Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.
“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Nessa série homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e divulgamos áudios que permitem uma reflexão sobre as fortes e complexas relações entre o partido e os mundos do trabalho ao longo da história do país. Em nosso décimo sétimo episódio apresentamos trechos de uma entrevista com o líder sindical Rolando Frati. Neto de anarquistas, Frati tornou-se militante comunista no final dos anos 1920. Teve intensa atuação no movimento sindical, em particular na região do ABC Paulista. Marceneiro, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Após o golpe militar de 1964, rompeu com o PCB e aderiu à Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella. No trecho que ouviremos, Frati fala sobre sua trajetória em seus primeiros anos de militância e detalha a atuação dos sindicalistas comunistas no ABC durante os duros anos da ditadura do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial. Essa voz comunista é apresentada pelo historiador Hélio da Costa, coordenador do departamento de formação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto
Referência da entrevista: Entrevista Rolando Fratti, 1990. Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.
O episódio #25 do Vale Mais é sobre Trabalhadores de aplicativo.
No episódio 25 do Vale Mais conversamos com o mestre em Direito pela UFRJ, Lucas Beraldo de Oliveira, que defendeu sua dissertação de mestrado, em 2021, intitulada “Germinando: superstições, ardis e estratégias de resistência na construção da identidade coletiva dos entregadores de plataformas digitais”. Lucas analisou como os trabalhadores de entrega de mercadoria por plataformas digitais enxergam sua atividade profissional dentro das relações de produção capitalistas na economia de plataformas e sua forma precária de contratação, a uberização. Com o olhar voltado para a luta por direitos, o autor busca na História Social do Trabalho as bases para discutir como os empregados tentaram, em outros períodos, manipular, adulterar e esconder as informações que geram a composição salarial e mostra como a pressão dos trabalhadores impulsionaram a criação de novos aparatos jurídicos. Inspirado pela literatura, Lucas questiona o uso das novas tecnologias nas relações de trabalho e problematiza o espaço da agência do trabalhador diante de teorias que limitam a existência dentro do grande sistema de controle vivido na contemporaneidade. No nosso bate papo, o autor ainda fala dos problemas de realizar a pesquisa no meio da pandemia do COVID-19 e as trocas de rumos e fontes como forma de contornar as dificuldades de pesquisa.
Produção: Alexandra Veras, Heliene Nagasava, Larissa Farias e Yasmin Getirana Roteiro: Alexandra Veras, Heliene Nagasava, Larissa Farias e Yasmin Getirana Apresentação: Larissa Farias
Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin –
Vale Mais
Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ!
Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho.
No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023.
Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios!
Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias
Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco
Diretor da série: Thompson Clímaco
Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
Neste episódio especial em celebração à Copa do Mundo, Bernardo Buarque de Hollanda (Fundação Getúlio Vargas), apresenta o livro “Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938”, do historiador Leonardo Pereira. Lançado em 2000, Footballmania tornou-se imediatamente um clássico para os estudos do futebol no Brasil, sendo ganhador do prestigioso Prêmio Jabuti. O livro demonstra como o futebol foi rapidamente disseminado e ressignificado pelas classes trabalhadoras cariocas no início do século XX e como foi parte importante das intensas disputas em torno das identidades de raça, classe e nação no Brasil da Primeira República.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Segmento: 9º ano do Ensino fundamental; 2º e 3º ano do Ensino Médio.
Unidade temática: Racismo e mundos do trabalho no Brasil Republicano
Objeto de conhecimento: O objetivo desta sequência didática é perceber as características do racismo nos mundos do trabalho no século XX no Brasil, com o ensejo de contribuir para percepções mais amplas da realidade racial e do trabalho no país. A proposta aqui é aprofundar as discussões sobre o racismo para além do período escravocrata, articulando-as com os mundos do trabalho, assim como atentar para as particularidades raciais constituídas no século XX. Deste modo, busca-se mobilizar com os estudantes variadas noções e processos relacionados à classe, raça e racismo entre a Primeira República e o governo Vargas.
Objetivos gerais:
– Compreender classe trabalhadora e racismo enquanto processo histórico, bem como a especificidade e confluência entre essas duas noções no século XX no Brasil;
– Discutir a ausência de reconhecimento legal para o trabalho rural na Primeira República e sua relação com raça, período escravista e discurso de modernidade;
– Relacionar aspectos raciais dos mundos do trabalho e legislação trabalhista que não tocam no tema, diretamente ou aparentemente;
– Analisar os aspectos raciais e de classe a partir do governo de Getúlio Vargas, o impacto da legislação trabalhista, assim como a intersecção entre movimento sindical e luta antirracista;
– Identificar e comparar as diferenças e semelhanças referentes a raça e classe trabalhadora entre a Primeira República e o Governo Getúlio Vargas, com ênfase nas ações, organizações e percepções de homens e mulheres que vivenciaram esses processos políticos e sociais da história nacional;
Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):
(EF09HI01) Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da emergência da República no Brasil.
(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954.
(EF09HI07) Identificar e explicar, em meio a lógicas de inclusão e exclusão, as pautas dos povos indígenas, no contexto republicano (até 1964), e das populações afrodescendentes
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
Duração da atividade: 8 aulas de aproximadamente 50 minutos
Aulas
Planejamento
01
Etapa 1
02 e 03
Etapas 2
04 e 05
Etapa 3
06
Etapa 4
07 e 08
Etapa 5
Conhecimentos prévios:
– Trabalho escravo no Brasil; – Lei de Terras; – Proclamação da República – Contextualização da legislação Republicana acerca do trabalho rural e fabril – Golpe de Getúlio Vargas em 1930
Atividade
Recursos: Projetor Multimídia, impressora, notebook, cabo de som e caixa de som.
Etapa 1: Trabalho e população Negra pós-1888, introdução ao tema
Prezado/a colega, a ideia aqui é estimular que os/as estudantes reconheçam os escravizados como trabalhadores/as, estabelecendo relações entre raça, mundos do trabalho e trabalho rural no Brasil oitocentista.
Atividade I: A partir das informações apresentadas nos três artigos abaixo, contextualize a condição da população negra e as relações de trabalho pós-abolição. Após sintetizar o processo de forma expositiva, apresente em sala de aula os trechos provocativos dos textos como motes para reflexão com a turma:
[…] numa sociedade como a brasileira, marcada por quase quatro séculos de escravidão, não seria possível pensar o surgimento de uma classe trabalhadora assalariada consciente de si sem levar em conta as lutas de classe – e os valores e referências – que se desenrolaram entre os trabalhadores escravizados e seus senhores, particularmente no período final da vigência da escravidão, quando a luta pela liberdade envolve contingentes cada vez mais significativos de pessoas
Fonte: MATTOS, Marcelo Badaró. Trajetórias entre fronteiras: o fim da escravidão e o fazer-se da classe trabalhadora no Rio de Janeiro. Revista Mundos do Trabalho, v.1, n.1, p.51-64, 2009.
Trecho 02
As trajetórias e experiências da população negra nos séculos XIX e XX são heterogêneas, assim como a relação da mesma com a metalurgia representa apenas uma parte dos diversos ofícios e conexões de negros e negras com os mundos do trabalho no Brasil. No entanto, é importante salientar que as vinculações realizadas neste artigo entre, ferreiros, “escravos operários” e metalúrgicos não são determinações transitórias e sim possíveis articulações e provocações historiográficas. Acreditamos assim, que as fugas e as migrações são ações que aproximam os ferreiros dos séculos XIX com os trabalhadores negros que migraram para o Sul Fluminense nos anos 1930 e 1940, por caracterizar suas agências, em contextos distintos, em busca de melhores condições de vida e inserção social a partir e por meio da metalurgia, seja nas estradas, caminhos, oficinas ou fábricas. As condições de trabalho também representam uma continuidade por conta da forte exploração e insalubridade das oficinas e siderúrgicas vivenciadas pelos “escravos operários” e metalúrgicos do século XX. Além disso, as precariedades sanitárias e habitacionais, em ambos os séculos, são outros fatores que aproximam essas classes trabalhadoras e suas famílias. Por meio dos debates acerca raça e classe trazidos pelos trechos, para complementar, introduza os dados de prisões entre negros e brancos nos primeiros anos da República no estado do Rio de Janeiro para salientar as diferenças raciais postas no período, em conformidade com os motivos das prisões da população negra.
Fonte: ALVES, Thompson Clímaco; BISPO NETO, Antonio Ramos. Ferreiros, escravos operários e metalúrgicos: trabalhadores negros e a metalurgia na cidade do Rio de Janeiro e na microrregião Sul Fluminense (Século XIX e XX). Revista Cantareira (UFF), Niterói-RJ, 34ª ed. Jan-Jun, v. 1, p. 12-33, 2021.
Atividade II: Depois de abordar o panorama das relações de trabalho e população negra, realize uma roda de conversa a respeito dessa disparidade de encarceramento entre negros e brancos e articule com as condições do trabalho da população negra apresentadas no início da aula. Em um segundo momento, articule os pontos suscitados com as questões presentes no artigo de Érica Arantes em relação às prisões por vadiagem no início do século XX e a estimativa de detenção por cor do RJ.
Dados das prisões por cor no Estado do Rio de Janeiro de 1901-1910:
Etapa 2: Pensamento racial republicano a partir de intelectuais negros
Após introduzir a realidade do trabalho e da população negra entre o fim do século XIX e início do Século XX, é necessário denotar o pensamento racial da época, bases das disparidades apresentadas anteriormente.
Atividade I: realizar a leitura conjunta dos textos de intelectuais negros da Primeira República como *Lima Barreto e *Don Jayme (João Miranda) para salientar e discutir o pensamento racial, principalmente a eugenia da época, a partir da percepção de dois intelectuais negros coetâneos a esses processos.
Após a leitura, discuta a percepção dos estudantes acerca do conteúdo dos textos e do pensamento racial Brasileiro na Primeira República. Para complementar, exiba a peça de teatro online “Tragam-me a Cabeça de Lima Barreto”.
Tarefa para casa: divida a turma em grupos iguais de acordo com o tamanho da mesma para que respondam as seguintes questões:
Relacione as condições de trabalho pós-emancipação ao pensamento eugenista e à desigualdade racial criticadas nos textos de Lima, Dom Jayme e a peça exibida em sala.
Pesquisar e evidenciar como as leis do início do século XX expressavam a tentativa de controle e restrição da liberdade da população negra e como este aspecto está relacionado aos mundos do trabalho.
Intelectuais negros como Lima Barreto e Dom Jayme são excepcionais normais na Primeira e República e nos ajudam a perceber desigualdade raciais e de classe entre negros e brancos a partir disso, pesquisem mais intelectuais negros/as do período assim como suas críticas à realidade da população negra.
*Lima Barreto: Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) foi um importante escritor brasileiro da Primeira República, da fase pré-modernista da literatura nacional. Suas obras imortalizadas trazem consigo fatos históricos e perspectivas da sociedade carioca. Analisa os ambientes e os costumes do Rio de Janeiro e faz uma crítica à mentalidade racial e burguesa de seu tempo.
*João Miranda (Dom Jayme): João Ferreira de Miranda (1878-1909) foi um importante professor, tabelião, redator e jornalista do jornal Gazetinha de Barra Mansa-RJ. Produziu textos críticos em relação a realidade do negro/a pós-abolição e ao pensamento racial de sua época nos jornais da cidade, com o pseudônimo de Don Jayme, até seu último ano de vida.
Etapa 3: Trabalhadores Rurais, racismo e a questão da terra
Com a turma separada nos grupos determinados na aula anterior, com as três questões respondidas e debatidas é possível inserir a discussão sobre a ausência de direitos dos trabalhadores rurais na Primeira República.
Atividade I: Mediante as contribuições dos textos abaixo e outros nessa mesma linha do conhecimento de acesso do/a docente, realize uma síntese expositiva da questão da terra e do trabalho rural na Primeira República. Posteriormente, ouça com a turma alguns trechos das entrevistas do projeto “Memórias do Cativeiro” do LABHOI-UFF, que retrata a percepção de descendentes de escravizados no Vale do Paraíba, em sua maioria trabalhadores rurais.
Toda a vida do pobre é difícil, mas naquele tempo era pior, hoje está ruim também, mas naquele tempo era pior. O pobre nunca teve facilidade na vida, as vezes quer comprar um remédio e não tem condições pra comprar. […] Fazendeiro era o dono do mundo e só melhorou depois que acabou o cativeiro, mas depois ainda tinha aperto, continuou a sofrer. Antes de 1930 o fazendeiro ainda colocava colono pra trabalhar a força, não tinha lei […] o preto era o mais sacrificado do mundo, ninguém gostava. Depois do cativeiro os maus tratos continuavam é isso que meu pai contava.
Entrevista – Claudina de Souza Oliveira:
Agora as coisas estão boas, quem é caseiro, tem a sua casinha direitinho, tem a liberdade de sair, tem posto médico. Meu irmão [à época] ficou aleijado na plantação de tomate, uma enxada pegou na perna dele e nisso ele ficou sem andar.
Atividade II: Logo após os trechos das entrevistas e a realidade do Vale do Paraíba Fluminense, região marcada pelo escravismo e produção de café, compare as condições de trabalho e as relações raciais existentes nessa região com a do Oeste Paulista a partir das contribuições de Karl Monsma, principalmente no que diz respeito às diferenças entre os acordos entre fazendeiros e colonos e as diferenças raciais da região entre imigrantes europeus e a população negra.
Atividade III: Depois desse exercício comparativo entre duas regiões no contexto pós-abolição, peça para que cada aluno/a responda:
Identifique as diferenças entre os acordos de trabalho e reprodução do racismo, nas duas regiões mobilizadas em aula;
Articule como a ausência da reforma agrária influenciou nas desigualdades raciais presentes tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro;
Evidencie a importância em não generalizar a experiência do pós-abolição à substituição, comumente reproduzida, da mão de obra negra pela mão de obra imigrante (branca). Procure também justificar o porquê essas análises genéricas contribuem para concepções racistas em torno da população negra e a sua relação com os mundos do trabalho.
Caro/a colega, é importante problematizar na terceira questão, as próprias interpretações da sociologia brasileira que por muito defendeu a tese do negro em estado de anomia social. Para auxiliá-lo/ a nesse debate, indico o texto abaixo que procura fazer uma análise crítica ao texto de Monsma citado acima. Texto e referências da página de educação antirracista do instagram @Bantu_br: https://www.instagram.com/p/CSaNa-NpKCx/?utm_source=ig_web_copy_link
Etapa 4 –Raça e classe trabalhadora após o golpe de Getúlio Vargas
Depois de refletir sobre racismo, mundos do trabalho rural na Primeira República, é de suma relevância contextualizar o golpe de Getúlio Vargas e o seu impacto para os trabalhadores e para as relações raciais a partir de 1930. Com aporte dos artigos abaixo, propomos que apresente a Era Vargas, com ênfase na legislação trabalhista, sem deixar de denotar a organização trabalhista e pautas dos/as trabalhadores/as naquele período: Mundos do trabalho pós-1930:
Imediatamente à contextualização exponha a provocação de Paul Gilroy acerca da relação dos sindicados e luta antirracista: […] raça também é vivida “através” de outras identidades, e o combate ao racismo pode estar presente em movimentos aparentemente não relacionados com a questão. Exemplos podem ser encontrados nas lutas pela melhoria de condições em bairros populares, no sindicalismo praticado por categorias com significativa presença negra, como é o caso dos empregados domésticos, ferroviários, portuários e trabalhadores da construção civil, entre outras.
Somado a isto apresente características dos sindicatos dos ensacadores de trapiche e café do Rio de Janeiro, Centro Operário de Barra Mansa-RJ e Centro Operário de Salvador presentes nos três artigos abaixo.
Atividade I: Após essas exposições e debates com a turma, proponha atividades de comparação entre sindicatos da Bahia, Cidade do Rio de janeiro e Barra Mansa – presentes nos textos de Castellucci, Cicalo e Clímaco – que articulem raça, classe e sindicalismo no período como nos trechos sugeridos abaixo:
[…] a grande presença de afro-brasileiros em alguns sindicatos não era simplesmente um efeito da resistência triunfal dos trabalhadores negros na defesa de seus empregos frente aos migrantes. Era também resultado de um processo geral de segregação, que confinava desproporcionalmente os afro-brasileiros a atividades pesadas e não especializadas [referência ao trabalho na estiva]
Fonte: CICALO, André. Campos do pós-abolição: identidades laborais e experiência “negra” entre os trabalhadores do café no Rio de Janeiro (1931-1964). Revista Brasileira de História, vol. 35, n. 69, 2015. p.118
Um número muito grande de indivíduos da amostra analisada fez parte de uma verdadeira constelação associativa, formada por muitas irmandades religiosas e sociedades mutualistas, nas quais já faziam política desde o oitocentos. Como se sabe, as irmandades eram espaços privilegiados para a construção de identidades sociais. Nelas, para além das funções securitárias, africanos, crioulos e pardos, fossem eles escravos, livres ou libertos, definiam e redefiniam identidades étnicas, faziam alianças, negociavam e conflitavam entre si ou com os brancos.” “[…] Mas, como dissemos, além das irmandades religiosas, os trabalhadores baianos, em geral, e os filiados do Centro Operário da Bahia, em particular, possuíam uma tradição de associativismo mutualista que remontava à primeira metade do século XIX. Para além da função securitária, o mais relevante a ser explicitado é que, da mesma forma que as irmandades religiosas eram um lócus para a construção de identidades étnicas, as sociedades mutualistas dos operários favoreciam, conforme observou Claudio Batalha, a constituição de laços de solidariedade de classe, uma identidade que era construída a partir da valorização e da dignificação do trabalho e do trabalhador.
Fonte: CASTELLUCCI, Aldrin. Classe e cor na formação do Centro Operário da Bahia (1890-1930). Afro-Ásia, 41, 2010.
A partir do Estatuto do Centro Operário de Barra Mansa é possível perceber não só a preocupação de sindicalizar todas as classes como destacado acima, mas também havia a preocupação justamente em zelar pelas leis sociais como: férias, acidentes de trabalho, lei de 8 horas, dois terços entre outras. Além disso, outros três pontos chamam atenção no estatuto: (i) a criação de um curso de instrução primária para os associados, (ii) sindicalização dos trabalhadores rurais e (iii) assistência as famílias dos associados, incluindo os falecidos em serviço. “As produções mais tradicionais da história social do trabalho poderiam interpretar estas políticas apenas por um viés de “classe”. No entanto, mediante a máxima de Gilroy (já citada) onde raça é experimentada em movimentos que aparentemente não estão ligados, bem como as características sociorraciais específicas do Sul Fluminense e raça no centro das discussões nacionais [nos anos 1930], é possível relacionar essas pautas Centro operário de Barra Mansa com raça e demandas da classe trabalhadora negra à época.
Fonte: ALVES, Thompson Clímaco. Raça e sindicalismo em Barra Mansa questões raciais e o Centro Operário local nos anos 1930. No Prelo.
O objetivo dessa atividade é provocar a turma para que possam compreender a confluência entre raça e classe com diferentes primas de organização e luta frente ao racismo em mais de uma região do país.
Etapa 5: Racismo e Mundos do trabalho: rupturas e continuidades
De forma contínua ao debate acerca de racismo e mundos do trabalho no Governo Vargas, exibir o trecho abaixo do documentário Memórias do cativeiro:
Atividade I: A partir da fala de Cancino apresentado na série de entrevistas produzida pelo LABHOI intitulada “Memorias do Cativeiro” e do texto de Hebe Mattos e Ângela de Castro Gomes em relação à coincidência narrativa entre Vargas e da Princesa Isabel, identifique/ registre a recepção dos/as estudantes a respeito da fala de Cancino: Após isso, proponha as seguintes questões para reflexão:
Por quais motivos os trabalhadores rurais, que estão ausentes da legislação trabalhistas do período, atribuíam à Getúlio Vargas o título de verdadeiro libertador dos negros no país?
O quanto essa frase de Cancino faz parte do constructo argumentativo da época a respeito do racismo e do mito da democracia racial no governo Vargas equal o impacto disso para as relações raciais dos anos 1930?
Atividade II: Como suporte para os/as alunos/as nessas questões apresente de forma breve o pensamento racial consolidado nos anos 1930, com destaque para “a democracia racial” e o pensamento eugenista como base do governo à época. Utilizar o texto de Olívia Maria Gomes Cunha abaixo como suporte para o debate, como também sugerir para casa o documentário Menino 23.
Após a discussão sobre o pensamento racial dos anos 1930 proponha mais uma reflexão:
O quanto essa frase de Cancino fazia faz parte do constructo argumentativo da época a respeito do racismo e do mito da democracia racial no governo Vargas? E qual o impacto disso para as relações raciais dos anos 1930?
Outrossim, é imprescindível evidenciar como a desigualdade racial e racismo tem suas particularidades nesse período, nesse sentido é fundamental expor as considerações da antropóloga Caetana Damasceno sobre racismo nos anúncios de emprego expressos a partir do termo “boa aparência” como algumas das imagens abaixo e outros exemplos presentes no texto:
Atividade III: Após o término da discussão em torno das fontes do jornal e realidade racial dos anos 1930 e 1940, refaça os grupos já consolidados desde a etapa 2 e:
A) Solicite que cada grupo elabore um quadro comparativo entre os processos raciais e de classe entre a Primeira República e os anos 1930, com as rupturas e continuidades de um processo para o outro. B) Promova um debate entre os grupos a partir dos tópicos convergentes e divergentes, uma vez que cada um defenda os motivos daqueles aspectos serem determinantes na reprodução e novas características do racismo século XX. C) Peça que cada grupo evidencie diferentes formas de reprodução de racismo nos anúncios dos jornais em questão e relacione com outras desigualdades raciais abordadas desde a primeira etapa. D) Para terminar, questione por quais motivos precisamos ressaltar e mobilizar os acontecimentos do século XX para discutir racismo no Brasil nos dias atuais e não só destacar o período escravocrata. Abra um espaço para escutar as percepções dos/as estudantes acerca do racismo atualmente no país.
Bibliografia e Material de apoio:
ALVES, Thompson Clímaco; BISPO NETO, Antonio Ramos. Ferreiros, escravos operários e metalúrgicos: trabalhadores negros e a metalurgia na cidade do Rio de Janeiro e na microrregião Sul Fluminense (Século XIX e XX). CANTAREIRA (UFF), v. 1, p. 12-33, 2021.
BARRIOS, Luiza. Orfeu e Poder: Uma Perspectiva Afro-Americana sobre a Política Racial no Brasil, Afro-Ásia, nº 17, 1996.
CASTELLUCCI, Aldrin. Classe e cor na formação do Centro Operário da Bahia (1890-1930). Afro-Ásia, 41, 2010. p.89.
CICALO, André. Campos do pós-abolição: identidades laborais e experiência “negra” entre os trabalhadores do café no Rio de Janeiro (1931-1964). Revista Brasileira de História, vol. 35, n. 69, 2015.
CUNHA, Olívia Maria Gomes. “Sua alma em sua palma: identificando a “raça” e inventando a nação” in PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999.
DÁVILA, Jerry. Diploma de brancura. Política social e racial no Brasil (1917-1945). São Paulo: Editora da Unesp, 2006.
FONTES, Paulo; PIRES, ISABELLE. A Revolução de 1930 e os sindicatos: história e historiografia do trabalho. In: Marco Aurélio Vannucchi; Luciano Aronne de Abreu. (Org.). A era Vargas: (1930-1945). 1ed.Porto Alegre: EDIPUCRS, 2021, v. 1, p. 307-346.
FORTES, Alexandre. O Estado Novo e os trabalhadores: a construção de um corporativismo latino-americano. Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 61-86, 2007.
FORTES, Alexandre. Nós do quarto distrito: a classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2004.
FORTES, Alexandre. Formação de classe e participação política: E. P. Thompson e o populismo. Revista anos 90, Porto Alegre, v. 17, n. 31, p. 173-195, jul. 2010.
FORTES, Alexandre; NEGRO, Antônio Luigi. Historiografia, Trabalho e Cidadania no Brasil. Revista trajetos, Ceará, v. 1, n. 2, p. 1-20, 2002
GOMES, Ângela Maria de ê. A invenção do trabalhismo. 3. Ed, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
GOMES, Flávio dos Santos; NEGRO; Antônio Luigi. Além de senzalas e fábricas: uma história social do trabalho. Tempo Social: revista de sociologia da USP, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 217-240, 2006.
GOMES, Flávio; PAIXÃO, Marcelo. Raça, pós-emancipação, cidadania e modernidade no Brasil: questões e debates. Maracanan, Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, p. 171-194, 2008.
Créditos da imagem de capa: Trabalhadores rurais em frente à Fábrica da Nestlé, Barra Mansa, 1937. Academia Barramansense de História – ABH.
Chão de Escola
Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil. Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.
Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.
“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Nessa série homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e divulgamos áudios que permitem uma reflexão sobre as fortes e complexas relações entre o partido e os mundos do trabalho ao longo da história do país. A cada quinze dias, um trecho de uma entrevista de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base conta um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil. Pesquisamos áudios em acervos públicos e particulares de todo o país, que serão apresentados por pesquisadores e historiadores especialistas na trajetória do partido. Em nosso décimo sexto episódio apresentamos trechos de uma entrevista com o líder camponês Manoel Ferreira de Lima. Pernambucano, migrou para o Rio de Janeiro durante a década de 1930 e trabalhou em diversas fábricas têxteis na cidade de Magé, tendo participado da fundação do sindicato local e de diversas lutas operárias. Militante comunista, foi eleito vereador na cidade nos anos 50 . Nesse período, passou a atuar junto aos trabalhadores rurais, tendo fundado associações e sindicatos de lavradores. No trecho que ouviremos, ele fala sobre sua atuação como liderança camponesa e as estratégias de luta pela terra e por direitos no campo. Essa voz comunista é apresentada pela socióloga Leonilde Servolo Medeiros, professora do CPDA-UFRRJ.
Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto
Referência da entrevista: Entrevista Manoel Ferreira de Lima. 1982. Entrevistadora: Leonilde Medeiros. Acervo do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin –
Vale Mais
Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ!
Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho.
No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023.
Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios!
Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias
Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco
Diretor da série: Thompson Clímaco
Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
Claudiane Torres, Luciana Wollmann e Samuel Oliveira, integrantes do LEHMT-UFRJ, publicaram o artigo “A História Social do Trabalho na sala de aula” na revista Ciência Hoje (edição de setembro de 2022, nº 391). O artigo analisa os esforços realizados pela seção Chão de Escola, coordenada no site do LEHMT-UFRJ pelos autores, para promover um ensino de história crítico e atento à renovação das análises do mundo do trabalho. De periodicidade mensal, a seção completou dois anos e oferece uma série de seqüências didáticas e entrevistas. Link: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-historia-social-do-trabalho-na-sala-de-aula/
Em homenagem à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, o Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT-UFRJ) promove a “Semana Lula”. Entre 31 de outubro e 4 de novembro publicaremos conteúdos sobre a história do trabalho no Brasil que nos ajudam a entender a trajetória e importância deste migrante nordestino, metalúrgico, sindicalista e líder político, três vezes eleito presidente da República. São conteúdos novos ou já publicados pelo LEHMT em outros momentos.
No episódio especial de Livros de Classe da “Semana Lula”, Alexandre Fortes, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em um episódio inédito de nossa série de vídeos Livros de Classe, apresenta “Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil” do historiador estadunidense John French. Recém lançada no Brasil, a obra é fruto de décadas de meticulosa pesquisa e reflexão sobre as articulações entre a história social do Brasil e a impressionante trajetória de Lula. Publicado originalmente em inglês em 2020, o livro ganhou vários prêmios internacionais e rapidamente se tornou uma leitura obrigatória sobre os mundos do trabalho, a política e história brasileira em geral.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.
Jênifer de Brum Palmeiras Doutoranda em História pela Universidade de Passo Fundo
Situada à Avenida Gal. Neto, 171, na região central de Passo Fundo, a Cervejaria Artesanal de Bramatti & Corá foi fundada em 1910 pelos descendentes italianos Jorge Corá e Alexandre Bramatti, e vendida em 1915 para os irmãos Otto e Hugo Bade e o imigrante suíço Jorge Barbieux, sob novo nome, Cervejaria Serrana. Nesta época, a cidade passava por um surto de desenvolvimento industrial provocado, entre outras razões, pelo impacto da inauguração da ferrovia (1898) que ligava o Rio Grande do Sul a São Paulo.
No período entre guerras a Cervejaria Serrana tornou-se a maior indústria da cidade. Em 1947, a Companhia Cervejaria Brahma, com sede no Rio de Janeiro, em um projeto de expansão nacional, adquiriu a Serrana, transformando-a em sua filial no Rio Grande do Sul.
A Brahma, como se tornou conhecida pela população, foi uma importante referência do desenvolvimento urbano e econômico de Passo Fundo na segunda metade do século XX. Ainda hoje existe o “beco da Brahma”, onde havia casas dos antigos operários da fábrica, uma arquitetura vernacular em pleno centro da cidade. A chaminé da fábrica, referência preservada até hoje, emitia o apito que despertava a cidade a cada novo amanhecer e ao final de mais um dia.
Com uma mão de obra composta majoritariamente por homens da própria cidade, a Brahma chegou a ter cerca de 1.500 trabalhadores entre as décadas de 1960 e 80. A empresa desenvolveu uma atuante política paternalista em relação a seus funcionários. Era conhecida por pagar os melhores salários da região. Mantinha no seu refeitório bebida à vontade e os antigos trabalhadores relatam que “podiam até tomar cerveja na hora do almoço”. Também investia amplamente em publicidade nos jornais da região e, em épocas festivas presenteava as entidades da sociedade local com seu famoso chopp. Possuía também um time de futebol que era considerado um dos melhores dentre todas as filiais da Companhia, além de ter importante presença no cenário esportivo de Passo Fundo. Para a empresa o time de futebol era tão importante, que muitas vezes a contratação de trabalhadores era baseada nas “habilidades futebolísticas”.
Para os operários trabalhar na Brahma era motivo de status. Em geral, tinham crédito no comércio local e uma sensação de prestigio social. “Todo mundo queria trabalhar na Brahma”, relembram muitos antigos funcionários.
A Brahma reforçava assim um forte sentimento de pertencimento à empresa entre seus trabalhadores, ao mesmo tempo que desenvolvia poderosos laços e conexões com a comunidade local em geral.
Apesar dessas relações, a presença de uma grande fábrica na região central da cidade passou a gerar tensões e problemas. Já em 1953, o Plano Diretor de Passo Fundo destacava a necessidade de uma reestruturação urbanística, afirmando que a zona industrial deveria estar próxima da ferrovia, e não no centro, com o propósito de não limitar o desenvolvimento econômico do município. Apesar disso, a fábrica não apenas permaneceu, como ampliou sua produção, tornando-se uma das cervejarias mais importantes do Rio Grande do Sul.
No entanto, a localização da fábrica tornou-se um problema incontornável a partir da década de 1980. A logística do transporte dos produtos por caminhões era particularmente delicada. Relatos de antigos operários descrevem vários problemas nesse sentido. “Na verdade, dava até medo ver o caminhão sair, a gente pensava que ia tombar, pois para se chegar até a estrada era preciso dar umas voltas para sair do centro da cidade”, relembra um deles. O barulho e odores da fábrica também provocavam incômodos e reclamações entre os vizinhos.
Ao longo dos anos 1990, a empresa foi passando por várias transformações e reestruturações. O número de trabalhadores foi sendo reduzido, bem como uma série de benefícios. Apesar dessa “morte lenta”, o fechamento da fábrica em 1997 foi visto como abrupto e pegou os funcionários e boa parte da população de surpresa. Ela teria sido “fechada da noite pro dia”, como se tornou um lugar comum na cidade. O impacto simbólico e econômico do fechamento da Brahma foi fortemente sentido em Passo Fundo.
Após o fechamento foi realizado um grande movimento por parte dos ex-funcionários, do sindicato e do poder público para que a fábrica fosse reaberta. Apesar dos esforços, a decisão do grupo empresarial já estava tomada. Restou uma estrutura de edifícios no centro da cidade que ocupava quatro quadras da área urbana, além, é claro, de uma chaminé enorme, avistada de longe. Nesse contexto, foi iniciado um processo de patrimonialização da fábrica. Em 1999, a chaminé da fábrica foi tombada como patrimônio do município e as demais edificações foram vendidas para diferentes grupos empresariais da cidade., O prédio principal, onde a chaminé se localiza, mantém a arquitetura original e atualmente é alugado para a Faculdade Anhanguera.
Os antigos operários guardam, até hoje, objetos, como copos, garrafas personalizadas e quadros produzidos para brindes em festas comemorativas como lembranças daquele local de trabalho e das relações de amizade e sociabilidade que ali se forjaram. Embora fechada há décadas, a Cervejaria Brahma ainda é uma referência e um fundamental lugar de memória dos trabalhadores de Passo Fundo.
Time de Futebol da Brahma Passo Fundo. Acervo Instituto Histórico de Passo Fundo.
Para saber mais:
FERREIRA, E. S. Cervejaria Serrana, Continental e Brahma. In: 150 momentos mais importantes da história de Passo Fundo.Org. Osvandré Lech. Passo Fundo: Méritos, 2007.
KNACK, Eduardo Roberto Jordão. Industrialização e Urbanização no Centenário de Passo Fundo/RS – 1957. História: Questões & Debates, v. 64, n. 1, jul. 2016
PALMEIRAS, J. B. Reclamatórias trabalhistas: o papel do sindicato no caso da Cia. Cervejaria Brahma. Missões: Revista de Ciências Humanas e Sociais, v.6, 2020
PALMEIRAS, J. B. Lobby empresarial: o caso da Cervejaria Brahma na Assembleia Legislativa do RS (1947-1953) In: V Congresso Internacional História, Regiões e Fronteiras, 2021, Passo Fundo. Anais do V Congresso Internacional História, Regiões e Fronteiras, 2021.
O NACIONAL. Passo Fundo: O Nacional, 1947 – 1997. Arquivo Histórico Regional e Instituto Histórico de Passo Fundo.
Crédito da imagem de capa: Panorama da fábrica no centro da cidade. Acervo Czamanski – Instituto Histórico de Passo Fundo.
MAPA INTERATIVO
Navegue pela geolocalização dos Lugares de Memória dos Trabalhadores e leia os outros artigos:
Lugares de Memória dos Trabalhadores
As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.
A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.
Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.
“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Nessa série homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e divulgamos áudios que permitem uma reflexão sobre as fortes e complexas relações entre o partido e os mundos do trabalho ao longo da história do país. A cada quinze dias, um trecho de uma entrevista de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base conta um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil. Pesquisamos áudios em acervos públicos e particulares de todo o país, que serão apresentados por pesquisadores e historiadores especialistas na trajetória do partido. Em nosso décimo quinto episódio, apresentamos trechos de uma entrevista com a João Louzada. Louzada foi importante militante comunista nos tradicionais bairros operários da Mooca e Belenzinho em São Paulo entre os anos 1930 e 60. Foi operário têxtil e atuou na construção civil tornando-se dirigente do sindicato dos trabalhadores desse setor. Nos anos 1950 foi eleito vereador na cidade de São Paulo pela legenda do PSP, já que o PCB encontrava-se na ilegalidade. No trecho que ouviremos Louzada fala sobre a ação dos comunistas nos bairros paulistanos nos anos 1940 e 50, sobre o associativismo local e sobre a importância das festas e do futebol para a cultura e organização operária naquele período. Essa voz comunista é apresentada pelo historiador Adriano Duarte (UFSC).
Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto
Referência da entrevista: Entrevista João Louzada. 6 de novembro de 1998. Entrevistador: Adriano Duarte. Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin –
Vale Mais
Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ!
Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho.
No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023.
Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios!
Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco
Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias
Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco
Diretor da série: Thompson Clímaco
Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
Neste episódio, Ynaê Lopes dos Santos, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), apresenta a obra Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, do historiador João José Reis. Publicado em 1986 e reeditado em 2003, o livro trouxe importante inovação para os estudos da escravidão, trazendo para o centro da reflexão a reconstrução das identidades africanas no espaço urbano – no caso, de Salvador (BA) – e as formas de ação e resistência destes trabalhadores escravizados.
Livros de Classe
Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.