Contribuição Especial #27: 21 de julho de 1983: a greve geral contra a ditadura


Breno Altman
Jornalista e fundador do site Opera Mundi


Era uma quinta-feira. O país vivia os estertores da ditadura militar, governado pelo general João Batista Figueiredo. A classe trabalhadora de São Paulo cruzava os braços, em uma paralisação de 24 horas que seria acompanhada também em outros estados, exigindo anulação de decretos que arrochavam praticamente todas as categorias assalariadas. Mas não só: na pauta de reivindicações também constava congelamento dos preços básicos, devolução dos sindicatos sob intervenção a suas legítimas diretorias, reforma agrária e repúdio ao acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), entre outras bandeiras.

De janeiro a julho de 1983, o Palácio do Planalto impôs medidas que eliminavam benefícios e direitos dos empregados das estatais e do funcionalismo público, colocavam os reajustes salariais abaixo da inflação, majoravam aluguéis e restringiam políticas sociais. Para implementar essa política econômica, a ditadura recorrera a decretos-leis, cuja vigência somente poderia ser anulada por decisão do próprio governo ou quando o parlamento, em até sessenta dias, os revogasse.

O primeiro desses decretos foi publicado em 25 de janeiro daquele ano, com o número 2012, determinando que teriam direito à reposição integral da inflação apenas quem ganhasse até três salários mínimos. No dia 30 de maio seria assinado o decreto 2025, eliminando conquistas dos empregados públicos, que seria complementado pelo 2036, lançado treze dias depois, retirando da categoria direitos como abono de férias, promoções, auxílios alimentação e transporte, salário adicional anual e participação nos lucros. Finalmente, em 14 de julho, viria o decreto-lei 2045, que limitava o reajuste salarial de todos os trabalhadores a 80% da inflação.

A resposta foi a ampliação da luta sindical e o crescimento das greves operárias, que desaguariam no dia 21 de julho, com uma notável mudança de característica: as paralisações deixavam de ter os patrões como seu alvo principal, voltando-se contra o governo e assumindo uma natureza abertamente política.

Não era, no entanto, um cenário tranquilo para o movimento sindical. A Comissão Nacional Pró-CUT (Central Única dos Trabalhadores), criada em agosto de 1981, durante a I CONCLAT (Confederação Nacional das Classes Trabalhadoras), realizada na Praia Grande, no litoral paulista, sofrera uma divisão intransponível no ano seguinte. Estava marcado o congresso de fundação da central sindical para 1982, mas acabou inviabilizado pela polêmica sobre quem poderia eleger delegados, se apenas os sindicatos legalmente constituídos ou também as oposições sindicais.

Insistiam na primeira opção os grupos mais moderados do sindicalismo e as organizações comunistas tradicionais – especialmente o PCB, ainda uma poderosa corrente do movimento operário. Já os sindicalistas chamados de “autênticos”, majoritariamente vinculados ao Partido dos Trabalhadores, defendiam a segunda alternativa, entre outras razões por sua inserção nos grupos criados fora da estrutura oficial durante o regime militar.

Não se tratava, porém, apenas de um debate sobre linha sindical. O primeiro bloco era bastante influenciado por uma orientação que dava centralidade, na tática contra a ditadura, à aliança com a oposição liberal-burguesa e à disputa institucional, calculando uma transição lenta e pactuada. O segundo bloco, dava prioridade à construção da hegemonia das classes trabalhadoras no processo político em curso, apostava suas fichas na radicalização da mobilização social e confiava na vitória de um movimento de ruptura com a tirania fardada. Não era tarefa simples, nessas circunstâncias, construir campanhas comuns contra os decretos-leis. Sequer havia uma estrutura comum de coordenação, que passava a depender de algum consenso gradual que pudesse unificar reivindicações e formas de luta.

Uma peça começara a se mover, contudo, de forma diferente. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, então o maior do país, vivia mudanças internas relevantes. Presidida desde 1965 por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, a entidade vinha abrindo suas portas para os comunistas desde 1979, quando o velho pelego se deu conta que seus dias na liderança poderiam estar contados, ao perder o controle de uma longa greve para o crescente movimento de oposição.

Na diretoria eleita em 1981, contra uma chapa oposicionista, encabeçada pelo líder católico Valdemar Rossi, e outra do PCdoB, chefiada por Aurélio Perez, vários de seus integrantes eram militantes do PCB, vinculados à direção paulista da organização, comandada por David Capistrano Filho, que ocupara regionalmente o vácuo de poder deixado por um comitê central desidratado pelo assassinato de parte dos seus membros, o exílio e a crise com Luiz Carlos Prestes, seu lendário secretário-geral.

A ideia dos comunistas paulistas era aproveitar a fragilidade da antiga liderança do sindicato para estabelecer uma outra condução, de incentivo à organização dentro das fábricas e enérgica mobilização, inspirada nos métodos vigentes no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, e concorrendo com a oposição sindical, que havia conseguido formar comissões de base em algumas das maiores fábricas. Essa reviravolta baseava-se, além da crítica ao sindicalismo acomodado do passado, na própria contraposição à linha geral predominante no PCB, confluindo para um pensamento bastante próximo aos paradigmas adotados pelo jovem PT, pelos quais a independência da classe trabalhadora, sua força mobilizadora e seu protagonismo na luta contra a ditadura deveriam ser a essência da política de esquerda.

Panfleto de convocação da Greve Geral de 21 de julho de 1983. Fonte: Memorial da Democracia

Dessa maneira, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, mesmo formalmente integrado ao bloco moderado, e ainda presidido por uma figura controversa, acabaria se tornando um dos pilares das jornadas contra os decretos-leis do arrocho salarial. A unidade de ação entre São Paulo e São Bernardo jogaria papel decisivo, tanto na expansão territorial da resistência quanto na atração de outros grupos sindicais. Os metalúrgicos paulistas seriam o carro-chefe da greve geral que se avizinhava.

O primeiro setor a se colocar em movimento foram os petroleiros. No dia 5 de julho, os trabalhadores da Refinaria Paulínia, no interior de São Paulo, iniciaram uma greve que duraria sete dias, à qual aderiram também os empregados da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, exigindo principalmente a revogação dos decretos 2025 e 2036. Seu exemplo se propagaria como rastilho de pólvora.

Com o decreto 2045, do dia 14, a ditadura mantém-se intransigente. A resposta das categorias mais organizadas foi convocar uma greve geral de 24 horas, surpreendendo o regime militar e contrariando a maioria da oposição liberal, incluindo próceres do PCB.

O contexto era de enorme insatisfação social desde o princípio do ano. Manifestações, protestos e paralisações tomavam corpo contra o desemprego e a corrosão dos salários. O epicentro era a região metropolitana de São Paulo: um motim popular, em abril, ocupou as ruas e chegou a derrubar as grades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual.

A greve geral alimentava-se dessas rebeliões espontâneas, mas cumpriria um plano organizativo mais rigoroso. Para evitar enfrentamentos com a polícia, orientou-se os grevistas a permanecerem em casa. A adesão dos sindicatos dos motoristas e dos metroviários colaborou de forma destacada para a parede, cujas colunas mestras estavam nas grandes empresas e bancos. Mesmo sem manifestações, os ativistas das principais entidades trataram de percorrer os bairros de concentração fabril, em arrastões e piquetes que esvaziaram o que restava da capacidade produtiva. Calculou-se em três milhões o número de grevistas por todo o país, afetando indiretamente outros 40 milhões de trabalhadores.

Para além do impacto político, foi possível também alguma vitória econômica, com o governo publicando novo decreto, o 2065, garantindo 100% de reajuste salarial ao menos para quem recebia até três mínimos. Sem embargo, as divisões e debilidades sindicais, mesmo nos setores mais combativos, esvaziariam a possibilidade de uma escalada da mobilização, que poderia combinar novas paralisações e até mesmo uma greve geral por tempo indeterminado, encurralando a ditadura a partir do operariado.

 Não obstante, passava uma mensagem de contrariedade ativa da classe trabalhadora em relação ao pacto desenhado por distintas frações do empresariado e seus agentes político-militares, para substituir o regime decadente sem colocar em risco sua direção sobre o Estado e seus interesses econômicos. Razoável concluir que contribuiu para empolgar o ativismo popular e dividir os liberais, empurrando parte do PMDB para uma postura mais aguerrida, o que repercutiria na campanha das diretas-já de 1984, aonde também desembocaria o movimento dos trabalhadores.

Também foi um passo decisivo para a troca de guarda na esquerda brasileira, dentro da trajetória que levaria o PT a substituir o PCB como principal organização política da classe, exatamente por representar uma alternativa a posições de acomodação e subordinação à hegemonia oligárquico-burguesa.

No dia 28 de agosto de 1983, seria criada a Central Única dos Trabalhadores, legitimada pela paralisação do mês anterior, e velozmente constituída na principal representação sindical brasileira, apesar dos setores mais moderados terem fundado, a seguir, suas próprias centrais.

Ao completar quarenta anos, talvez a memória da greve geral de 1983 ajude o resgate da função determinante que pode ter a mobilização popular, sem a qual as forças de esquerda costumam ser abatidas sem maior resistência ou aprisionadas em um labirinto de concessões que as desfiguram.

Greve Geral do dia 21 de julho de 1983 no centro da cidade de São Paulo. Foto de Ariovaldo dos Santos. Acervo: Cpdoc/JB


PARA SABER MAIS:

https://memoriasindical.com.br/formacao-e-debate/um-projeto-um-processo-uma-realidade-sindicato-metalurgicos-de-sao-paulo-1979-1983/

Ivan Targino Moreira e Glaudionor Gomes Barbosa. “Política salarial e repartição funcional da renda no Brasil: uma análise da década de 80 “ in Leituras de Economia Política, Campinas, (11): 141-166, dez. 2003/dez. 2005


Crédito da imagem de capa: Piquete em fábrica de São Bernardo do Campo durante a Greve Geral de 21 de julho de 1983. Foto de Vera Jursys. Acervo do Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo

Livros de Classe #34: Das cores do silêncio: os significados da liberdade no Sudeste escravista, Brasil século XIX, de Hebe Mattos, por Keila Grinberg

Neste episódio de Livros de Classe, Keila Grinberg, professora titular do departamento de História e diretora do Center for Latin American Studies da Universidade de Pittsburgh, apresenta Das cores do silêncio: os significados da liberdade no Sudeste escravista, Brasil século XIX, de Hebe Mattos. Fruto de tese de doutorado, defendida em 1993, o livro foi publicado em 1995. Pioneira, a obra coloca em primeiro plano o papel dos escravizados e libertos no processo de abolição da escravidão no Brasil, utilizando fontes como processos criminais e ações de liberdade.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vale a Dica #03: Pureza, de Renato Barbieri


Nesta terceira edição da série “Vale a Dica”, Isabelle Pires, doutoranda em história pela UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, indica o filme Pureza, de Renato Barbieri, protagonizado por Dira Paz. Lançado em 2022, o filme retrata a história real de Pureza Lopes Loyola, mãe solo, que desafiou fazendeiros e jagunços para resgatar seu filho da escravidão contemporânea na Amazônia. A partir da busca de Pureza pelo seu filho, nos deparamos com a exploração do trabalho sob a coerção de armas, castigos físicos, e péssimas condições de vida e trabalho. O aliciamento para o trabalho braçal, como ressalta Isabelle, era feito através do reforço a uma certa noção de masculinidade, pautada na força, na coragem e na virilidade.
Nos últimos anos, os temas do trabalho forçado e do trabalho análogo à escravidão têm despertado cada vez mais o interesse de historiadores e historiadoras, ganhando espaço entre os temas de pesquisa da História Social do trabalho.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana

LMT #124: Estádio da Rua Javari, São Paulo (SP) – Bruno Caccavelli


Bruno Caccavelli
Mestre em História pela Unifesp e professor do ensino básico


A Rua Javari no bairro da Mooca da cidade de São Paulo, situa-se entre a Rua dos Trilhos, nome devido à estrada de ferro Santos-Jundiaí, e a Rua da Mooca, por muito tempo principal via do bairro. Foi na rua Javari que, em 1897, foi estabelecida a fábrica têxtil Regoli & Crespi (depois Cotonifício Crespi) que funcionou até 1963. Na mesma rua havia uma cocheira, além de casas de operários. É nessa mesma rua que se encontra o Estádio Conde Rodolfo Crespi, do Clube Atlético Juventus, popularmente conhecido como Estádio da Rua Javari.

A Mooca foi palco de diversas mobilizações sociais no início do século XX. Sua formação em fins do século XIX foi marcada pela grande concentração de fábricas e residências operárias. A maioria dos operários e operárias era composta de imigrantes italianos, mas também havia espanhóis, alemães, russos, poloneses, lituanos e húngaros, além de um significativo contingente de trabalhadores nacionais, em sua maioria negros. Assim era um espaço de grande multiplicidade cultural e identitária.

Os ofícios iam desde os mais especializados como ferreiros e carpinteiros até os trabalhadores em fábricas como Calçados Clark, Laticínios União, Cia. Antártica Paulista e Serraria Matarazzo. Contudo eram predominantes os estabelecimentos têxteis como a Penteado, a Labor e o Cotonifício Crespi.

Os trabalhadores criavam e encontravam muitas possibilidades de sociabilidade, organização e diversão como clubes recreativos, sociedades e uniões mutualistas, beneficentes, sindicais e políticas, bandas musicais, círculos e centros de estudos. Associações esportivas marcaram presença no bairro desde cedo. O Germânia, por exemplo, foi fundado em 1889 por uma elite econômica da comunidade alemã local. Os clubes formados por trabalhadores não demoraram a aparecer: Athlético Mooca, Mocidade da Mooca, Flor da Mooca, União Mooca, Regoli, Crespi & Cia (em 1909 se tornou Crespi FC) entre outros.

Aos domingos as várzeas do rio Tamanduateí e do Carmo eram espaços de recreação das famílias operárias e o futebol era uma das práticas mais populares. Essa diversão foi levada para as ruas e pátios de fábricas e com o tempo foi ganhando maior organização, dividindo-se times por seções ou adotando as regras inglesas. Era comum que trabalhadores recorressem à direção das fábricas para a compra de uniformes e outros custos. Os empresários por sua vez aproveitavam a publicidade dos jogos e passaram a incentivar o esporte como forma de ampliar o controle e as relações paternalistas, participando ou indicando funcionários de altos cargos para funções de destaque na diretoria do clube.

Os clubes de trabalhadores das empresas de propriedade da família Crespi – Extra São Paulo e Cavalheiro Crespi – se uniram em 1924, dando origem ao Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube (CRC FC). As cores eram preto, branco e vermelho e a sede social ficava na Rua dos Trilhos. Em 1930 o time passou a se chamar Clube Atlético Juventus em homenagem ao clube italiano de Turim. Inicialmente o uniforme teria as mesmas cores do time homônimo, mas por sugestão do próprio Crespi as cores passaram a ser grená e branco inspiradas no outro clube da cidade italiana, o Torino FC. O nome e o uniforme revelavam as conexões e os laços identitários italianos na fundação do clube.

Em 1930 o Juventus enfrentou o Corinthians no Parque São Jorge e surpreendeu ao vencer por 2 a 1 ganhando a alcunha de Moleque Travesso. Conforme o profissionalismo no futebol se intensificou, o clube se retirou das competições oficiais e passou a disputar o Campeonato Paulista Amador sob o nome de CA Fiorentino conquistando o título de campeão em 1934 batendo a Ponte Preta na rua Javari. Em 1935, o Juventus voltou ao Campeonato Profissional, renovando e profissionalizando a equipe.

O terreno onde funcionava a cocheira na Rua Javari foi doado para o CRC FC por Rodolfo Crespi e transformado em um campo de futebol em 1925. O espaço rapidamente passou a ser utilizado por diversos clubes da região e, principalmente, pelo Juventus. Em 1941, ganhou arquibancadas e foi reinaugurado com o nome de Estádio Conde Rodolfo Crespi, ganhando um aspecto mais parecido com o que é nos dias de hoje. Em agosto de 1959, diante de mais de dez mil espectadores, o jovem Pelé marcou aquele que muitos consideram ser o gol mais bonito de sua carreira e que lhe rendeu uma estátua no estádio juventino.


Durante a famosa Greve dos 300 Mil em 1953 o estádio se tornou um importante marco para as mobilizações dos trabalhadores. Os grevistas concentraram no local o comitê da greve. Também havia ali uma cozinha comunitária auxiliada por comerciantes e moradores.


A família Crespi se afastou nos anos 1950 deixando o clube em má situação financeira. O time contou com uma mobilização popular de moradores da Mooca para sobreviver e chegou a realizar turnês pelo exterior. Em 1967 o Juventus comprou o estádio dos Crespi, mas a posse definitiva veio apenas em 1976. No início dos anos 1980, o Juventus viveu ótima fase desportiva. Em 1983 venceu a então Taça de Prata, equivalente à segunda divisão do campeonato brasileiro.

Atualmente existem discussões sobre a arenização do estádio e sobre a criação do Juventus Sociedade Anônima de Futebol, o que tornaria o clube uma empresa. Em contrapartida parte da torcida busca afirmar uma tradição operária. É comum ver nos jogos da Javari, faixas e alusões à grande greve de 1917, ao mesmo tempo que os torcedores entoam gritos de “ódio eterno ao futebol moderno”, em uma referência não apenas ao fim dos passatempos amadores e aos problemas trazidos pela hipermercantilização, mas também aos ataques ao “espírito” comunitário representado pelo time e à “verdadeira” paixão pelo futebol.

Torcida do Juventus da Mooca no setor 2 do Estádio da Rua Javari. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=UQmarBzvh8E


Para saber mais:

  • VAZ, Alexandre Fernandez. Juventus, da Mooca (e um pouco de Corinthians). Ludopédio, São Paulo, v. 152, n. 29, 2022.  https://ludopedio.org.br/arquibancada/juventus-da-mooca-e-um-pouco-de-corinthians/ Acesso em 12/06/2022.
  • HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; FAVERO, Raphael Piva Favalli. Cronologia das torcidas organizadas (X): CAJU – Clube Atlético Juventus. Ludopédio, São Paulo, v. 107, n. 30, 2018. https://ludopedio.org.br/arquibancada/juventus/ Acesso em 12/06/2022.
  • LOPES FTP, HOLLANDA BBB de. “Ódio eterno ao futebol moderno”: poder, dominação e resistência nas arquibancadas dos estádios da cidade de São Paulo. Tempo [Internet]. 2018. Disponível em : https://doi.org/10.1590/TEM-1980-542X2018v240202
  • CACCAVELLI, Bruno. Lazer e sociabilidade de trabalhadores do bairro paulistano da Mooca, 1900-1920. Dissertação de Mestrado em História, EFLCH-Unifesp, 2015.
  • HOLLANDA, Bernardo Buarque de; FONTES, Paulo (orgs.). Futebol & mundos do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2021.

Crédito da imagem de capa: Estádio da rua Javari,  década de 30. Disponível em: https://www.juventus.com.br/clube/historia/1924-a-1961/


MAPA INTERATIVO

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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Livros de Classe #33: Os clandestinos e os direitos, de Lygia Sigaud, por José Marcelo Ferreira

Neste episódio de Livros de Classe, José Marcelo Ferreira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresenta Os clandestinos e os direitos: estudo sobre trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco, de Lygia Sigaud. Fruto da sua tese de doutorado, defendida em 1977, o livro foi publicado em 1979 e é parte de conjunto de obras de antropólogos ligados ao Museu Nacional  – como Moacir Palmeira, Afrânio Garcia, Beatriz Heredia, entre outros  – que se debruçaram sobre o trabalho na zona canavieira de Pernambuco, sobretudo a partir da década de 1960. Referência fundamental para os estudos rurais, o livro de Sigaud aborda, com notável rigor acadêmico, as complexas relações sociais de trabalho nos engenhos pernambucanos, em um contexto de transformação do secular sistema de morada, a partir de noções de direito dos trabalhadores.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vale a Dica #02: Jubiabá, de Jorge Amado



Nesta segunda edição do “Vale a Dica”, Larissa Farias, graduanda em história pela UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, sugere a leitura do livro “Jubiabá” do escritor Jorge Amado. Tendo sua primeira publicação em 1935, o romance narra a trajetória de Antônio Balduíno, homem negro, pobre, crescido no morro do Capa-Negro, em Salvador (BA). Considerado de conteúdo subversivo à época, o cenário literário de Jubiabá nos leva a pensar sobre a questão racial no contexto da década de 1930, a articulação entre as identidades raciais e de classe, dentre outras que tornam o romance importante referência para pensar os mundos do trabalho.

Projeto e execução: Alexandra Veras, Isabelle Pires, Larissa Farias, Victória Cunha e Yasmin Getirana

Livro: Na luta por direitos. Estudos recentes em história social do trabalho, de Alexandre Fortes, Antonio Luigi Negro, Fernando Teixeira da Silva, Hélio da Costa e Paulo Fontes


“Na luta por direitos. Estudos recentes em história social do trabalho” de Alexandre Fortes, Antonio Luigi Negro, Fernando Teixeira da Silva, Hélio da Costa e Paulo Fontes acaba de ganhar nova edição, eletrônica, integrando a coleção “Sebo Eletrônico” editada pelo CECULT/Unicamp. Originalmente publicado em 1999 e há muitos anos esgotado, “Na Luta por direitos” é uma obra representativa da retomada e renovação dos estudos sobre história social do trabalho no Brasil. O livro é uma contribuição fundamental para repensar o lugar dos trabalhadores na era do nacional-desenvolvimentismo. Os autores enfatizam como, mesmo diante das limitações impostas pela estrutura sindical e pela repressão policial e empresarial, a agência e a capacidade de atuação política dos trabalhadores em suas lutas por reconhecimento, dignidade e direitos constituem uma parte fundamental da história brasileira naquele período. Este e outros livros da Coleção Sebo Eletrônico podem ser adquiridos gratuitamente pelo site:
https://www.cecult.ifch.unicamp.br/publicacoes/colecao-sebo-eletronico

Chão de Escola #32: professor Álvaro Nascimento fala sobre os 20 anos da Lei 10.639/03

Professor Álvaro Nascimento, é um prazer ter você na seção Chão de Escola do LEHMT-UFRJ, em nossa série de discussões sobre educação e os 20 anos da Lei 10.639/03. Você tem atuado em projetos relacionados à extensão universitária em escolas de educação básica da Baixada Fluminense. Poderia nos contar sobre essas experiências?

A ideia surgiu após aceitar o convite para conversar com estudantes do horário noturno da Escola Estadual Ministro Edgar Romero, que fica em Madureira. Eu a conhecia desde a infância por ter passado parte importante da minha vida no bairro de Turiaçu, vizinho ao maior centro comercial suburbano do Rio de Janeiro. Dividi a fala com a jornalista Isabela Oliveira. Não havia ensaiado nada, mas sabia que eu deveria ter uma linguagem distante daquela que uso na academia. Pela minha vida na região, não me foi difícil implementá-la.

Ao pegar o microfone, comecei a falar sobre minha vida na região, as dificuldades para pessoas negras e/ou pobres conhecerem outros bairros, principalmente os das áreas privilegiadas. Por falta de dinheiro ou tempo dos pais para levar seus filhos e filhas a esses lugares, as crianças crescem afastadas desses espaços repletos de prédios com diferentes arquiteturas, muito altos, habitados por famílias ou empresas compostas geralmente por pessoas brancas. Gozam de conforto, segurança, e localizam-se nas proximidades das praias, dos eventos culturais e de áreas de lazer, expondo de forma nua e crua desigualdades revoltantes aos olhos da suburbana e do suburbano. É muita coisa para uns e muito pouco para quem mora nas zonas periféricas do Rio de Janeiro.  

Explicava ainda como paulatinamente havia estendido minha caminhada para cidades longínquas através do meu trabalho e estudos: Niterói, Campinas, Lisboa, Chicago, Nova York, São Francisco, Calgary, Buenos Aires, San Juan, Manaus, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Nova Iguaçu etc. Finalmente, quando começaram a imaginar que o trajeto havia sido simples questão de trabalho e estudo, mostrei que a cor da minha pele, minha origem e meus valores e costumes não se encaixavam automaticamente naquele mundo branco. Eu nunca os iludiria por um enganoso discurso meritocrático, ou de que eu era um vencedor, o self made man. Mostrei como o machismo (especialmente sobre as mulheres negras, gays e lésbicas), os preconceitos à raça, ao local de moradia, aos gostos musicais estão armados contra quem vem da periferia. Eles estão ali para não deixarem pessoas negras e/ou periféricas gozarem do mesmo que pessoas brancas gozam. O racismo dificultou minha ascensão e por isso tive de enfrentar situações desagradáveis, trabalhar dobrado desde os 15 anos – enquanto a playboyzada branca tirava onda – além de ver-me obrigado a procurar conhecimentos e informações desconhecidas pelos membros da minha família e comunidade. Tive ainda de complementar a reduzida formação apreendida nas escolas periféricas pelas quais passei.

Finalmente, apresentei possibilidades de mudança, como são as universidades, cursos pré-Enem, carreiras militares, leituras possíveis etc. A experiência foi ótima, com excelente retorno dos e das estudantes. Eles não se imaginam em universidades, já estão trabalhando, alguns são pais e mães, tornam-se pessoas adultas abruptamente, muitas vezes de forma violenta. Acho que é impactante um homem preto chegar lá e dizer: “Não desistam tão cedo!” Explico as condições positivas construídas nesses últimos vinte anos resultantes de ações afirmativas, do antirracismo, dos freios ao machismo e à homofobia. Há maiores possibilidades para eles e elas.  

Daquela experiência em Madureira aos dias atuais, fui interrompido somente pela pandemia. A ideia é fazer sempre uma vez ao mês, totalizando oito palestras anuais. Em 2022 houve uma diminuição por eu estar entrando mesmo nas escolas da Baixada Fluminense. Mas isso será por um curto período. Volto às palestras esse ano.

Na sua percepção, a história dos trabalhadores e a região da Baixada Fluminense têm sido contemplada em livros didáticos e abordagens difundidas nas redes de ensino da região? Qual sua visão dessa situação?

Infelizmente, não. A exemplo de muitas prefeituras e governos estaduais, a história regional e local são pouco exploradas por boa parte de quem as governa. Os livros didáticos comprados pelo Governo Federal são enviados gratuitamente às escolas públicas a partir do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), seguindo os editais lançados pelo Ministério da Educação e as linhas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC); no caso das escolas privadas, suas editoras próprias ou as comerciais vendem os livros que chegam às crianças.  Esses livros seguem um currículo nacional que expõem histórias ocorridas em algumas áreas do Brasil, sendo a cidade do Rio de Janeiro uma das mais citadas, por ter sido capital para o país durante séculos.  Eles, enfim, não cobrem as especificidades históricas e regionais dos mais de cinco mil e quinhentos municípios, Distrito Federal e vinte seis estados brasileiros.

As cidades da Baixada Fluminense não são exceção. Estudantes dessas regiões conhecem mais a história da cidade do Rio de Janeiro do que as de onde nasceram e habitam. Algo terrível para a autoestima dessas crianças que tantas vezes sofrem com discursos preconceituosos sobre a região, comumente associada à violência, fome, falta de urbanização, de história e de cultura. Mesmo passando por quantidade volumosa de administrações municipais limitadas, a Baixada Fluminense tem parques incríveis, áreas verdes, vasto comércio, indústria, eventos culturais, equipamentos esportivos, riquezas e histórias ofuscadas pelo preconceito. Enfim, todos os lugares têm história, valores e costumes que devem ser ensinados nas escolas. A Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio de Janeiro oferece material específico sobre a cidade, complementando o livro didático do PNLD.  Não vejo a mesma preocupação nas SMEs das cidades da Baixada Fluminense.

O artigo “Trabalhadores Negros e paradigma do silêncio”, publicado na revista Estudos Históricos (nº 59, set.-dez. 2016), é uma importante referência para refletir sobre o lugar dos negros na história social dos trabalhadores no pós-abolição. Como o ensino de História é afetado por esse “paradigma do silêncio”?

Antes do Ensino de História, são as crianças e jovens as pessoas mais afetadas com essa ausência provocada pelo racismo naturalizado na sociedade brasileira. No meu entender, chega a ser criminoso, covarde e desumano não se falar em diferenças históricas e atuais entre as raças, socialmente constituídas, num país que explorou a mão de obra escravizada de negros e indígenas durante mais de trezentos anos. História da escravidão que se mantém em áreas rurais e urbanas. Boa parte dessas crianças nas escolas da Baixada Fluminense é negra, e mesmo quando aparentemente brancas possuem parentes negros. Elas não encontram a história dos seus antepassados negros e negras enquanto trabalhadores e trabalhadoras no século XX.

Elas aprendem pelo senso comum que os negros foram largados à própria sorte após a abolição, e por isso os homens tornaram-se vagabundos, as mulheres ofereceram seus corpos à prostituição e as crianças – sem pai nem mãe – foram abandonadas e povoaram as ruas. Quando vão para as escolas e observam a cor de pessoas em situação de rua, ou percebem as diferenças nas  ocupações (porteiro, segurança, empregada doméstica contrastando com a cor do gerente, supervisor, proprietário) aqueles ensinamentos começam a fazer sentido para eles e elas.  

A história das famílias negras é muito mais vasta, rica e repleta de amor que essa construção monstruosa que condena todas as pessoas negras existentes e seus antepassados. Quando uma parte ainda resistente da historiografia perceberá que calar-se frente às diferenças raciais – por desculpas de falta de fontes, ou quando agrupa a todos e todas sob a categoria de “trabalhadores”, ou não vão além das diferenças entre nacionais e estrangeiros – ela estará contribuindo para a manutenção do racismo? Se as crianças não tiverem acesso a uma história que explique o racismo enquanto principal instrumento de construção das desigualdades sociais entre brancos e negros no Brasil do século XX – o racismo não é uma herança da escravidão – estaremos contribuindo diretamente para a ilusória meritocracia. A “culpa”, enfim, será a dos próprios negros e negras. Libertam-se pessoas brancas da sua responsabilidade enquanto ser privilegiado que se beneficia do racismo. Afinal, são eles e elas as preferidas no mercado de trabalho que melhor paga salários na economia brasileira.

Como a Lei 10639/03 colaborou para a romper com esse paradigma do silêncio na educação básica?

Ela obriga docentes a trabalharem o que não era obrigatório. Ou seja, é uma intervenção do Estado no combate ao racismo, tornando visível o que era invisível. Se observarmos os editais do PNLD (Programa Nacional de Livro Didático) isso fica mais empretecido. Não há mais imagens de negros sendo chibatados, crianças famélicas e tristes em suas páginas. Para além do Estatuto da Criança e do Adolescente prever o não constrangimento de quem ela protege, a lei 10639 já estava lá trazendo outras histórias de cultura, valores e alegrias que eram apagadas ou silenciadas por uma visão negativa em relação às pessoas negras. Somos mais luz, risos, festa, trabalho, religiosidade e amor que desgraças. E nossas crianças pretas não têm de sofrer por uma inação de historiadores(as), sociólogos(as), pedagogos(as), antropólogos(as) ou autoras(es) de livros didáticos. Em muito breve serão cobrados e cobradas pelas gerações que já estão aí dando seus primeiros passos nas escolas. O silêncio grita nessas horas. Não adiantou esperarmos pela conscientização antirracista das pessoas racistas ou que naturalizam o racismo. Foi necessária uma intervenção estatal, e que enfrenta a resistência de responsáveis, docentes, administradores escolares e religiosos na sua implementação. Essas pessoas resistem à própria letra da lei.

Enfim, a lei 10 639, ao completar 20 anos, já conquistou muitas mudanças. Importantes mesmo.  Foram vários os projetos de mudanças, criando livros, e outros materiais didáticos impressos, sonoros e visuais, que chegaram a milhões de pessoas através das redes sociais, escolas, TVs, rádio, cinema. Mas ela e a lei 11645 ainda estão longe de estarem consolidadas. Podemos dizer que a implementação dessa lei gerou milhares de empregos diretos e indiretos para torna-la visível em todo o país. Negros e negras estão cada vez mais presentes nos lugares de decisão e poder. Há esperanças múltiplas após democraticamente derrubarmos o governo fascista. E aí historiadores e historiadoras, deram uma olhada nas páginas que vocês escreveram até hoje? Vamos começar ou continuar a enegrecer seus artigos e livros?


Álvaro Pereira Nascimento é professor titular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), bolsista de produtividade do CNPq e coordenador adjunto dos Programas de Pós-Graduação Profissionais da Área de História. É autor dos livros “A ressaca da marujada: recrutamento e disciplina na Armada Imperial” (2001), “Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910” (2008), e “João Candido: o mestre sala dos mares” (2020), e professor que se engaja em projetos de extensão em escolas de educação básica e na formação de docentes.


Crédito da imagem de capa: Primeira Marcha Zumbi – Foto: Geledés Instituto da Mulher Negra /Rede de Historiadores Negros /Acervo Cultne.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Artigo “Possibilidades teórico-metodológicas entre raça (cor) e sindicalismo: pautas do Centro Operário de Barra Mansa-RJ como amostragens (1930)” – Thompson Clímaco


O artigo “Possibilidades teórico-metodológicas entre raça (cor) e sindicalismo: pautas do Centro Operário de Barra Mansa-RJ como amostragens (1930)” foi publicado por Thompson Clímaco, doutorando em história social (UFRRJ) e integrante do LEHMT-UFRJ na revista Discente Ofícios de Clio, Pelotas (edição julho – dezembro de 2022 | vol. 7, n° 13).

O artigo tem como intuito discutir, de forma propositiva, as relações entre raça e sindicalismo a partir de algumas pautas do Centro Operário de Barra Mansa durante a década de 1930. Para isso, são mobilizados debates inscritos na história social do trabalho (dos mais tradicionais aos mais recentes) sobre sindicalismo nos anos 1930, bem como às críticas à ausência da raça nos debates da área. Além disso, são apresentadas possibilidades teórico-metodológicas com o intuito de aproximar questões presentes nos sindicatos, que aparentemente não estão vinculados à raça diretamente, como: sindicalização dos trabalhadores rurais, instrução primária e assistência médica.

Link do artigo: https://revistas.ufpel.edu.br/index.php/clio/article/view/5648

LABUTA – A Classe Trabalhadora e a CLT: 80 anos #06 – Adalberto Cardoso

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi promulgada em maio de 1943, articulando um conjunto de direitos sociais com uma legislação trabalhista e sindical. Controversa, combatida, mas também festejada e desejada, a CLT, mesmo com várias alterações, vem regulando as relações de trabalho em nosso país ao longo das últimas oito décadas. Para refletir sobre o papel da CLT em nossa história, o portal LEHMT/UFRJ lançou a série de vídeos “A classe trabalhadora e a CLT: 80 anos”.

No último episódio da série, Adalberto Cardoso (IESP/UERJ) explica as razões da longevidade da CLT. Comenta como a CLT foi “ferida” pela reforma trabalhista do governo Temer e como isso tem impactado o movimento sindical, o mercado de trabalho e os direitos dos trabalhadores. Apesar de “ferida”, no entanto, a CLT ainda está em disputa.

Direção e roteiro: Paulo Fontes
Produção: Ana Clara Tavares, Felipe Maia e Thompson Clímaco
Edição: Thompson Clímaco
Crédito das imagens: Retratos de Assis Horta, “Assis Horta: a democratização do retrato fotográfico”, Instituto Moreira Salles. l Central Única dos Trabalhadores l Portal Brasil de Fato
Música: The World’s Fair – Godmode (2020)
Crédito da capa: Natália Gomes