Etapa 1: Trabalho como conceito
Professor(a), nesta etapa, divida a turma em grupos de, no máximo, cinco estudantes para um debate. A proposta é apresentar a cópia de vários textos e verbetes que apresentem o tema Trabalho como conceito e solicitar que todos os grupos leiam o trecho e apresentem suas considerações ressaltando o que mais chamou atenção deles nos trechos abaixo.
Texto I: Definição de trabalho no dicionário da Língua Portuguesa
Aplicação das forças mentais ou físicas na execução de uma obra realizada; lida; fadiga; esforço; ocupação; emprego; obra realizada; ação dos agentes naturais; feitiço; despacho; aflições; cuidados; empreendimentos (LUFT, 1991, p. 606).
Texto II: Trabalho como categoria
À categoria trabalho são atribuídos inúmeros significados, o que faz com que, muitas vezes, seja empregada de forma vaga e imprecisa. Entre os significados, o trabalho é muito pronunciado pelo seu sentido de ausência enquanto mercado de trabalho, confundindo-se com o emprego e a sua falta. (…) Alguns autores, entre eles Suzana Albornoz (1992), apresenta uma síntese dessas significações entre as línguas da cultura europeia. Segundo ela, o grego distingue fabricação de esforço, este como oposto ao ócio. O latim distingue entre laborare, como sendo a ação do labor – dor, sofrimento, fadiga e, operare que corresponde a opus – obra. O italiano distingue entre lavorare e operare e o espanhol entre trabajar e obrar.
Texto III: Trabalho na perspectiva cristã
Na perspectiva cristã, o trabalho humano aparece como uma forma de domar a natureza, lugar do mal e do inacabado, o que acaba por santificar a ação daquele que a transforma, o trabalhador. Na sujeição da natureza, a possibilidade de aproveitá-la para o bem e para o enriquecimento dos homens (BRANDÃO, 1994).
Na tradição judaico-cristã e em muitos dos mitos que referem à origem das sociedades humanas, o trabalho é sinônimo de uma labuta, sempre penosa, para a qual o homem está fadado. O trabalho será então punição (ALBORNOZ, 1992). (…)
Nesta mesma tradição, o trabalho é o castigo pelo pecado original, ou então pela transgressão de alguma proibição. Não é o ócio e o prazer, mas a atividade penosa que aumenta a glória de Deus. (…) É com a Reforma Protestante que se vai dar um novo sentido ao trabalho, que passa a ser a chave da vida. Contudo, o bom trabalho, expressão aristotélica, será reservado a alguns poucos, embora todos devam trabalhar para que o produto do esforço de uns não seja cobiçado por outros.
Texto IV: Trabalho como vocação
Max Weber, na obra “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1980, p. 186), ressalta o ethos em torno do qual se organiza o espírito do capitalismo e as alterações no conceito de trabalho: “…Ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna é, enquanto for feito legalmente, o resultado e a expressão de virtude e de eficiência em uma vocação …”. Em verdade, é a ideia de um dever profissional que está colocado, com vistas à organização racional do trabalho, em torno da empresa, a qual o trabalhador deverá se adaptar. O trabalho ganha, então, o sentido de vocação, com um fim em si mesmo, como um valor com qualidades éticas voltadas ao bem comum condizentes com o capitalismo, onde a influência da educação religiosa, que estimula a concentração mental e o sentimento de obrigação, torna-se essencial na combinação do trabalho com a produção econômica. Rompe-se, desta forma, com os conceitos de trabalho tradicional, especialmente o trabalho artesanal, manual e o labor doméstico, em suas formas de quantidade e relações, círculo de fregueses, modo de vida, etc. Atribui-se, assim, um novo sentido ao trabalho, que ganha força com o desenvolvimento do capitalismo ocidental moderno, demonstrando a inversão de valores que a sociedade burguesa teve de promover para justificar o culto ao trabalho como atividade livre que enobrece, que gera riqueza, ao contrário da tradição que reservava o trabalho ao escravo e ao artesão.
Texto V: Trabalho na antiguidade
Na Antigüidade, o desprezo pelo labor era porque este não deixava grandes obras, representava especialmente o interesse da esfera privada e, por isto, era considerado de menor valor. “Laborar significava ser escravizado pela necessidade, escravidão esta inerente às condições da vida humana” (Arendt, 1995, p. 94). Camponeses eram considerados como escravos, fazedores de labor, porque produziam o necessário para a vida. Na Grécia, a divisão entre o trabalho braçal e intelectual distinguia os lugares dos homens e das mulheres na vida pública e privada. Na Renascença, o trabalho manual passou a ser visto como estímulo para o desenvolvimento do homem. Com o surgimento da ciência moderna, a transformação da natureza não recai mais sobre os escravos, mas sobre os homens livres. A contemplação dos filósofos ainda é o mais importante, mas o trabalho manual passa a ter mais prestígio.
Texto VI: Trabalho como valor
O trabalho como valor retoma, de certa forma, a questão da centralidade do trabalho difundida ao extremo na sociedade moderna –, que refere especialmente à capacidade do trabalho em constituir-se num centro organizador de atividades e de atitudes humanas, de referências sociais e de orientações morais – agora problematizando o direito ao trabalho – o direito de trabalhar no sentido do emprego – como uma forma de inclusão social, como sugere Olivier Mongin (1996, p. 74): “… Não conhecemos outro tipo de integração, nas nossas democracias atuais, que não seja a que passa pelo trabalho”. Ainda na perspectiva dos valores, Leonardo Boff (2000, p. 92), na sua discussão sobre o ser no mundo, a partir de Heidegger, afirma que o trabalho constitui-se numa das duas formas de o ente humano existir e coexistir. Segundo ele, “fundamentalmente, há duas formas de ser-no-mundo: o trabalho e o cuidado. Aí emerge o processo de construção da realidade humana”.
Fonte dos textos: ZUCCHETTI, Dinora Tereza. O trabalho como conceito, valor e formação. Prâksis – Revista do Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes, p. 09 – 13, acessada no site file:///C:/Users/claud/Downloads/O_trabalho_como_conceito_valor_e_formaca.pdf
Após a leitura, debate e apresentação dos trechos pelos(as) estudantes, peça que registrem no caderno as seguintes questões:
- O conceito de trabalho sempre foi o mesmo ao longo da História e nas sociedades? Justifique sua afirmação.
- Em que períodos históricos foi percebido uma alteração significativa do conceito de trabalho? Apresente dois períodos segundo os trechos apresentados.