Lugares de Memória dos Trabalhadores #31: Praça da Conceição, Porto Alegre (RS) – Isabel Bilhão



Isabel Bilhão
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS



O Primeiro de Maio viveu, desde o seu surgimento, divergências em torno de seu significado e formas de representação. Para alguns, era dia de festejar, protestar contra as injustiças sociais e homenagear os trabalhadores, ressaltando sua importância para o progresso econômico e social. Para outros, era dia de greve geral pela conquista da jornada diária de oito horas de trabalho e momento de lembrar os mártires operários. Mas, tanto como festividade, quanto como greve, observava-se a necessidade de marcar publicamente a data e torná-la um momento-chave de identificação internacional do operariado.

No final do século XIX, Porto Alegre começava a se industrializar. As primeiras oficinas e fábricas da cidade eram dos ramos alimentício, metalúrgico e de móveis. Portugueses, afrodescendentes, espanhóis, italianos, alemães e poloneses compunham uma nascente e diversificada classe operária. Fundada em 1892 por trabalhadores alemães inspirados na socialdemocracia, a Allgemeiner Arbeiter Verein (União Geral de Trabalhadores) foi a primeira e mais influente organização operária porto-alegrense naquele período.

Foi a Allgemeiner que, em 1897, iniciou as comemorações do Primeiro de Maio na cidade, congregando, a exemplo de suas congêneres internacionais, o caráter festivo, de confraternização e de protesto. Os relatos encontrados na imprensa apresentam um roteiro de comemorações que parece ter sido seguido na virada do século XIX para o XX.

Conhecida como Praça da Conceição, devido à localização da Igreja da Conceição, a Praça Dom Sebastião (nomenclatura oficializada em 1884) ocupou um papel primordial no roteiro de celebrações do Primeiro de Maio realizadas até pelo menos 1906. A Praça se tornou um ponto de encontro privilegiado para os grupos de trabalhadores que vinham dos variados arrabaldes da cidade, reunindo bandas musicais e associações operárias e populares em geral. Ali, nas primeiras horas da manhã do dia primeiro de maio, se concentravam para ouvir discursos alusivos à data e entoar hinos operários. Também era da praça que saia o desfile que percorreria as ruas centrais da cidade.


Esse cortejo geralmente seguia uma ordem: a comissão organizadora fazia a frente, seguida por uma banda musical formada por trabalhadores e por senhoritas trajando vestes alusivas às aspirações operárias – liberdade, solidariedade e redução da jornada diária de trabalho.


Na sequência, apresentavam-se as organizações operárias e os distintos grupos de trabalhadores, muitas vezes acompanhados de suas famílias. As mais assíduas eram a Liga Operária Internacional, os operários da Companhia Industrial, com sua respectiva banda de música e a mencionada Allgemeiner Arbeitervein. Após percorrer as principais ruas do centro e adjacências – Independência, Ramiro Barcellos, Voluntários da Pátria, Marechal Floriano, Andradas – retornavam à Praça da Conceição para o encerramento das atividades da parte da manhã.

As comemorações do Primeiro de Maio, entretanto, se prolongavam ao longo do dia. No início da tarde, os trabalhadores voltavam a se reunir na Praça da Conceição para rumarem à Chácara Mostardeiro, no bairro Moinhos de Vento. Ali prosseguiam as atividades. Dentre elas: a audição de poesias, apresentações musicais e piquenique. Ao entardecer, regressavam novamente à Praça da Conceição, onde ocorria o encerramento das atividades e a dissolução do préstito.

Observa-se, assim, o visível cuidado do operariado da época para se apresentar publicamente e demarcar espaços simbólicos e geográficos diante das outras classes sociais no dia que lhe era consagrado. Esses desfiles possuíam um forte apelo, não apenas por sua aproximação aos rituais consagrados pela tradição católica, mas também pelo fato de congregarem operários de diversos ofícios, homens e mulheres que, vestindo suas melhores roupas e portando estandartes e bandeiras de suas associações, marchavam lado a lado, reforçando as noções de coesão e unidade, bem como a de honorabilidade operária.

Em outubro de 1906, Porto Alegre viveu, durante 21 dias, sua primeira greve geral. Um dos resultados desse movimento foi a fundação da Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS). A partir do ano seguinte o ponto de encontro para as comemorações e desfiles do Primeiro de Maio transferiu-se para a sede da Federação, localizada na Rua Comendador Azevedo, no bairro operário chamado Floresta. A Praça da Conceição, situada a aproximadamente três quilômetros, tornou-se paulatinamente o ambiente de um novo público na reorganização urbana da cidade, passando a receber as famílias mais abastadas que tinham suas chácaras nos arredores.   

O local segue sendo um importante ponto de encontro e de circulação de uma significativa parcela da população porto-alegrense. Em suas imediações, além da Igreja da Conceição, localizam-se alguns dos prédios que fazem parte do patrimônio histórico e arquitetônico da capital gaúcha, como o do Hospital Beneficência Portuguesa e o do Colégio Marista Rosário. No entanto, houve certo apagamento de sua importância como espaço pioneiro de celebração da data mais importante do movimento operário. Trata-se de um lugar fundamental para a memória dos trabalhadores porto-alegrenses que merece destaque na geografia histórica da cidade.

Praça da Conceição atualmente, vista da Rua Irmão José Otão.
Fonte: Porto Imagens.


Para saber mais:

  • BILHÃO, Isabel. Identidade e Trabalho: uma história do operariado porto-alegrense (1898 a 1920). Londrina/PR: EDUEL, 2008. 
  • FRANCO, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre (edição revista e ampliada). Porto Alegre: Edigal, 2018.
  • PETERSEN, Silvia. Que a União Operária Seja Nossa Pátria! História das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: Editora UFSM; Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001.

Crédito da imagem de capa: Cartão postal retratando a Praça da Conceição no início do séc. XX. Fonte: Site Porto Alegre Antiga.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Contribuição especial #04: Panela de pressão: O 1º de maio de 1980 e a greve dos metalúrgicos do ABC, 40 anos de história

Contribuição especial de Luís Paulo Bresciani e Deise Cavignato¹


“É possível saber que um dia será histórico quando você está nele? Ou depende de uma avaliação posterior, baseada em um conjunto de acontecimentos?”, se perguntou Nelson Campanholo ao ver quase cem mil pessoas na praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Boa Viagem, em São Bernardo de Campo. Era 1º de maio de 1980, Dia do Trabalhador, dia de lutar pelos direitos, mas também dia de mostrar a resistência à ditadura militar.

Defender a redução da jornada de trabalho, estabilidade no emprego e aumento salarial significava questionar o governo. E quem não gostaria de vencer uma partida de xadrez contra um regime que controlava o tabuleiro, mas não os peões? Já estava em xeque um novo momento político, as massas entrando no jogo.

Aquele 1º de maio seria um catalisador do descontentamento, a panela de pressão prestes a explodir. A greve servia para denunciar muitas coisas, entre elas, o arrocho salarial, que foi a espinha dorsal que sustentava a política econômica da ditadura militar. O país estava crescendo com a exportação de automóveis e autopeças, e o grau de intensidade de trabalho era absurda, com uma jornada extremamente longa, com 48h normais para época, além das horas extras. Todos tinham algo em comum, antes da greve, as conversas escondidas sobre o encontro do 1º de maio eram normais aos peões, isso revelou o quanto os trabalhadores eram unidos e a ditadura frágil, vulnerável e provisória.

Nelson Campanholo aos 40 anos, idade em que participou do 1º de Maio.

Nelson Campanholo sabia disso, os metalúrgicos do ABC estavam há 30 dias em greve e teriam mais 11 dias pela frente, ainda sem saber disso. Naquele dia, ele não pôde dar um beijo na mulher e nos filhos ao sair de casa, e nem lá ele estava. Um carro estranho, parado há dias em sua porta, fez com que a família rumasse para a casa de parentes, enquanto ele pulava de lar em lar, acolhido por seus companheiros. Campanholo era perseguido pela polícia, que o queria preso junto ao restante da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Os sindicalistas que encabeçavam a greve não puderam participar do ato do 1º de maio, Luiz Inácio Lula da Silva e outros estavam encarcerados há dias pela polícia política, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).

As mulheres tiveram um papel fundamental na preparação daquele dia. As esposas de alguns trabalhadores e dirigentes sindicais, que estavam presos, saíram à frente da passeata aos gritos de “a greve continua”. As forças policias, acostumadas a intimidar, intimidadas recuavam diante da força da multidão.

Mesmo com a aglomeração na praça, o exímio soldador na Karmann Ghia, e então secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, encontrou personalidades como o deputado federal Ulysses Guimarães, o senador Teotônio Vilela, o escritor Fernando Moraes, o advogado Almir Pazzianotto e outros apoiadores da causa de toda a categoria. Ali, naquela praça, se escrevia uma história que seria contada por muito tempo depois. E nem o apoio firme da Pastoral da Juventude e das comunidades eclesiásticas de base fez com que os metalúrgicos se sentissem seguros ao lado da igreja ou dentro dela.


Nelson Campanholo lembraria para sempre as palavras de Teotônio Vilela aos oficiais do Exército que tentavam cercar os trabalhadores, mesmo sendo inviável confrontar aquela massa de operários: “Coronel, ontem na Câmara eu deixei bem claro que o que aconteceria aqui hoje seria problema de vocês”. O Exército sabia que os trabalhadores estavam ali e que seria um dia como nenhum outro antes.

Com as palavras de Teotônio Vilela, abriu-se o caminho para os manifestantes saírem em passeata até o velho Estádio da Vila Euclides, hoje orgulhosamente chamado Primeiro de Maio. Aquele seria o único local capaz de caber a gigantesca concentração de pessoas. No entanto, quando Campanholo começou a atravessar a rua Faria Lima, o então deputado Ulysses Guimarães pegou em seu braço e disse: “Entre no meu carro, ‘eles’ querem pegar você”. Sem pensar muito e já sabendo que estava ‘foragido’ há tempos, entrou no carro e foi parar próximo aos antigos estúdios da Vera Cruz. “Fiquei debaixo daquelas árvores sozinho desde manhã até umas 15h e fui para a casa de um amigo. À noite me encontrei com todos novamente, desta vez na casa do senador Severo Gomes, no Morumbi, para discutir as medidas que deveriam ser tomadas, mas não chegamos a um acordo. De qualquer forma, eu sabia que o ato tinha sido grandioso”.

Ironicamente, mesmo sendo um dos organizadores do evento, ele não pôde estar no olho do furacão, no coração pulsante da greve, o velho estádio. O impacto das greves do ABC seria enorme, a pauta econômica andava de mãos dadas com a pauta política, o fim da ditadura estaria próximo, mas Campanholo ainda não sabia o quanto. As palavras autoridade, administração, comando, domínio, governo, liderança e poder eram os sinônimos de controle a cada dia de trabalho, não apenas o controle do feitor, termo que vinha lá da escravidão: o controle também era da ditadura sobre os inúmeros ‘chãos de fábrica’, em cada cidade industrial do Brasil.

“Lutávamos porque não tínhamos liberdade para nada. Às vezes batalhávamos por um refeitório ou um vestiário, não tínhamos nenhum direito de manifestação, nosso trabalho era conquistar direitos”, lembra Campanholo.

Ele viveria a greve do Primeiro de Maio de 1980 pelos olhos de seus companheiros, e não se arrependeu. A História estava feita, a mudança estava plantada, e os 40 anos que se seguiram trazem as marcas daquele dia inesquecível, no gramado da Vila Euclides.

Hoje, aos 80 anos, Nelson tem orgulho de sua história.

¹ Luís Paulo Bresciani é professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e da Fundação Getúlio Vargas – SP, e Coordenador da Subseção DIEESE no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Deise Cavignato é mestre em Comunicação, professora da pós-graduação da FMU, jornalista e escritora.

Nosso agradecimento à historiadora Luci Praun, e muito especialmente para Osvaldo Cavignato, por nos trazer até aqui.

Crédito da imagem de capa: Fotógrafo Ricardo Alves.

Lugares de Memória dos Trabalhadores #30: Estádio de São Januário, Rio de Janeiro (RJ) – Bernardo Buarque de Holanda



Bernardo Buarque de Holanda
Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas



O estádio do Clube de Regatas Vasco da Gama possui uma história quase centenária. Localizado na zona norte do Rio de Janeiro, no tradicional bairro de São Cristóvão, convertido desde o início do século XX, em um bairro industrial e operário, São Januário tem importância não apenas no âmbito esportivo, mas também na conformação da cultura política brasileira, tendo sido palco de manifestações e da promulgação de direitos da classe trabalhadora no Brasil.

O espaço foi inaugurado em 21 de abril de 1927, após uma extraordinária mobilização dos associados do clube para o soerguimento de um estádio próprio, com capacidade para mais de quarenta mil espectadores. Graças ao empenho dos imigrantes portugueses na arrecadação de contribuições e ao associativismo da colônia lusitana na cidade, o estádio foi construído em torno de onze meses. Em formato semicircular de ferradura, o estádio é considerado um monumento da arquitetura neocolonial, adornada com azulejos e brasões portugueses. Sua fachada é hoje tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Até 1940, com a criação do Pacaembu, em São Paulo, São Januário foi o equipamento esportivo arquitetônico de maior envergadura no Brasil. No Rio, o campo do Vasco constituiu o principal espaço para a prática do futebol, durante as fases amadora e depois profissional da capital da República. Este status de grandeza durou até o advento do Maracanã, estádio municipal construído para sediar a Copa do Mundo de 1950. Mesmo após a inauguração deste, São Januário continuou a ser referência no universo esportivo brasileiro e permanece em plena atividade

Pode-se dizer que o clube e o estádio simbolizam o processo de popularização e de massificação do futebol no Brasil. O Vasco ficou conhecido como um dos pioneiros na introdução de jogadores negros, mulatos e brancos pobres, recrutados junto às classes trabalhadoras da cidade. Com esse elenco de atletas, em 1923, o Vasco sagrou-se campeão carioca. O feito inédito gerou reações elitistas de parte da entidade responsável pela organização das competições de futebol que impediu a continuidade do time na liga principal, sob o pretexto de ausência de um estádio próprio, fato que motivou a construção de São Januário.

A monumentalidade do estádio tornar-se-ia terreno propício não só para competições desportivas como para eventos de caráter cívicos, com grande repercussão no imaginário político da Era Vargas. Foi em São Januário, por exemplo, que o compositor Villa-Lobos, na condição de músico imbuído do ideário do Estado Novo, desenvolveu nos anos 1940 o projeto educativo nacionalista dos cantos orfeônicos, no qual multidões de crianças entoavam peças do cancioneiro popular e dos repertórios do folclore infantil.

Além das festividades e das cerimônias cívicas, São Januário foi apropriado de igual maneira por atos e manifestações políticas, em especial os desfiles e pronunciamentos de Getúlio Vargas. Frequentador da tribuna de honra nos dias de jogo, Vargas valeu-se da estratégia de utilizar o estádio para fazer discursos de rádio em cadeia nacional. O Dia do Trabalho, comemorado em primeiro de maio no Brasil desde 1925, passou a ser realizado frequentemente no estádio vascaíno durante o Estado Novo.


Em meio a arquibancadas apinhadas de trabalhadores, transmissões radiofônicas e a uma série de ritualizações do poder em campo, anunciaram-se as leis trabalhistas naquelas ocasiões. Um dos auges desse processo ocorreu em 1940, quando se anunciou a criação do salário mínimo, no campo do Vasco. No ano seguinte, seria em São Januário que Vargas instituiria a Justiça do Trabalho.


Correntes políticas que também disputavam a adesão dos trabalhadores igualmente se valeram daquela praça de esportes para a arregimentação de suas bases. Nos estertores do Estado Novo, a promoção de comícios no estádio do Vasco foi uma das estratégias adotadas pelo Partido Comunista do Brasil. Foi ali que, após sair da prisão, o líder do PCB, Luís Carlos Prestes, promoveu um grande ato no dia 23 de maio de 1945. O comício foi uma gigantesca demonstração de força do partido e de prestígio de seu líder, reunindo cerca de cem mil trabalhadores.

Durante a campanha eleitoral de 1950 e no início de seu governo, Vargas e seus seguidores trabalhistas voltariam a eleger São Januário como espaço privilegiado para comícios e mobilizações coletivas. A partir de meados dos anos 1950, o uso do estádio para manifestações de partidos diminuiria de maneira significativa. Isto, entretanto, não significou que as arquibancadas de São Januário deixassem de ser espaço de manifestações e protestos, muitas vezes com clara conotação política, tradição que, de alguma forma, se mantém. 

No Rio de Janeiro do século XXI, o outrora bairro operário em que se inscrevia o estádio é hoje uma grande comunidade – a Barreira do Vasco – envolta nos problemas cotidianos que assolam as periferias das grandes cidades. Em meio às novas arenas erigidas para reconfigurar o perfil social dos torcedores de clubes e para se ajustar à nova economia política do futebol internacional, São Januário permanece como um especial lugar de memória dos trabalhadores-torcedores brasileiros.

Trabalhadores nas arquibancadas de São Januário no Comício do PCB em homenagem à libertação de Luis Carlos Prestes, 23/05/1945.
Fonte: Site NetVasco


Para saber mais:

  • GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005.
  • MASCARENHAS, Gilmar. “São Januário, essa força estranha”. In: Ludopédio. 20 de outubro de 2017. Acesso em 24/10/2019: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/sao-januario-essa-forca-estranha/
  • MALHANO, Clara; MALHANO, Hamilton Botelho. São Januário: arquitetura e história. Rio de Janeiro: Mauad; Faperj, 2002.
  • SANTOS, João Manuel Casquilha Malaia. Revolução vascaína: a profissionalização do futebol e a inserção socioeconômica de negros e portugueses na cidade do Rio de Janeiro (1915-1934). São Paulo: Tese de Doutorado em História Econômica/USP, 2010.
  • Site do Centro de Memória Vasco da Gama: https://www.vasco.com.br/site/home/centromemoria

Crédito da imagem de capa: Desfile em celebração do dia Primeiro de maio no Estádio de São Januário. Arquivo Nacional, Fundo Agência Nacional. 01/05/1942. Notação: BR_RJANRIO_EH_0_FOT_EVE_02720_d0003/0029.


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As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Contribuição especial #03: O grito de justiça de Sacco e Vanzetti ainda ecoa

Contribuição especial de Edilene Toledo¹

Há exatos cem anos, em 15 de abril de 1920, durante um assalto a uma fábrica, um contador e um guarda foram assassinados a tiros na cidade de South Braintree, Massachusetts, Estados Unidos. Nicola Sacco, sapateiro, e Bartolomeo Vanzetti, vendedor de peixes, imigrantes italianos e anarquistas, foram responsabilizados pelo duplo homicídio. Ao fim de um processo muito polêmico, os dois foram condenados à morte e executados, na cadeira elétrica, em 23 de agosto de 1927. Os indícios contra eles eram muito frágeis e manipulados. Mesmo quando o verdadeiro autor dos crimes confessou, Sacco e Vanzetti não tiveram direito a revisão do processo e nem clemência. Desde então, eles se tornaram símbolos da luta contra a intolerância e a injustiça e foram lembrados inúmeras vezes em jornais, canções, poesias, filmes e peças de teatro.

A condenação de Sacco e Vanzetti ocorreu no contexto de uma duríssima campanha contra os trabalhadores organizados e ativistas políticos que o governo dos Estados Unidos desencadeou entre os anos de 1919 e 1921. Era uma resposta, vivida também em muitos outros países, ao ciclo de agitação social global ocorrido a partir de 1917 e em reação às repercussões da Revolução Russa e o temor do avanço das forças de esquerda. Além de milhares de prisões e deportações de centenas de imigrantes, um outro anarquista italiano, Andrea Salsedo, tinha morrido, em circunstâncias misteriosas, caindo da janela de uma delegacia durante um interrogatório. Naqueles anos, mais de 100 sindicalistas da Industrial Workers of the World foram condenados por subversão a 20 anos de prisão.

Nicola Sacco era do sul da Itália, da região da Puglia, enquanto Bartolomeo Vanzetti era do norte, do Piemonte. Ambos tinham chegado nos Estados Unidos no mesmo período, um em 1908 e outro em 1909, com cerca de 20 anos, com a esperança de melhorar as próprias condições de vida, como outros 5 milhões de italianos entre o final do século XIX e a Primeira Guerra, foram “fazer a América”. A maioria deles empregou-se nas ascendentes indústrias norte-americanas. Mas, para muitos, os Estados Unidos mostraram-se uma terra distante dos sonhos de bem-estar e liberdade que tanto atraíam os imigrantes.

A radicalização da posição política de Sacco e Vanzetti ocorreu já em solo americano.  Eles se conheceram em 1916 e juntos passaram a fazer parte de um grupo anarquista. Tinham fugido para o México para escapar da convocação para a Primeira Guerra Mundial. A fé anarquista e a oposição à guerra, que caracterizou a ação libertária nas Américas, fizeram deles os alvos ideais da cruzada americana contra os radicais de esquerda.

Foi também a origem italiana que marcou o destino deles. A retomada da imigração para os Estados Unidos após o fim da guerra acentuou a xenofobia de uma parte da população que considerava alguns grupos imigrantes etnicamente inferiores e inassimiláveis. Os italianos, sobretudo os do sul da Itália, eram acusados de mal-educados, violentos e propensos ao crime. Naqueles anos, linchamentos racistas atingiam os afro-americanos, mas também vitimaram 30 italianos.

Durante todo o processo, sindicatos e grupos de esquerda iniciaram uma enorme campanha para obter apoio da opinião pública e arrecadação de fundos para a defesa de Sacco e Vanzetti. O drama dos dois trabalhadores provocou comoção e indignação entre os trabalhadores de todo o mundo, sendo um catalisador da identidade de classe. Protestos imponentes se multiplicaram em quase todas as capitais do mundo.

O impacto sobre o movimento operário mundial foi muito grande, configurando o mais significativo fenômeno de solidariedade internacional do período. Para além da solidariedade étnico-nacional de trabalhadores italianos, a condenação de Sacco e Vanzetti foi sentida como um processo contra a classe operária em todo o mundo, contribuindo para que os trabalhadores se reconhecessem como membros de uma classe transnacional e sujeitos políticos ao longos dos anos 20.

No Brasil, greves, manifestações e comícios de solidariedade ocorreram em vários estados e principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde foram os sindicatos a organizar comitês de Agitação pró Sacco e Vanzetti, com a colaboração de anarquistas e comunistas. Nos dias que antecederam a execução dos anarquistas, a polícia agiu com violência para reprimir a multidão de trabalhadores que tomaram as ruas em bairros operários da cidade de São Paulo, como o Brás e o Ipiranga. Comícios chegaram a ocorrer duas vezes por semana. O jornal anarquista A Plebe noticiou que no dia da execução houve um comício na praça do Patriarca do qual participou “toda a classe operária da capital”. Outros jornais registraram gritos de vivas à memória de Sacco e Vanzetti  e à solidariedade operária.

Somente 50 anos depois da execução, em 1977, o governador de Massachusetts reabilitou a memória de Sacco e Vanzetti, reconhecendo a inocência e os preconceitos, de várias ordens, que haviam determinado a condenação. Muitos trabalhadores e militantes em todo o mundo esperaram que a morte deles permanecesse como um alerta contra a intolerância e a xenofobia, que, infelizmente, custam a desaparecer e de tanto em tanto reemergem com toda a sua irracionalidade. Antes de morrer, Vanzetti escreveu “Defendi o direito de liberdade de pensamento, inalienável como o direito à vida”.

¹ Edilene Toledo é professora do Departamento de História da UNIFESP, Campus Guarulhos.

Referências:
Coccia, Andrea. Quanto ci mancano Sacco e Vanzetti. Linkiesta, 23 de agosto de 2017.
Fast, Howard. Sacco e Vanzetti. Dois mártires da luta pela liberdade. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009.
Franzina, Emilio. Gli italiani al Nuovo Mondo. L´emigrazione italiana in America, 1492-1942. Milão: Mondadori, 1995.
Luconi, Stefano. Sacco e Vanzetti, quando gli italiani erano “bastardi”. Il Manifesto, 22-08-2017.
Moura, Clóvis. Sacco e Vanzetti: o protesto brasileiro. São Paulo: Anita Garibaldi; Fundação Maurício Grabois, 2017.
Renshaw, Patrick. The Wobblies: the story of Syndicalism in the United States. Eyre & Spottiswoode, 1967.

Crédito da imagem de capa: Sacco e Vanzetti. Biblioteca Pública de Boston.

Vale Mais #04 – A Pandemia de 1918 e os mundos do trabalho


Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ. O objetivo é discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da perspectiva da história social.

O episódio #04 é sobre A Pandemia de 1918 e os mundos do trabalho.

Há pouco mais de 100 anos, a pandemia da Gripe Espanhola, em 1918, aterrorizou o planeta, causando milhares de mortes em todo o globo. Nosso programa hoje procura entender o que foi essa pandemia, como o Brasil lidou com ela e como a gripe espanhola afetou os mundos do trabalho em nosso país.

Quem responde essas perguntas é a historiadora Liane Bertucci, professora da Universidade Federal do Paraná e especialista em história social da saúde.

Produção: Deivison Amaral, Heliene Nagasava, Paulo Fontes e Yasmin Getirana.
Roteiro: Heliene Nagasava e Paulo Fontes.
Apresentação: Yasmin Getirana.

Créditos da Imagem de Capa : Hospital de Campanha no Kansas, Estados Unidos, durante a pandemia da Gripe Espanhola em 1918. Foto: Alamy.

Lugares de Memória dos Trabalhadores #29: Usina Cinco Rios, Maracangalha, São Sebastião do Passé (BA) – Idalina Maria Almeida de Freitas



Idalina Maria Almeida de Freitas
Professora da UNILAB-Campus dos Malês



O pequeno distrito de Maracangalha onde se encontram as ruínas da Usina Cinco Rios, está situado no município de São Sebastião do Passé, no Recôncavo Baiano. Local que inspirou a famosa canção de Dorival Caymmi na década de 1950, as histórias que envolveram o “ir para Maracangalha” e a exímia “sambadeira”, a Anália, personagem imortalizada pelo poeta, que nasceu e morou na região, são memórias ainda vivas entre os moradores.

A Usina Cinco Rios foi fundada em 6 de novembro de 1912, sucedendo a antiga Usina Maracangalha. O engenho Maracangalha, que deu origem à usina, já existia desde 1757. Inicialmente de propriedade da tradicional família Costa Pinto, a Usina foi adquirida nos anos 1930 por Clemente Mariani, famoso empresário e político baiano. Fechou e reabriu na mesma década, passando para a administração de Álvaro Martins Catharino. No final da década de 1940 esteve à frente Augusto Novis, um dos mais conhecidos usineiros da Bahia. Em meio à decadência de outras usinas no Estado, teve êxito considerável entre as décadas de 1950 e 70.

Cinco Rios foi uma das mais bem equipadas usinas baianas, com maquinário de última geração e força motriz de máquinas a vapor. Possuía propriedades agrícolas que forneciam a cana de açúcar, direcionadas para as moendas e caldeiras. Ao longo do tempo chegou a ter um laboratório químico de controle de qualidade, oficina mecânica, serraria, carpintaria, fundição e outros serviços auxiliares capacitados a produzir peças de reposição. Além de utilizar a estrada de ferro Centro Oeste da Bahia (EFCOB), dispunha de 8 quilômetros de linha férrea, e uma pequena estação própria, juntamente com três locomotivas que realizavam o transporte da cana vindas de suas propriedades agrícolas.

Como várias usinas no Nordeste, Cinco Rios oferecia casas para a acomodação dos trabalhadores e suas famílias. No livro de notas da Usina da década de 1940, por exemplo, encontram-se registros de residências de trabalhadores; uma casa de oração; hospedaria; escritório; uma casa da sociedade dos operários; uma escola, todos com serviços sanitários, cobertas de telhas e com luz elétrica instalada.


Os/as trabalhadores/as da Usina eram, em sua grande maioria negros e negras, descendentes de famílias que há muito habitavam antigas fazendas da região, nos entornos de São Francisco do Conde, Santo Amaro e São Sebastião do Passé. No seu auge, todo o processo produtivo chegou a empregar cerca de mil trabalhadores.


Para muitos deles, a rotina nos campos começava logo cedo com a limpa da cana e a plantação. Alguns possuíam relação fixa de trabalho na empresa, em geral nos ofícios de cozinhador, soldador, evaporador, motorista, carpinteiro, caldeireiro, pedreiro, entre outros. Já uma outra parcela trabalhava de forma sazonal, nas épocas de corte da cana e transporte até a usina para a moagem. As mulheres trabalhavam no corte da cana nos campos. Algumas também foram professoras dos/as filhos/as de trabalhadores em escolas no entorno. As atividades, em geral, eram penosas e o olhar atento do feitor “lembrava o tempo dos engenhos”, em uma memória ainda presente do período da escravidão.

Uma forte sociabilidade cultural dos trabalhadores contrapunha-se ao árduo cotidiano na Usina. Eram comuns os sambas de roda, as brigas de galo, a prática do futebol e de rodas de capoeira. Ainda são recorrentes as lembranças de Besouro, lendário capoeirista temido na região por sua valentia e mandigas. O largo da capela de Nossa Senhora da Guia, próximo à Usina, era o principal ponto de concentração dos trabalhadores e de suas famílias.

Em 1946, os trabalhadores da Usina Cinco Rios aderiram ao Sindicato do Trabalhadores das Usinas de Santo Amaro que naquele ano ampliou sua representação para São Francisco do Conde e São Sebastião do Passé. Nos anos 1940 duas grandes greves paralisaram as usinas do Estado, inclusive Cinco Rios. Em 1954 uma nova greve generalizada espalhou-se pela região. Naquele período, um sindicalismo ativo, com forte influência da militância do Partido Comunista Brasileiro (PCB), organizou os trabalhadores locais e denunciou as péssimas condições de trabalho e o descumprimento da legislação trabalhista. Com a ditadura militar, a região foi declarada área de segurança nacional e o movimento sindical foi fortemente reprimido, jamais recuperando sua pujança anterior.

A Usina Cinco Rios encerrou definitivamente suas atividades em 1987 e hoje encontra-se em ruínas. Quem se aproxima pela estrada de terra e adentra o pequeno distrito de Maracangalha, já avista o que sobrou da imponente construção. Grande parte dos maquinários vindos da Europa e EUA ainda se encontram no local, deteriorando-se sob a ação do tempo. Ao andarmos pela localidade é impossível não ouvir histórias de vidas de gerações de famílias ligadas ao trabalho nas atividades açucareiras. Estão ali as lembranças de jornadas exaustivas, de deslocamentos, de formas de associativismos, dos sambas de roda e capoeira, além da reestruturação nas relações de trabalho por meio da carteira assinada e das lutas por direitos. São diversas histórias e memórias ainda a desvendar de quem foi para Maracangalha.

Notícia sobre Usina Cinco Rios na revista Bahia Ilustrada em 1918.
Acervo Hemeroteca digital Biblioteca Nacional
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Para saber mais:

  • CASTELLUCI, Aldrin Armstrong Silva; SOUZA, Robério Santos. Os trabalhadores negros na História Social do Trabalho no Brasil: o longo século XIX. In XAVIER, Giovana (org.). Histórias da Escravidão e do Pós-abolição para as escolas. Cruz das Almas: EDURFB; Belo Horizonte: Fino Traço, 2016.
  • CUNHA, Joaci de Sousa. Amargo açúcar. Aspectos da história do trabalho e do capital no Recôncavo Açucareiro da Bahia (1945-64). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 1995.
  • FRAGA, Walter. Encruzilhadas da Liberdade. Histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
  • LIMA, Henrique Espada. Sob o domínio da precariedade: escravidão e os significados da liberdade de trabalho no século XIX. Topoi. V.6, n°11, jul-dez, 2005.
  • PAIVA, Neves Valdivino. Maracangalha: Torrão de Açúcar, Talhão de Massapé. São Sebastião do Passé. 1996.

Crédito da imagem de capa: Fachada da Usina Cinco Rios. Acervo Hemeroteca Digital Biblioteca Nacional, sem data.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Labuta #11 O que é história social do trabalho? – Entrevista com Angela de Castro Gomes – Parte 1


Angela de Castro Gomes é uma das mais reconhecidas historiadoras do país. É pesquisadora 1A do CNPq. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense, com mestrado e doutorado em Ciência Política pelo IUPERJ. É professora titular aposentada de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense e é Professora Emérita do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, onde trabalhou de 1976 a 2013. Foi Pesquisadora Visitante Sênior Nacional na Unirio (2014-2020). Publicou dezenas de livros e artigos, com destaque para Burguesia e Trabalho: política e legislação social no Brasil (1917-1937) (Campus, 1979); A invenção do trabalhismo. (Vértice, 1988); Cidadania e direitos do trabalho (Jorge Zahar, 2002); A Justiça do Trabalho e sua história (com Fernando T. da Silva, Editora Unicamp, 2013); e Trabalho escravo contemporâneo: tempo presente e usos do passado (com Regina Guimarães Neto, Editora FGV, 2018).

A Parte 2 será publicada em maio de 2020.

Direção, Roteiro e Produção: Deivison Amaral, Heliene Nagasava e Paulo Fontes.
Ano de produção: 2020
Duração: 13’54’’

Labuta é um canal de vídeos do LEHMT sobre história, trabalho e sociedade.
A série “O que é história social do trabalho?” inaugura o Labuta. Durante o ano de 2019, publicaremos a série, que tem por objetivo apresentar o campo de estudos da história social do trabalho a partir de entrevistas com especialistas.

www.lehmt.org
Produção do LEHMT – Laboratório de Estudos da História dos Mundos do Trabalho da UFRJ

Lugares de Memória dos Trabalhadores #28: Tecejuta, Santarém (PA) – Daniela Rebelo Monte Tristan



Daniela Rebelo Monte Tristan
Doutoranda em História Social da Amazônia na UFPA



A Companhia de Fiação e Tecelagem de Juta de Santarém, conhecida como Tecejuta, foi a primeira e mais importante fábrica têxtil daquele município paraense. A Tecejuta produzia sacos confeccionados com fibra vegetal, principalmente a juta, para acondicionamento de grãos. A planta, de mesmo nome, da qual é extraída a fibra, foi introduzida na Amazônia por japoneses na década de 1930, poucos anos após o início da imigração nipônica para a região. A produção de fios e tecidos de juta constituiu um importante ramo da indústria na Amazônia, sobretudo nos estados do Pará e do Amazonas.

Embora tenha sido fundada na década de 1950, a fábrica só começou a funcionar em 1965 e fechou definitivamente suas portas em 1990. A companhia foi fundada por Kotaro Tuji, um dos responsáveis pela introdução da juta na Amazônia, em associação com um grupo de empresários locais. Ao longo de sua existência, no entanto, a empresa teve diversas modificações em sua composição acionária.

Um dos maiores empregadores do Baixo Amazonas, a Tecejuta, em seu auge, chegou a empregar cerca de 900 trabalhadores(as). Na sua maioria eram antigos pescadores, lavadeiras, carregadores do porto e trabalhadores rurais originários de Santarém e de regiões próximas. Como em outras experiências industriais no Brasil, a maioria dos trabalhadores aprendeu o serviço na prática.           


O trabalho fabril disciplinado e pautado pelo ritmo das máquinas causava estranhamento para as operárias e operários. Jurema, ex-trabalhadora da Tecejuta, rememora seu primeiro contato com a máquina: “A primeira vez, quando eu entrei, foi uma sensação estranha, esquisita. Eu pensei: ‘Meu Deus, como as pessoas operam isso aqui?’ Coisa de outro mundo! Mas depois de um mês eu mexia toda aquela máquina.”


As mulheres compunham mais de 70% da mão-de-obra da fábrica. Sua presença provocava escândalo na cidade, pois mulheres trabalhando ao lado de homens, em especial, no turno noturno, era visto com grande suspeição por boa parte da população local.

Alguns trabalhadores braçais da Tecejuta, que efetuavam serviços como o transporte de fardos de juta, acabaram aprendendo algum ofício dentro da fábrica. Esse é o caso de Nonato Serra, que em 1966 foi admitido para trabalhar na função de braçal, mas em pouco tempo foi chamado para ajudar no processo de funcionamento da caldeira e acabou se tornando operador da caldeira.

Em suas memórias, o antigo operário ressalta a importância da caldeira para a fábrica: “ela era responsável em dar vapor para a engomadeira, para a calandra e fazer a chamada do pessoal”. Essa chamada se dava através de um apito, sobre o qual explicou o funcionamento: “Tinha muito vapor na caldeira; então você chegava lá, puxava uma corda e a sirene apitava lá: ‘txãããããã’. Essa sirene ia numa distância quase no final da cidade. Aí tudo por lá tinha gente que vinha trabalhar, né?” A sirene da Tecejuta faz parte da memória coletiva da cidade. Os moradores de Santarém a tinham como referência em sua gestão do tempo ao longo do dia.

A Tecejuta criou um novo perfil de trabalhador em Santarém, embora não exatamente o operário disciplinado, em perfeita sintonia com as diretrizes da fábrica, como desejado pela gerência da Companhia. A experiência dos(as) trabalhadores(as) no cotidiano fabril gerou vivências coletivas e um mundo de sociabilidades no chão da fábrica e fora dela, incluindo festas e excursões às praias do rio Tapajós em dias de folga. O cotidiano do trabalho ensejava um senso de identidade como trabalhadores, que se expressou, entre outras manifestações, no entendimento da memória sobre o tempo ali vivido como um patrimônio partilhado em comum.

Ali se trabalhava, ali se resistia, ali se lutava por direitos. Embora no início do funcionamento da fábrica não houvesse um sindicato, apenas uma associação controlada pela direção da empresa, os/as trabalhadores/as buscavam diferentes formas de defender seus interesses. Em 1966, por exemplo, Miranilce Silva, jovem operária foi demitida por organizar um movimento reivindicativo no setor da tecelagem em protesto contra uma lista de demissão de cerca de cem trabalhadoras. Miranilce foi à Justiça do Trabalho, obteve ganho parcial de causa e ainda prestou depoimento como testemunha de outras operárias demitidas .

No final dos anos 1980, já com a existência de um sindicato atuante, ocorreram três grandes greves, entre outros motivos, para repor a corrosão do salário pela inflação. A presença das mulheres, tanto na liderança como na base desses movimentos, era majoritária. Na última greve, em 1988 houve uma intensa solidariedade na cidade, com a arrecadação e distribuição de mantimentos para os/as trabalhadores/as.

Em 1989, em meio à falta de matéria-prima e encolhimento do mercado consumidor de seus produtos, o grupo empresarial que mantinha a Tecejuta decidiu fechar a fábrica. Em 2013, seus edifícios, às margens do Tapajós, foram ocupados para a instalação de um terminal hidroviário. Contudo, a fábrica, espaço marcante de conflitos, lutas, sociabilidades e de construção de identidades, permanece como uma fundamental referência na memória da população de Santarém.

Trabalhadoras da Tecejuta no setor de tecelagem, 1973.
Fonte: Revista Manchete, edição especial “Amazônia”, fev. 1973.


Para saber mais:

  • FERREIRA, Aldenor da Silva. Fios dourados dos Trópicos: culturas, histórias, singularidades e possibilidades (juta e malva-Brasil e Índia). Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
  • SOUZA, José Camilo Ramos. “Parintins e Vila Amazônica: Uma história de construção de vida urbana de imigrantes nipônicos”. In: HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Imigração japonesa na Amazônia: contribuição na Agricultura e vínculo com o desenvolvimento regional. Manaus: EDUA, 2011.
  • MATOS, Maria Izilda Santos de. Trama e poder: a trajetória e polêmica em torno das indústrias de sacaria para o café (São Paulo, 1888-1934). 2ª. ed. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.
  • TRISTAN, Daniela Rebelo Monte. Trabalhadores da Tecejuta: experiência operária e construção da memória numa fábrica têxtil no Oeste do Pará (Santarém, 1951-1990). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Amazonas,  Manaus, 2016.

Crédito da imagem de capa: Instalações da Tecejuta em 1975. Fonte: Revista do Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição. 08/12/1975.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Chamada para publicação de artigo em Dossiê Temático “Mundos do Trabalho”

A Revista Cantareira – periódico do corpo discente da Universidade Federal Fluminense – convida à chamada de artigos para o dossiê Mundos do Trabalho.

Diante da pluralidade do campo, o dossiê abre chamada para trabalhos que busquem discutir as diferentes experiências históricas do trabalho, trabalhadores e seus marcadores sociais, as formas de produção, seus espaços de sociabilidade e cultura, e sua organização de classe e participação política, assim como o seu relacionamento com as instituições, em períodos democráticos ou ditatoriais.

O dossiê é organizado por Clarisse Pereira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da UFF, e Heliene Nagasava, doutoranda do CPDOC/FGV e membro do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT/UFRJ)

Prazo de recepção dos trabalhos: 20 de julho de 2020.

Para maiores informações, acessar: https://periodicos.uff.br/cantareira/announcement/view/359

Lugares de Memória dos Trabalhadores #27: Fábrica Nacional de Motores (FNM), Xerém, Duque de Caxias (RJ) – José Ricardo Ramalho



José Ricardo Ramalho
Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ



Fundada em 1942, no contexto da Segunda Guerra Mundial, e localizada em Xerém, distrito do município de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi construída pelo Estado, sob o rigor da disciplina militar e do apelo ao patriotismo. Assim como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis e a Companhia Vale do Rio Doce, o projeto da fábrica se enquadrava na estratégia de desenvolvimento industrial do período Vargas. A escolha da Baixada Fluminense visava garantir a realização de uma “Cidade dos Motores”, autossuficiente em alimentação e moradia, quase como a ideia de um laboratório.

Inicialmente concebida como uma indústria de motores aeronáuticos, a empresa estatal passou, a partir de 1949, a fabricar caminhões e, posteriormente, automóveis. Seus vagarosos e resistentes caminhões ficaram conhecidos como “Fenemê” ou “João Bobo”, e seu automóvel ganhou o nome do presidente JK. Sua história estava entrelaçada com o desejo de parte da elite governamental, militar e empresarial de transformar o “homem brasileiro” em um “trabalhador brasileiro”.

As exigências do processo de trabalho fabril ainda eram desconhecidas para a maioria dos trabalhadores, em sua maioria migrantes mineiros e nordestinos. A fábrica chegou a ter perto de 5.000 operários no final da década de 1950, um quarto deles vivendo nas vilas operárias construídas ao redor da fábrica. A ênfase na disciplina e no respeito às chefias eram elementos centrais de um sistema que se implantava com apelo aos valores de “dignidade” e “caráter”. Eram relações de trabalho marcadas pelo exercício da subordinação com características militares, paternalistas e de controle sobre a esfera da reprodução social.

Quando a política “invadiu a FNM”, principalmente nos anos 1960, aquele modelo de dominação passou a sofrer questionamentos. Com uma estratégia de estar mais presente dentro da fábrica, o Sindicato dos Metalúrgicos da Guanabara não só passou a ter representantes em cada seção, como passou a discordar publicamente das decisões que prejudicavam os operários, chegando, em certos momentos, a reverter algumas delas, graças a paralisações parciais ou mesmo greves.


Foi o que ocorreu em março de 1961, quando pela primeira vez na história da fábrica, os operários paralisaram totalmente o trabalho. Como destacou o jornal Última Hora, foi uma “vigorosa manifestação de protesto contra os baixos salários e que a administração da empresa se nega a reajustar”. A greve era a confirmação do fortalecimento do movimento sindical e teve como consequência a construção de uma subdelegacia do sindicato nos domínios da FNM, em plena vila operária.


Como parte desta ação sindical de ocupação do espaço político, particularmente em empresas estatais, foram deslocados para a FNM, desde o final dos anos 1950, metalúrgicos militantes de partidos políticos, em especial do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A presença de operários politicamente mais experientes no chão da fábrica estimulou a organização dos trabalhadores enquanto classe. Aquele também foi um período de intensas disputas políticas entre os próprios operários. Além da militância comunista, o Círculo Operário Católico atuava com vigor no interior da FNM.

Embora defendessem a empresa como baluarte da indústria nacional (o nacionalismo era uma das principais linguagens do sindicalismo daquele período), os militantes sindicais colocaram em xeque os mecanismos de dominação utilizados no cotidiano de trabalho e nas atividades extra-fabris (vilas, cooperativas). Assim, transformaram o ambiente da FNM, marcado pela ” tranquilidade”, em um espaço onde o sindicato passou a ser respeitado e a ter suas reivindicações levadas em conta.

A presença sindical virou uma referência na vida cotidiana dos trabalhadores e nas próprias decisões corporativas da gerência. A delegação da FNM era chamada de “Conselho 51” (no início dos anos 1960, o Sindicato dos Metalúrgicos da Guanabara possuía cerca de 80 Conselhos Sindicais), e como relata uma liderança da fábrica, por volta de 1964, “não se fazia nada na empresa sem que fosse ouvido o Conselho 51”.

O golpe de 1964 atingiu em cheio toda essa organização. Os trabalhadores da FNM foram os primeiros a sentir a intensidade da repressão militar. Na madrugada do golpe, quando tropas desciam de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, a fábrica, que ficava no caminho, foi imediatamente ocupada e muitas prisões foram feitas. A própria FNM não resistiu à nova orientação econômica dos governos militares e foi vendida em 1968 para a Alfa Romeo (em seguida incorporada pela multinacional FIAT).

No entanto, uma persistente tradição de luta sindical acabou por influenciar os trabalhadores mais jovens durante as greves dos metalúrgicos do Rio de Janeiro no final da ditadura militar, em particular em julho de 1979 e especialmente em maio de 1981, quando os operários da FIAT realizaram uma longa greve “pelo direito ao trabalho”. Em crise econômica, a empresa italiana decidiu fechar a fábrica em 1985, transferindo a produção para Betim (MG). Décadas após o encerramento de suas atividades, a presença de várias edificações relacionados à FNM ainda marcam o cenário urbano e as lembranças do cotidiano de trabalho e lutas ainda permanecem na memória de muitos moradores de Xerém e da Baixada Fluminense.

Manifestação política dos operários da FNM em Xerém, 1963.
Fotos: autor desconhecido. Acervo de José Ricardo Ramalho.


Para saber mais:

  • GOMES, Angela Castro. “O Redescobrimento do Brasil”. In Estado novo – ideologia e poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
  • RAMALHO, José Ricardo. Estado Patrão e Luta Operária. O caso FNM. São Paulo, Paz e Terra, 1989.
  • RAMALHO, José Ricardo. “Empresas Estatais de Primeira Geração: Formas de gestão e ação sindical”. In ABREU, Alice & PESSANHA, Elina (Orgs), O Trabalhador Carioca: Estudos sobre trabalhadores urbanos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, J.C. Editora, 1994.
  • VALLE Rogério. A Experiência da FNM. Rio de Janeiro, GPCT/Coppe-UFRJ, 1983.

Crédito da imagem de capa: Operários na Linha de Montagem do FNM 2000 – modelo JK. Foto: autor não identificado/ não conhecido. Acervo: Relatório da Diretoria da Fábrica Nacional de Motores, 1961.


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As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

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