Livros de Classe #38: Cantores do rádio, de Alcir Lenharo, por Regina Horta

No último episódio da temporada de 2023, Regina Horta, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta o livro “Cantores do rádio: A trajetória de Nora Ney e Jorge Goulart e o meio artístico de seu tempo”, de Alcir Lenharo. Publicada em 1995, a obra analisa de maneira pioneira as relações entre a cultura popular e a indústria cultural nos anos 1940 e 50, além de explorar os mundos do trabalho dos artistas durante a “era do rádio” brasileira.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #36: Mulheres negras e os mundos do trabalho na primeira República (1889-1930), por Rosana Falcão Lessa

Rosana Falcão Lessa (Doutora em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Professora da Educação Básica da rede pública)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Fundamental II (9o ano)

Unidade temática: O nascimento da República no Brasil e os processos históricos até a metade do século XX.

Objetivos gerais:

– Entender as possibilidades de inserção social das mulheres negras no pós- abolição.

– Conhecer e refletir sobre o protagonismo das mulheres negras, frente aos desafios interseccionais (gênero, classe, raça) no contexto da primeira a Primeira República.

– Discutir sobre a importância da presença feminina na construção do operariado brasileiro, bem como sua centralidade nas ações de resistência à sistemática negação e violação de direitos, e humanidade.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EF09HI01) Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da emergência da República no Brasil.

(EF09HI03) Identificar os mecanismos de inserção dos negros na sociedade brasileira pós-abolição e avaliar os seus resultados.

(EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política e social do Brasil.

(EF09HI05) Identificar os processos de urbanização e modernização da sociedade brasileira e avaliar suas contradições e impactos na região em que vive.

(EF09HI06) Identificar e discutir o papel do trabalhismo como força política, social e cultural no Brasil, em diferentes escalas (nacional, regional, cidade, comunidade).

(EF09HI07) Identificar e explicar, em meio a lógicas de inclusão e exclusão, as pautas dos povos indígenas, no contexto republicano (até 1964), e das populações afrodescendentes.

Duração da atividade:

Aulas Planejamento
1Etapa 1
2 e 3Etapa 2
4Etapa 3
5 e 6 Etapa 4

Conhecimentos prévios:

– Conhecer as hierarquias sociais no Brasil escravista.
– Compreender os conceitos de República e Cidadania.
– Conhecer o conceito/característica de uma Sociedade Patriarcal.
– Identificar situações que evidenciem o racismo, sexismo e importância do gênero como categoria análise.


Atividade

Recursos: Jornais, fotografias, livro didático, entrevistas, internet, música, data show, amplificador, cópias impressas.

Etapa 1: Sensibilização

O/a professor/a deverá projetar no data show ou distribuir em cópias impressas o conjunto de fontes abaixo:

TRANSCRIÇÃO DA MATÉRIA: “UNIÃO DOS TRABALHADORES EM FÁBRICAS DE FUMO”

O jornal A classe Operária, de 30 de maio de 1925, traz um apelo das charuteiras da Bahia:

A classe operária, 30 de maio de 1925.
As operária Charureiras da Bahia apellam para “A Classe Operária”.
São Félix, 12 de maio.
Levamos ao conhecimento do proletariado industrial e agrícola os horrores que sofremos. Somos tratadas como seres inferiores.
Por dia podemos fazer no máximo 300 charutos “a pau”, isto é, comuns. Sendo a mão as companheiras mais ligeiras conseguem fazer de 100 a 140. Os patrões pagam por um cento de charutos 1$500, 1$, $800, $ 700, $ 640, $ 620, $ 600 e até $ 500. Os charutos a mão são pagos a 2$ o cento.
Quando fazemos mais de cem os patrões descontam alegando que há alguns charutos com defeito. E então, perdemos o feito.
Nosso salário regula entre 15$ e 20$ semanais. Em cada cento, deixamos um charuto para o patrão. Havendo 600 operários e operárias só na Costa Ferreira e Penna, podemos calcular que esses senhores ficam diariamente com 1200 charutos grátis. São, portanto no fim do ano 360 mil charutos grátis.
Deixamos a mais dois dias de trabalho. Esses dois dias só são recebidos de seis em seis meses. Imagine o proletariado do Rio o que valem dois dias arrancados a 600 operários e operárias que ganham 2$ a 3$ por dia, isso mesmo só quando acham aviamentos.
Somos empreiteiras. Ganhamos pelo que fazemos. Os diaristas deste trabalho são poucos; trabalham em outra seção como a banca de capas que apronta os aviamentos.
Bebemos água em uma caneca. A caneca é uma lata de creolina que adaptamos. O depósito d’agua são duas jarras.
Há pouco com a greve, os burgueses daqui argumentaram 40 e 60 réis em um cento de charutos, fazendo de nós mendigas.
As companheiras grávidas continuam sentar-se com os mesmo tamboretes de pau tosco.
Os que nas grandes cidades, nas casas elegantes fumam os charutos finos de São Félix, mal sabem a exploração inominével a que vivemos submetidas.
Nossas aspirações são as seguintes:

(A) Econômicas

  1. Salário fixo de 4$ diários por 250 charutos a pau ou cem charutos a mão;
  2. Nenhum desconto quando a conta passar de cem charutos;
  3. Nem um só charuto de quebra;
  4. Pagamento semanal de todos os dias de trabalho;
  5. Extinção de empreitadas;
  6. Licença de 15 dias para as companheiras no parto e pagamento integral

(B) Higiênicos

  1. Água pura e Copos
  2. Bancos especiais para companheiras grávidas

(C) Políticas

  1. Direito a livre associação;
  2. Não sermos despedidas quando comemorar o 1º de maio.

Tais são as nossas aspirações imediatas. O primeiro de maio é feriado por lei, em todo país menos em São Félix.
Este ano os senhores da Costa Ferreira e Penna proibiram que comemorássemos nosso dia sob ameaça de irmos para rua.
Operárias charuteiras de São Félix
.

A partir das fontes apresentadas, os/as estudantes deverão refletir sobre as seguintes questões:
1) O que podemos observar a respeito do mercado de trabalho destinado às mulheres na Primeira República, em São Félix-BA?
2) Quais eram as reivindicações das operárias das fábricas de fumo em São Félix-BA? Elas estavam apenas voltadas para o espaço de trabalho ou extrapolavam o chão de fábrica? Justifique.
3) Vocês consideram que trabalhar fora de casa era uma opção ou uma necessidade para as mulheres na Primeira República? Pensando a partir de  um recorte racial, quais mulheres, majoritariamente, viam-se impelidas à ingressar no mercado de trabalho?

Como tarefa de casa, os/as estudantes, devem ser estimulados a observar como o racismo estrutural e as suas raízes históricas impactam, ainda hoje, a sociedade brasileira.
1) As mulheres brancas e negras possuem as mesmas oportunidades no mercado de trabalho?
2)Quais os lugares são naturalizados no mercado de trabalho para mulheres brancas? E as mulheres negras?
3)Quais as possibilidades de resistência da população negra na atualidade?


Etapa 2: Contextualização e aprofundamento

Após ouvir e debater as informações trazidas pelos/as estudantes que foram solicitadas na aula anterior, o/a professor/a deverá construir uma aula expositiva com base no livro didático, e refletir sobre temas como: a construção da cidadania nos primórdios da República, a invisibilidade da população negra e as diferenças interseccionais na construção feminilidade.
Para subsidiar as discussões, sugerimos dois recursos como forma de aprofundar as discussões: o primeiro é a reprodução do discurso de Sojourner Truth2, de 1851; o segundo, o vídeo da série “Coisa mais linda” que mostra assimetrias entre as demandas das mulheres negras e brancas, o que diferencia o feminismo negro e branco.

“Não sou uma mulher?

Aquele homem ali diz que é preciso
ajudar as mulheres a subir numa carruagem, é preciso carregar elas quando
atravessam um lamaçal e elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca
ninguém me ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o
melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu
capinei, eu plantei juntei palha nos celeiros e homem nenhum conseguiu me
superar! E não sou uma mulher? Eu consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem
– quando tinha o que comer – e também aguentei as chicotadas! E não sou mulher?
Pari cinco filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando
manifestei minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou uma
mulher?

E daí eles falam sobre aquela coisa que tem na
cabeça, como é mesmo que chamam? (uma pessoa da platéia murmura: “intelecto”).
É isto aí, meu bem. O que é que isto tem a ver com os direitos das mulheres ou
os direitos dos negros? Se minha caneca não está cheia nem pela metade e se sua
caneca está quase toda cheia, não seria mesquinho de sua parte não completar
minha medida?

Então aquele homenzinho vestido de preto diz que
as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não
era mulher! Mas de onde é que vem seu Cristo? De onde foi que Cristo veio? De
Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com Ele.

Se a primeira mulher que Deus criou foi
suficientemente forte para, sozinha, virar o mundo de cabeça para baixo, então
todas as mulheres, juntas, conseguirão mudar a situação e pôr novamente o mundo
de cabeça para cima! E agora elas estão pedindo para fazer isto. É melhor que
os homens não se metam. Obrigada por me ouvir e agora a velha Sojourner não tem
muito mais coisas para dizer.
”.

Recurso 2: Exibição do trecho da série “Coisa mais linda” (2019) 

Ao final da atividade, em uma roda de conversa, os/as alunos deverão dialogar sobre questões abaixo:
1) Quais as possibilidades de trabalho das mulheres negras fora âmbito doméstico?
2) Como explicar a centralidade das mulheres negras nas famílias pobres?
3) Estamos humanizando ou desumanizando as mulheres negras quando as naturalizamos como fortes e resistentes?
4) No decorrer da sua vida escolar, como vocês percebem que as mulheres negras aparecem no livro didático? Ou não aparecem?
5) Em quais momentos da sua vida escolar e da sua vida cotidiana as mulheres negras são vistas como agentes da sua história e essenciais para preservação, sustentação e perpetuação cultural, econômica e intelectual da população negra?


Etapa 3: Problematização

A partir desses conhecimentos, o/a professor/a deverá problematizar como os ex- escravizados, livres e libertos foram inseridos na sociedade brasileira no contexto do pós- abolição e da recém-instalada República. A proposta aqui é discutir como o racismo moldou as relações sociais no Brasil, a partir da identificação das formas estruturais de marginalização e invisibilização da população negra naquele período, bem como as estratégias de organização e resistência da população negra.
Propomos algumas fontes/ recursos abaixo para subsidiar as discussões:

Recurso 1: Distribuir a letra da canção e ouvir a música “14 de maio”, de Lazzo Matumbi (nome artístico de Lázaro Jerônimo Ferreira, cantor, compositor e ativista brasileiro. Um dos expoentes da música negra baiana, oriundos do bloco afro Ilê Aiyê).

14 de Maio
Canção de Lazzo Matumbi

No dia 14 de maio, eu saí por aí
Não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir
Levando a senzala na alma, subi a favela
Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci
Zanzei zonzo em todas as zonas da grande agonia
Um dia com fome, no outro sem o que comer
Sem nome, sem identidade, sem fotografia
O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver
No dia 14 de maio, ninguém me deu bola
Eu tive que ser bom de bola pra sobreviver
Nenhuma lição, não havia lugar na escola
Pensaram que poderiam me fazer perder
Mas minha alma resiste, o meu corpo é de luta
Eu sei o que é bom, e o que é bom também deve ser meu
A coisa mais certa tem que ser a coisa mais justa
Eu sou o que sou, pois agora eu sei quem sou eu
Será que deu pra entender a mensagem?
Se ligue no Ilê Aiyê
Se ligue no Ilê Aiyê, agora que você me vê
Repare como é belo, vê nosso povo lindo
Repare que é o maior prazer
Bom pra mim, bom pra você
Estou de olho aberto
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Será que deu pra entender a mensagem?
Se ligue no Ilê Aiyê
Se ligue no Ilê Aiyê, agora que você me vê
Repare como é belo, vê nosso povo lindo Repare que é o maior prazer
Bom pra mim, bom pra você
Estou de olho aberto
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Olha, moço, fique esperto, que eu não sou menino
Diz aí!
E aí, mano!

Recurso 2: Jornal O Campesino, 1921, São Gonçalo dos Campos/BA,  que fala sobre a abertura de uma escola noturna por um membro dogrupo familiar Cazumbá3 Esse documento ilustra uma das estratégias resistência da população negra, através da educação, bem como seu protagonismo no processo luta por dignidade e humanização.

Transcrição:

Escola Noturna gratuita, sob os aupícios do nosso dedicado amigo e illustre conterrâneo Luiz Cardozo Cazumbá, fundou-se nesta cidade,  no dia 4 do corrente, uma aula noturna gratuita, com o fim elevado e patriótico de combater o analfabetismo tão elevado em nosso meio. As aulas estão sendo dadas provisoriamente em sua residência, estão começando de 7 às 9 horas da noite com já adeantado número de alunnos. Levando um abraço sincero de parabéns ao nosso amigo Cazumbá pela sua brilhante ideia, fazemos votos para veja coroado de refulgentes êxito os seus imensos esforços, arrancando das trevas da  ignorância muitos sangonçalenses, que poderão talvez amanhã, bebendo nas fontes do saber, vir a ser o futuro de glória desta terra.

Após a apresentação dos recursos/ fontes, os/as estudantes deverão se reunir em grupos e recriar o seguinte trecho da música de Matumbi, procurando identificar ações de resistência da população negra à marginalização (como a que foi exemplificada na fonte apresentada), bem como outras que possam vir a ser apresentadas pelo/a professor/a.

No dia 14 de maio, eu saí por aí (…)
Não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir
Levando a senzala na alma, subi a favela
Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci
Zanzei zonzo em todas as zonas da grande agonia
Um dia com fome, no outro sem o que comer
Sem nome, sem identidade, sem fotografia
O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver”.


Etapa 4

Diante do panorama explorado, os/as estudantes deverão se organizar em grupos e elaborar uma exposição na escola com imagens sobre a o papel das mulheres negras na história do trabalho/econômica no contexto em que estão inseridos. e os lugares que essas mulheres predominam socialmente na atualidade, pensando sempre na relação passado e presente. É importante trazer para a atividade a influência cultural e religiosa das mulheres negras, bem como fotografias delas ou dos grupos que representam irmandades, sindicatos, manifestações culturais. O objetivo da exposição é descontruir estereótipos e trazer para centralidade do debate histórico, a importância das mulheres negras enquanto sujeitos históricos.
Sugestão: Trazer para o trabalho uma pesquisa de imagens e referências sobre intelectuais como Audre Lord, Patrícia Hills, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, dentre outras, cujo objetivo é popularizar e reconhecer as obras de intelectuais negras.


Bibliografia e Material de apoio:

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

FONTES, José Raimundo. Manifestações operárias na Bahia: o movimento grevista, 1888-1930. 1982. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1982.

LESSA, Rosana Falcão. Mulheres, trabalho e memória na Bahia: o caso da indústria fumageira de São Gonçalo dos Campos, 1950-1980. Salvador: Editora Devires, 2020.

NAS MALHAS DO FUMO: cotidiano, família e trabalho feminino no  Recôncavo Fumageiro, 1870-1920 / ROSANA FALCÃO LESSA. — Rio de Janeiro, 2022. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em História.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: 1 contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, set./dez. 2016.


Créditos da imagem de capa: Fichas de registro de meninas empregadas,1923. Fonte: Arquivo Público de São Félix.



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

LMT #126: Pedreira Macahyba, Macaíba (RN) – Yuri Simonini


Yuri Simonini
Doutor em História pela UFMG e Professor do Centro Universitário do Rio Grande do Norte


Em 1927, durante o processo de melhoramento do porto da capital do estado do Rio Grande do Norte foram capturadas diversas fotografias com o propósito de documentar o dia a dia das atividades em curso. Destaca-se, entre elas, uma imagem, na qual os operários se posicionam em fileiras sobre a locomotiva destinada ao transporte das pedras destinadas à construção da guia-corrente da entrada do porto. Nessa composição visual, trabalhadores e máquina interagem de forma confluente, fundindo-se em uma coesão quase indistinguível.

A mão de obra utilizada nas atividades de melhoramento do porto de Natal consistiu principalmente em sertanejos retirantes devido às condições pluviométricas irregulares da região. O “flagelo das secas”, termo comum adotado após a Grande Seca de 1877, forçou milhares de nordestinos a migrarem para as grandes cidades em busca de auxílios em diversos momentos ao longo do século XX.

Entre os anos de 1904 a 1907, período que coincide com o estabelecimento da Comissão de Melhoramentos do Porto de Natal, a capital experimentou significativo influxo de migrantes afetados pela seca de 1905. Em 1906, o governador Tavares de Lyra observou a presença aproximada de milhares desses migrantes, resultando em uma série de desafios relacionados à ordem pública e às condições sanitárias, em uma cidade que contava com população de 23.121 habitantes. As cenas, registradas em jornais, crônicas e nos relatórios da chefatura de polícia, enfatizavam “espetáculo de horrores”, como saques à estabelecimentos comerciais, fome, disseminação de doenças e mortes.


Para evitar maiores convulsões sociais, era comum o poder público organizar comissões para recrutamento de parte desse grupo de flagelados para trabalhar em diversas frentes, mediante pagamento ao dia de serviço.


As formas de recrutamento, os valores pagos e o montante de pessoas envolvidas eram vagos e imprecisos. As tarefas incluíam atividades como pavimentação de ruas, limpeza de avenidas, construção de edifícios residenciais e instalações portuárias. Além disso, foram designados para participar na construção de ferrovias, cultivo agrícola e uma variedade de outros serviços, incluindo a atuação na pedreira Macahyba.

A pedreira se situava à margem esquerda do Rio Potengi – que seguia até Natal –, próxima à cidade de Macaíba, distante cerca de 20 quilômetros do porto e conectada por rede ferroviária destinada ao transporte do material extraído. A pedreira havia sido criada quase que exclusivamente para o melhoramento portuário. Da mesma maneira que as frentes de trabalho que ocorriam na capital potiguar do início do século XX, os registros documentais sobre esses trabalhadores são muito raros.

O trabalho era predominantemente de natureza manual, contando apenas com uma estrutura mínima para a extração das pedras destinadas à construção das guias e ao aterramento das áreas destinadas à infraestrutura terrestre do porto. Além do guindaste, utilizado para o içamento das pedras a serem transportadas, a pedreira dispunha de barracão equipado com as máquinas essenciais para o funcionamento do sistema de ar comprimido, empregado para acionar as ferramentas de extração. Esta estrutura, impulsionada por força a vapor e operada por uma equipe de dois trabalhadores, foi inaugurada em 20 de agosto de 1927.

Diferentemente dos engenheiros e de outros profissionais com qualificações técnicas, esses operários, incluindo todo o ciclo de serviços relacionados ao aprimoramento do porto, careciam de registros profissionais ou de qualquer outro dado oficial, sendo rotineiramente remunerados em uma genérica categoria de diárias de serviço, conforme evidenciado pelos relatórios orçamentários. O que restou destes trabalhadores foram suas presenças quase sem rostos nas fotografias. A única exceção a essa condição de invisibilidade era representada por Manuel Gaya, cuja natureza do trabalho de mergulho com auxílio do escafandro lhe conferiu certo destaque nas publicações jornalísticas locais naquele período.

A relevância da pedreira para as operações portuárias da cidade, no entanto, não encontra paralelo nas documentações relativas ao processo de aprimoramento do porto. Macaíba, anteriormente um centro comercial e ponto de destino para mercadorias provenientes do interior do norte do Rio Grande do Norte e direcionadas à capital, possui atualmente diversas pedreiras em atividade nas suas proximidades. Historicamente, a região forneceu rochas graníticas utilizadas para uma variedade de propósitos na cidade, mas inexiste informações sobre outras pedreiras em atividade naquele período. A região fornecia material para os trabalhos de cantaria e pavimentação de ruas nas primeiras décadas do século XX, particularmente se considerarmos a finalização das extensas obras de pavimentação urbana em 1929, durante o mandato do prefeito Omar O’Grady.

A pedreira Macahyba, apesar de sua relevância no processo de melhoramento portuário da capital potiguar, possui uma história tão imprecisa quanto aqueles trabalhadores oriundos das secas, impedindo a reconstrução de suas histórias individuais e do seu papel nas obras de infraestrutura portuária de Natal. Assim, tanto os operários anônimos quanto a pedreira permanecem como testemunhos silenciosos de um período importante para o Rio Grande do Norte, cuja força de trabalho e as rochas extraídas contribuíram para o desenvolvimento e transformação da cidade, sem deixar rastro visível de suas jornadas e de suas próprias vidas.

Extração e transporte das rochas graníticas na Pedreira Macahyba, 1927. Fonte: Centro de Documentação Norte-rio-grandense/RJ; Acervo digital do HCUrb/UFRN.


Para saber mais:

  • Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade de Natal. Natal: IHGRN, 1999.
  • Silva, Matheus Lisboa Nobre et al. As Rochas Contam Sua História: Programa de Divulgação da Geodiversidade no Centro Histórico de Natal. In: XXVI SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE, 24., 2015, Natal. Anais […]. Natal: UFRN, 2015
  • Simonini, Yuri. Porto das Secas: os anônimos trabalhadores do porto de Natal (1861-1932). Revista Mundos do Trabalho, v.12, p.1 – 17, 2020.

Crédito da imagem de capa: Os construtores da guia-corrente no trem de apoio aos serviços, 1927. Fonte: Centro de Documentação Norte-rio-grandense/RJ; Acervo digital do HCUrb/UFRN.


MAPA INTERATIVO

Navegue pela geolocalização dos Lugares de Memória dos Trabalhadores e leia os outros artigos:


Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Vale a Dica #06: Museu de Artes e Ofícios



Nesta sexta edição da série “Vale a Dica”, Victória Cunha, mestranda em história pela UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, sugere uma visita ao Museu de Artes de Ofícios, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Localizado nos prédios que comportavam as antigas estações de trem da capital mineira, o MAO é a morada do único museu que se dedica integralmente ao tema do trabalho, das artes e dos ofícios no Brasil. Seu acervo é resultado do trabalho do engenheiro Flávio Gutierrez e de sua filha Angela Gutierrez, que colecionaram mais de 2.500 peças relacionadas aos ofícios do período pré-industrial no Brasil. De acordo com a instituição, “O museu é um convite para que o trabalhador se encontre consigo mesmo, com sua história e com seu tempo”. O acervo material presente na exposição nos permite refletir sobre as configurações dos mundos do trabalho no Brasil e nas suas transformações ao longo do tempo.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

Desindustrialização e história social: a experiência alemã


Este workshop de um dia explorará como, na historiografia alemã, os debates sobre desindustrialização têm impactado a história social e suas variadas temáticas, como. identidades regionais e culturais, patrimônio industrial, história do trabalho, história ambiental, gênero e os efeitos da desindustrialização no tecido social e na vida política.
Essa atividade integra o Projeto PROBRAL “Desindustrialização e História Social” da UFRJ, UFBA, FGV-SP e Ruhr-University Bochum e apoiado pela CAPES e DAAD.
Haverá tradução simultânea inglês-português-inglês.

9h30- Abertura: Paulo Fontes (IH/UFRJ)


10h – 12h30 – Mesa 1: Experiências de desindustrialização e o debate internacional


Comentários: Rodrigo Santos (IFCS/UFRJ)
• Stefan Berger (Institute for Social Movements, Ruhr-University Bochum)
Desindustrialização: a construção de um campo de estudos internacional e o lugar da história social
• Constantin Goscher (Ruhr-University Bochum)
O debate sobre a desindustrialização da Alemanha Oriental após a reunificação alemã.
• Leonie Karwath (Ruhr-University Bochum)
Histórias conectadas: desindustrialização na Alemanha e no Brasil


14h – 17h – Mesa 2: História da desindustrialização na Alemanha: vida social e política


Comentários: Lise Sedrez (IH/UFRJ)
• Hans-Heiner Holtappels
Desindustrialização, desemprego e relações de trabalho no leste alemão
• Sophia Friedel (Ruhr-University Bochum)
Co-determinação alemã – Um modelo de mudança e continuidade
• Alicia Gorny
Gênero e desindustrialização: a experiência da indústria têxtil e de vestuário na região do Ruhr

Livros de Classe #37: Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas, de Alexandre Fortes, por Fernando Pureza

Neste episódio, Fernando Pureza, Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), apresenta o livro “Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas”, de Alexandre Fortes. Fruto de sua tese de doutorado defendida na Unicamp, “Nós do quarto distrito”, ao articular os processos de formação de classe e de identidades étnicas, analisa de forma inovadora a história dos bairros operários de Porto Alegre entre o início do século XX e os anos 1950. Além disso, o livro tornou-se uma referência fundamental para os estudos das relações políticas entre classe trabalhadora, empresariado e Estado, desafiando as abordagens tradicionais sobre o populismo e o trabalhismo.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

O Nascimento da CUT #05 | com Zé Ferreira



Há 40 anos era fundada a maior e mais duradoura confederação sindical da história do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para refletir sobre aquela importante conjuntura política e sindical, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que participaram da fundação da CUT.
Em nosso último episódio, Zé Ferreira, metalúrgico do ABC Paulista, nos conta detalhes sobre as grandes greves operárias que abalaram o Brasil no final dos anos 1970, sobre as articulações sindicais e a importância da Conclat de 1981 em Praia Grande. Já como vereador em São Bernardo, eleito em 1982, Zé Ferreira teve papel destacado nas negociações para a liberação do Pavilhão Vera Cruz, onde foi realizado o Congresso de Fundação da CUT em agosto de 1983.

Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Deivison Amaral | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Inghrid Masullo

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

Chão de Escola #35: Mundos do Trabalho: entre História, clicks e flashs


Juliana da Silva Barros (Mestra em Ensino de História UFPB-PROFHISTÓRIA e professora do Instituto Educacional Professora Bernadete Marinho)


Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Fundamental Anos Finais – 8º e 9º ano

Unidade temática: Mundos do Trabalho – formas de organização social, econômica e cultural

Objetos de conhecimento:

– Condições de trabalho e exploração em diferentes contextos históricos;

– Os protagonismos da sociedade civil e as alterações da sociedade brasileira;

– Brasil e suas relações na era da globalização.

Objetivos gerais:

– Debater sentidos e conceito de trabalho;

– Identificar as condições de trabalho e exploração no meio rural e urbano;

– Compreender as marcas da exploração do trabalho como um processo histórico;

– Reconhecer os processos de lutas por direitos trabalhistas e melhores condições de vida;

– Perceber os avanços da Precarização nas condições de trabalho no contexto atual.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EF08HI03) Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas.

(EF08HI20) Identificar e relacionar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados da escravidão no Brasil e discutir a importância de ações afirmativas.

(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos sociais.

(EF09HI32) Analisar mudanças e permanências associadas ao processo de globalização, considerando os argumentos dos movimentos críticos às políticas globais.

(EF09HI33) Analisar as transformações nas relações políticas locais e globais geradas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.

Duração da atividade: 3 aulas de 50 minutos

Aulas Planejamento
1Etapa 1 e 2
2Etapa 3
3Etapa 4
4Etapa 4 e 5
5Etapa 5 e 6

Conhecimentos prévios:

Revolução Industrial e seus impactos na produção e circulação de povos, produtos e culturas;

História do Brasil: transformações políticas, econômicas, sociais e culturais a partir de 1930.


Atividade

Recursos: lousa e caneta pincel; livro didático; textos complementares (cópias); projetor multimídia, celular, computador conectado à internet ou fotografias impressas.

Etapa 1: Apresentação da temática

A introdução da temática pode ser feita de maneira bem simples, por meio de perguntas geradoras, no sentido de avaliar o conhecimento comum dos alunos. No desenvolvimento utilizei a dinâmica do mapa conceitual: escreva na lousa os conceitos-chave da temática abordada (exemplo: trabalho, condição de vida, exploração). Em seguida questione cada aluno da turma sobre o que aquela palavra representa. Anote as respostas ou solicite que os alunos escrevam na lousa.

Exemplo de mapa conceitual realizado com uma turma do 8º ano (2021). Reprodução/Acervo da autora

Em seguida, debater sobre como essas definições foram elaboradas, de onde buscaram informações ou como chegaram a essa conclusão. Introduzir as definições históricas, procurando gerar uma reflexão entre o senso comum e o conhecimento científico.

O trecho abaixo pode ser usado como referência:

A noção de trabalho, como toda ideia humana, muda de definição ao longo do tempo. Em sua definição mais comum, trabalho é toda ação de transformação da matéria natural em cultura, ou seja, toda transformação executada por ação humana. Mas o trabalho tem significados diferentes de acordo com a cultura que o vivencia e, em muitos casos, o que é considerado trabalho em uma não é na outra.

No contexto do mundo industrial, e pós-industrial, o trabalho é uma categoria que representa um esforço coletivo e socialmente organizado. Porém cada cultura vê o trabalho de forma diferente: Na maior parte do Brasil, influenciado pela tradição da Reforma Católica na Idade Moderna, para a qual o trabalho era um castigo imposto ao homem por Deus, trabalhar é uma atividade necessária, mas vista como imposição.

Podemos ver o conceito de trabalho em nossa sociedade na definição do IBGE, para quem trabalho são todas as ocupações remuneradas em dinheiro, mercadoria ou benefício, desenvolvidas na produção de bens e serviços, assim como qualquer ocupação remunerada no serviço doméstico e qualquer ocupação não remunerada na produção de bens e serviços desenvolvidas em, pelo menos, uma hora por semana. Essa definição, apesar de bastante ampla e de incluir as empregadas domésticas, exclui as donas de casa, que continuam a ser consideradas, no Brasil, economicamente inativas.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. ed. 2. p. 400-404 (adaptado pela autora)

Questões Geradoras:
1) Por que o Trabalho é um elemento social importante?
2) Todos temos direito a boas condições de Trabalho?

Etapa 2: Atividade Prática – produção fotográfica

Nesse momento, incentive os alunos a sintetizarem os conhecimentos da aula por meio da fotografia. Essa atividade pode ser solicitada como “tarefa de casa”, uma vez que os alunos precisam de tempo para explorar o seu entorno e realizar os registros fotográficos. Caso tenha oportunidade, outra estratégia muito válida é conduzir os alunos aos espaços no entorno da escola (ruas, praças, etc.), onde possam observar e fotografar.

Para que os alunos compreendam melhor a dinâmica, é necessária uma  explicação detalhada, em vez de exercícios e textos escritos. A tarefa consiste em apresentar os conceitos e temáticas apreendidas em uma fotografia autoral, que eles podem realizar com o próprio celular ou outra ferramenta de captura de imagem que tiver a disposição, também estão livres para editar as fotografias como preferir por meio de aplicativos, redes sociais ou sites da internet.

Etapa 3: Problematização do objeto fotográfico como fonte de conhecimento histórico

O objetivo desse momento é problematizar as fotografias como documento/monumento histórico e objeto de mediação na compreensão dos contextos históricos. Como texto provocador, sugiro a leitura coletivo das conclusões do artigo de Ana Maria Mauad (1996), reproduzo o trecho a seguir:

Nunca ficamos passivos diante de uma fotografia: ela incita nossa imaginação, nos faz pensar sobre o passado, a partir do dado de materialidade que persiste na imagem. Um indício, um fantasma, talvez uma ilusão que, em certo momento da história, deixou sua marca registrada, numa superfície sensível.

Discute-se a possibilidade de mentir da imagem fotográfica. A revolução digital, provocada pelos avanços da informática, torna cada vez maior esta possibilidade, permitindo até que os mortos ressurjam para tomar mais um chope, tal como a publicidade já mostrou. Não importa se a imagem mente; o importante é saber porque mentiu e como mentiu. O desenvolvimento dos recursos tecnológicos demandará uma nova crítica, que envolva o conhecimento das tecnologias feitas para mentir.

Toda a imagem é histórica. O marco de sua produção e o momento da sua execução estão indefectivelmente decalcados nas superfícies da foto, do quadro, da escultura, da fachada do edifício. A história embrenha as imagens, nas opções realizadas por quem escolhe, uma expressão e um conteúdo, compondo através de signos, de natureza não verbal, objetos de civilização, significados de cultura.

MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história – interfaces. Revista Tempo. Rio de Janeiro: dez 1996. v.1. n. 2. p. 73-98, (adaptado pela autora).

Questões geradoras podem guiar o debate e a interpretação do texto:
1) Qual a importância das fotografias nos registros históricos?
2) Como analisar uma fotografia de forma histórica?
3) O que esse objeto pode nos revelar sobre as sociedades passadas?

Etapa 4: Análise temática

Momento dedicado a análise da fotografia como fonte histórica para a compreensão dos Mundos do Trabalho. Os registros fotográficos escolhidos procuraram se aproximar da realidade vivida pelos alunos, tratar de contextos locais e nacionais e relacionar passado e presente. Outra sugestão para a seleção das fotografias é recorrer a exemplares presentes no próprio livro didático, inclusive para inserir o aluno no processo de problematização das fotografias vinculadas a esse material.

As fotografias podem ser visualizadas coletivamente utilizando projetor multimídia e computador, impressas e distribuídas entre os alunos, ou ainda podem ser acessadas pelos celulares dos próprios alunos, uma vez que as fotografias estejam disponíveis na internet. Inclusive, acessando as páginas de origem das fotografias, os estudantes terão acesso a um grande leque de informações.

Após essa primeira leitura visual, seguindo as proposições de Bittencourt (2011), dê início a análise interna e externa das fotografias junto aos alunos.

Fotografia 1: Agricultores em uma Plantação de abacaxi na cidade de Pilar – PB, 1938
Reprodução/Acervo Biblioteca Nacional. Imagem retirada do perfil de Instagram O Historiador Parahybano (https://www.instagram.com/historiadorparahybano/?hl=pt-br).
Fotografia 2: Empreendedor! São Paulo – SP, maio de 2022
Imagem retirada do perfil de Instagram do Padre Júlio Lancelotti (https://www.instagram.com/padrejulio.lancellotti/?hl=pt-br).

Análise interna
a) Descrever a cena, os personagens e demais elementos retratados;
b) Identificar a temática, os contextos e as informações históricas apresentadas;
c) Identificar as diferentes técnicas de fotografia usadas em cada imagem.

Análise externa
a) Autor da fotografia;
b) Ano;
c) Local onde foi registrada;
d) Identificar o porquê e o para que foram realizadas.

As análises podem ser feitas de forma individual ou em grupo, anotadas pelos alunos e depois debatidas coletivamente.

Baseado nas informações recolhidas, o próximo passo é a problematização da temática em si, situando as reflexões dos conteúdos em cada contexto histórico apresentado nas fotografias. Ao logo do debate é importante que o professor acrescente informações a fim de mediar a leitura do aluno a respeito da sociedade que originou a fotografia. Para substanciar o debate, some à análise das fotografias, a textos introdutórios de acordo com as temáticas que pretende evidenciar. Importante destacar que uma mesma fotografia pode servir de mediação para uma variedade de temáticas. A escolha do que será abordado pode ficar a critério do professor ou dos elementos identificados pelos alunos.

Nessa proposta, procure destacar tanto nas fotografias quanto nos textos introdutórios os elementos que levem os estudantes a perceber formas de exploração no trabalho, a precarização das condições de vida e a importância dos diretos trabalhistas no espaço rural e urbano, procurando fazê-los relacionar passado e presente.

Atividade Fotografia 1

Refletir sobre as condições de trabalho e de vida no mundo rural relacionando passado e presente;
Debater o fato de que os trabalhadores rurais não foram diretamente atingidos pelos direitos garantidos com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 1943).

Sugestão de Leitura coletiva: A era Vargas e a legislação trabalhista aplicada aos trabalhadores rurais

Em tese, a CLT aplicou regras semelhantes aos trabalhadores rurais e urbanos no que se refere ao salário mínimo, ao contrato de trabalho, aviso prévio, férias, entre outros benefícios, possibilitando aos trabalhadores do campo pleitear o mínimo de direitos. No entanto, a CLT não abarcava as particularidades do trabalho rural[…].

No estado atual da nossa legislação o homem do campo, lavrador ou não, desde que se julgue prejudicado poderá se dirigir a Justiça acionando quem lhe pareça responsável pela lesão aos seus interesses. Mas para que os Juízes de Direito, no interior, funcionem como magistrados trabalhistas, é preciso que seja comprovada a existência de um contrato de trabalho entre as partes litigantes. Comprovada a relação contratual especial ver-se-á se o pedido é baseado em disposições sobre salários, […] aviso-prévio. A competência da Justiça do Trabalho é restrita. Verificada a existência de uma parceria entre as partes a incompetência se denúncia.

Dois aspectos importante se destacam: o reconhecimento da inexistência de órgãos trabalhistas especializados no interior do país; bem como o fato de que a reclamação deveria ser acompanhada pela comprovação do contrato de trabalho, algo bastante incomum uma vez que as relações de trabalho no mundo rural se sustentavam pela informalidade dos contratos trabalhistas. Além desses trâmites legais, as tímidas normas postas pela CLT não representaram grandes mudanças no cotidiano dos trabalhadores em algumas atividades, a maioria vivia em casas que pareciam senzalas, sem direito a fazer a lavoura. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) não lhe foi especificamente concedida.

COSTA, Lidineide Vieira da. A conquista de Direitos Trabalhistas: lutas sociais dos assalariados rurais da cana-de-açúcar no agreste e brejo paraibano (1980-1987). Dissertação de Mestrado – UFPB, 2019 (Adaptado pela autora).

Questões geradoras:
1) Quais os regimes de Trabalho vivenciados pelos trabalhadores no meio rural brasileiro?
2) As leis trabalhistas têm conseguido garantir os direitos sociais desses trabalhadores?
3) É possível identificar movimentos de lutas e resistências de trabalhadores rurais por melhores condições de vida e de Trabalho?

Atividade Fotografia 2

Trabalhar os conceitos de Empreendedorismo e Uberização;
Debater a questão da precarização das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores no mundo capitalista globalizado e seus antecedentes históricos.

Sugestão de leitura coletiva: Empreendedorismo e Uberização

Segundo a Associação Brasileira de Letras o termo Uberização é usado para indicar a transição para o modelo de negócio sob demanda caracterizado pela relação informal de trabalho, que funciona por meio de um aplicativo (plataforma de economia colaborativa), criado e gerenciado por uma empresa de tecnologia que conecta os fornecedores de serviços diretamente aos clientes, a custos baixos e alta eficiência; por extensão, designa a adoção deste tipo de relação (na esfera econômica, política, etc.), com as implicações suscitadas por este novo formato. O termo é derivado do nome da empresa Uber Technologies Inc., uma multinacional americana que introduziu este novo tipo de negócio em vários setores e serviços.

Por sua vez a palavra “empreendedorismo” teria origem no termo francês “entrepeneur” usado para se referir às pessoas que assumem risco e começam algo novo. O dicionário define o termo como a capacidade de projetar novos negócios ou de idealizar transformações inovadoras e arriscadas nas companhias e empresas ou a vocação, aptidão e habilidade de desconstruir, de gerenciar e de desenvolver projetos, atividades ou negócios.

Embora em muitos contextos associem a Uberização a uma prática empreendedora, é importante perceber que os termos são diferentes estruturalmente. Essa associação é bastante comum no Brasil, tendo em vista o crescente desemprego e desvalorização do trabalho formal, o Empreendedorismo passou a ser valorizado, para ele foi criado toda uma estrutura de idealização da informalidade nas relações de trabalho, visto como uma forma de melhorar a qualidade do trabalho e as condições de vida da classe trabalhadora brasileira. Como afirmou o sociólogo Ricardo Antunes, em entrevista à Uol: o Empreendedorismo é mito em país que não cria trabalho digno.  Em resumo essa hipervalorização do trabalho informal provida pelas novas relações de trabalho como o Empreendedorismo e a Uberização mascaram o contexto de precarização do trabalho, aumento da exploração e o esvaziamento dos direitos trabalhistas, conquistados pela luta permanente da classe trabalhadora.

Trecho elaborado pela autora a partir das seguintes referências: definição de Uberização (https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/uberizacao); definição de Empreendedorismo (https://www.dicio.com.br/empreendedorismo/#); Matéria e entrevista completa com Ricardo Antunes (https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2019/09/14/entrevista-sociologo-ricardo-antunes-trabalho-emprego-empreendedorismo.htm)

Questões geradoras:
1) De que maneira os conceitos de Empreendedorismo e Uberização se relacionam?
2) A partir de qual contexto histórico podemos observar as crescentes mudanças nas relações de trabalho?
3) Quais impactos o processo de globalização tem causado nas relações de trabalho no Brasil e no mundo?
4) De que forma as leis trabalhistas e os movimentos sociais de trabalhadores têm lidado com a crescente precarização das condições de trabalho?
5) Por que o trabalho informal baseado em sistema como o Empreendedorismo e a Uberização vem se tornando cada vez mais valorizado no mundo globalizado?

Etapa 5: Encaminhamentos finais

Após os debates gerais sobre os conteúdos, retome os dados da análise interna e externa das fotografias, inserindo a ideia de fotografia como mediação de uma realidade histórica. Por fim, solicite aos alunos que levantem hipóteses (que podem ser socializadas de forma oral ou escrita) sobre o contexto de produção de cada fotografia abordada:

Questões geradoras:
1) Que visões de trabalho são vinculadas a partir dessas fotografias?
2) O que as imagens retratadas podem nos mostrar sobre a sociedade e o contexto históricos em que foram realizadas?

Caminhando para o encerramento da oficina, é feita a retomada da produção fotográfica dos alunos. Abordando o fato de que as fotografias realizadas por eles são produtoras de conhecimentos e mediadoras de uma realidade histórica, que além de estudantes, eles são sujeitos históricos, filtros culturais de contextos históricos que foram registrados na imagem fotográfica. Suas fotografias, portanto, são perpetuadoras de sentidos e memórias das perspectivas dos Mundos de Trabalho em que eles vivem.

A fim de compreender melhor essa reflexão, procurei estimular os alunos a comentar sobre o processo que eles realizaram para a seleção do que buscaram retratar, bem como a mensagem que eles procuraram transmitir ao realizar a fotografia.

Etapa 5: Encaminhamentos finais

Como momento de encerramento da oficina, instrui aos alunos que atribuam uma legenda para suas fotografias. Em seguida, destaquem a importância da socialização do conhecimento histórico dentro e fora da escola, estimulando-os a publicizar suas fotografias e conhecimentos apreendidos, por meio das redes sociais de imagens, a exemplo do Instagram ou Facebook. Outra sugestão muito válida é a elaboração de uma exposição fotográfica na escola.

Importante ter em mente que as fotografias produzidas também podem despontar para outros aprendizados e temáticas. Destaco alguns exemplos produzidos e sugestões de utilização didática em novos debates:

Fotografia 03: Trabalho rural

Um aluno retratou o universo do trabalho rural, do qual ele e sua família fazem parte. Embora a base econômica de muitas cidades pequenas seja predominantemente a agricultura, as relações de trabalho e experiências dos trabalhadores que vivem dessa atividade hoje, no geral, são pouco conhecidas. A fotografia pode servir de provocação para diversos aspectos acerca de como essas relações de trabalho são mantidas, tais como as questões da segurança desses trabalhadores (notar os poucos equipamentos de proteção), como se dão os contratos de trabalho e os salários pagos, as horas de trabalho e os direitos que são garantidos a esses trabalhadores na atualidade, os sindicatos e outras organizações de trabalhadores que existam na cidade.

Fotografia 04: Trabalho informal durante a pandemia de Covid-19

Em outra fotografia, que retrata um motorista por aplicativo, destacam-se as condições de trabalho informal durante a pandemia do Covid-19, as necessidades do trabalho, dificuldades e os perigos enfrentados pelos trabalhadores que colocaram suas vidas em risco ao exerceram suas atividades durante a pandemia, uma vez que nesse contexto não houve, por parte dos órgãos governamentais, debates ou medidas que promovessem a segurança adequada desses trabalhadores.

Fotografia 05: Permanência das profissões manuais

Por fim, compartilho essa fotografia realizada no entorno da escola. O trabalhador em questão é um marceneiro. Os alunos do 8º ano podem observar que as profissões manuais, como a marcenaria, não são mais tão comuns e identificaram essa transformação como resultado das mudanças produzidas pelo processo de industrialização. Ao mesmo tempo se questionaram sobre a permanência e resistência dessas atividades manuais, levantando hipóteses sobre as condições de trabalho e vida desses trabalhadores. Entre elas, observaram que no mundo capitalista contemporâneo esses trabalhadores são vistos como integrantes do trabalho informal, chamados de empreendedores, sem que se discuta com profundidade as suas condições de trabalho e de vida.

Bibliografia e Material de apoio:

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) / Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144

BARROS, Juliana da Silva. Construindo pontes: o ensino da História Social do Trabalho entre a academia e a escola. Dissertação de Mestrado – PROFHISTÓRIA (UFPB) João Pessoa, 2022

BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de história: fundamentos e métodos. 4ª ed. São Paulo, Cortez, 2011

CIAVATTA, Maria. O mundo do trabalho em imagens. A fotografia como fonte histórica (Rio de Janeiro, 1900-1930).Rio de Janeiro: DP&A, 2002

KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. 3. ed. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2014

COSTA, Lidineide Vieira da. A conquista de Direitos Trabalhistas: lutas sociais dos assalariados rurais da cana-de-açúcar no agreste e brejo paraibano (1980-1987). Dissertação de Mestrado – UFPB, 2019

MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história – interfaces. Revista Tempo, Rio de Janeiro, v.1, n. 2, p. 73-98, dez. 1996

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos – 2.ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009


Créditos da imagem de capa: Agricultores em uma Plantação de abacaxi na cidade de Pilar – PB, 1938. Reprodução/Acervo Biblioteca Nacional. Imagem retirada do perfil de Instagram O Historiador Parahybano (https://www.instagram.com/historiadorparahybano/?hl=pt-br).


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

O Nascimento da CUT #04 | com Nilza Port

Há 40 anos era fundada a maior e mais duradoura confederação sindical da história do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para refletir sobre aquela importante conjuntura política e sindical, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que participaram da fundação da CUT.

O quarto episódio é dedicado a Nilza Port, antiga dirigente sindical dos trabalhadores da indústria química de São Paulo. Nilza fala de sua trajetória desde a colônia alemã no interior no Rio Grande do Sul onde nasceu, passando pela migração para São Paulo e o trabalho em multinacionais alemãs até seu envolvimento na oposição sindical e sua atuação como sindicalista. Conta ainda sobre o papel das mulheres no “novo sindicalismo” e relembra o espírito de justiça, solidariedade e alegria que animava os trabalhadores e trabalhadoras que criaram a CUT.

Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Larissa Farias | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Larissa Farias

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins

O Nascimento da CUT 03 | com Ranulfo Pelôso.



Há 40 anos nascia a maior e mais duradoura central sindical da história do Brasil. A fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 28 de agosto de 1983, na cidade de São Bernardo era fruto direto de uma efervescente conjuntura iniciada com uma onda de greves e mobilizações sociais que tomou conta do país a partir de 1978. A luta dos trabalhadores impactou os rumos da redemocratização e colocou o movimento sindical no centro da arena política.
Para refletir sobre aquela conjuntura, o “Vale Mais”, podcast do LEHMT/UFRJ, lança “O nascimento da CUT”, uma série de cinco programas em que contamos as histórias de cinco sindicalistas que estavam em São Bernardo naquele 28 de agosto de 1983. No segundo episódio, Ranulfo Peloso, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém no Pará, fala da sua trajetória como ativista católico durante a ditadura, da ação das oposições sindicais naquele período e do papel fundamental dos trabalhadores rurais no processo de fundação da CUT.

Projeto e execução: Deivison Amaral, Inghrid Masullo, Larissa Farias, Paulo Fontes e Yasmin Getirana | Assessoria: João Marcelo Pereira dos Santos | Roteiro: Deivison Amaral e Inghrid Masullo | Edição: Deivison Amaral | Apresentação: Larissa Farias | Entrevista: Deivison Amaral e Inghrid Masullo

Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes Vale Mais

ERRATA: O professor se refere, em certo momento, a "janeiro de 1941", mas o correto é janeiro de 1942, quando começam as transmissões de rádio do Marcondes Filho, coincidindo com a ruptura do Brasil com o Eixo. Está no ar o segundo episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No segundo episódio, conversamos com Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil (2024). A obra propõe um reexame da história do Brasil nas décadas de 1930 e 1940 a partir de diálogos com as novas perspectivas historiográficas internacionais sobre a Segunda Guerra Mundial. Fortes ressalta a efervescência econômica para suprir as necessidades do conflito global. Nesse contexto, a classe trabalhadora esteve no centro das lutas pela redemocratização, justamente por conta de sua experiência no processo de esforço de guerra e das ambiguidades decorrentes da intensificação da superexploração do trabalho, da derrota do nazifascismo e da perspectiva de “descontar o cheque patriótico”. Nesse sentido, a guerra e a ação dos trabalhadores foram fundamentais para redefinir noções de classe, raça e nação. Para saber mais sobre esse assunto, ouça o episódio! Não esqueça também de compartilhar nas redes sociais e acompanhar os próximos!
  1. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  2. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  3. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  4. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau
  5. Vale a Dica #12: SAL, idealizado e dirigido por Adassa Martins