzidas pelo processo de industrialização. Ao mesmo tempo se questionaram sobre a permanência e resistência dessas atividades manuais, levantando hipóteses sobre as condições de trabalho e vida desses trabalhadores. Entre elas, observaram que no mundo capitalista contemporâneo esses trabalhadores são vistos como integrantes do trabalho informal, chamados de empreendedores, sem que se discuta com profundidade as suas condições de trabalho e de vida.
Bibliografia e Material de apoio:
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) / Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144
BARROS, Juliana da Silva. Construindo pontes: o ensino da História Social do Trabalho entre a academia e a escola. Dissertação de Mestrado – PROFHISTÓRIA (UFPB) João Pessoa, 2022
BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de história: fundamentos e métodos. 4ª ed. São Paulo, Cortez, 2011
CIAVATTA, Maria. O mundo do trabalho em imagens. A fotografia como fonte histórica (Rio de Janeiro, 1900-1930).Rio de Janeiro: DP&A, 2002
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. 3. ed. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2014
COSTA, Lidineide Vieira da. A conquista de Direitos Trabalhistas: lutas sociais dos assalariados rurais da cana-de-açúcar no agreste e brejo paraibano (1980-1987). Dissertação de Mestrado – UFPB, 2019
MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história – interfaces. Revista Tempo, Rio de Janeiro, v.1, n. 2, p. 73-98, dez. 1996
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos – 2.ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009
Créditos da imagem de capa: Agricultores em uma Plantação de abacaxi na cidade de Pilar – PB, 1938. Reprodução/Acervo Biblioteca Nacional. Imagem retirada do perfil de Instagram O Historiador Parahybano (https://www.instagram.com/historiadorparahybano/?hl=pt-br).
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil. Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
Há 40 anos era fundada a maior e mais duradoura confederação sindical da história do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para refletir sobre aquela importante conjuntura política e sindical, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que participaram da fundação da CUT.
O quarto episódio é dedicado a Nilza Port, antiga dirigente sindical dos trabalhadores da indústria química de São Paulo. Nilza fala de sua trajetória desde a colônia alemã no interior no Rio Grande do Sul onde nasceu, passando pela migração para São Paulo e o trabalho em multinacionais alemãs até seu envolvimento na oposição sindical e sua atuação como sindicalista. Conta ainda sobre o papel das mulheres no “novo sindicalismo” e relembra o espírito de justiça, solidariedade e alegria que animava os trabalhadores e trabalhadoras que criaram a CUT.
Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Larissa Farias | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Larissa Farias
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Há 40 anos nascia a maior e mais duradoura central sindical da história do Brasil. A fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo era fruto direto de uma efervescente conjuntura iniciada com uma onda de greves e mobilizações sociais que tomou conta do país a partir de 1978. A luta dos trabalhadores impactou os rumos da redemocratização e colocou o movimento sindical no centro da arena política. Para refletir sobre aquela conjuntura, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que estavam em São Bernardo naquele 28 de agosto de 1983. No segundo episódio, Ranulfo Peloso, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém no Pará, fala da sua trajetória como ativista católico durante a ditadura, da ação das oposições sindicais naquele período e do papel fundamental dos trabalhadores rurais no processo de fundação da CUT.
Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Deivison Amaral e Inghrid Masullo | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Inghrid Masullo
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Marcelo Freitas Jornalista, com atuação no Diário do Comércio, O Tempo e Estado de Minas
7 de outubro é um dia como outro qualquer para os brasileiros. Porém, para os que moram no município mineiro de Ipatinga, essa é uma data de triste lembrança, pois remete a uma tragédia – o Massacre de Ipatinga – que até hoje permeia a memória dos que presenciaram aquele dramático acontecimento.
O Massacre de Ipatinga foi um conflito entre trabalhadores da usina siderúrgica Usiminas e soldados da Polícia Militar de Minas Gerais. Começou na noite do dia 6 de outubro, estendeu-se pela madrugada do dia 7 e somente terminou no final da manhã daquele dia, quando os policiais abriram fogo contra os trabalhadores que estavam aglomerados em frente a um dos portões de entrada da usina. O resultado foram 103 vítimas – oito mortos, 92 feridos e três desaparecidos. No dia 7, o Massacre de Ipatinga completa seis décadas e ainda é um episódio da história desconhecido para a esmagadora maioria dos brasileiros.
A construção da Usiminas fazia parte do plano de metas “cinquenta anos em cinco”, do governo de Juscelino Kubitschek. A usina foi implantada a toque de caixa ao lado de um povoado – Ipatinga – que possuía não mais que 500 habitantes. No ritmo acelerado em que se deu a construção da Usiminas, ocorreram falhas em relação à implantação da infraestrutura de apoio aos trabalhadores das empreiteiras que ficaram responsáveis pelas obras de construção, bem como pelos metalúrgicos que passaram a operar a fábrica.
Assim, em outubro de 1963, quando a siderúrgica já estava em funcionamento, o clima era tenso devido a uma série de reclamações que se acumularam em relação aos alojamentos, à alimentação, ao transporte e, principalmente, em relação à truculência dos vigilantes da companhia no trato com os trabalhadores. A tensão não dizia respeito a salários. Inclusive, alguns dias antes, os trabalhadores e a empresa haviam fechado um acordo para a concessão de reajuste salarial.
O estopim dos acontecimentos ocorreu na troca de turno das 22h do dia 6, quando um dos trabalhadores, Rodir Rodrigues, operador do laminador da companhia, teve seu documento de identidade retido pelos vigilantes sem maiores explicações. No momento, passavam pelo local quatro policiais, a quem os vigilantes queriam entregar Rodir, que foge, porque não havia cometido crime algum, é perseguido pelos policiais e alcançado um quilômetro dali. No local, é espancado e, em seguida, transferido para o escritório do Serviço de Vigilância.
Na mesma noite, a notícia do que havia ocorrido com Rodir Rodrigues chega aos alojamentos e deixa os trabalhadores exaltados. Uma aglomeração se formou na rua. A PM envia ao local dois policiais da cavalaria, que são recebidos a pedradas. A polícia envia reforços. Cerca de 300 trabalhadores são detidos e colocados deitados no chão e com as mãos na nuca.
Os presos são enviados para o quartel da PM, onde ficam até o final da madrugada, quando são soltos. Os operários decidem não retornar aos alojamentos. Concentram-se em frente a um dos portões da entrada da companhia, localizado às margens da rodovia MG-4, hoje BR-381, e não entram para o trabalho. Para o local, a PM envia policiais. Um deles controlava uma metralhadora montada na carroceria de um caminhão, que ficou estacionado no mesmo local da aglomeração.
No escritório da companhia, próximo dali, estavam reunidos o diretor de Relações Institucionais da Usiminas, Gil Guatimosim, e os integrantes de uma comissão formada na manhã daquele dia para encontrar uma solução para os problemas apontados pelos trabalhadores. Um dos membros da comissão é o vigário de Ipatinga, Padre Avelino, que, antes de entrar na usina, passa pelos policiais e pede que se retirem do local para evitar maiores problemas. O comandante da operação se nega a atender o pedido. Alega que precisaria de ordem superior.
No escritório central, a reunião avança. O problema era sua lentidão, uma vez que tudo o que era dito precisava ser traduzido para que o representante dos sócios japoneses na empresa pudesse compreender o que estava sendo dito. A despeito da lentidão, chegou-se a um acordo. A empresa iria determinar a retirada dos policiais e acatar as reivindicações dos trabalhadores. Porém, não houve tempo para que a ordem de saída chegasse ao comandante dos policiais que estavam no local. Policiais e trabalhadores se desentendem. A polícia alega que em determinado momento, foram agredidos com pedras retiradas do leito da Estrada de Ferro de Vitória a Minas (EFVM), que passa pelo local. E decide abrir fogo contra eles.
O resultado foram oito mortos. Um deles foi o metalúrgico José Isabel do Nascimento, que acompanhava a movimentação atentamente. Só que, além de metalúrgico, José Isabel era fotógrafo. E foi responsável pelas únicas imagens da aglomeração antes do início dos tiros. Uma das fotos mostra a metralhadora em cima do caminhão com um policial ao seu lado. José Isabel foi ferido no estômago e levado para o hospital de Ipatinga, onde faleceu 11 dias depois.
Jose Isabel Nascimento/O Cruzeiro – 07/10/1963 – Chacina em Ipatinga – O Soldado da Policia Militar, na carroceria do caminhao, metralhadora descansando no joelho, iniciou a chacina, ajudado por 16 outros soldados armados de fuzis. A foto foi feita segundos antes do massacre, por Jose Isabel Nascimento, que tambem acabou tombando ferido.
Devido à gravidade dos acontecimentos, o governo de Minas envia para Ipatinga, na tarde do mesmo dia, suas duas principais autoridades na área de segurança: o Comandante Geral da Polícia Militar, José Geraldo de Oliveira; e o secretário de Segurança, Caio Mário da Silva Pereira. O objetivo era restabelecer a autoridade do governo do Estado na região. Assim, o que se seguiu aos acontecimentos daquele 7 de outubro foi a prisão dos policiais, que foram levados para Belo Horizonte, e a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) e seu posterior envio à Justiça. Em Ipatinga, José Geraldo de Oliveira prometeu que o caso seria apurado com rigor.
Só que nos 795 dias transcorridos entre o 7 de outubro e a data do julgamento final dos policiais – 10 de dezembro de 1965 – ocorreu um golpe militar, que destituiu o presidente da República, João Goulart, e transformou os trabalhadores de Ipatinga em réus; e os policiais em vítimas. Assim, foram todos absolvidos pela Justiça. Para isso, algumas mentiras foram anexadas ao processo. A primeira delas era que os trabalhadores tinham um plano de paralisar a Usiminas e, ao mesmo tempo, derrubar a ponte sobre o Rio Doce, de onde viriam os reforços do 6º Batalhão da Polícia Militar, sediado em Governador Valadares. O plano incluía explodir o gasômetro da Usiminas, ato que geraria uma reação em cadeia que iria destruir a cidade de Ipatinga e, por tabela, a usina da outra siderúrgica instalada na região, a Acesita, hoje Aperam, cujo gasômetro também explodiria.
Uma terceira mentira era que os trabalhadores estavam, na noite do dia 6 e na madrugada e manhã do dia 7, insuflados por lideranças sindicais de fora que haviam se deslocado para Ipatinga com o objetivo de criar um clima de animosidade entre a direção da empresa e os trabalhadores. Na verdade, o acordo salarial firmado poucos dias antes dos acontecimentos de 7 de outubro foi conduzido apenas por lideranças dos Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Timóteo e Coronel Fabriciano. As primeiras lideranças nacionais dos trabalhadores chegaram a Ipatinga somente na tarde do dia 7 de outubro.
A absolvição dos policiais se deu durante o regime militar. Com o golpe, ocorreu também o silenciamento das lideranças trabalhistas na região. O resultado foi que sobre o Massacre de Ipatinga instalou-se um pacto de silêncio, que somente foi quebrado nos anos de 1980, com a fundação do PT que, entre 1989 e 2001, esteve à frente da Prefeitura de Ipatinga por quatro mandatos, dos quais três por intermédio de Chico Ferramenta, um ex-metalúrgico da Usiminas, recentemente falecido.
Porém, a despeito da quebra do pacto de silêncio, permaneciam muitas dúvidas em relação ao que teria ocorrido no 7 de outubro de 1963. A principal delas dizia respeito ao número de mortos. Havia a crença de que o número de vítimas fatais era muito maior do que o que apontavam os registros oficiais. Mas nunca foram apresentadas provas nesse sentido.
Em 2004, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, abriu-se uma possiblidade de que esse mistério pudesse ter fim. Lula enviou ao Congresso uma medida provisória que permitia que familiares de pessoas que perderam a vida em função do regime militar pudessem solicitar uma indenização. Era uma reedição de medida semelhante apresentada anos antes pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. A diferença era que a MP de Lula permitia que fossem indenizados familiares de pessoas que perderam a vida durante protestos de rua. No governo de Fernando Henrique somente puderam ser indenizados familiares de pessoas que morreram em dependências públicas, ou seja, delegacias e instituições semelhantes.
A MP de Lula abria caminho para que pela primeira vez, o Estado brasileiro indenizasse os familiares das pessoas que morreram no dia 7 de outubro. A expectativa era que familiares de mais pessoas, além das oito que constam nos documentos oficiais, entrassem com o pedido, o que não ocorreu. Sendo assim, o número oficial de mortos permanece como sendo de oito.
Porém, não entram na contabilidade oficial três desaparecidos, cuja existência chegou até mim quando eu era repórter do jornal “Estado de Minas”. Após a publicação de reportagem sobre o Massacre de Ipatinga, em 2004, fui procurado por uma pessoa, Aloísio Salgado que estava em busca do pai, Gesulino França de Souza. Na peregrinação, a última informação que havia obtido era de que o pai estava, junto com o amigo Fábio França de Souza, na aglomeração que se formou em frente a um dos portões de entrada da empresa no dia 7 de outubro de 1963. A partir daí, nenhuma informação a mais sobre ele foi possível obter. Presumivelmente, Gesulino e Fábio estão mortos. Porém, como não havia os corpos, o correto é dizer que eles estão desaparecidos.
Um terceiro desaparecido é João Flávio Neto, cuja irmã afirma que ele sumiu na mesma época, embora não haja testemunhas de que estivesse no local em 7 de outubro. Assim, na conta das vítimas do Massacre de Ipatinga é preciso acrescentar, além dos oito mortos, a existência de três desaparecidos.
Havia dúvidas quanto ao número de feridos. No IPM aberto em 7 de outubro, constam 47 vítimas que foram atendidas os hospitais da região após os disparos. Porém, do IPM não fez parte uma outra lista de feridos: a dos que foram atendidos no ambulatório da Usiminas em consequência dos acontecimentos da noite do dia 6 e madrugada do dia 7. O cruzamento das duas listas resulta em um número total de 92 feridos. Esse cruzamento revelou algo bizarro: houve pessoas foram feridas duas vezes, nos acontecimentos da noite e madrugada de 6 e 7 e, novamente, no desfecho trágico do final da manhã do dia 7.
Esse número final foi obtido por mim durante o trabalho de consultoria que prestei à Comissão Estadual da Verdade em Minas Gerais (Covemg), em 2016 e 2017. Além de trazer à luz novos fatos, como o total de vítimas, no relatório final propus a revisão da ideia do que foi o Massacre de Ipatinga que, até então, levava em conta apenas os acontecimentos da manhã de 7 de outubro. A bem da verdade, o Massacre de Ipatinga deve ser considerado como um processo único, com duração de aproximadamente 12 horas, que se iniciou na troca de turno das 22h do dia 6, adentrou a madrugada do dia 7 – com a prisão de aproximadamente 300 trabalhadores nos alojamentos de Santa Mônica – e terminou pela manhã do mesmo dia, com a concentração operária em frente ao portão de entrada da empresa, que foi dissolvida a tiros pelos policiais militares.
O número final de atingidos pela repressão nos dias 6 e 7 caracteriza o Massacre de Ipatinga como o conflito operário mais sangrento e com maior número de vítimas na história do Brasil. Relembrar e compartilhar aqueles acontecimentos é fundamental para a construção de uma cultura histórica em nosso país e para que nunca mais massacres ocorram.
Antônio Concenza/Estado de Minas – 09/10/1963 – Chacina em Ipatinga – Operarios da Usiminas observam o cadaver de um companheiro assassinado durante o massacre realizado em Ipatinga por soldados da Policia Militar.
PARA SABER MAIS:
Freitas, Marcelo. Não foi por acaso: a história dos trabalhadores que construíram a Usiminas e morreram no Massacre de Ipatinga. Belo Horizonte: Comunicação de Fato Editora. Disponível em www.comunicacaodefato.com.br
Soares, Daniel Miranda. “O Massacre de Ipatinga”.Cadernos do CET nº 17, Petrópolis: Editora Vozes, 1982
Há 40 anos nascia a maior e mais duradoura central sindical da história do Brasil. A fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo era fruto direto de uma efervescente conjuntura iniciada com uma onda de greves e mobilizações sociais que tomou conta do país a partir de 1978. A luta dos trabalhadores impactou os rumos da redemocratização e colocou o movimento sindical no centro da arena política. Para refletir sobre aquela conjuntura, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que estavam em São Bernardo naquele 28 de agosto de 1983. No segundo episódio, Zica Oliveira, trabalhadora doméstica do Rio de Janeiro, fala das lutas das domésticas para terem seus direitos reconhecidos como trabalhadoras e da participação da categoria no processo de fundação da CUT.
Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Yasmin Getirana | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Yasmin Getirana
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Neste episódio de Livros de Classe, Paula Elise Soares, professora do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), apresenta o livro “A greve no masculino e no feminino [Osasco, 1968]”, de Marta Gouveia Rovai. Fruto de sua tese de doutorado, a obra tece uma análise das relações de gênero a partir da memória coletiva sobre a greve de Osasco de 1968. O denso trabalho de história oral realizado pela autora deu centralidade à experiência feminina no movimento operário e na resistência à ditadura naquele contexto.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Há 40 anos nascia a maior e mais duradoura central sindical da história do Brasil. A fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo era fruto direto de uma efervescente conjuntura iniciada com uma onda de greves e mobilizações sociais que tomou conta do país a partir de 1978. A luta dos trabalhadores impactou os rumos da redemocratização e colocou o movimento sindical no centro da arena política.
Para refletir sobre aquela conjuntura tão especial, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que estavam em São Bernardo naquele 28 de agosto de 1983. No nosso primeiro episódio, Almerico Lima, petroquímico da Bahia, relata sobre sua história de militância sindical durante a redemocratização do país e conta suas experiências no Congresso de Fundação da CUT.
Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Deivison Amaral | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Larissa Farias
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias
Nesta quinta edição da série “Vale a Dica”, Alexandra Veras, doutoranda em história pela UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica o filme “Dois dias, uma noite”, dirigido por Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne. Lançado em 2014 e protagonizado por Marion Cotillard, o filme retrata a história de Sandra, operária, mãe e esposa. Devido a um quadro de depressão, precisa ser afastada de seu trabalho e quando retorna descobre que os funcionários da fábrica optaram por um bônus no lugar do seu emprego. Sandra, em dois dias, uma noite, tenta então convencer seus colegas a não aceitarem o bônus e assim retomar seu emprego. O filme nos permite reflexões acerca das transformações em curso nos mundos do trabalho e de seus impactos na saúde mental de trabalhadores e trabalhadoras.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus –
Vale Mais
Na décima quarta edição da série “Vale a Dica”, Larissa Farias, mestranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT-UFRJ, indica “Orgulho e Esperança”, de Matthew Warchus.
O filme narra a história real de solidariedade entre o grupo Lesbians and Gays Support the Miners (LGSM) e os mineiros britânicos durante a greve de 1984-1985. Destaca o impacto do apoio mútuo em um momento em que o governo de Margaret Thatcher ameaçava milhares de empregos e comunidades.
Como destaca a historiadora, a greve foi além da luta por salários e melhores condições de trabalho, mas buscou preservar comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, o LGSM expandiu o ativismo LGBT ao abordar questões de classe e inserir pautas LGBT na agenda trabalhista.
Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana
Edição: Brenda Dias