História social das favelas e dos trabalhadores favelados em Belo Horizonte – Samuel Oliveira


Samuel Oliveira, professor do CEFET-RJ e pesquisador do LEHMT-UFRJ, publicou três artigos e participou de um podcast sobre a história urbana de Belo Horizonte e dos trabalhadores favelados.


Em “O ‘desfavelamento’ em Belo Horizonte: política urbana, habitação popular e assistência social”, pela Revista de História Regional, “A imaginação da informalidade urbana e dos trabalhadores no Rio de Janeiro e Belo Horizonte: uma análise dos censos de favelas”, pela Topoi, e “Relações raciais e movimento dos trabalhadores favelados”, pela Varia História, enfatiza-se as políticas urbanas para as favelas na capital de Minas Gerais no pós-guerra e a formação de uma consciência de classe e raça no movimento social dos “trabalhadores favelados” nos anos 1950 e 1960.


No podcast Urbanidades, coordenado pelo Urban-Data Brasil e Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM-USP), abordou juntamente com a Prof.Dra Josemeire Alves as relações entre espaço urbano e apagamento da memória negras na cidade.

Links:

“As políticas de ‘desfavelamento’ em Belo Horizonte”. Revista de História Regional. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rhr/article/view/20067. Acesso em 23 nov.2022.

“A imaginação da informalidade urbana e dos trabalhadores no Rio de Janeiro e Belo Horizonte”. Topoi. Disponível em: https://www.scielo.br/j/topoi/a/3VSkJtdmd8xTGrsjbWNZNff/abstract/?lang=en. Acesso em 23 nov.2022.

“Relações raciais e movimento dos trabalhadores favelados. Varia História. Disponível em: https://www.scielo.br/j/vh/a/HT4DqkrwJxq7JGSLnWLhfYF/. Acesso em 23 nov.2022.

Podcast #77 Memória e Esquecimento nas favelas em Belo Horizonte. Disponível em:
https://open.spotify.com/episode/6nKa14SfAwb9cOtXvoTEb8?si=1b9de79b1b414826&nd=1. Acesso em 23 nov.2022.


Créditos da imagem de capa:  Jornal O Barraco, órgão da Federação dos Trabalhadores Favelados de Belo Horizonte. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Fundo Polícia Política. Pasta 0119.

O PCB e os mundos do trabalho


Acaba de ser publicado o dossiê “O PCB e os mundos do trabalho”, organizado pelo coordenador do LEHMT/UFRJ, Paulo Fontes e por Edilene Toledo (UNIFESP). O dossiê faz parte do número completo do volume 14 (2022) da Revista Mundos do Trabalho. São 12 artigos, além da apresentação feita pelos organizadores. Temas como a participação do partido em eleições, relações raciais e de gênero, trajetórias militantes e a atuação dos comunistas em sindicatos e comunidades operárias específicas compõem um rico e diversificado mosaico de resultados das pesquisas inovadoras sobre a relação entre o PCB e as experiências de trabalhadores/as ao longo do século XX. Um dos artigos publicados, “O médico, a fé e os operários: militância comunista entre traumas, interditos e narrativas históricas” é de autoria de Felipe Ribeiro, professor da UESPI e pesquisador do LEHMT/UFRJ. Esse número da Revista Mundos do Trabalho conta ainda com uma resenha do livro A Cidade que Dança de Leonardo Pereira, escrita por Isabelle Pires, doutoranda do PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ.

Link para o volume: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/index

Livro “Trabalhadoras e trabalhadores: capítulos de história social”, organizado por Fabiane Popinigis e Deivison Amaral.

Em outubro de 2022, foi lançado o livro Trabalhadoras e Trabalhadores: capítulos de história social, organizado por Fabiane Popinigis e Deivison Amaral. Fabiane Popinigis é professora e atualmente coordenadora do Programa de Pós-graduação em História da UFRRJ e pesquisadora associada do LEHMT-UFRJ. Deivison Amaral é professor da PUC-Rio e pesquisador do LEHMT-UFRJ.

A variedade do conjunto de artigos e pesquisas reunidas no livro faz jus à expansão, diálogo e qualidade do campo da história social do trabalho nas últimas décadas. Na orelha do livro, Paulo Fontes, coordenador do LEHMT, afirma que “a estupenda expansão temática e cronológica desta área (…) permitiu incorporar e articular decidida e prioritariamente a escravidão, as relações étnico-raciais, de gênero e a história urbana no coração da disciplina. Temas até pouco tempo raramente associados à história do trabalho, como o trabalho indígena, são objetos de pesquisas instigantes e inovadoras.”

Os capítulos tratam do 1) trabalho dos povos indígenas; 2) gênero, escravidão e liberdade; 3) trabalhadores, política e cidades; 4) desigualdades e os desafios dos mundos do trabalho; 5) além do bônus que é a conferência da historiadora e ativista Eileen Boris. As autorias: Adriano Duarte, Ayalla Silva, Eileen Boris, Gabriela Sampaio, Gláucia Fraccaro, Hélio da Costa, Henrique Espada Lima, Inés Pérez, Juliana B. Farias, Karine Damasceno, Maria L. Ugarte Pinheiro, Mariana Dias Paes, Paula Zagalsky, Rafael Soares Gonçalves e Vânia Losada Moreira.

Documentário Palmares: o povo negro pode dançar | Thompson Clímaco | 2022

Sinopse: Os clubes associativos apresentavam-se como uma das principais alternativas de lazer para os/as trabalhadores/as de Volta Redonda-RJ, mediante o crescimento da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN e concomitantemente da cidade na década de 1960. Entretanto, a realidade e possibilidade de lazer para assalariados/as negros/as era marcada pela segregação racial e racismo. Neste cenário é formado o Clube Palmares, espaço de resistência e divertimento para a população negra da cidade.


Direção, roteiro e pesquisa: Thompson Clímaco.
Produção: FGV-CPDOC, 2022.

Vale Mais #27: Trabalhadoras domésticas organizadas



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

 O episódio #27 do Vale Mais é sobre Trabalhadoras domésticas organizadas.

Yasmin Getirana, nossa convidada nesse episódio, é graduada em Relações Internacionais, já dirigiu dois curtas-metragens e defendeu, em 2021, uma Dissertação de Mestrado sobre as lutas diárias e a capacidade de organização das trabalhadoras domésticas no Rio de Janeiro. Com o título “Sozinha não posso”: A Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro (1961-1973), Yasmin defendeu sua dissertação no Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ – PPGHIS-UFRJ, sob a orientação do professor Paulo Roberto Ribeiro Fontes. O recorte temporal da pesquisa tem como parâmetros o ano de criação da Associação no Rio de Janeiro e o ano de aprovação da Lei 5859, que é a primeira lei a estender direitos trabalhistas para a categoria das empregadas domésticas. O trabalho de Yasmin mostra que tanto os caminhos das lutas políticas da categoria, como as histórias de vida das mulheres por ela pesquisadas, não raro, acabam se misturando. E, se por um lado isso não é uma exclusividade dessa categoria de trabalhadoras, por outro fica evidente, ao longo do texto, a importância da luta pelo reconhecimento profissional e o respeito aos direitos de uma categoria que sempre carregou um estigma de não serem vistas como profissionais que são. Ao longo da conversa a nossa entrevistada deixa transparecer a força do trabalho que ela produziu. A entrevista é, assim como a dissertação, necessária. Apreciem.

Produção: Alexandra Veras, Isabelle Pires, João Christovão e Larissa Farias
Roteiro: Alexandra Veras, Isabelle Pires, João Christovão e Larissa Farias
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Artigo “A Fazenda Engenho Novo e a memória negra em São Gonçalo” – Daiana Sousa Santiago e Samuel Oliveira


O artigo intitulado “Fazenda Engenho Novo: história oral e memória negra” foi publicado na Revista TransVesos, por Daiana Sousa Santiago, mestranda em Relações Étnico-Raciais no CEFET-RJ, e Samuel Oliveira, membro do LEHMT-UFRJ.
Através da prática de História Oral do movimento Ocupa Fazenda Engenho Novo, o artigo analisa as experiências negras no município de São Gonçalo. As memórias do cativeiro e da liberdade , bem como as estratégias para conquistas de direitos dos sitiantes da fazenda, são evidenciadas na análise da trajetória de duas famílias negras.
Link: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/64555


Crédito da imagem:  Dona Marcolina, de família de sitiantes na Fazenda Engenho Novo, inaugura uma creche com seu nome em 2000. Arquivo Privado da Família de Dona Marcolina.

Livros de Classe #29: A construção da sociedade do trabalho no Brasil, de Adalberto Cardoso, por Tomás Garcia

Neste episódio, Tomás Garcia, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), apresenta a obra “A construção da sociedade do trabalho no Brasil”, de Adalberto Cardoso. Com olhar multidisciplinar, Cardoso pensa a formação de uma ética do trabalho no capitalismo, sobretudo a partir de um diálogo entre as contribuições da história social e temas clássicos da sociologia do trabalho.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Artigo “O catolicismo e os mundos do trabalho: projetos e práticas no associativismo e no circulismo católico”, de Deivison Amaral e Larissa Corrêa.

Foi publicado o capítulo O catolicismo e os mundos do trabalho: projetos e práticas no associativismo e circulismo católico, escrito por Deivison Amaral e Larissa Rosa Corrêa, ambos professores da PUC-Rio e, respectivamente, pesquisador e pesquisadora associada do LEHMT-UFRJ. O texto parte da compreensão de que é necessário considerar a religião como um elemento de análise das experiências de classe para, a partir da historiografia e de pesquisa empírica, analisar ativismo de militantes leigos católicos e de clérigos nos mundos do trabalho, no Brasil. Para tanto, analisa dois momentos, o primeiro iniciado ainda nos anos finais do século XIX até a institucionalização da Ação Católica Brasileira (ACB), em 1935, foi marcado pela ação de leigos que, influenciados pela doutrina social da Igreja, atuaram junto aos sindicatos e associações de trabalhadores conformando uma cultura militante católica que se colocou como uma opção à militância vinculada às ideias socialistas. O segundo momento, surgido após a institucionalização e hierarquização do movimento decorrente da criação da ACB, com a maior liderança da Igreja Católica e seus clérigos, redirecionou a ação, especialmente para o movimento circulista. A partir desse recorte, as autorias proporcionam uma análise que desvele as relações entre religião, política e classe trabalhadora.

O capítulo é parte do livro Religião e Democracia: desafios contemporâneos, organizado por Américo Freire, Deivison Amaral e Evanize Sydow. O livro reúne pesquisadores e pesquisadoras para analisar diversas temáticas que entrecruzam a relação entre religião e a democracia. Entre os temas, a relação entre gênero, religião e política; o ecumenismo; a religião nas lutas de trabalhadores e trabalhadoras; as CEBs e as pastorais; a relação entre o neopentecostalismo e a política; entre outros. O livro será lançado no dia 8 de dezembro, às 17 horas, na livraria Folha Seca – Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro.

Link para a loja virtual da editora Alameda: https://www.alamedaeditorial.com.br/religiao-democracia-americo-freire-deivison-amaral-evanize-sydow

Vale Mais #26: Mulheres bancárias



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

 O episódio #26 do Vale Mais é sobre Mulheres bancárias.

Neste episódio conversamos com a historiadora Luciana Carlos Geroleti que recentemente defendeu sua tese de doutorado intitulada “Mulheres nos bancos: caminhos da profissionalização e lutas por direitos (1960-2000)”, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob a orientação da professora Dra. Janine Gomes da Silva. Luciana defendeu em 2019 a tese na qual analisa a profissionalização das mulheres nos bancos e as lutas que protagonizaram por seus direitos. A partir de fontes como jornais de circulação interna do Banco do Brasil, documentos e relatórios do Banco Bradesco, entrevistas de história oral com mulheres bancárias, documentação sindical, dentre outras, a autora nos apresenta reflexões em torno de como as mulheres ao longo do século XX foram construindo seus direitos, utilizando o gênero como categoria de análise. Funções genereficadas, lutas travadas nos locais de trabalho ou no sindicato, condições de trabalho de mulheres bancárias (incluindo as discussões sobre mulheres grávidas), padrões de beleza e comportamento estão entre as diversas questões desenvolvidas pela autora.

Produção: Alexandra Veras e Yasmin Getirana
Roteiro: Alexandra Veras, Larissa Farias e Yasmin Getirana
Apresentação: Yasmin Getirana

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Contribuição Especial #23: João Henriques de Lima Barreto, tipógrafo negro do Império


Renata Figueiredo Moraes (UERJ/LEHMT)


Em 1922, há cem anos, o mês de novembro iniciara com uma péssima notícia para o mundo das letras: a morte do literato Afonso Henriques de Lima Barreto, aos 41 anos de idade. Seu falecimento ocorrera em sua casa, no bairro de Todos os Santos, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, onde morava junto com seu pai e três irmãos. O pai do literato, João Henriques de Lima Barreto faleceria dias depois, aos 69 anos de idade. O centenário de morte desses dois personagens da história do Rio de Janeiro é um mote para ligarmos literatura e trabalho, principalmente o exercido por homens negros no Império.

João Henriques nascera no Rio de Janeiro, em 1853, filho de uma liberta com um português (que negou a paternidade). Os seus primeiros estudos foram realizados no Instituto Comercial do Rio de Janeiro e completou sua formação, inclusive em Língua estrangeira, no Liceu de Artes e Ofício, recebendo a qualificação da arte tipográfica no Imperial Instituto Artístico.

O ofício em que se especializara João Henriques, a tipografia, era responsável pela impressão de jornais e exigia o conhecimento das letras. Seus praticantes tinham um importante histórico de organização e mobilização por melhores condições de trabalho. No mesmo ano de nascimento de Henriques, foi criada no Rio de Janeiro a Associação Tipográfica Fluminense, que agregaria entre seus quadros de sócios trabalhadores de diversas tipografias interessados no apoio mútuo em caso de necessidades extremas, como falecimento ou adoecimento, nas iniciativas culturais e no apoio ao desenvolvimento da arte tipográfica promovidas pela associação. Em 1858, alguns tipógrafos ligados a essa associação, que recebera o título de Imperial em 1856, organizaram um movimento grevista que paralisou a circulação de três importantes jornais diários da Corte. A partir dessa greve foi criado o Jornal dos Tipógrafos, que serviu para dar esclarecimentos sobre a mobilização à população, informando sobre os constantes atrasos de salário, baixa remuneração e longas jornadas de trabalho vividas pelos trabalhadores das tipografias. Esse jornal diário circulou por 60 edições e influenciou outros periódicos dessa mesma categoria. Nos anos seguintes, os tipógrafos continuaram organizados e mobilizados, surgindo ao longo de toda a segunda metade do século XIX associações mutualistas ligadas a esse ofício e jornais escritos por eles, onde rememoravam o movimento de 1858, discutiam as ações da categoria e o desenvolvimento da técnica tipográfica, principalmente a praticada em outros países.

Foi nesse ambiente de mobilização dos tipógrafos que, na década de 1870, João Henriques entrou para a Tipografia Nacional, responsável por alguns jornais e pela publicação dos órgãos oficiais do Império. Em 1873, tornou-se sócio do jornal O Futuro, órgão que  circulou por 20 números, e que tinha entre os assuntos o cotidiano da política e a reprodução de folhetins e poesias, entre elas as de Castro Alves (Vozes d´Africa). Nos textos políticos, sem assinaturas, havia alguns traços de identidade dos seus autores: “filhos do povo”; “educados no trabalho”; “homens livres”.

João Henriques não fugiria da prática comum dos seus pares de se associar. Em 1880 foi eleito como conselheiro da Associação Nacional dos Artistas Brasileiros – Trabalho, união e moralidade e no ano seguinte tornou-se vice-presidente, alternando entre esse cargo e a participação no conselho da Associação. Concomitante a sua participação no quadro diretivo da Associação, João Henriques completava seus estudos no Liceu de Artes e ofício, no curso comercial e na língua francesa. Em 1886 tornou-se presidente da Associação de Auxílios Mútuos dos Empregados da Imprensa Nacional e Diário oficial, tipografia a qual trabalhava, e em 1888 chegou ao cargo de vice-presidente da Imperial Associação Tipográfica Fluminense.

Em 13 de maio de 1881 nasceu seu primeiro filho, Afonso Henriques, que ganhou o primeiro nome possivelmente em homenagem ao senador Afonso Celso de Assis Figueiredo (Visconde de Ouro Preto), padrinho de casamento de João Henriques e Amália Augusta, pais do literato. O apadrinhamento de Ouro Preto a João Henriques e aos seus estudos permitiu que um homem negro, filho de uma ex-escrava, alcançasse um prestígio profissional. João Henriques levou seu filho no dia do seu aniversário de 7 anos para testemunhar os festejos da abolição, entre eles o que ocorreu no Largo do Paço na ocasião da assinatura da lei que decretou o fim da escravidão. A imprensa fluminense foi a responsável pela organização dos festejos pela abolição e a classe tipográfica, tida como “homens do progresso, representantes da rainha das artes”, também fez parte dessas celebrações, tendo João Henriques como representante dos tipógrafos da Imprensa Nacional na comissão dos festejos. Na mesma ocasião, a categoria decidiu criar uma sociedade tipográfica para celebrar o “dia da liberdade”, surgindo assim o Centro Tipográfico 13 de maio, com João Henriques como sócio e conselheiro, reforçando entre os tipógrafos a antiga causa da abolição. Ainda em 1888, sairia publicado o Manual do aprendiz compositor, de Jules Claye, traduzido do francês para o português por João Henriques, sendo a primeira obra sobre o tema no Brasil, preenchendo uma lacuna sobre o conhecimento da arte tipográfica e suas técnicas, até então inexistentes em língua nacional. Além da atuação na tipografia, João Henriques ainda ocupava seu tempo como examinador de português da escola noturna gratuita do Congresso Operário de Beneficência, em 1887.

Seus últimos momentos na tipografia foram como mestre da oficina de composição da Imprensa Nacional e paginador da Tribuna Liberal, jornal de propriedade do seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto. Nos meses seguintes, o Brasil mudara. O Gabinete presidido por Ouro Preto fora derrubado pelos militares, dando início ao período republicano em 15 de novembro de 1889. O destino da família Lima Barreto seria afetado por esse golpe, perdendo João Henriques seu posto de trabalho e indo para um emprego longe da cidade, na Colônia dos Alienados na Ilha do Governador. Essa mudança de regime e de emprego afetaria para sempre a sua saúde, e após alguns anos administrando a Colônia a piora da sua saúde não permitiu que ele continuasse em atividade, indo assim com a família para o Todos os Santos, no subúrbio, em uma espécie de exílio, que afetaria também o destino do seu filho, o jovem Lima, que se tornaria um burocrata do funcionalismo público (e talvez, por isso, escritor), ao invés de completar seu curso de engenharia.

A literatura de Lima Barreto fala do cotidiano de homens como ele e seu pai. Homens negros vivendo as intempéries dos regimes políticos e sem garantias seguras de sobrevivência, mesmo na posse de alguns ofícios. A atuação de João Henriques em associações mutualistas refletia as incertezas do mundo do trabalho no Império, ainda sob a vigência da escravidão. A valorização do ensino técnico e sua performance como examinador e divulgador de técnicas tipográficas, que melhorariam o ofício como um todo, demonstram o quanto esse homem estava ciente dos limites que os trabalhadores livres tinham naquele contexto. A República ainda renderia muitas decepções à família, principalmente ao literato, que em seus escritos versava, dentre outros temas, sobre as condições de trabalho dos homens e de mulheres, principalmente negras, sem deixar de mencionar a trajetória do pai como um exímio tipógrafo, mas com poucas referências à atuação política e social de João Henriques. Na ocasião do seu falecimento, João já se tornara apenas o pai do grande literato Lima Barreto.

O Futuro, publicação de propriedade de João Henriques e que circulou entre os anos de 1872 e 1873. Esse foi o último número em circulação do jornal.

Referências bibliográficas:

Vitorino, Artur José Renda. Máquinas e operários. Mudança técnica e sindicalismo gráfico (São Paulo e Rio de Janeiro, 1858-1912). São Paulo: Annablume: FAPESP, 2000

Schwarcz, Lilia Moritz. Lima Barreto, triste visionário. São Paulo: Companhia das letras, 2017

Moraes, Renata Figueiredo. “A defesa do trabalho e a construção da nação: tipógrafos, industriais e autoridades da Corte por uma ordem no mundo do trabalho (1870)”. In: Silva, Ana P. B. Br; Terra, Paulo; Pereira, Ana Carolina H. Narrativas de formação da nacionalidade. Nação, identidade e memória no Brasil e na Ibero-América (do século XIX ao XX). Rio de Janeiro: Mauad X, 2020


Créditos da imagem de capa: João Henriques de Lima Barreto, s/d,  Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindli