Livros de Classe #05: Em busca da memória, de Hélio da Costa, por Murilo Leal Neto

No quinto vídeo da série Livros de Classe, Murilo Leal Neto, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta a obra Em busca da memória, de Hélio da Costa. Publicado em 1995, o livro rompe com as representações sobre a classe operária comuns à época e destaca a agência histórica dos trabalhadores.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #16: Trabalhadores das salinas, por João Christovão



João Christovão (Professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro e pesquisador do LEHMT)



Apresentação da atividade

Segmento: 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Período nacional-desenvolvimentista (1946-1964)/Ditadura civil-militar (1946-1988)

Objetivos gerais:

– Conhecer a localização das salinas fluminenses responsáveis pela produção de cerca de 1/3 do sal consumido no país e mais de 50% do valor oriundo dessa produção no Brasil no período compreendido entre as décadas de 1820 e 1970.
– Conhecer a forma pela qual esse produto era produzido.
– Compreender as formas de exploração da mão de obra daqueles trabalhadores;
– Relacionar o processo de organização e luta dos trabalhadores com a conquista dos seus direitos trabalhistas.
– Entender o papel do golpe civil-militar de 1964 na desarticulação do sindicato dos trabalhadores.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e de diferentes gêneros textuais e as tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.
(EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2 e 3
03Etapa 4
04Etapa 5 e 6
05Etapa 6

Conhecimentos prévios:

– Era Vargas (1930/1945)
– Período nacional-desenvolvimentista (1946/1964)
– Ditadura civil-militar (1964/1988).


Atividade

Recursos

– Mapas (físicos ou virtuais) sugerimos que sejam oferecidas cópias em papel ofício para os alunos
– Fotografias (podem ser projetadas, mas sugerimos que sejam oferecidas cópias aos alunos)
– Data-show
– Acesso à internet

Etapa 1: Sal, o produto.

Identificação geográfica do local onde ocorreram os acontecimentos referentes ao tema. Necessária a utilização de diferentes mapas.

Mapa 1 – Mapa do Brasil: os alunos deverão identificar os dois principais locais de produção de sal no país desde os tempos coloniais até a década de 1970: Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

O/A professor/a deverá ressaltar a importância do sal para a sobrevivência humana e para os mais variados setores da economia. Destacar que a produção de sal no Rio Grande do Norte sempre foi maior em quantidade e melhor em qualidade que o sal extraído das salinas fluminenses. Chamar a atenção para o fato do sal fluminense levar uma enorme vantagem por estar localizado próximo ao principal centro consumidor do país e pelas enormes dificuldades de transporte que encareciam imensamente o produto potiguar até a década de 1970.

Mapa 2 – Mapa do Estado do Rio de Janeiro: Os alunos deverão identificar a cidade do Rio de Janeiro (capital federal até a década de 1960), a cidade de Niterói (capital do estado do Rio de Janeiro até a fusão em 1974) e as cidades produtoras de sal no entorno da Lagoa de Araruama (Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama). No período em estudo a cidade de Arraial do Cabo ainda era distrito de Cabo Frio.

O/A professor/a deverá chamar a atenção para a proximidade entre as salinas fluminenses, localizadas nos municípios acima citados, e o parque industrial da região sudeste, além de ressaltar a existência de uma maior concentração de pessoas nos grandes centros da região sudeste. Esses fatores acabavam por beneficiar a comercialização do sal produzido nas salinas fluminenses.

Mapa 3 – Mapa das salinas no entorno da lagoa de Araruama no ano de 1929

 Mapa mostrando a Lagoa de Araruama em 1929 com as salinas em seu entorno (destacadas em vermelho); inclui a sede do município de Cabo Frio (destacada em azul). Sem divisão entre os municípios do entorno da lagoa. Referência: BRRJANRIO 04.0.MAP.195 – lagoa de Araruama – Dossiê. A imagem pode ser melhor visualizada acessando diretamente a fonte. Disponível em: http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1063790&v_aba=1

Etapa 2:  Sensibilização

O/A professor/a deverá ler ou pedir a um dos alunos que leia em voz alta o Texto 1, que apresenta alguns aspectos simbólicos do sal. Em seguida, os alunos deverão ser estimulados a falar sobre como eles imaginam que eram as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores em salinas.
Nesse momento o/a professor/a deverá chamar a atenção para o fato das salinas funcionarem, na maior parte do tempo, com um número reduzido de trabalhadores e que esse quantitativo só aumentava na época da colheita do sal.

Texto 1

O sal é de fundamental importância para a manutenção da vida. Sendo uma substância que se forma na interação entre um ácido e uma base, o sal pode se apresentar sob diversas formas. Aquele de que tratamos aqui é o cloreto de sódio (NaCl), que é extraído tanto das salinas (sal marinho, nosso caso), quanto de jazidas terrestres (sal gema). Tanto a falta quanto o excesso causam sérios prejuízos à saúde e, em função da sua importância para a manutenção da vida, o sal só encontra paralelo na água. Os seus inúmeros usos extrapolam os limites políticos e econômicos e acabam por atribuir a ele um valor simbólico, tanto para o bem, quanto para o mal. Conhecido desde a antiguidade, o sal carrega consigo uma série de simbolismos. “O sal era o mais vulgar dos condimentos entre os gregos e os romanos, que o consideravam como uma oferta das mais apreciadas pelos deuses”, era também “o símbolo da amizade, e metaforicamente, da graça e da finura”. Para os egípcios o sal era símbolo de santidade e a mitologia finlandesa ensina que Ukko, deus do firmamento tirava fogo das nuvens e que uma centelha dessa chama celestial teria caído no oceano e virado sal. Derramar sal sobre a mesa atrai má sorte, para anulá-la deve-se pegar esse sal com cuidado e jogá-lo sobre o ombro esquerdo. Os hebreus esfregavam sal nos recém-nascidos para o seu bem-estar. Segundo a Bíblia, Deus – ao falar a Moisés sobre os sacrifícios a serem oferecidos – afirma que “Em qualquer oblação que ofereceres, porás sal. Jamais deixarás faltar o sal da aliança do Senhor às ofertas. Em todas as ofertas oferecerás sal.” Já no Novo Testamento o evangelista Marcos afirma que “Bom é o sal; mas, se o sal se torna insulso, com que se salgará? Tende sal em vós, e vivei em paz uns com os outros”. Se purifica e preserva, o sal – por sua propriedade anti-séptica – também esteriliza e condena. A sentença que condenou Tiradentes trazia o seguinte texto: “(…) e declaram o réu infame, e seus filhos e netos, e os seus bens aplicam para o Fisco, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique (…)”.

Fonte: Extraído de CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

Exibição do curta-metragem “Salinas Cabo Frio, 1948 (11’)

Após a exibição do filme a turma será estimulada a fazer um pequeno debate confrontando o filme que assistiram à imagem que tinham acerca dos trabalhadores. É importante ressaltar que o filme é uma produção oficial do INS – Instituto Nacional do Sal e que, portanto, busca mostrar uma imagem positiva acerca das condições de trabalho daqueles trabalhadores. O fato deles serem retratados no filme com material de proteção (chapéu e botas) não representa, necessariamente, a maneira pela qual os trabalhadores das salinas de fato trabalhavam. Ao contrário do que muitos imaginam, o trabalho nas salinas não era algo exclusivamente masculino e adulto, em função disso é importante chamar a atenção, também, para a presença de mulheres e crianças trabalhando na dura lida do sal, ressaltando que não havia uma legislação que proibisse o trabalho infantil e que as mulheres recebiam menos que os homens pelo mesmo trabalho executado.

Como tarefa para casa a turma poderá ser dividida em grupos e os grupos deverão fazer uma breve pesquisa para ser apresentada no encontro seguinte, sobre o trabalho infantil e sobre a diferença nos valores pagos para homens e mulheres na execução de uma mesma tarefa.


Etapa 3: O trabalho

A turma deverá ser dividida em grupos de 4 a 6 alunos de modo a formar de três a seis grupos (de acordo com o tamanho da turma) recebendo cada grupo um dos textos dessa etapa.
Grupo 1 e 4, texto 2
Grupo 2 e 5, texto 3
Grupo 3 e 6, texto 4
Os diferentes textos deverão ser lidos e discutidos entre os membros de cada grupo durante um tempo de aproximadamente 20 a 25 minutos. Ao final cada grupo será convidado a expor para os demais grupos o texto que foi analisado e as conclusões a que chegaram.

Texto 2

Canção do Sal – Milton Nascimento (1966)

Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta o sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar
Trabalhando o sal
Pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa
Encontrar a família a sorrir

Filho vir da escola
Problema maior de estudar
Que é pra não ter meu trabalho
E vida de gente levar

Fonte: A história contada por Milton e a música na versão gravada por Gal Costa e Milton Nascimento podem ser vistas nesse link.  https://www.youtube.com/watch?v=eox2XHDFfX0 

Texto 3

Socorro, há dor nas salina

Senhores, depressa. Há um imenso grito de dor sobre a alva brancura das salinas. Há homens morrendo sem pão e sem lei. E semi-homens, quase despidos de roupas e de carnes, e crianças que não se podem amamentar nos seios magros e murchos de espectros de mãe. 
Venham ver, enquanto ainda vivem, os homens que arrastam a negra miséria por sobre a opulência do sal dos caminhos. Venham ver, senhores, os meninos que nunca aprenderam a vestir e que crescem expondo em sua cândida nudez a nossa própria vergonha. 
Venham ver, senhores, a injustiça solta nas trilhas do sal, nua e crua, sem mistérios nem ministérios. Venham ver a esquálida e tenra menina, que mal desabrocha servindo de pasto aos donos das gentes e das leis, e trocando o casebre de pau-a-pique e a esteira de tábua, pelo colchão de molas da moradia da colina, para depois ir parir um filho sem pai num canto de restinga. 
Venham todos, venham ver o salário do sal, e venham ver o triste contraste que há entre o barraco de barro à margem da lagoa e a moderna mansão do salineiro que se destaca como um monumento à miséria no alto da colina. 
E venham ver o imenso ódio que se esconde sob a máscara de humildade do homem machucado e sofrido das salinas da beira-mar. Venham ver uma paz social que fermenta como vinho amargo decomposto na podridão da miséria, da exploração e da injustiça. 
Eu lhes mostrarei, senhores, onde a lei trabalhista é a vontade única e onipotente do senhor quase-feudal e o amparo previdencial é a migalha atirada pelo dono ao trabalhador moribundo que lhe vendeu suas forças uma vida inteira e miserável. 
Venham ver um menino mal-crescido puxar o sal do quadro da salina insalubre, por um prato de feijão e farinha. 
Venham ver, senhores, acudam. Depressa. Eles são o sal da terra.

Fonte: PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.

Texto 4

Entrevista com Seu Mica e Dona Nilda, casal de salineiros de Monte Alto.

Dona Nilda – Olha… em 1967 eu vim morar aqui [Figueira]. Juro, quando eu cheguei … eu sei que meu marido trabalhava, era dali que ele tirava o pão… eu ficava apavorada de ver … porque os moradores todos os salineiro, se você fosse na casa, dos salineiro, a comida era mais feijão,… 

Seu Mica – Não, mas tinha fartura… 

Dona Nilda – farinha, ué… Tinha fartura? Fartura? Feijão e arroz e farinha, não é … e carne seca, não é comida pra… peixe não é comida pra… peixe você tem que comer com fartura, mas tem que ter verdura, tem que ter frutas, tem que ter as coisas né? Não, o pessoal só comia aquilo. […] O impacto que eu tive aqui de … da alimentação assim. O pessoal criava galinha … ou comia ovo ou comia peixe. A comida aqui era isso, carne só no Natal […] quem tinha mulher que trabalhava na salina ajudava um pouco, era muito assim… eu achava que era muita miséria, Deus que me perdoe. […] Quando eu vim morar aqui eu senti muita falta, porque sempre na minha casa comia abóbora, comia batata, comia couve, repolho, é… banana com fartura, as coisas. A gente comia feijão, não queria comer carne, comia feijão, arroz, banana e a verdura que tinha. Carne, era assim, mamãe tinha, sempre que ela vendia, matava porco né, e vendia, sempre tinha carne. Mas o certo de comer carne era sábado e domingo, mas tinha peixe com fartura, mais do que aqui, eu achava mais do que aqui ainda. […] E eu achava que os homens aqui … Eu morria de pena de ver ele [o marido]. As costas queimadas, puxando sal no rodo. Que nem eu aguentava com aquilo, Deus do céu… Enquanto eu não rancar o meu marido dessa vida eu não sossego, falei mesmo. […] Eu fiquei apavorada de ver aquilo, eu morei quatro anos aqui, nessa época eu tinha 16 anos, mas eu ficava apavorada. Eu aqui fazia um doce pra vender, sabe, os salineiros comprava, costurava pra fora pra ajudar, mas eu ficava apavorada de ver. O pé dele era igual uma lixa, igual a um… meu Deus isso não é normal não.

Fonte:  Entrevista realizada com um casal de salineiros de Monte Alto (região de restinga entre a lagoa de Araruama e o mar e, atualmente, distrito de Arraial do Cabo) em que diversos aspectos da participação da mulher no universo da produção de sal foram expostos de forma bastante clara e objetiva. A entrevista que estava pensada inicialmente para ser feita exclusivamente com o salineiro Seu Mica, teve a participação inesperada de sua companheira – dona Nilda – o que fez toda a diferença.

Ao narrar a sua história, d. Nilda evidencia estratégias e ações pensadas para melhorar as condições de vida de sua família, além de colocar em evidência outras mulheres que exerciam um papel determinante nas suas respectivas estruturas familiares. Fossem aquelas que trabalhavam nas salinas e já “ajudava um pouco”, mostrando que os ganhos financeiros não eram muitos; fosse a mãe dela que vivia na roça, lugar de onde veio e que, no discurso dela, se mostra uma referência poderosa (era a mãe dela quem criava, matava e vendia o porco, era a mãe – esteio da família – quem garantia a fartura na mesa mesmo quando não tinha carne) a fala de d. Nilda deixa exposta uma linhagem de mulheres cuja determinação não aceita um destino que lhes é imposto e evidencia o papel da mulher na cadeia produtiva do sal e o protagonismo na construção de suas próprias histórias.

Na apresentação da análise dos textos os grupos deverão:

  1. Atentar para as datas dos documentos. No caso da entrevista, a data a que se referem os entrevistados.
  2. Fazer um breve relato sobre o teor do documento, bem como acerca de seus autores.
  3. Destacar os elementos que mais chamaram a atenção no documento, explicando o porquê daquele aspecto específico ter sido ressaltado.
  4. Relacionar os documentos analisados com os demais documentos trabalhados no último encontro (curta-metragem e dos aspectos simbólicos do sal).
  5. Identificar pontos de contato entre os diferentes textos (2, 3 e 4) e elaborar um argumento que justifique essas identidades.
  6. O/A professor/a poderá, a seu critério, aproveitar esse momento para fazer uma breve contextualização do período. Chamar a atenção para a proposta de Reformas de Base do governo João Goulart e de como a discussão a respeito desse tema estava em voga desde o governo de Juscelino em 1958. Destacar os grupos que buscavam pautar as discussões acerca de mudanças nas estruturas econômicas, sociais e políticas do país de modo a buscar superar o subdesenvolvimento e diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Ressaltar a importância da organização dos trabalhadores no período e o papel exercido pelos sindicatos. Pode-se ainda fazer um paralelo entre a situação dos salineiros com outras categorias historicamente hiper-exploradas.

Etapa 4

O/A professor/a entregará aos alunos cópias de fotografias de trabalhadores salineiros (figuras2, 3, 4 e 5) para que os alunos possam analisar as imagens buscando estabelecer uma comparação entre as imagens e os textos, bem como com relação ao curta metragem assistido no primeiro encontro.
A análise das imagens deverá seguir três etapas distintas, a saber:
– Descrição da imagem
– Contextualização a partir das informações já acumuladas
– Sensibilização (que sensação a imagem provoca)

Trabalhadores na colheita do sal. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.
Detalhe dos pés descalços de um trabalhador salineiro dentro da quadra de sal. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhador desfazendo uma eira de sal com a pá para carregar o caminhão. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhadores fazendo o transbordo de sal com cestos para o caminhão. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.

Etapa 5: Capital X Trabalho. A organização dos trabalhadores e o golpe de 1964.

Distribuição dos textos dando um tempo de aproximadamente 10 minutos para que os alunos leiam em silêncio.

Texto 5

Trecho da entrevista com o senhor Aldir José de Souza, o “Didi do Sindicato”.

É… O que eu tenho de história é que eu trabalhei, trabalhei no sindicato, né, de sessenta até sessenta e quatro, e… Em sessenta e dois fui eleito vereador, pra sessenta e dois a sessenta e seis, mas em sessenta e quatro me cassaram, por que (pausa), eu fui sempre da extração do sal… O sindicato… Fui pro sindicato como presidente do sindicato da extração do sal, logo, aí eu tinha que defender os operários, né…
Naquela ocasião nem a insalubridade eles recebiam. Então nós tivemos que fazer uma greve, pra poder receber a insalubridade e o material de proteção da salina que eles não davam: óculos, por causa da catarata e quando a água, quando o sal se oferece é justamente no verão, que esquenta muito, então, uma série de coisas… E com esse negócio da gente defender o trabalhador, naquela época, em sessenta, sessenta e dois, era comunista… 
Qualquer um que defendia o pequeno, o trabalhador, era comunista…
É, porque, é porque o regime era capitalista… 
Se eu defendo o lado contrário, sou contra o capitalismo, aí… Me taxaram de comunista e me cassaram… Tanto da (pausa), da vereança, como também do sindicato, né…
(…)
Mil novecentos e sessenta (pausa). É… Eu fui lá embaixo, que eles me chamaram pra conversar, me prometeram uma porção de coisa, que me davam um comércio lá em Niterói, mas, eu… Meu amigo, eu não posso aceitar nada disso… Eu sou o presidente do sindicato… As famílias, o senhor deve conhecer, é tudo gente pobre, vivendo na casa de uma família, era uma criancinha, só com aquele camisolo (camisola), outro só com o shortinho, descalço, dormindo no chão, é, é miséria mesmo, né… Então, se eu hoje largar tudo lá como está e vim aqui aceita um… Eu acho é… Não vou comer nem dormir, porque minha consciência não vai deixar, né… 
Ganhei, pra mim é uma boa, vou ficar numa boa, que é, e fica todo mundo lá, pior ainda do que está, né… 
É (pausa). Aí é que eles disseram “esse é comunista”, que disse que o comunista não aceita, aceita barganha, né… aí…

Fonte: A entrevista inteira pode ser encontrada no Anexo A da tese Trabalhadores do sal. In: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175 

Texto 6

Revista Brasil Salineiro

“Os brasileiros precisam imitar a Pedro Álvares Cabral e descobrir o Brasil. Porque o Brasil é um gigante desconhecido para a maioria dos que aqui vivem. 
(…) 
Você sabia que na[quela] terra (…) vive um grupo de heróis a lutar diariamente pelo Brasil? 
Como verdadeiros heróis, aqueles homens não tem um nome. Não se chama Sua Excelência Tal e Tal. Você não encontrará o retrato deles nos jornais. 
São os operários do parque salineiro (…). 
Eles produzem no meio dos maiores sacrifícios, quase todo o sal de que a nação precisa”. 
Para que você compreenda o que é o esforço desses homens é preciso recordar que o sal é um produto da natureza cuja colheita não abrange o ano inteiro. 
Desta forma, o operário do sal não pode ter uma situação de perfeita estabilidade. 
Ele trabalha durante seis meses com regularidade, recebendo salário e vivendo com relativa segurança. 
Mas depois o sal acaba e ele tem que se arranjar como melhor pode até a próxima colheita. 
Entretanto, a falta de estabilidade não é o único inconveniente na vida do salineiro. Há outros, e bem grandes. 
Entre estes outros inconvenientes, figura a questão dramática da deformação física. (…)
Mas, as dificuldades dos salineiros vão mais longe. 
O cloreto de sódio e o iodo do sal são tremendos agentes de irritação da pele. 
Primeiro o operário que trabalha no sal começa a sentir uma comichão, que se vai alastrando pelo corpo todo. Pouco a pouco, formam-se nos lugares que comicham verdadeiras feridas que ardem como se fossem queimaduras. 
Isso tudo é duro de aguentar. Mas, onde se nota que os salineiros são verdadeiros heróis é no espírito com que enfrentam essa vida difícil. 
“Aqueles homens – afirma Noronha Costa – não se queixam, e quando alguém quer explorá-los com arengas comunistas ficam surdos. Na verdade, entre aqueles heróis os comunistas têm cada vez menor número de adeptos, pois em que pesem todos os sacrifícios que fazem, os operários das salinas são, acima de tudo, brasileiros”

Fonte: Revista Brasil Salineiro, ano 1 – Novembro, 1953 – nº 2, p. 11. Órgão de divulgação do INS – Instituto Nacional do Sal.

Texto 7

Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal, segunda maior empresa de sal da região, na festa do 1º de maio de 1968.

“Digníssimos representantes e operários da Refinaria Nacional de Sal. Meus senhores e minhas senhoras:
[…] dentro desta constituição, sábia e honestamente interpretada, pelas autoridades constituídas do País, tem o trabalhador brasileiro, têm vocês, trabalhadores que me ouvem os seus legítimos e sacrossantos direitos a fazer, as suas justas reivindicações. (…) Porém, deve ser imposto ou exigido com prudência, com ponderação, com modos, sem violências, sem badernas, sem anarquias, com modos. 
[…] 
[sem esquecer] que existem as leis e a própria Constituição, que o ampare, que o defende, que, enfim, fala por ele, na defesa dos seus mais legítimos interesses e mais justas reivindicações.[…] 
Aqui estamos vendo hoje reunidos patrões e empregados! 
Aqui estão industriais e operários! 
É através das indústrias que se projetam no Universo, os países, os Estados e os municípios. A Refinaria Nacional de Sal é uma indústria que projeta o Brasil e o Estado do Rio através do nosso Município. 
Que a brancura IMACULADA DO SAL CISNE, seja também entre patrões e empregados, o símbolo da PAZ, edificante e progressista, e assim fazendo, estaremos fazendo o que o Brasil exige, espera e bem merece: “Que cada um cumpra o seu dever

Fonte: Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal em 1º de maio de 1968. Gazeta da Baixada, 8/05/1968.

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 1

“Guilherme José da Silva. No dia 27 de janeiro de 1961 Guilherme fez um acordo com José Maria –pediu as férias. Seu José Maria [se]aborreceu com Guilherme no dia 1º de fevereiro de 1961. No dia 25 de fevereiro Guilherme [me] disse a Gabriel que saiu da Salina Maracanã. José Maria indenizou e disse: se quiser trabalhar pode, mas sem direitos. No dia 29 de janeiro de 1962 Guilherme voltou pra Salina de José Maria.”

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 2

“A Greve 
A Greve das fábricas de Cabo Frio começou no dia 30 de maio de 1960. 30-5-60. Acabou no dia 28 de junho. Miguel Couto assinou e perdeu. A questão de Mauro também. No dia 15 veio uma força do Rio. Os grevistas foi preso no dia 16 de junho de 1960. Voltaram no dia 17 os empregados começaram a trabalhar no dia 3-6-60”.

Texto 8

Jornal Novos Rumos – 24 a 30 de junho de 1960

“Durante 24 horas as tropas federais ocuparam a pequena e bela cidade de Cabo Frio, situada no litoral fluminense, mudando inteiramente a sua plácida fisionomia. Ninguém hostilizou os jovens soldados, mas a revolta e a vergonha do povo era patente na face de cada um. Visível era o ódio à conduta do senador Miguel Couto Filho e do ministro Armando Falcão, autores do pedido de intervenção. 
[…] 
O que há é isso. Trabalhador não pode reclamar não moço. Nossa sede está fechada e a polícia anda procurando a gente para prender’. Foi a resposta que ouvimos à clássica pergunta –que é que há aí? E era isso mesmo que havia contra os trabalhadores que reclamavam melhores salários. Mas a firmeza dos grevistas e a solidariedade do povo asseguraram a vitória do movimento”.

Fonte: Jornal Novos Rumos. Rio de Janeiro, 24 a 30 de junho de 1960. Ano II, nº 70 pp. 10 e 12. http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=122831&pasta=ano%20196&pesq=%22as%20tropas%20federais%20ocuparam%22&pagfis=913

Texto 9

Em 26 de abril de 1964, o periódico O Jornal trazia informações sobre as perseguições que estavam ocorrendo em diferentes municípios do Estado e antecipava o resultado da sessão que ocorreria dois dias depois na Câmara Municipal de Cabo Frio.

‘Deverão ser cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moisés Teixeira, do PTB, pela Câmara Municipal de Cabo Frio, que se reunirá amanhã para apreciar, também, os reflexos do Ato Institucional na administração local. Os edis estão foragidos e são acusados de atividades extremistas na região’.
O processo de cassação, assim como em outras casas legislativas por todo o país se deu rapidamente e, no dia 28 de abril de 1964 a cassação foi efetivada. Foram cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moysés Bessa Teixeira do PTB, além de terem sido impedidos de assumir o mandato todos os suplentes do PSB.

Fonte: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020

Texto 10

Ata do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Sal de Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama

Uma categoria que no início dos anos 1960 era altamente organizada e combativa, e que chegou a eleger o presidente do seu sindicato para o cargo de vereador, jazia bastante fragilizada ao final da década, após o golpe civil-militar que cassou o mandato de vereador daquele que era representante dos salineiros na Câmara Municipal. A partir do golpe de 1964 o sindicato sofreu uma forte desmobilização e a primeira ata do único livro de atas que restou, traz o registro da violência sofrida:
“Ata nº 1 
Ata da sessão ordinária do Sindicato dos Trab. Na Ind. Da Extração do Sal de Cabo Frio, S. Pedro da Aldeia e Araruama. Aos vinte (20) dias do mês de novembro de 1966, às 9 horas, reuniu-se a junta governativa deste Sindicato, com a finalidade de discutir e aprovar as novas propostas de sócios, medida que a junta viu-se obrigada a tomar, por entender indispensável à reorganização total da entidade, em vista da apreensão de documentos havida no período da revolução pela polícia, os quais não foram recuperados, embora houvesse a junta se empenhado em reavê-los; verificou-se o preenchimento de 496 propostas de sócios antigos e novos, sendo que os antigos por falta de comprovantes, constam da proposta como já pertencentes a este sindicato. A matrícula de cada associado obedece ao número da respectiva proposta. Como nada mais houvesse a deliberar, encerra-se a sessão às 11 horas. 
Cabo Frio, 20 de novembro de 1966
Idson Mendonça (Secretário), José da Silva (Tesoureiro), Jairo Dias da Cunha (Presidente)”.


Etapa 6: Tempestade cerebral

A turma colocada em círculo receberá cópias dos sete textos e das três imagens. O/A professor/a, de forma aleatória, escolherá diferentes pessoas para ler cada um dos documentos.
A leitura dos textos deverá ser na ordem em que eles aparecem na proposta e deverá ser precedida de esclarecimentos mínimos acerca daquele documento.
Na medida em que os textos forem sendo lidos os alunos poderão fazer intervenções, sejam elas, questionamentos ou complementações com os documentos utilizados nos encontros anteriores ou quaisquer outros elementos que eles tenham trazido para o debate.
O/A professor/a nesse primeiro momento deverá intervir o mínimo possível, buscando apenas orientar a ordem de intervenção dos alunos ou esclarecendo alguma questão que se apresente de forma absolutamente necessária para a continuidade da dinâmica.
Ao final dessa etapa, com a discussão posta em sala de aula, o/a professor/a deverá/poderá fazer uma síntese de como ele percebeu o desenvolvimento do tema por parte da turma.
A síntese do tema, em si, ficará por parte da turma, de forma individual ou em grupos (a critério do/a professor/a). Podendo ser um texto em prosa sobre o entendimento do assunto ou uma colagem que expresse as ideias que foram discutidas ao longo dos três encontros.


Bibliografia e Material de apoio:

BIDEGAIN, Paulo. Lagoa de Araruama – Perfil Ambiental do maior ecossistema lagunar hipersalino do mundo – Rio de Janeiro: Semads, 2002.

CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

CHRISTOVÃO, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175

PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.


Créditos da imagem de capa: Fotografia do fotógrafo cabofriense Wolney Teixeira, de 1948.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Vale Mais #14 – Trabalhadores do sal





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #14 do Vale Mais é sobre Trabalhadores do sal.

Este é o sexto episódio da segunda temporada de Vale Mais, o podcast do site do LEHMT-UFRJ. Nesta temporada, conversamos com recém doutores/as no campo da História Social do Trabalho sobre seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, entrevistamos João Henrique de Oliveira Christovão, doutor em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV, professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro, além de ser pesquisador do LEHMT-UFRJ. Em dezembro de 2020, João defendeu a tese “Trabalhadores do sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974”, sob orientação de Paulo Fontes e Ynaê Lopes dos Santos. A pesquisa analisou os trabalhadores e trabalhadoras das salinas em Cabo Frio, entre as décadas de 1940 e 1970, abordando os processos de constituição das identidades dos salineiros, com destaque para as articulações entre classe, raça e gênero. João enfatiza que os salineiros ocuparam um papel fundamental nas lutas por direitos políticos e trabalhistas, bem como na construção do espaço urbano cabofriense.

Dica da entrevistado: Para entender uma fotografia – John Berger (livro)

Produção: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Roteiro: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Livros de Classe #04: Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub, por Fabiane Popinigis

No quarto vídeo da série, Fabiane Popinigis, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) apresenta Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub. Publicada em 1986, a obra inovou conceitualmente e metodologicamente ao trazer para o centro da narrativa o cotidiano de homens e mulheres comuns.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Livros de Classe #03: Costumes em comum, de E. P. Thompson, por Sidney Chalhoub

No terceiro vídeo da série, Sidney Chalhoub, professor titular colaborador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Departamento de História de Harvard, apresenta Costumes em comum, de E. P. Thompson. A celebrada coletânea de artigos do historiador inglês contribuiu para uma reflexão sobre a atuação política dos trabalhadores para além do movimento operário organizado.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vale Mais #13 – Trabalhadores, repressão e transição democrática



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #13 do Vale Mais é sobre Trabalhadores, repressão e transição democrática.

Este é o quinto episódio da segunda temporada de Vale Mais, o podcast do site do LEHMT-UFRJ. Nesta temporada, conversamos com recém doutores/as no campo da História Social do Trabalho sobre seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, entrevistamos Richard de Oliveira Martins, doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em dezembro de 2020, Richard defendeu a tese “Lutas vigiadas: militância operária, retaliação patronal e repressão no Vale do Paraíba (1979-1994)”, sob orientação do professor Claudio Batalha. A pesquisa analisou os trabalhadores da região do Vale do Rio Paraíba do Sul (Paulista e Fluminense), com ênfase sobre o operariado metalúrgico dos municípios de São José dos Campos/SP e Volta Redonda/RJ, abordando suas experiências de trabalho, organização sindical e luta política. Richard enfatiza as formas e as consequências da repressão com que se depararam estes trabalhadores, refletindo sobre o envolvimento de organizações sindicais nas recentes batalhas em torno da memória social da ditadura.

Dica da entrevistadaMichel Foucault

Produção: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Roteiro: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Chão de Escola #15: Futebol Operário – lazer, profissão e cultura dos trabalhadores, por Raphael Rajão Ribeiro.



Raphael Rajão Ribeiro (CPDOC-FGV e Museu Histórico Abílio Barreto)


Apresentação da atividade

Segmento: 2º e 3º anos do Ensino Médio

Unidade temática: Brasil Republicano e cultura operária

Objetivos gerais:

Identificar, a partir do caso do futebol, a relação entre construção da cultura operária e as práticas de lazer;
– Reconhecer o estabelecimento de redes de sociabilidade a partir dos locais de trabalho;
– Examinar o papel desempenhado pelas fábricas e por seus operários na popularização do futebol no Brasil;
– Observar medidas de controle sobre o lazer operário a partir das direções das fábricas;
– Identificar as diferentes percepções do movimento operário organizado sobre o lazer dos trabalhadores;
– Perceber as interações entre mundo do trabalho e lazer, bem como os limites entre profissão e atividades do tempo livre;

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana (estilos de vida, valores, condutas etc.), desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade e preconceito, e propor ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às escolhas individuais.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2 e 3
03Etapa 4
04Etapa 5 e 6
05Etapa 7 e 8

Conhecimentos prévios:

– Primeira República no Brasil
– Industrialização e movimentos operários no Brasil
– Regulamentação das leis trabalhistas no Estado Novo


Atividade

Recursos: Projetor multimídia; impressora

Etapa 1: Futebol nas fábricas e a popularização do esporte

Leitura anterior à aula e levantamento de informações prévias sobre o texto abaixo.

Leia o Documento 1, o extrato do capítulo de abertura da 2ª edição da obra “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista Mário Filho, de 1964.

O trecho transcrito compõe a obra “O Negro no Futebol Brasileiro”, publicada originalmente em 1947 e reeditada com acréscimos em 1964. Seu autor foi o jornalista Mário Filho, que atuou na crônica esportiva por cerca de quatro décadas. O livro dialoga com diversos estudos ensaísticos, realizados entre os anos 1930 e 1940, que propunham debater a formação da identidade nacional, com destaque para a produção do sociólogo Gilberto Freyre. Seu objeto principal é narrar a ascensão do negro no futebol brasileiro, da condição de excluído ao protagonismo da modalidade esportiva mais popular do país.

A partir da leitura, desenvolva as seguintes questões:

  1. Faça uma pesquisa e trace uma breve biografia de Mario Filho. Informe suas origens, sua atuação profissional, sua produção literária e sua inserção na meio cultural brasileiro, com as principais iniciativas de que participou.
  2. O autor cita diversos termos em inglês, referentes à prática do futebol naquele período. Identifique os termos e produza um glossário com os seus significados.
  3. Como indicado, a obra escrita nos anos 1940, tinha como foco as relações raciais em torno do futebol. Observe as expressões utilizadas pelo autor para descrever os personagens e escreva um texto dissertativo respondendo as seguintes questões: 
  • Como os termos usados por ele soam atualmente? 
  • Em que medida eles podem ser classificados como preconceituosos?
  • Como o autor identifica as distinções entre nacionalidades? Havia uma hierarquia entre elas?
  1. Explique a relação entre trabalho e lazer, observando de que maneira as condições da Companhia Progresso Industrial do Brasil influenciaram a formação da equipe do Bangu.


Etapa 2: Futebol na fábrica do Bangu

Na segunda aula, faça uma correção da atividade de leitura do texto de Mário Filho.

Debata o texto do Documento 1, a partir de questões iniciais e de problemas indicados pelos estudantes. Nesse momento, de acordo com os pontos levantados pelos alunos, podem ser desenvolvidas questões sobre a sociabilidade em zonas fabris, a introdução do futebol no Brasil e sua relação com a presença estrangeira, as tensões nacionais e raciais no meio operário etc.


Etapa 3: Futebol na fábrica do Bangu

Façauma leitura coletiva do Documento 2, um texto histórico informativo intitulado “Bangu e fábrica: um casamento (in)feliz?”, de Nei Jorge Santos Júnior:

A partir da leitura, debata a importância da fábrica para o desenvolvimento do futebol na região de Bangu e para a manutenção do time, comparando com o texto de Mário Filho.

Solicite a resolução da questão abaixo:

1 – Em seu texto, Mário Filho faz uma extensa descrição da fotografia do primeiro time organizado pelo Bangu, em 1905. Observe a foto a que ele faz referência (projete a imagem):

Bangu, 1905. Imagem reprodução.

Com a imagem projetada, retome a leitura coletiva da descrição da fotografia presente no texto de Mario Filho, buscando identificar os elementos apontados por ele. 

Responda as seguintes questões:

  • De que forma o autor pontua a cultura masculina do período em sua descrição? Quais códigos essa cultura mobiliza e o que eles são capazes de comunicar aos demais? É possível identificar códigos semelhantes nos dias de hoje? É possível observar códigos no cotidiano escolar e na vida dos estudantes?
  • Mario Filho aponta uma relação entre as formas de se vestir e a busca de uma distinção social e de uma aceitação pelo grupo. De que forma esses esforços apontam para uma diferenciação racial e social entre os integrantes da equipe?
  • Um dos objetivos das regras nos esportes é a garantia de uma situação de igualdade entre todos os participantes de uma competição. Segundo a avaliação do autor, esse pressuposto que vigorava no momento de duração da partida se estendia para o convívio cotidiano entre os integrantes do time do Bangu? Quais tipos de diferenças existiam entre eles? Enumerem as diferenças.

Etapa 4: Futebol de fábrica, controle e organização operária

Na terceira aula, é indicada a leitura do artigo “Anarquistas e comunistas no Futebol em São Paulo”, de Fátima Martin Antunes:

Deve-se estabelecer um tempo para os estudantes lerem o texto em sala. Os alunos devem identificar os termos e referências espaciais desconhecidas e o professor deve esclarecer as dúvidas, de modo a garantir a melhor compreensão do texto.

A partir da leitura, propõe-se uma aula expositiva dialogada, com a montagem de um quadro, em duas colunas, com argumentos utilizados pelos integrantes do movimento operário contra e a favor da prática do futebol entre os trabalhadores. 

Observem argumentos relativos à utilização do tempo livre pelo trabalhador, o sentido atribuído ao lazer (esportes, bailes, encontros sociais), o significado da prática esportiva, as possibilidades de convivência entre formação intelectual e desenvolvimento físico, as possibilidades de mobilização pelo esporte etc.

Considerando os pontos de vista adotados naquele período, solicite aos estudantes a preparação de argumentos para um debate em defesa e em contraposição à prática do futebol a ser realizar na próxima aula.


Etapa 5: Debate sobre fábrica, controle e organização operária

Na aula 4, debata sobre controle e autonomia no futebol dos trabalhadores.

Prepare uma breve exposição retomando questões dos movimentos operários na Primeira República, em suas tendências anarquistas e comunistas, e debata sobre o controle exercido por empresários em contextos fabris e iniciativas de resistência pelos trabalhadores.

Em vista da preparação para o debate feito na aula anterior, escolha estudantes (de acordo com a organização e possibilidade que o(a) professor(a) encontrar na  sala), para realizar o debate a favor e contra a prática de esportes, em vista dos argumentos comunistas e anarquistas. Os estudantes devem ser orientados a assumir um lado na discussão.


Etapa 6: Debate sobre fábrica, controle e organização operária

Após o debate, leia coletivamente em sala o texto sobre a prática esportiva em Porto Alegre, e discuta as questões que segue.

Considerem que vocês sejam associados do Grêmio Esportivo Renner. Com base no debate realizado a partir dos argumentos do movimento operário a favor e contrário à condução de clubes de futebol pelas fábricas, avaliem o mascote proposto pelo Departamento de Propaganda da empresa:

  1. Quais as opiniões da turma sobre a mascote proposta? Ela é representativa do que os operários esperam de um time de futebol? Esse é o tipo de imagem que gostariam de utilizar para simbolizar a equipe? Argumentem a favor e contra o modelo proposto. 
  2. Ao final do debate, considerando sua condição de associado, a turma deve votar pela adoção ou não da mascote.

Etapa 7: As relações empregatícias no futebol profissional e na várzea

Na aula 5, a turma deve ser dividida em grupos para analisar as relações de trabalho no futebol operário, considerando a profissionalização e a prática na várzea.

Organize a classe em cinco grupos (ou em grupos múltiplos de cinco) para analisar os seguintes excertos sobre as relações de trabalho no futebol:

Selecionado e distribuídos os excertos pelos grupos, eles devem proceder a leitura do trecho indicado. E responder as questões abaixo:

  1. Que tipo de texto foi analisado pelo grupo? Quando foi escrito?
  2. Grifar os termos desconhecidos e buscar seu significado, com vistas à melhor compreensão do texto.
  3. Identificar o clube tratado e qual a sua inserção no circuito competitivo do futebol. De que campeonatos participava? Era classificado como amador ou profissional?
  4. Delimitar qual era o regime de contratação dos jogadores citados. Como eles se vinculavam ao clube e de que forma eram mantidos? De onde originavam os seus rendimentos?
  5. Os casos tratados nos trechos referem-se aos anos 1940, 1950 e 1960, momento em que já havia uma distinção no futebol entre clubes profissionais e amadores. Com base na relação empregatícia dos jogadores tratados, é possível afirmar se o clube ao qual eles pertenciam era completamente profissional ou amador?
  6. E do ponto de vista das relações de trabalho estabelecidas pelos jogadores com seus clubes, ela se configura em um vínculo empregatício?

Após analisarem os trechos e responderem às questões, os grupos devem apresentar os resultados à classe. 

Feitas as apresentações é possível ao professor estabelecer uma roda de conversa sobre as fronteiras entre relações formais e informais de emprego, pensando na multiplicidade de vínculos existentes não apenas no universo esportivo, mas nas relações cotidianas das comunidades onde os alunos estão inseridos.


Etapa 8: As relações empregatícias no futebol profissional e na várzea

Para finalizar a última aula, o professor deve realizar uma breve recapitulação de pontos chave sobre a regulamentação das relações trabalhistas e da edição da CLT no Estado Novo e abordar, de maneira panorâmica, o processo de institucionalização do profissionalismo no futebol brasileiro, considerando a prática não regulada do “amadorismo marrom” nas décadas iniciais do século XX e o processo de profissionalização entre 1933 e 1938.


Bibliografia e Material de apoio:

ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. Futebol de fábrica em São Paulo. 1992. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.

Cadernos AEL. Dossiê esportes e trabalhadores. Campinas/SP, v. 16, n. 28, primeiro semestre de 2010.

CIOCCARI, Marta Regina. Do gosto da mina, do jogo e da revolta: Um estudo antropológico sobre a construção da honra em uma comunidade de mineiros de carvão. 2010. Tese (Doutorado em Antropologia) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

FONTES, Paulo; HOLLANDA, Bernardo Buarque de (Org.). The Country of Football: Politics, Popular Culture, and the Beautiful Game in Brazil. Londres: Hurst Publishers, 2014.

LOPES, José Sérgio Leite. Da usina de açúcar ao topo do mundo do futebol nacional: trajetória de um jogador de origem operária. Cadernos AEL, Campinas, v. 16, n. 28, p. 13-40, 2010.

PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: Uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

RODRIGUES FILHO, Mario. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

SANTOS JUNIOR, Nei Jorge dos. A construção do sentimento local: o futebol nos arrabaldes de Bangu e Andaraí. Rio de Janeiro, Multifoco, 2014.

SILVA, Daniela Alves da. Cultura operária: um estudo de caso do Villa Nova Atlético Clube. 2007. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

STÉDILE, Miguel Enrique. Da fábrica à várzea: clubes de futebol operário em Porto Alegre. 2011. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.


Créditos da imagem de capa: Alured Bell, The Beautiful Rio de Janeiro, Londres: W. Heinemann, 1914, p. 182


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira

Livros de Classe #02: Em defesa da honra, de Sueann Caulfield, por Cristiana Schettini

No segundo vídeo da série Livros de Classe, Cristiana Schettini, professora da Universidad Nacional de San Martin (UNSAM), apresenta a obra Em defesa da honra: moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940), de Sueann Caulfield. Combinando uma prática de história social e uma perspectiva de gênero, o livro é resultado de uma rigorosa investigação sobre a moral sexual nos anos 1920 e 1930, no Rio de Janeiro.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Artigo “Zózimo Bulbul: prática de história oral no Centenário da Abolição (1988) e a história de vida de um artista negro” – Samuel Oliveira



Samuel Oliveira, pesquisador do LEHMT-UFRJ e professor do Programa de Pós-graduação em Relações Étnico-Raciais, publicou o artigo “Zózimo Bulbul: prática de história oral no Centenário da Abolição (1988) e a história de vida de um artista negro” na revista História Oral.

O artigo analisa o projeto de história oral liderado por Maria Beatriz Nascimento no Centenário da Abolição e a trajetória de vida de Zózimo Bulbul entre os anos 1930 e 1940, apresentando sua formação social e as experiências de classe e raça vivenciados no espaço urbano do Rio de Janeiro.

Link: https://revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/1102/106106106274


Crédito da imagem de capa: Zózimo Bulbul. Disponível em: http://jornalismojunior.com.br/zozimo-bulbul-o-pioneiro-do-cinema-negro-brasileiro/

Chão de Escola #14: Flavia Fernandes (UFF) fala sobre o trabalho doméstico e suas reflexões para professores da Educação Básica



Nos últimos anos, nós assistimos a um crescimento das pesquisas que enfatizam as trabalhadoras e trabalhadores domésticos no Brasil. Como você avalia esse crescimento?

Primeiramente, agradeço ao convite do LEHMT-UFRJ, em especial aos coordenadores(as) da seção “Chão de Escola”, pelo convite para esta entrevista.
Respondendo à pergunta, avalio que esse crescimento é muito positivo e necessário, pois nas duas últimas décadas a história do trabalho/serviço doméstico definitivamente passou a ser reconhecida como um tema de relevância para o campo da História Social do Trabalho no Brasil. Se até o final do século XX eram raros os estudos históricos acadêmicos desenvolvidos em torno dessa temática, nas primeiras décadas do século XXI observamos o surgimento de várias dissertações e teses produzidas em diferentes programas de pós-graduação em história do país – muitas das quais já viraram livros –, além da publicação de inúmeros artigos científicos e papers sobre o assunto. E no meu entendimento esse processo se deve a um conjunto de fatores, entre os quais se encontram elementos de ordem acadêmica e social. 
Do ponto vista acadêmico, vimos que a partir da virada para este século, o campo da história do trabalho passou por um processo que envolveu uma ampliação de temas, abordagens e enfoques. Nesse sentido, um dos aspectos dessas mudanças foram as problematizações em torno da composição da classe trabalhadora brasileira, sobretudo em sua formação histórica. Durante muito tempo esse processo foi entendido como limitado às esferas produtivas, principalmente no que diz respeito à constituição do operariado fabril – o qual foi tradicionalmente estudado como sendo restrito a trabalhadores homens, adultos, de ascendência europeia, em sua maioria organizados em sindicatos. Com o reconhecimento de outras relações sociais que atravessam e integram as relações de classe, como as que envolvem as dimensões de gênero, raça e origens étnicas e nacionais, os(as) estudiosos(as) passaram, cada vez mais, a recuperar as experiências de outros sujeitos da história do trabalho no Brasil, como foi o caso das mulheres trabalhadoras brasileiras, jovens e crianças, negros e mestiços, que poderiam ou não estar engajados politicamente. Tal dinâmica necessariamente direcionou o interesse dos historiadores para esferas de trabalho como as que envolvem os domínios da domesticidade e da reprodução social. 
Além disso, é importante lembrar que alterações no perfil dos(as) alunos(as) que frequentaram as universidades públicas do país entre os anos 2000 e os primeiros anos da década de 2010 – muitos dos quais filhos de trabalhadores e que acessaram o ensino superior por meio de políticas de ações afirmativas – trouxeram também novos temas de interesse para a pauta dos estudos acadêmicos. Sendo esse um fator que se associa a própria dinâmica social. Nas últimas décadas ocorreu uma intensa mobilização, resultante de uma trajetória de lutas das(os) trabalhadoras(es) domésticas(os) organizadas(os), para construção de um instrumento legal que definitivamente garantisse à categoria os mesmos direitos trabalhistas dos demais trabalhadores assalariados brasileiros – o que aconteceu com a Emenda Constitucional de n.º 72, de abril de 2013, e com a sua regulamentação em 2015. Vale lembrar que internacionalmente a temática também ganhou relevância com a atuação da própria Organização Internacional do Trabalho (OIT), que fez do trabalho doméstico remunerado o tema central de suas conferências, em 2010 e 2011.

A sua tese de doutorado defendida pelo Programa de Pós-Graduação da UFF no ano de 2017 e que foi recentemente publicada pelo Arquivo Nacional, com o título “Criados, escravos e empregados: o serviço doméstico e seus trabalhadores na cidade do Rio de Janeiro (1850-1920), procurou pensar o trabalho doméstico dentro de um processo de expansão do trabalho livre e assalariado, de estímulo à imigração (sobretudo europeia) e de declínio e fim da escravidão no Brasil. De acordo com os dados coletados pela sua pesquisa, “quem” era esse trabalhador doméstico e qual foi o seu papel na construção da modernidade brasileira?

Um dos objetivos que orientaram a minha pesquisa de doutorado foi recuperar o perfil dos trabalhadores domésticos da cidade do Rio de Janeiro entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. A ideia era compreender como, em diferentes conjunturas históricas, presentes naquele longo recorte temporal, ocorreu uma série de mudanças na composição da força de trabalho empregada na prestação de serviços domésticos nos domicílios urbanos – que não era homogênea como comumente se entende o assunto do ponto vista histórico, ao se associar as criadas e os criados domésticos unicamente aos escravos. 
Assim, observei que se em meados do Oitocentos havia uma tendência para a predominância de trabalhadores escravizados no setor (de ambos os sexos, já que eram numerosos os homens escravizados como serviçais), pouco a pouco, no decorrer das décadas de 1860 a 1870, o serviço doméstico passou a ser exercido também por trabalhadores livres, muitos dos quais libertos e estrangeiros, e com relativo equilíbrio numérico entre mulheres e homens. Entre os estrangeiros se destacavam, naquele período, indivíduos oriundos do território insular português (arquipélagos de Açores e Madeira), que vinham para o Brasil por meio de redes de translado de imigrantes que começaram a operar após o término do tráfico de africanos. Já na conjuntura abolicionista e de imediata pós-abolição, dos anos 1880 e 1890, o número de libertos atuando no setor foi enorme, embora os estrangeiros tivessem participação ativa nessa parcela do mercado de trabalho, com o desenvolvimento de políticas de imigração para a vinda de europeus. Todavia, desde então, se desenvolveu o fenômeno da chamada feminilização do serviço doméstico, pois se antes as mulheres constituíam – às vezes por pouca diferença em relação aos homens – a maioria da criadagem doméstica na cidade do Rio de Janeiro, a partir daquele momento esse setor foi sendo ocupado exclusivamente por mulheres. Além disso, no decorrer da primeira metade do século XX, observamos um crescente número de mulheres classificadas racialmente nos censos como “pretas” e “pardas” atuando como trabalhadoras domésticas. 
Esse rápido panorama já traz alguns elementos para pensarmos em “quem” eram os(as) trabalhadores(as) domésticos(as) no recorte temporal estudado. A pesquisa revelou que a força de trabalho empregada no serviço doméstico era bastante diversificada e se modificou ao longo do tempo e esse fato fornece pistas sobre o papel daqueles sujeitos na construção da chamada modernidade. Como sabemos, o período que caracteriza o final do Império e o início da Primeira República foi marcado pela disputa de diferentes projetos sociais, fruto de muitas expectativas, tensões e conflitos entre as classes e grupos sociais então existentes. No caso da esfera laboral composta pelo chamado serviço doméstico aquele foi um momento marcado por uma crise, que era, inclusive, constantemente noticiada na imprensa e debatida entre intelectuais e autoridades públicas. Patrões e patroas, muitos dos quais antigos senhores de escravos, por meio de seus porta-vozes, lamentavam a escassez de “bons criados”, afirmando que a criadagem disponível não seria mais como a antiga. Enquanto, de outra parte, as(os) trabalhadoras(es) domésticas(os) e seus aliados procuravam, fosse por meio vias institucionais e públicas ou em resistências privadas e cotidianas, estabelecer limites para as interdições sociais que lhes eram impostas, de modo a conquistar garantias e direitos em seus contratos e relações de trabalho, bem como liberdade em seus modos de vida.

Muitos livros didáticos de História, quando lançam luz à questão dos negros no pós-Abolição, o fazem sob ótica da marginalidade, passividade e exclusão social, não levando em conta os estudos acadêmicos mais recentes que trazem novas perspectivas sobre esse tema. Qual é a importância de trabalhos como o seu para pensar as relações sociais e de trabalho dos negros no pós-Abolição?

A pesquisa que desenvolvi sobre a história dos trabalhadores domésticos na cidade do Rio de Janeiro dialogou com uma já consolidada e relevante tradição historiográfica voltada para a investigação da pós-emancipação no Brasil. Tratam-se de estudos fundamentais que, em linhas gerais, buscaram resgatar a formação de uma sociedade pós-escravista e, sobretudo, a agência de sujeitos históricos subalternizados, como era o caso da população negra, em grande parte ligada ao passado escravista. 
Todavia, a pesquisa procurou também, em consonância, pensar nas dinâmicas estruturais que orientaram as ações dos diferentes sujeitos históricos naquele contexto. Isso porque acredito, como defendido há muitos anos pela historiadora Emília Viotti da Costa, que para um maior entendimento e uma análise mais aprofundada de qualquer tema é preciso articular as dimensões de agência e de estrutura no estudo dos processos históricos, pois as ações humanas tendem a se encontrar constantemente na tensão existente entre a liberdade e a necessidade.
Tendo em vista isso, considero que ambas as perspectivas são complementares na ampliação e na complexificação da forma como a situação dos negros na pós-abolição pode ser abordada em livros didáticos de História voltados para a Educação Básica. Isso porque, ao meu ver, se por um lado é preciso recuperar e compreender lógicas sistêmicas que produzem e reproduzem vulnerabilidades, divisões, hierarquias, discriminações, exclusões e desigualdades, presentes especialmente nas relações sociais dos mundos do trabalho, principalmente no período posterior ao fim da escravidão; por outro lado, não se pode perder de vista a ação, coletiva e individual, dos sujeitos oprimidos frente a tais estruturas perversas, seja na resistência e/ou na construção de outros caminhos para o futuro em liberdade. 
No caso da história do serviço doméstico, no período estudado, esse pressuposto auxilia, por exemplo, no entendimento do processo de estigmatização e de criminalização que esteve em curso na virada do século XIX para o século XX em relação às(aos) trabalhadoras(es), quando das primeiras tentativas de regulamentação, de caráter municipal e policial. Esse foi um processo voltado para o controle social daquele segmento profissional – e não para garantir direitos no âmbito do trabalho –, e que era orientado por mecanismos de coerção de liberdade, assentados em princípios de suspeição baseados em critérios patriarcais e raciais. Porém, o desenrolar desse processo não significou que as mulheres e os homens que trabalhavam como criados domésticos naquele contexto não tenham se colocado, em várias situações e por meio de diferentes vias, na resistência e na defesa de seus interesses.

Quando – por iniciativa docente – o debate em torno do trabalho doméstico alcança a sala de aula, é comum fazermos correlações entre o serviço doméstico e a escravidão, sugerindo que o primeiro ainda carrega fortes “marcas” do segundo. Você considera esse ponto de partida para refletir sobre o tema? Em que medida narrativas como “pessoa da família” e “mãe preta” (que remontam ao período da escravidão e estão presentes até hoje) impactam nessa discussão?

Acredito que não é possível estudar a história do serviço doméstico no Brasil sem se recuperar aspectos da história da escravidão, em especial em sua modalidade doméstica. Então, sem dúvidas, estudar esse tema por meio das “marcas” deixadas pela escravidão é fundamental, pois para além de narrativas como essas apontadas, o que essa discussão envolve, na verdade, é a permanência de valores e de práticas de cunho escravistas nas relações de trabalho estabelecidas entre amos e criados, em contextos como os do final do século XIX, e entre patrões e empregados no decorrer do século XX e no início do século XXI.
Não por acaso, quando estudamos períodos como os das décadas imediatamente posteriores à Abolição notamos, claramente, como esse era um elemento de conflito entre as partes envolvidas nas relações de trabalho e nos discursos elaborados sobre o serviço doméstico. As fontes documentais disponíveis dão indícios de que grande foi a luta de trabalhadoras(es) ex-escravizadas(os) que atuavam como criadas(os) domésticas(os) para negociar novas condições de trabalho, como no caso da escolha do domicílio em que iriam trabalhar, o valor dos salários ou os horários de entrada e saída nos empregos, por exemplo. Isso ocorria, em grande medida, porque permanecia entre a classe patronal uma ideologia escravista, que sentia nostalgia do passado, e que desejava que as relações de trabalho, em especial no âmbito privado, continuassem a ser orientadas pelas tradicionais políticas de dominação senhorial, como era o caso do paternalismo.
No entanto, ao meu ver, embora seja muito importante identificar as relações de continuidades/permanências entre o passado e o presente em torno desse tema – como essa que envolve as “marcas” da escravidão existentes no trabalho doméstico remunerado contemporâneo –, esse tipo de análise não deve apagar outros elementos igualmente presentes na história do trabalho/serviço doméstico no Brasil. Até porque em outras sociedades, que não tiveram escravidão ou onde a escravidão possuía características diferentes da brasileira, as relações de trabalho doméstico na história e na atualidade também se colocaram ou se colocam em termos de invisibilidade, desvalorização, dependência, subordinação, feminilização, racialização etc.
Geralmente, o esforço para a identificação das “marcas” da escravidão passa por noções de “herança”, “legado”, “resquício” e acredito que esse tipo de explicação, por vezes, pode levar a um entendimento simplista se não for realizado com cuidado e crítica. Primeiro porque se pensamos o trabalho doméstico remunerado exclusivamente nesses termos, ficamos com a falsa impressão de justificativa para os problemas existentes, bem como de ausência de transformações. Segundo porque perdemos de vista os movimentos históricos que levaram as coisas a serem como são. Por essa razão, entendo que tão importante quanto recuperar os elos que ligam o presente ao passado, é fundamental, também, historicizar os processos. 
Isso significa pensar em coisas como: por que o trabalho doméstico remunerado continua existindo em nossa sociedade, com a magnitude que tem no mercado de trabalho? Por que no decorrer do século XX grande parte das mulheres trabalhadoras, e principalmente das mulheres negras, foram direcionadas, sem outras alternativas, para esse tipo de trabalho em espaços urbanos? Por que até o início deste século as empregadas domésticas ficaram sem o amparo completo de uma legislação trabalhista? E por que toda vez que a questão dos direitos dessa categoria profissional foi discutida houve inúmeras resistências? Analisar e refletir sobre questões desse tipo unicamente em termos de um passado que sobrevive no presente limita a compreensão, pois desconsidera as formas como mecanismos de exploração e de opressão operam historicamente e conformam as relações sociais no mundo em que vivemos.

Laudelina de Campos Melo e Nair Jane de Castro Lima foram trabalhadoras domésticas negras e lideranças sindicais fundamentais para compreendermos a história de luta dessa categoria. Qual é a importância para um estudante da Educação Básica conhecer um pouco da trajetória dessas e de outras mulheres que configuram uma das maiores categorias de trabalhadores do país?

Sabemos que a maior parte dos alunos e alunas das escolas públicas brasileiras pertencem a famílias de baixa renda, sendo filhos e filhas de trabalhadores. Certamente boa parte desses estudantes são descendentes de mulheres que exercem essa profissão ou já a exerceram em algum momento de suas trajetórias. Trazer, portanto, ao conhecimento desses estudantes a história daquelas personagens, e outras ainda pouco conhecidas, dialoga diretamente com experiências de vida do público estudantil. E esse é um elemento essencial para a realização do processo de ensino-aprendizagem.
Porém, mais do que se aproximar da história pessoal de muitos alunos e alunas da Educação Básica, o conhecimento da trajetória de mulheres como Laudelina de Campos Melo e Nair Jane de Castro Lima é fundamental para um entendimento mais amplo e crítico da nossa história, da história “vista a partir dos de baixo”, da história dos trabalhadores e subalternos, em especial da maioria das mulheres trabalhadoras brasileiras. Uma história que, para além da dominação, da exploração ou das opressões, foi marcada também por experiências de resistências e lutas constantes, por meio de organizações e mobilizações pela conquista de direitos e que traz exemplos ricos sobre o papel de lideranças e de agentes participativos e construtores exercidos por mulheres negras na história do Brasil. Até porque, durante muito tempo, na própria historiografia brasileira, por vários motivos, não houve muitos investimentos para que esse tipo de memória fosse resgatada e essas histórias fossem recuperadas. Então, é necessário que tais trajetórias de vida sejam conhecidas e valorizadas nos diferentes espaços de construção do saber.
Além disso, as histórias de figuras como Laudelina e Nair Jane possibilitam o trabalho com alunos e alunas da Educação Básica em torno da compreensão da integração ou do cruzamento das dimensões de classe, gênero e raça nas experiências históricas de homens e mulheres, em especial nas sociedades contemporâneas. Afinal, ao conhecermos histórias de mulheres negras, trabalhadoras domésticas, que estiveram engajadas em lutas políticas e sociais que envolviam causas sindicais, feministas e antirracistas, podemos não só compreender um pouco mais da complexidade das relações sociais em que estamos envolvidos, da forma como se estruturam as desigualdades, e da história de movimentos sociais, como também podemos buscar inspirações para os enfrentamentos do presente. E tudo isso é importante se quisermos construir uma educação realmente transformadora.


Flavia Fernandes de Souza é doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, desenvolve estágio pós-doutoral na mesma universidade, junto ao Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), por meio de bolsa PNPD-Capes; sendo também pesquisadora do Observatório da História da Classe Trabalhadora (UFF). É autora do livro “Criados, escravos e empregados: o serviço doméstico e seus trabalhadores na cidade do Rio de Janeiro (1850-1920)”, publicado em 2019, como parte da coleção Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa. Desenvolve pesquisas no campo da História Social do Trabalho, em relação à história do trabalho doméstico, atuando também como docente no ensino superior de História do Brasil, especialmente em áreas como história do trabalho, história da escravidão e da pós-abolição e história social urbana.


Crédito da imagem de capa: Uma família brasileira e sua escravas domésticas, c 1860. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_no_Brasil#/media/Ficheiro:Family_and_slave_house_servants_by_Klumb_1860.png


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.