Livros de Classe #06: Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga, por Leonardo Ângelo

Neste vídeo da série Livros de Classe, Leonardo Ângelo, bolsista FAPERJ na Universidade Federal Fluminense (UFF), apresenta a obra Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga. O livro traz à luz a construção da identidade nacional brasileira a partir de uma perspectiva racializada.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

LMT#95: Casa do Trabalhador do Amazonas, Manaus (AM)- César Augusto Queirós



César Augusto Queirós
Professor do Departamento de História da UFAM



Quem hoje, ao transitar pelo agitado centro de Manaus, passa pela rua Marcílio Dias, talvez não perceba, em meio à intensa movimentação dos vendedores ambulantes e dos transeuntes, um pequeno prédio que abriga parte importante da história dos trabalhadores e trabalhadoras amazonenses: a Casa do Trabalhador do Amazonas (CTA). Essa casa, foi palco de importantes lutas travadas pela classe trabalhadora do estado nas últimas sete décadas, tornando-se também espaço de sociabilidade e de intensa formação política.

Até meados da década de 1940, a maioria das entidades sindicais amazonenses não possuía sede própria. Em 1944, cumprindo promessa feita aos trabalhadores amazonenses e seguindo a “política de assistência social do presidente Getúlio Vargas”, o então interventor federal Álvaro Maia adquiriu um imóvel situado na rua Marcílio Dias, 256. As instalações foram cedidas pela Delegacia Regional do Trabalho para a instalação da Casa do Trabalhador do Amazonas (CTA), servindo como sede para diversos sindicatos e associações. Em agosto de 1947, o prédio passaria definitivamente às entidades sindicais, já no governo de Leopoldo Neves.

A Casa do Trabalhador do Amazonas foi criada com a finalidade “servir de sede às entidades sindicais existentes ou que vierem a ser organizadas” no estado. Sua primeira diretoria, eleita em junho de 1947, era presidida por Otavio Teixeira Morais da Câmara, do Sindicato dos Gráficos. Seu lema, “Paz, Trabalho, Pão e Liberdade”, até hoje está inscrito nas paredes da Casa do Trabalhador.


Nos anos 1950, alguns dos principais sindicatos do Amazonas estavam vinculados à CTA, incluindo as Federações dos Trabalhadores das Indústrias  e dos Trabalhadores de Transportes Fluviais. Mais de duas dezenas de entidades sindicais tinham conexão com a Casa.


Além de abrigar as sedes dos sindicatos, a Casa do Trabalhador oferecia ainda assistência médica e gabinete dentário a seus associados. Seus salões, além de servirem de espaço para as diversas assembleias dos trabalhadores, abrigavam ainda bailes de carnaval, festividades, competições esportivas e atividades de formações políticas, caracterizando-se como um importante local de sociabilidade e vivência associativa. Em julho de 1947, por exemplo, o Sindicato dos Taifeiros, Culinários e Panificadores em Transportes Fluviais convidava os trabalhadores para uma “esplendorosa e animada” festa dançante. Frequentemente eram realizados bailes ao som de conhecidas “jazz-bands” com o objetivo de angariar fundos para algum trabalhador enfermo ou necessitado.

A CTA recebia auxílio financeiro do Ministério do Trabalho, por meio da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) para os custos de manutenção e para seus projetos sociais. Nos primeiros anos da Casa era evidente a estreita relação entre sua diretoria eleita e a DRT, por meio da figura do delegado Edmundo Fernandes Levy, que atuava diretamente na dotação orçamentária, obtenção de recursos e atividades cotidianas da Casa.

Essa forte aproximação do CTA com a Delegacia Regional do Trabalho, começou mudar em 1958, com a eleição de Manoel Amâncio de Oliveira, do Sindicato dos Portuários, para a presidência da Casa do Trabalhador. A CTA passou a adotar uma postura mais independente, atraindo um novo grupo de sindicalistas. Muitas dessas novas lideranças tinham ligações com o PCB, o que acirrou as disputas políticas no meio sindical, colocando em rota de colisão a nova direção e o grupo ligado ao PTB, que prestava apoio aos governos trabalhistas de Plínio Coelho e Gilberto Mestrinho.

Neste contexto, as eleições de 1960 para a direção da CTA foram bastante conturbadas e ocorreram em um clima de radicalização. Durante a eleição, a proposta de alteração do estatuto da entidade e a não homologação de alguns membros do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação resultaram em tensas discussões e um conflito físico entre os sindicalistas. Os membros da oposição, ligados ao PTB, se retiraram do pleito e foi eleita a chapa apoiada pelos comunistas e encabeçada por Francisco Washington, do Sindicato dos Garçons. Este episódio representou uma ruptura no movimento sindical amazonense uma vez que os sindicatos descontentes pediram seu afastamento da CTA e inauguraram uma nova sede: a Casa dos Sindicatos de Manaus (CSM). Na solenidade de inauguração da CSM, estavam presentes o Delegado Regional do Trabalho, Nelson Braga; Danilo Areosa, representando o Governador Gilberto Mestrinho (PTB) e algumas autoridades militares. Na ocasião, foi reafirmado o apoio daquelas associações ao governador.

De toda forma, no período que precedeu o Golpe de 1964, a Casa do Trabalhador do Amazonas tornou-se um espaço privilegiado nas lutas sociais da classe trabalhadora amazonense. Foi um lugar de organização e apoio vital para os mais importantes movimentos paredistas deflagrados naqueles anos, como a greve dos Portuários, ocorrida em 1958, as greves dos tecelões e estivadores, em 1962, e a greve dos bancários, em 1963.

A repressão desencadeada pela ditadura instituída em 1964 e uma nova reconfiguração da classe trabalhadora e do movimento sindical nas décadas seguintes enfraquecerem a centralidade da Casa na vida social do Amazonas. No entanto, a despeito de todos os obstáculos, a Casa do Trabalhador do Amazonas resiste e continua abrigando sindicatos, realizando atividades de formação e segue sendo, há sete décadas, o “quartel general dos trabalhadores da terra cabocla”.

Casa do Trabalhador do Amazonas na década de 1950.
Disponível em: 
http://jmartinsrocha.blogspot.com/2013/10/a-casa-do-trabalhador-do-amazonas-cta.html


Para saber mais:

  • QUEIRÓS, César Augusto Bubolz. A Casa do Trabalhador do Amazonas: o quartel general dos trabalhadores da terra cabocla (1944-1964). In: Clarice Gontarski Speranza. (Org.). História do Trabalho: entre debates, caminhos e encruzilhadas. Jundiaí: Paco Editorial, 2019.
  • QUEIRÓS, César Augusto Bubolz. ‘Que fizeram com meu pai?’: sindicalismo e ditadura no Amazonas. Escritas do Tempo, v. 2, 2020. https://periodicos.unifesspa.edu.br/index.php/escritasdotempo/article/view/1204
  • VALENTE, Aviz. CGT: antecedentes e protagonistas. Manaus: Travessia, 2005.

Crédito da imagem de capa: Lema da Casa do Trabalhador do Amazonas inscrito no salão principal da entidade. Foto de César Queiroz, 2021.


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Artigos sobre Favelas e História Social do Trabalho – Samuel Oliveira

Samuel Oliveira, professor do CEFET-RJ e pesquisador do LEHMT-UFRJ, publicou recentemente três artigos que se situam nos campos dos estudos da história do trabalho e dos estudos sobre favelas. Abaixo, as apresentações e links para os artigos.


Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro

O artigo “Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro: uma história dos censos” (2021) foi publicado na Revista de História por Samuel S.R. Oliveira, pesquisador e professor do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a forma como as noções de classe e raça se articulam na definição do debate sobre o crescimento das favelas a partir do desenvolvimento urbano-industrial do Rio de Janeiro e da discussão dos censos de favelas.

Enfoca especificamente a forma como na conjuntura do imediato pós-guerra se estabeleceu um debate as noções de “cor”/raça nas estatísticas para abordar a informalidade urbana e marginalidade social na cidade, tendo destaque as análises do sociólogo Luís Consta Pinto, do geografo e engenheiro Alberto Passos Guimarães e do Major e engenheiro Durval Magalhães Coelho.

Link: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/170643


Controle do espaço das favelas, fotografias e história social de Belo Horizonte

O artigo “A Comissão de Desfavelamento e as representações da pobreza urbana em Belo Horizonte na década de 1950” (2021) foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a história das favelas e da formação do espaço urbano de Belo Horizonte a partir das imagens fotográficas produzidas pela Comissão de Desfavelamento em 1955. Na conjuntura de crescimento urbano-industrial, expansão do tecido urbano e intensa migração para a cidade, a Comissão de Desfavelamento foi responsável por várias legislações e políticas públicas visando o controle da informalidade urbana.

As fotografias mostram como engenheiros, advogados e assistências social entrelaçam identidades de classe e raça na formação da visualidade das favelas na capital de Minas Gerais.

Link: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/6635/5391


As favelas cariocas nos anos 1950

O artigo “As retóricas da ‘marginalidade social’: espaço urbano, práticas estatais e políticas nas favelas (1947-1961)” foi publicado por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ, no livro Pensar as favelas cariocas: história e questões urbanas.

Organizado por Rafael Soares Gonçalves, Mário Brum e Mauro Amoroso, o livro traçar um panorama com a contribuição de vários pesquisadores, para a discussão da história da informalidade urbana no Rio de Janeiro ao longo do século XX.

O artigo analisou as imagens heterotópicas da marginalidade social na identificação das relações de classe e raça no espaço urbano e nas políticas públicas anunciadas como “batalhas” para desfavelar a cidade do Rio de Janeiro.

Link: https://www.pallaseditora.com.br/produto/Pensando_as_favelas_cariocas/333/


Crédito da imagem de capa: DISTRITO FEDERAL. Censo de Favelas: aspectos gerais. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, 1949.

LMT#94: Estação Ferroviária do Brás (Estação do Norte), São Paulo (SP) – Valéria Barbosa de Magalhães e Marilda Menezes



Valéria Barbosa de Magalhães
Professora da EACH/USP

Marilda Menezes
Professora da UFABC




Eu viajo quinta-feira
Feira de Santana
Quem quiser mandar recado
Remeter pacote
Uma carta cativante
A rua numerada
O nome maiusculoso
Pra evitar engano
Ou então que o destino
Se destrave longe.
Meticuloso, meu prazer
Não tem medida,
Chegue aqui na quinta-feira
Antes da partida.

(Correio da Estação do Brás. Tom Zé, 1978)


A antiga Estação do Norte, no bairro do Brás na cidade de São Paulo, foi inaugurada em 1875. Ela tinha como destino a estação de Santo Antônio da Cachoeira que, a partir de 1877, passou a ser o local de ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Na segunda metade do século XIX, a construção de complexos ferroviários esteve diretamente associada à expansão da economia cafeeira. Boa parte do investimento nas ferrovias vinha de produtores de café. No final do século XIX, o Estado de São Paulo concentrava 3.471 km nas suas 18 linhas férreas. Localizada na mais importante área industrial e de moradia operária na cidade no início do século XX, a Estação do Norte foi se consolidando como um dos principais entroncamentos ferroviários de São Paulo.

Em 1945, no contexto do final da II Guerra Mundial, a Estação do Norte foi rebatizada como Estação Roosevelt, nome que até hoje carrega. Ao lado dela ficava a Estação do Braz (assim grafada até a década de 1940), que foi inaugurada em 1867 e construída pela São Paulo Railway. O nome Estação Brás é hoje usado pelo Metrô, localizada ao lado dessa ferrovia.

As linhas férreas do Estado de São Paulo foram responsáveis pelo transporte e pela continuidade dos fluxos migratórios ligados à economia cafeeira, tanto no caso dos imigrantes europeus e japoneses, quanto dos migrantes internos. Até a década de 1950, o trem era o principal meio de entrada de nordestinos em São Paulo, por exemplo. O protagonismo das ferrovias no transporte de migrantes para São Paulo só foi derrubado com a expansão da malha rodoviária, nos anos 1950, em especial com a inauguração da Rodovia Rio-Bahia. Nem por isso, no entanto, os trens deixaram de ser usados. A Estação do Norte continuaria a cumprir por muitos anos seu papel de catalisadora da chegada de pessoas do Nordeste em São Paulo.

Na memória dos migrantes, especialmente vindos do Nordeste, a Estação do Norte figura como eixo central. Alguns fatores explicam a relação objetiva e simbólica entre a estação, o Bairro do Brás e os migrantes nordestinos. Primeiramente, destaca-se a conexão entre a linha Central do Brasil e o Norte de Minas, para onde convergiam trabalhadores de diversas partes do Nordeste. Além disso, a Hospedaria dos Imigrantes se localizava ao lado dessa estação. Se antes servia aos imigrantes estrangeiros que se dirigiam às fazendas do interior do estado, a partir da década de 1930, a hospedaria passou a abrigar migrantes de várias partes do Brasil, em especial do Nordeste. Outro elemento que contribuiu para esse elo: a Estação do Norte se localizava na Zona Leste da cidade, cujos bairros concentram até hoje a maior população municipal de nordestinos e descendentes.

Era na Estação do Norte que os migrantes tinham o seu primeiro ponto de chegada em São Paulo, onde amigos, familiares – ou mesmo atravessadores ou intermediários, conhecidos por gatos – os encontrariam. Era ali que os agenciadores buscavam mão de obra tanto para a lavoura paulista, quanto para o setor de construção, indústria e serviços em expansão na região metropolitana de São Paulo, particularmente na segunda metade do século XX.


Nas lembranças de muitos migrantes, a estação era um espaço em que empregos eram negociados. Ela também era o ponto de partida das redes de apoio para a obtenção de trabalho e moradia logo na chegada.


O trem não era o único meio de transporte que trazia pessoas do Nordeste e do Norte de Minas para o Brás. Antes da inauguração da Rodoviária da Luz, nos anos 1960, era comum que as pessoas chegassem de ônibus, desembarcando no bairro do Brás, ao lado da Estação do Norte, o qual se configurava como o principal espaço de recepção dos migrantes na cidade.

O bairro do Brás, nas cercanias da Estação Roosevelt, foi também se tornando um espaço de comércio e sociabilidade dos migrantes. As chamadas “Casas do Norte”, muitas no entorno da Estação, além de comercializarem produtos de origem nordestina, funcionavam também como “postos de correio” informais. Nelas, eram enviados e recebidos pacotes da cidade natal, mandados por  famílias e portados por outros que ali chegavam e partiam, como traduziu a canção de Tom Zé.

Ainda que as migrações se justifiquem por uma heterogeneidade de motivos, era o trabalho que movia esses migrantes para São Paulo. Eram as redes sociais que, na maioria das vezes, propiciavam o encaixe de cada um deles no mercado de trabalho. Era o sonho de uma vida melhor no Nordeste que os impulsionava a migrar. Desta forma, os migrantes subverteram a condição de pura força de trabalho a eles designada pela sociedade, trazendo simbolismos e expectativas próprias muito diferentes daquelas a ele destinadas. A memória que carregam, tanto do lugar de origem quanto de chegada, é complexa e rica, agregando, para além do trabalho, imagens e espaços de histórias subjetivas e familiares.

É este o caso da Estação do Norte, lugar de trabalho, mas também de encontros, de trocas de informações e de produtos simbólicos da cidade de onde vieram. Lugar de saudade, mas também de construção de laços sociais entre os que estão lá e aqui. Ela é, portanto, mais do que um espaço geográfico ou um equipamento urbano de recepção da gente que vinha de outros estados e de outros países. A paragem do Brás e o seu entorno figuram-se como fundamentais lugares de memória dos trabalhadores migrantes na cidade de São Paulo.

A Estação do Norte em seus primórdios, com a Estação do Braz ao fundo. Cartão postal antigo.
Fonte: https://www.rmgouvealeiloes.com.br/peca.asp?ID=969630&ctd=235&tot=572&tipo=
Tabela de horários de saídas de trem da Estação do Norte (sem data). Os horários revelam as diferentes estações té o Rio de Janeiro (a Corte) e o trajeto dos trens entre a Linha Férrea do Norte e a Estrada de Ferro Dom Pedro II (com a conexão em Cachoeira).
Fonte: Estações Ferroviárias. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/trens_sp_2/efnorte.htm , acesso
em 30/06/2021.


Para saber mais:

  • FONTES, Paulo. Um Nordeste em São Paulo: Trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
  • MATOS, Odilon Nogueira de. Vias de comunicação. In HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: declínio e queda do império. História Geral da Civilização Brasileira. t. 2, v. 4. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1995.
  • PAIVA, Odair. Territórios da migração na cidade de São Paulo: entre a afirmação e negação da condição migrante.  Ideias. Campinas, 2011.
  • STEFANI, Celia Regina Baider. O sistema ferroviário paulista: um estudo sobre a evolução do transporte de passageiros sobre trilhos. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

Crédito da imagem de capa: Migrantes na Estacão do Norte. Acervo do Museu da Imigração de São Paulo


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Livros de Classe #05: Em busca da memória, de Hélio da Costa, por Murilo Leal Neto

No quinto vídeo da série Livros de Classe, Murilo Leal Neto, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta a obra Em busca da memória, de Hélio da Costa. Publicado em 1995, o livro rompe com as representações sobre a classe operária comuns à época e destaca a agência histórica dos trabalhadores.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

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LMT#93: Companhia Têxtil Brasil Industrial, Paracambi (RJ): Paulo Keller



Paulo Keller
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA



A cidade de Paracambi, localizada a cerca de 80 km do Rio de Janeiro, num sopé na baixada fluminense e já nos limites do vale do café no sul do estado, tem hoje como seu principal símbolo a imagem da fábrica de tecidos da antiga Cia. Têxtil Brasil Industrial. A implantação pioneira desta grande fábrica de tecidos na década de 1870, nesta região, propiciou o surgimento de uma comunidade de trabalhadores têxteis que foi o núcleo principal aglutinador da população que hoje constitui o município de Paracambi. 

Os fundadores desta antiga Companhia eram otimistas em relação à escolha do local de implantação da fábrica. O espaço apresentava um conjunto de vantagens, como a facilidade e comodidade de tráfego,  a existência de um serviço telegráfico e do correio diário, a proximidade do grande mercado da capital (apenas 1h 30min de viagem em via-férrea), a abundância e altura das águas aproveitáveis para moverem o maquinismo da fábrica, além da povoação já existente no local. Todos esses fatores justificavam a escolha das terras da antiga fazenda do Ribeirão dos Macacos, no então município de Itaguay, para sede deste empreendimento industrial. Distava apenas 1 km da Estação Ferroviária de Macacos (inaugurada em 1861), um ramal da Estrada de Ferro D. Pedro II.

A fábrica de tecidos de algodão da Companhia Têxtil Brazil Industrial foi estabelecida inicialmente em 1870. Foi montada em um imponente edifício com 500 pés de comprimento sobre 50 de largura, com 3 andares, além das lojas, com alicerces de pedra e grossas paredes de pedra rústica até o vigamento do 1.o andar; e com paredes de tijolos daí para cima. Contudo, a Companhia não pode ir avante e foi dissolvida. Sendo que, no ano seguinte, em 1871, ela foi reorganizada, idêntica em tudo à primeira, com apenas ligeiras modificações em seus estatutos aprovados em 6 de setembro de 1871. A primeira diretoria eleita era composta pelos fundadores da empresa: Francisco de Assis Vieira Bueno, Zeferino de Oliveira e Silva e Joaquim Dias Custódio de Oliveira, capitalistas de origem portuguesa que haviam acumulado recursos no comércio da capital. 


Essa foi a primeira grande(e até o final da década de 1880 a maior) fábrica de tecidos de algodão do Brasil. A Fábrica Brasil Industrial era equipada com 24.000 fusos e 400 teares, empregando inicialmente 400 pessoas. Neste período a cidade e a província do Rio de Janeiro tornaram-se o principal centro da indústria têxtil de algodão do Brasil.


A falta de uma vila operária estruturada no início do empreendimento gerava dificuldades para superar a escassez de operários. Assim, em 1886, a companhia já havia providenciado casas para os trabalhadores, constituindo uma vila operária. Em 1888 foram concluídas as “obras de saneamento da localidade”. A iluminação elétrica da vila ocorreu em 1919. À medida que se configurava o sistema de fábrica com vila operária, surgia uma ampla rede de serviços que incluía escola, armazém, clube social e esportivo, além de um posto de saúde e de uma capela. Estes serviços oferecidos na vila, tanto funcionavam como mecanismos de controle quanto espaços de sociabilidade dos operários e operárias em sua vida cotidiana, reforçando uma identidade cultural operária expressiva nesta comunidade de trabalhadores.

Essa forte identidade de classe compartilhada foi fundamental em momentos de crise como o vivido em 1918, quando uma grande greve colocou em xeque as formas de dominação e controle social da empresa. Liderados pelos anarco-sindicalistas da União dos Operários em Fábricas de Tecido do Rio de Janeiro, os cerca de 2 mil e 500 operários e operárias de Paracambi paralisaram seu trabalho por vários dias reivindicando a redução das extensas jornadas de trabalho. Apesar de fortemente reprimida, a greve logrou a extinção do trabalho aos domingos e legou uma cultura de resistência que se manifestaria, tanto no cotidiano fabril quanto no espaço público, em diversos momentos nas décadas seguintes.

Na segunda metade do século XX, a Cia. Têxtil Brasil Industrial passaria a enfrentar momentos de crise econômica e, a partir dos anos 1960, um contínuo declínio de seu antigo sistema fabril. Inicialmente com o transbordamento urbano da antiga vila operária, que resultou no surgimento do município de Paracambi, emancipado em 1960.  Na década de 1970, as casas da vila foram vendidas e a rede de serviços foi sendo desativada. Nos anos 1980, o empreendimento industrial entrou em uma crise definitiva que levaria ao encerramento das suas atividades em 1996.           

O tombamento deste sítio industrial como patrimônio histórico e cultural ocorreu ainda durante o funcionamento da fábrica em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). O conjunto fabril tombado incluiu  o edifício central (fábrica),  a usina de força, a casa do diretor (casarão), a capela de Nossa Senhora da Conceição e edificações complementares, importantes espaços de memória local.

A transformação do prédio da fábrica em Centro de Ensino Público Integrado – Fábrica do Conhecimento ocorreu em 2002, passando a sediar diversas instituições educacionais tecnológicas e superiores públicas. Em 2020 foi criado o Centro de Memória e Museu da Indústria Têxtil projeto ligado ao IFRJ/Campus Paracambi, que funciona no prédio da antiga fábrica. O Centro de Memória constituí hoje um espaço de preservação deste valioso patrimônio industrial e de reflexão e de debate público sobre a memória da indústria e dos lugares de memória do trabalho fabril têxtil. 

 Trabalhadores de seções diversas (1912). Acervo de Paulo Keller.
A foto foi uma doação da Sra. Silvia Fernandes, ex-funcionária da antiga Cia. Têxtil Brasil Industrial.


Para saber mais:

  • CIAVATTA, Maria (org.) Memória e Temporalidades do Trabalho e da Educação. Rio de Janeiro: Lamparina/FAPERJ, 2007.
  • KELLER, Paulo. Cultura do trabalho fabril. São Luís: EdUFMA, 2019.
  • http://www.edufma.ufma.br/index.php/produto/cultura-do-trabalho-fabril/
  • STEIN, Stanley. Origens e Evolução da Indústria Têxtil no Brasil: 1850/1950. Rio de Janeiro, Campus, 1979.
  • SUZIGAN, Wilson. Indústria Brasileira: Origem e Desenvolvimento. São Paulo, Brasiliense, 1986.
  • Site: Núcleo de Estudos do Centro de Memória Têxtil de Paracambi: https://memoriaoperariaparacambi.com.br/

Crédito da imagem de capa: Cia. Têxtil Brasil Industrial – Mestres, contramestres e encarregados – 1950. Acervo de Paulo Keller. Fotógrafo anônimo


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Lugares de Memória dos Trabalhadores

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Chão de Escola #16: Trabalhadores das salinas, por João Christovão



João Christovão (Professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro e pesquisador do LEHMT)



Apresentação da atividade

Segmento: 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Período nacional-desenvolvimentista (1946-1964)/Ditadura civil-militar (1946-1988)

Objetivos gerais:

– Conhecer a localização das salinas fluminenses responsáveis pela produção de cerca de 1/3 do sal consumido no país e mais de 50% do valor oriundo dessa produção no Brasil no período compreendido entre as décadas de 1820 e 1970.
– Conhecer a forma pela qual esse produto era produzido.
– Compreender as formas de exploração da mão de obra daqueles trabalhadores;
– Relacionar o processo de organização e luta dos trabalhadores com a conquista dos seus direitos trabalhistas.
– Entender o papel do golpe civil-militar de 1964 na desarticulação do sindicato dos trabalhadores.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e de diferentes gêneros textuais e as tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.
(EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2 e 3
03Etapa 4
04Etapa 5 e 6
05Etapa 6

Conhecimentos prévios:

– Era Vargas (1930/1945)
– Período nacional-desenvolvimentista (1946/1964)
– Ditadura civil-militar (1964/1988).


Atividade

Recursos

– Mapas (físicos ou virtuais) sugerimos que sejam oferecidas cópias em papel ofício para os alunos
– Fotografias (podem ser projetadas, mas sugerimos que sejam oferecidas cópias aos alunos)
– Data-show
– Acesso à internet

Etapa 1: Sal, o produto.

Identificação geográfica do local onde ocorreram os acontecimentos referentes ao tema. Necessária a utilização de diferentes mapas.

Mapa 1 – Mapa do Brasil: os alunos deverão identificar os dois principais locais de produção de sal no país desde os tempos coloniais até a década de 1970: Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

O/A professor/a deverá ressaltar a importância do sal para a sobrevivência humana e para os mais variados setores da economia. Destacar que a produção de sal no Rio Grande do Norte sempre foi maior em quantidade e melhor em qualidade que o sal extraído das salinas fluminenses. Chamar a atenção para o fato do sal fluminense levar uma enorme vantagem por estar localizado próximo ao principal centro consumidor do país e pelas enormes dificuldades de transporte que encareciam imensamente o produto potiguar até a década de 1970.

Mapa 2 – Mapa do Estado do Rio de Janeiro: Os alunos deverão identificar a cidade do Rio de Janeiro (capital federal até a década de 1960), a cidade de Niterói (capital do estado do Rio de Janeiro até a fusão em 1974) e as cidades produtoras de sal no entorno da Lagoa de Araruama (Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama). No período em estudo a cidade de Arraial do Cabo ainda era distrito de Cabo Frio.

O/A professor/a deverá chamar a atenção para a proximidade entre as salinas fluminenses, localizadas nos municípios acima citados, e o parque industrial da região sudeste, além de ressaltar a existência de uma maior concentração de pessoas nos grandes centros da região sudeste. Esses fatores acabavam por beneficiar a comercialização do sal produzido nas salinas fluminenses.

Mapa 3 – Mapa das salinas no entorno da lagoa de Araruama no ano de 1929

 Mapa mostrando a Lagoa de Araruama em 1929 com as salinas em seu entorno (destacadas em vermelho); inclui a sede do município de Cabo Frio (destacada em azul). Sem divisão entre os municípios do entorno da lagoa. Referência: BRRJANRIO 04.0.MAP.195 – lagoa de Araruama – Dossiê. A imagem pode ser melhor visualizada acessando diretamente a fonte. Disponível em: http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1063790&v_aba=1

Etapa 2:  Sensibilização

O/A professor/a deverá ler ou pedir a um dos alunos que leia em voz alta o Texto 1, que apresenta alguns aspectos simbólicos do sal. Em seguida, os alunos deverão ser estimulados a falar sobre como eles imaginam que eram as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores em salinas.
Nesse momento o/a professor/a deverá chamar a atenção para o fato das salinas funcionarem, na maior parte do tempo, com um número reduzido de trabalhadores e que esse quantitativo só aumentava na época da colheita do sal.

Texto 1

O sal é de fundamental importância para a manutenção da vida. Sendo uma substância que se forma na interação entre um ácido e uma base, o sal pode se apresentar sob diversas formas. Aquele de que tratamos aqui é o cloreto de sódio (NaCl), que é extraído tanto das salinas (sal marinho, nosso caso), quanto de jazidas terrestres (sal gema). Tanto a falta quanto o excesso causam sérios prejuízos à saúde e, em função da sua importância para a manutenção da vida, o sal só encontra paralelo na água. Os seus inúmeros usos extrapolam os limites políticos e econômicos e acabam por atribuir a ele um valor simbólico, tanto para o bem, quanto para o mal. Conhecido desde a antiguidade, o sal carrega consigo uma série de simbolismos. “O sal era o mais vulgar dos condimentos entre os gregos e os romanos, que o consideravam como uma oferta das mais apreciadas pelos deuses”, era também “o símbolo da amizade, e metaforicamente, da graça e da finura”. Para os egípcios o sal era símbolo de santidade e a mitologia finlandesa ensina que Ukko, deus do firmamento tirava fogo das nuvens e que uma centelha dessa chama celestial teria caído no oceano e virado sal. Derramar sal sobre a mesa atrai má sorte, para anulá-la deve-se pegar esse sal com cuidado e jogá-lo sobre o ombro esquerdo. Os hebreus esfregavam sal nos recém-nascidos para o seu bem-estar. Segundo a Bíblia, Deus – ao falar a Moisés sobre os sacrifícios a serem oferecidos – afirma que “Em qualquer oblação que ofereceres, porás sal. Jamais deixarás faltar o sal da aliança do Senhor às ofertas. Em todas as ofertas oferecerás sal.” Já no Novo Testamento o evangelista Marcos afirma que “Bom é o sal; mas, se o sal se torna insulso, com que se salgará? Tende sal em vós, e vivei em paz uns com os outros”. Se purifica e preserva, o sal – por sua propriedade anti-séptica – também esteriliza e condena. A sentença que condenou Tiradentes trazia o seguinte texto: “(…) e declaram o réu infame, e seus filhos e netos, e os seus bens aplicam para o Fisco, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique (…)”.

Fonte: Extraído de CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

Exibição do curta-metragem “Salinas Cabo Frio, 1948 (11’)

Após a exibição do filme a turma será estimulada a fazer um pequeno debate confrontando o filme que assistiram à imagem que tinham acerca dos trabalhadores. É importante ressaltar que o filme é uma produção oficial do INS – Instituto Nacional do Sal e que, portanto, busca mostrar uma imagem positiva acerca das condições de trabalho daqueles trabalhadores. O fato deles serem retratados no filme com material de proteção (chapéu e botas) não representa, necessariamente, a maneira pela qual os trabalhadores das salinas de fato trabalhavam. Ao contrário do que muitos imaginam, o trabalho nas salinas não era algo exclusivamente masculino e adulto, em função disso é importante chamar a atenção, também, para a presença de mulheres e crianças trabalhando na dura lida do sal, ressaltando que não havia uma legislação que proibisse o trabalho infantil e que as mulheres recebiam menos que os homens pelo mesmo trabalho executado.

Como tarefa para casa a turma poderá ser dividida em grupos e os grupos deverão fazer uma breve pesquisa para ser apresentada no encontro seguinte, sobre o trabalho infantil e sobre a diferença nos valores pagos para homens e mulheres na execução de uma mesma tarefa.


Etapa 3: O trabalho

A turma deverá ser dividida em grupos de 4 a 6 alunos de modo a formar de três a seis grupos (de acordo com o tamanho da turma) recebendo cada grupo um dos textos dessa etapa.
Grupo 1 e 4, texto 2
Grupo 2 e 5, texto 3
Grupo 3 e 6, texto 4
Os diferentes textos deverão ser lidos e discutidos entre os membros de cada grupo durante um tempo de aproximadamente 20 a 25 minutos. Ao final cada grupo será convidado a expor para os demais grupos o texto que foi analisado e as conclusões a que chegaram.

Texto 2

Canção do Sal – Milton Nascimento (1966)

Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta o sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar
Trabalhando o sal
Pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa
Encontrar a família a sorrir

Filho vir da escola
Problema maior de estudar
Que é pra não ter meu trabalho
E vida de gente levar

Fonte: A história contada por Milton e a música na versão gravada por Gal Costa e Milton Nascimento podem ser vistas nesse link.  https://www.youtube.com/watch?v=eox2XHDFfX0 

Texto 3

Socorro, há dor nas salina

Senhores, depressa. Há um imenso grito de dor sobre a alva brancura das salinas. Há homens morrendo sem pão e sem lei. E semi-homens, quase despidos de roupas e de carnes, e crianças que não se podem amamentar nos seios magros e murchos de espectros de mãe. 
Venham ver, enquanto ainda vivem, os homens que arrastam a negra miséria por sobre a opulência do sal dos caminhos. Venham ver, senhores, os meninos que nunca aprenderam a vestir e que crescem expondo em sua cândida nudez a nossa própria vergonha. 
Venham ver, senhores, a injustiça solta nas trilhas do sal, nua e crua, sem mistérios nem ministérios. Venham ver a esquálida e tenra menina, que mal desabrocha servindo de pasto aos donos das gentes e das leis, e trocando o casebre de pau-a-pique e a esteira de tábua, pelo colchão de molas da moradia da colina, para depois ir parir um filho sem pai num canto de restinga. 
Venham todos, venham ver o salário do sal, e venham ver o triste contraste que há entre o barraco de barro à margem da lagoa e a moderna mansão do salineiro que se destaca como um monumento à miséria no alto da colina. 
E venham ver o imenso ódio que se esconde sob a máscara de humildade do homem machucado e sofrido das salinas da beira-mar. Venham ver uma paz social que fermenta como vinho amargo decomposto na podridão da miséria, da exploração e da injustiça. 
Eu lhes mostrarei, senhores, onde a lei trabalhista é a vontade única e onipotente do senhor quase-feudal e o amparo previdencial é a migalha atirada pelo dono ao trabalhador moribundo que lhe vendeu suas forças uma vida inteira e miserável. 
Venham ver um menino mal-crescido puxar o sal do quadro da salina insalubre, por um prato de feijão e farinha. 
Venham ver, senhores, acudam. Depressa. Eles são o sal da terra.

Fonte: PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.

Texto 4

Entrevista com Seu Mica e Dona Nilda, casal de salineiros de Monte Alto.

Dona Nilda – Olha… em 1967 eu vim morar aqui [Figueira]. Juro, quando eu cheguei … eu sei que meu marido trabalhava, era dali que ele tirava o pão… eu ficava apavorada de ver … porque os moradores todos os salineiro, se você fosse na casa, dos salineiro, a comida era mais feijão,… 

Seu Mica – Não, mas tinha fartura… 

Dona Nilda – farinha, ué… Tinha fartura? Fartura? Feijão e arroz e farinha, não é … e carne seca, não é comida pra… peixe não é comida pra… peixe você tem que comer com fartura, mas tem que ter verdura, tem que ter frutas, tem que ter as coisas né? Não, o pessoal só comia aquilo. […] O impacto que eu tive aqui de … da alimentação assim. O pessoal criava galinha … ou comia ovo ou comia peixe. A comida aqui era isso, carne só no Natal […] quem tinha mulher que trabalhava na salina ajudava um pouco, era muito assim… eu achava que era muita miséria, Deus que me perdoe. […] Quando eu vim morar aqui eu senti muita falta, porque sempre na minha casa comia abóbora, comia batata, comia couve, repolho, é… banana com fartura, as coisas. A gente comia feijão, não queria comer carne, comia feijão, arroz, banana e a verdura que tinha. Carne, era assim, mamãe tinha, sempre que ela vendia, matava porco né, e vendia, sempre tinha carne. Mas o certo de comer carne era sábado e domingo, mas tinha peixe com fartura, mais do que aqui, eu achava mais do que aqui ainda. […] E eu achava que os homens aqui … Eu morria de pena de ver ele [o marido]. As costas queimadas, puxando sal no rodo. Que nem eu aguentava com aquilo, Deus do céu… Enquanto eu não rancar o meu marido dessa vida eu não sossego, falei mesmo. […] Eu fiquei apavorada de ver aquilo, eu morei quatro anos aqui, nessa época eu tinha 16 anos, mas eu ficava apavorada. Eu aqui fazia um doce pra vender, sabe, os salineiros comprava, costurava pra fora pra ajudar, mas eu ficava apavorada de ver. O pé dele era igual uma lixa, igual a um… meu Deus isso não é normal não.

Fonte:  Entrevista realizada com um casal de salineiros de Monte Alto (região de restinga entre a lagoa de Araruama e o mar e, atualmente, distrito de Arraial do Cabo) em que diversos aspectos da participação da mulher no universo da produção de sal foram expostos de forma bastante clara e objetiva. A entrevista que estava pensada inicialmente para ser feita exclusivamente com o salineiro Seu Mica, teve a participação inesperada de sua companheira – dona Nilda – o que fez toda a diferença.

Ao narrar a sua história, d. Nilda evidencia estratégias e ações pensadas para melhorar as condições de vida de sua família, além de colocar em evidência outras mulheres que exerciam um papel determinante nas suas respectivas estruturas familiares. Fossem aquelas que trabalhavam nas salinas e já “ajudava um pouco”, mostrando que os ganhos financeiros não eram muitos; fosse a mãe dela que vivia na roça, lugar de onde veio e que, no discurso dela, se mostra uma referência poderosa (era a mãe dela quem criava, matava e vendia o porco, era a mãe – esteio da família – quem garantia a fartura na mesa mesmo quando não tinha carne) a fala de d. Nilda deixa exposta uma linhagem de mulheres cuja determinação não aceita um destino que lhes é imposto e evidencia o papel da mulher na cadeia produtiva do sal e o protagonismo na construção de suas próprias histórias.

Na apresentação da análise dos textos os grupos deverão:

  1. Atentar para as datas dos documentos. No caso da entrevista, a data a que se referem os entrevistados.
  2. Fazer um breve relato sobre o teor do documento, bem como acerca de seus autores.
  3. Destacar os elementos que mais chamaram a atenção no documento, explicando o porquê daquele aspecto específico ter sido ressaltado.
  4. Relacionar os documentos analisados com os demais documentos trabalhados no último encontro (curta-metragem e dos aspectos simbólicos do sal).
  5. Identificar pontos de contato entre os diferentes textos (2, 3 e 4) e elaborar um argumento que justifique essas identidades.
  6. O/A professor/a poderá, a seu critério, aproveitar esse momento para fazer uma breve contextualização do período. Chamar a atenção para a proposta de Reformas de Base do governo João Goulart e de como a discussão a respeito desse tema estava em voga desde o governo de Juscelino em 1958. Destacar os grupos que buscavam pautar as discussões acerca de mudanças nas estruturas econômicas, sociais e políticas do país de modo a buscar superar o subdesenvolvimento e diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Ressaltar a importância da organização dos trabalhadores no período e o papel exercido pelos sindicatos. Pode-se ainda fazer um paralelo entre a situação dos salineiros com outras categorias historicamente hiper-exploradas.

Etapa 4

O/A professor/a entregará aos alunos cópias de fotografias de trabalhadores salineiros (figuras2, 3, 4 e 5) para que os alunos possam analisar as imagens buscando estabelecer uma comparação entre as imagens e os textos, bem como com relação ao curta metragem assistido no primeiro encontro.
A análise das imagens deverá seguir três etapas distintas, a saber:
– Descrição da imagem
– Contextualização a partir das informações já acumuladas
– Sensibilização (que sensação a imagem provoca)

Trabalhadores na colheita do sal. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.
Detalhe dos pés descalços de um trabalhador salineiro dentro da quadra de sal. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhador desfazendo uma eira de sal com a pá para carregar o caminhão. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhadores fazendo o transbordo de sal com cestos para o caminhão. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.

Etapa 5: Capital X Trabalho. A organização dos trabalhadores e o golpe de 1964.

Distribuição dos textos dando um tempo de aproximadamente 10 minutos para que os alunos leiam em silêncio.

Texto 5

Trecho da entrevista com o senhor Aldir José de Souza, o “Didi do Sindicato”.

É… O que eu tenho de história é que eu trabalhei, trabalhei no sindicato, né, de sessenta até sessenta e quatro, e… Em sessenta e dois fui eleito vereador, pra sessenta e dois a sessenta e seis, mas em sessenta e quatro me cassaram, por que (pausa), eu fui sempre da extração do sal… O sindicato… Fui pro sindicato como presidente do sindicato da extração do sal, logo, aí eu tinha que defender os operários, né…
Naquela ocasião nem a insalubridade eles recebiam. Então nós tivemos que fazer uma greve, pra poder receber a insalubridade e o material de proteção da salina que eles não davam: óculos, por causa da catarata e quando a água, quando o sal se oferece é justamente no verão, que esquenta muito, então, uma série de coisas… E com esse negócio da gente defender o trabalhador, naquela época, em sessenta, sessenta e dois, era comunista… 
Qualquer um que defendia o pequeno, o trabalhador, era comunista…
É, porque, é porque o regime era capitalista… 
Se eu defendo o lado contrário, sou contra o capitalismo, aí… Me taxaram de comunista e me cassaram… Tanto da (pausa), da vereança, como também do sindicato, né…
(…)
Mil novecentos e sessenta (pausa). É… Eu fui lá embaixo, que eles me chamaram pra conversar, me prometeram uma porção de coisa, que me davam um comércio lá em Niterói, mas, eu… Meu amigo, eu não posso aceitar nada disso… Eu sou o presidente do sindicato… As famílias, o senhor deve conhecer, é tudo gente pobre, vivendo na casa de uma família, era uma criancinha, só com aquele camisolo (camisola), outro só com o shortinho, descalço, dormindo no chão, é, é miséria mesmo, né… Então, se eu hoje largar tudo lá como está e vim aqui aceita um… Eu acho é… Não vou comer nem dormir, porque minha consciência não vai deixar, né… 
Ganhei, pra mim é uma boa, vou ficar numa boa, que é, e fica todo mundo lá, pior ainda do que está, né… 
É (pausa). Aí é que eles disseram “esse é comunista”, que disse que o comunista não aceita, aceita barganha, né… aí…

Fonte: A entrevista inteira pode ser encontrada no Anexo A da tese Trabalhadores do sal. In: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175 

Texto 6

Revista Brasil Salineiro

“Os brasileiros precisam imitar a Pedro Álvares Cabral e descobrir o Brasil. Porque o Brasil é um gigante desconhecido para a maioria dos que aqui vivem. 
(…) 
Você sabia que na[quela] terra (…) vive um grupo de heróis a lutar diariamente pelo Brasil? 
Como verdadeiros heróis, aqueles homens não tem um nome. Não se chama Sua Excelência Tal e Tal. Você não encontrará o retrato deles nos jornais. 
São os operários do parque salineiro (…). 
Eles produzem no meio dos maiores sacrifícios, quase todo o sal de que a nação precisa”. 
Para que você compreenda o que é o esforço desses homens é preciso recordar que o sal é um produto da natureza cuja colheita não abrange o ano inteiro. 
Desta forma, o operário do sal não pode ter uma situação de perfeita estabilidade. 
Ele trabalha durante seis meses com regularidade, recebendo salário e vivendo com relativa segurança. 
Mas depois o sal acaba e ele tem que se arranjar como melhor pode até a próxima colheita. 
Entretanto, a falta de estabilidade não é o único inconveniente na vida do salineiro. Há outros, e bem grandes. 
Entre estes outros inconvenientes, figura a questão dramática da deformação física. (…)
Mas, as dificuldades dos salineiros vão mais longe. 
O cloreto de sódio e o iodo do sal são tremendos agentes de irritação da pele. 
Primeiro o operário que trabalha no sal começa a sentir uma comichão, que se vai alastrando pelo corpo todo. Pouco a pouco, formam-se nos lugares que comicham verdadeiras feridas que ardem como se fossem queimaduras. 
Isso tudo é duro de aguentar. Mas, onde se nota que os salineiros são verdadeiros heróis é no espírito com que enfrentam essa vida difícil. 
“Aqueles homens – afirma Noronha Costa – não se queixam, e quando alguém quer explorá-los com arengas comunistas ficam surdos. Na verdade, entre aqueles heróis os comunistas têm cada vez menor número de adeptos, pois em que pesem todos os sacrifícios que fazem, os operários das salinas são, acima de tudo, brasileiros”

Fonte: Revista Brasil Salineiro, ano 1 – Novembro, 1953 – nº 2, p. 11. Órgão de divulgação do INS – Instituto Nacional do Sal.

Texto 7

Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal, segunda maior empresa de sal da região, na festa do 1º de maio de 1968.

“Digníssimos representantes e operários da Refinaria Nacional de Sal. Meus senhores e minhas senhoras:
[…] dentro desta constituição, sábia e honestamente interpretada, pelas autoridades constituídas do País, tem o trabalhador brasileiro, têm vocês, trabalhadores que me ouvem os seus legítimos e sacrossantos direitos a fazer, as suas justas reivindicações. (…) Porém, deve ser imposto ou exigido com prudência, com ponderação, com modos, sem violências, sem badernas, sem anarquias, com modos. 
[…] 
[sem esquecer] que existem as leis e a própria Constituição, que o ampare, que o defende, que, enfim, fala por ele, na defesa dos seus mais legítimos interesses e mais justas reivindicações.[…] 
Aqui estamos vendo hoje reunidos patrões e empregados! 
Aqui estão industriais e operários! 
É através das indústrias que se projetam no Universo, os países, os Estados e os municípios. A Refinaria Nacional de Sal é uma indústria que projeta o Brasil e o Estado do Rio através do nosso Município. 
Que a brancura IMACULADA DO SAL CISNE, seja também entre patrões e empregados, o símbolo da PAZ, edificante e progressista, e assim fazendo, estaremos fazendo o que o Brasil exige, espera e bem merece: “Que cada um cumpra o seu dever

Fonte: Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal em 1º de maio de 1968. Gazeta da Baixada, 8/05/1968.

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 1

“Guilherme José da Silva. No dia 27 de janeiro de 1961 Guilherme fez um acordo com José Maria –pediu as férias. Seu José Maria [se]aborreceu com Guilherme no dia 1º de fevereiro de 1961. No dia 25 de fevereiro Guilherme [me] disse a Gabriel que saiu da Salina Maracanã. José Maria indenizou e disse: se quiser trabalhar pode, mas sem direitos. No dia 29 de janeiro de 1962 Guilherme voltou pra Salina de José Maria.”

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 2

“A Greve 
A Greve das fábricas de Cabo Frio começou no dia 30 de maio de 1960. 30-5-60. Acabou no dia 28 de junho. Miguel Couto assinou e perdeu. A questão de Mauro também. No dia 15 veio uma força do Rio. Os grevistas foi preso no dia 16 de junho de 1960. Voltaram no dia 17 os empregados começaram a trabalhar no dia 3-6-60”.

Texto 8

Jornal Novos Rumos – 24 a 30 de junho de 1960

“Durante 24 horas as tropas federais ocuparam a pequena e bela cidade de Cabo Frio, situada no litoral fluminense, mudando inteiramente a sua plácida fisionomia. Ninguém hostilizou os jovens soldados, mas a revolta e a vergonha do povo era patente na face de cada um. Visível era o ódio à conduta do senador Miguel Couto Filho e do ministro Armando Falcão, autores do pedido de intervenção. 
[…] 
O que há é isso. Trabalhador não pode reclamar não moço. Nossa sede está fechada e a polícia anda procurando a gente para prender’. Foi a resposta que ouvimos à clássica pergunta –que é que há aí? E era isso mesmo que havia contra os trabalhadores que reclamavam melhores salários. Mas a firmeza dos grevistas e a solidariedade do povo asseguraram a vitória do movimento”.

Fonte: Jornal Novos Rumos. Rio de Janeiro, 24 a 30 de junho de 1960. Ano II, nº 70 pp. 10 e 12. http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=122831&pasta=ano%20196&pesq=%22as%20tropas%20federais%20ocuparam%22&pagfis=913

Texto 9

Em 26 de abril de 1964, o periódico O Jornal trazia informações sobre as perseguições que estavam ocorrendo em diferentes municípios do Estado e antecipava o resultado da sessão que ocorreria dois dias depois na Câmara Municipal de Cabo Frio.

‘Deverão ser cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moisés Teixeira, do PTB, pela Câmara Municipal de Cabo Frio, que se reunirá amanhã para apreciar, também, os reflexos do Ato Institucional na administração local. Os edis estão foragidos e são acusados de atividades extremistas na região’.
O processo de cassação, assim como em outras casas legislativas por todo o país se deu rapidamente e, no dia 28 de abril de 1964 a cassação foi efetivada. Foram cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moysés Bessa Teixeira do PTB, além de terem sido impedidos de assumir o mandato todos os suplentes do PSB.

Fonte: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020

Texto 10

Ata do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Sal de Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama

Uma categoria que no início dos anos 1960 era altamente organizada e combativa, e que chegou a eleger o presidente do seu sindicato para o cargo de vereador, jazia bastante fragilizada ao final da década, após o golpe civil-militar que cassou o mandato de vereador daquele que era representante dos salineiros na Câmara Municipal. A partir do golpe de 1964 o sindicato sofreu uma forte desmobilização e a primeira ata do único livro de atas que restou, traz o registro da violência sofrida:
“Ata nº 1 
Ata da sessão ordinária do Sindicato dos Trab. Na Ind. Da Extração do Sal de Cabo Frio, S. Pedro da Aldeia e Araruama. Aos vinte (20) dias do mês de novembro de 1966, às 9 horas, reuniu-se a junta governativa deste Sindicato, com a finalidade de discutir e aprovar as novas propostas de sócios, medida que a junta viu-se obrigada a tomar, por entender indispensável à reorganização total da entidade, em vista da apreensão de documentos havida no período da revolução pela polícia, os quais não foram recuperados, embora houvesse a junta se empenhado em reavê-los; verificou-se o preenchimento de 496 propostas de sócios antigos e novos, sendo que os antigos por falta de comprovantes, constam da proposta como já pertencentes a este sindicato. A matrícula de cada associado obedece ao número da respectiva proposta. Como nada mais houvesse a deliberar, encerra-se a sessão às 11 horas. 
Cabo Frio, 20 de novembro de 1966
Idson Mendonça (Secretário), José da Silva (Tesoureiro), Jairo Dias da Cunha (Presidente)”.


Etapa 6: Tempestade cerebral

A turma colocada em círculo receberá cópias dos sete textos e das três imagens. O/A professor/a, de forma aleatória, escolherá diferentes pessoas para ler cada um dos documentos.
A leitura dos textos deverá ser na ordem em que eles aparecem na proposta e deverá ser precedida de esclarecimentos mínimos acerca daquele documento.
Na medida em que os textos forem sendo lidos os alunos poderão fazer intervenções, sejam elas, questionamentos ou complementações com os documentos utilizados nos encontros anteriores ou quaisquer outros elementos que eles tenham trazido para o debate.
O/A professor/a nesse primeiro momento deverá intervir o mínimo possível, buscando apenas orientar a ordem de intervenção dos alunos ou esclarecendo alguma questão que se apresente de forma absolutamente necessária para a continuidade da dinâmica.
Ao final dessa etapa, com a discussão posta em sala de aula, o/a professor/a deverá/poderá fazer uma síntese de como ele percebeu o desenvolvimento do tema por parte da turma.
A síntese do tema, em si, ficará por parte da turma, de forma individual ou em grupos (a critério do/a professor/a). Podendo ser um texto em prosa sobre o entendimento do assunto ou uma colagem que expresse as ideias que foram discutidas ao longo dos três encontros.


Bibliografia e Material de apoio:

BIDEGAIN, Paulo. Lagoa de Araruama – Perfil Ambiental do maior ecossistema lagunar hipersalino do mundo – Rio de Janeiro: Semads, 2002.

CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

CHRISTOVÃO, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175

PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.


Créditos da imagem de capa: Fotografia do fotógrafo cabofriense Wolney Teixeira, de 1948.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

LMT #92: Colônia de Férias do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de São Paulo, Praia Grande (SP) – Paulo Fontes



Paulo Fontes
Professor do Instituto de História da UFRJ e Coordenador do LEHMT/UFRJ 



Desde os anos 1950, o balneário de Praia Grande, no litoral paulista, foi se consolidando como um dos principais destinos turísticos e de veraneio dos trabalhadores de São Paulo. Praia Grande tornou-se sinônimo de praia popular e, não por acaso, diversas entidades sindicais construiriam ali suas colônias de férias entre as décadas de 60 e 80. Atualmente com cerca de 160 colônias, muitas delas na famosa Avenida dos Sindicatos, a cidade é considerada o maior centro de lazer sindical da América Latina.

A colônia de férias do tradicional Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de São Paulo em Praia Grande entraria para a história não apenas como um espaço de recreação, mas por sediar um dos mais importantes encontros da história do movimento sindical brasileiro. Projetada pelo renomado arquiteto Vilanova Artigas, cujas conexões com o movimento operário vinham de sua militância no Partido Comunista Brasileiro, a sede da colônia começou a ser construída em 1969, mas levaria vários anos para ser concluída. De toda forma, já era utilizada ao longo da década de 1970.

O ciclo de greves iniciado pelos metalúrgicos do ABC em 1978 colocou o sindicalismo no centro da arena política do processo de redemocratização do país. Naquele contexto, iniciativas para coordenar e unificar as várias lutas e demandas dos mundos do trabalho ganhavam espaço e voltava à baila uma antiga proposta de criação de uma central sindical única.

Unificar o movimento sindical, no entanto, não era tarefa simples. Além das diversas diferenças regionais e entre categorias, as divisões políticas tornavam-se acentuadas. Dois grandes blocos chamavam a atenção. De um lado, os chamados sindicalistas “autênticos”, que reuniam dirigentes de sindicatos e de oposições sindicais que se auto intitulavam parte de um “novo sindicalismo”. Muitos deles eram fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), criado em 1980. De outro, o grupo “Unidade Sindical”, que reunia sindicalistas vinculados a partidos de esquerda como o PCB e o PCdoB, além de dirigentes sindicais considerados moderados, alguns deles antigos interventores. Dois metalúrgicos, Lula, de São Bernardo do Campo e Joaquinzão, de São Paulo, eram as figuras de maior destaque de cada um desses setores.

Apesar dessas diferenças, o protagonismo dos trabalhadores na luta contra a ditadura militar e os fortes efeitos recessivos da crise econômica que tomava conta do país levaram as variadas correntes do sindicalismo brasileiro a organizar um grande evento unificado que superasse as divisões e avançasse a organização dos trabalhadores. Esse evento foi a  1ª Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada entre 21 e 23 de agosto de 1981 na Colônia de Férias do Sindicato dos Têxteis em Praia Grande.

 Ainda em construção, a colônia já tinha um amplo salão de reuniões e dez apartamentos. Hugo Perez, líder sindical dos eletricitários e um dos idealizadores do evento, lembraria anos depois que “muitos sindicatos não quiseram ceder a colônia para fazer a Conclat por receio da ditadura”. Não era para menos. Três meses antes, agentes do governo tentaram explodir o Riocentro em uma ação desastrada. 

A Conclat foi um dos maiores encontros sindicais da história do país. Compareceram 5.036 delegados e delegadas, representando 1.091 entidades sindicais de todo o país e das mais variadas categorias profissionais urbanas e rurais. A efervescência sindical brasileira também chamava a atenção do sindicalismo internacional e centrais sindicais de países como Estados Unidos, Alemanha, Portugal e França, entre outros, enviaram representantes. Em um contexto de luta contra a ditadura e prestígio do movimento sindical, diversas lideranças políticas de oposição como Luís Carlos Prestes, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Mário Covas compareceram ao evento.


O grande afluxo de sindicalistas provocou dificuldades para a logística. Hugo Perez lembra que “aqueles que não tinham acomodações, dormiram na praia. De manhã cedo, estava aquela turma parada, olhando o mar. Aí, de repente um pega a água do mar, põe na boca: ‘Salgado’. Não conheciam o mar!”. 


Apesar dos debates acalorados, o ambiente geral era festivo. No dia 22 de agosto, quando foi anunciada a morte do cineasta Glauber Rocha, um emocionante minuto de silêncio tomou conta do plenário, seguido de aplausos aos “artistas trabalhadores”, como lembraria Clara Ant, uma das delegadas da Conclat.  As imediações da colônia de férias lembravam uma quermesse popular, onde se vendia comida, livros e jornais de variadas correntes políticas, além de camisas de times de futebol.

A agenda de debates era extensa. A estrutura sindical corporativa brasileira foi um dos temas mais polêmicos, colocando “autênticos” e a “Unidade Sindical” em polos opostos. Táticas de como enfrentar a ditadura militar e os desafios da redemocratização também eram divergentes, embora tenha sido possível construir uma agenda comum de luta contra a carestia e o desemprego e a defesa da redução da jornada de trabalho e de uma Assembleia Nacional Constituinte Livre e Soberana. Foi formada uma Comissão Pró-CUT, mas a desejada unidade organizativa não se concretizou e nos anos seguintes seriam formadas duas centrais sindicais, a CUT e a CGT.

A Conclat foi um momento central de afirmação da identidade dos trabalhadores e de demonstração de força do movimento sindical na construção da democracia brasileira. A agenda política ali construída marcaria fundamentalmente a ação do sindicalismo nas décadas seguintes. E a Colônia de Férias do Sindicato dos Têxteis de São Paulo foi o cenário desse encontro memorável da história dos trabalhadores e trabalhadoras em nosso país.

Delegados e delegas durante a Primeira Conclat. Fotografia de Jesus Carlos
 Lula discursa na I Conclat em Praia Grande. Acervo CEDOC/CUT

Para saber mais:

  • ALMEIDA, Maria H. Tavares de. Crise econômica e organização de interesses: as estratégias do sindicalismo brasileiro nos anos 80. Tese de Livre-Docência. São Paulo, USP, 1992.
  • GIANNOTTI, Vito & LOPES NETO, Sebastião. CUT ontem e hoje — o que mudou das origens ao IV Concut. Petrópolis, Vozes, 1991.
  • MERCADANTE, Aloísio; RAINHO, Luis Flavio. CUT e Conclat: a divisão política do movimento sindical. Aconteceu Especial – Trabalhadores urbanos no Brasil 82/84. São Paulo/Rio de Janeiro: CEDI, 16, 1986.
  • OLIVEIRA, Roberto Véras. Sindicalismo e Democracia no Brasil: Do Novo Sindicalismo ao Sindicato Cidadão. São Paulo: AnnaBlume/Fapesp, 2011.
  • Filme documentário: 1a CONCLAT: Conferência Nacional da Classe Trabalhadora. Diretor Adrian Cooper, 2011. https://www.youtube.com/watch?v=xpFx4GjHOII

Crédito da imagem de capa: Reprodução do cartaz da I Conclat


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Vale Mais #14 – Trabalhadores do sal





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #14 do Vale Mais é sobre Trabalhadores do sal.

Este é o sexto episódio da segunda temporada de Vale Mais, o podcast do site do LEHMT-UFRJ. Nesta temporada, conversamos com recém doutores/as no campo da História Social do Trabalho sobre seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, entrevistamos João Henrique de Oliveira Christovão, doutor em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV, professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro, além de ser pesquisador do LEHMT-UFRJ. Em dezembro de 2020, João defendeu a tese “Trabalhadores do sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974”, sob orientação de Paulo Fontes e Ynaê Lopes dos Santos. A pesquisa analisou os trabalhadores e trabalhadoras das salinas em Cabo Frio, entre as décadas de 1940 e 1970, abordando os processos de constituição das identidades dos salineiros, com destaque para as articulações entre classe, raça e gênero. João enfatiza que os salineiros ocuparam um papel fundamental nas lutas por direitos políticos e trabalhistas, bem como na construção do espaço urbano cabofriense.

Dica da entrevistado: Para entender uma fotografia – John Berger (livro)

Produção: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Roteiro: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima Vale Mais

Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No terceiro episódio, conversamos com Thayara de Lima, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro A cultura de luta antirracista e o movimento negro do […]
  1. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  2. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  3. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  4. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus
  5. Vale a Dica #13: 2 de Julho: a Retomada, de Spency Pimentel e Joana Moncau

Livros de Classe #04: Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub, por Fabiane Popinigis

No quarto vídeo da série, Fabiane Popinigis, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) apresenta Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub. Publicada em 1986, a obra inovou conceitualmente e metodologicamente ao trazer para o centro da narrativa o cotidiano de homens e mulheres comuns.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.