Vozes Comunistas #22: Armando Ziller


Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Entre março de 2022 e março de 2023 homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a divulgação de trechos de entrevistas de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base que contam um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil.

Em nosso vigésimo primeiro episódio, penúltimo da série, apresentamos trechos de uma entrevista realizada em 1985 com o líder bancário mineiro Armando Ziller. Ziller ingressou no PCB em 1932 e tornou-se uma icônica liderança sindical dos bancários, participando de grandes lutas, como a greve nacional da categoria em 1946 e de importantes conquistas, como a jornada de 6 horas. Foi eleito deputado estadual em 1947, participando da elaboração da constituição mineira de 1947. No trecho que ouviremos, Armando Ziller fala sobre sua experiência sindical durante as décadas de 30 e 40. Esta voz comunista é apresentada pelo professor do Instituto de História da UFRJ, Carlos Ziller, também neto de Armando.

Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes
Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto

Referência da entrevista: ZILLER, Armando. Entrevistadoras: DELGADO, Lucília de Almeida Neves e ALVES, Célia Regina. Belo Horizonte, MG, Brasil. Setembro de 1985. 4 fitas K7 (60 minutos). Acervo do Núcleo de História Oral do Laboratório de História do Tempo Presente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (NHO/LHTP/FAFICH/UFMG).

Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quinto episódio, conversamos com César Queiroz, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Marcos Braga, professor da rede pública estadual de educação do Amazonas e doutorando do programa de pós-graduação em História da UFAM. Os convidados são organizadores do livro Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson. A obra é produto da disciplina “Trabalho e movimentos sociais na Amazônia”, oferecida no PPGH/UFAM, em 2024, em homenagem ao centenário de Edward Thompson, sendo o foco do curso debater as contribuições thompsonianas e as polêmicas que o envolveram ao longo de sua vida. Os/as alunos/as da disciplina elaboraram verbetes que fazem parte da composição desta breve dicionário. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  2. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  3. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  4. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  5. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo

Chão de Escola #29: Trabalhadoras Domésticas Organizadas e a luta por reconhecimento e direitos no Brasil, por Yasmin Getirana


Yasmin Getirana


Apresentação da atividade

Segmento: 9º Ano do Ensino Fundamental/ 2º e 3º Ano do Ensino Médio

Unidade temática: Trabalho doméstico e luta por direitos sociais no Brasil

Objetivos gerais: As atividades propostas buscam estimular a reflexão crítica a respeito de temas cotidianos fundamentais, como o direito ao reconhecimento político e social, inclusão e cidadania, de uma das maiores categorias profissionais e de emprego feminino no Brasil. A partir das discussões, espera-se que os alunos e alunas possam refletir a respeito da construção histórica da divisão sexual do trabalho, da marginalização do trabalho feminino e da pluralidade de formas de organização de trabalhadores/as no século XX.

Objetivos específicos:

– Identificar temporal e geograficamente as especificidades do trabalho doméstico remunerado no Brasil;

– Compreender o processo de formulação da legislação trabalhista no período Vargas (1930-1945) a partir da experiência de luta das categorias profissionais não incluídas na mesma;

– Analisar as diferentes expressões da ideia de cidadania e o vínculo criado entre cidadania e direitos trabalhistas;

– Discutir a estigmatização que envolve trabalho doméstico e suas interseções de gênero, classe, raça, região e geração;

– Refletir sobre as continuidades e mudanças no cenário do trabalho doméstico entre o século XX e XXI e entender a importância da atuação política organizada dos trabalhadores/as neste percurso.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EF09HI06) Identificar e discutir o papel do trabalhismo como força política, social e cultural no Brasil, em diferentes escalas (nacional, regional, cidade, comunidade).

(EF09HI07) Identificar e explicar, em meio a lógicas de inclusão e exclusão, as pautas dos povos indígenas, no contexto republicano (até 1964), e das populações afrodescendentes.

(EF09HI09) Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de movimentos sociais.

(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

(EM13CHS504) Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais, históricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.

Duração da atividade: 4 aulas de aproximadamente 50 minutos

Aulas Planejamento
01Etapa 1 e 2
02 Etapas 3
03Etapa 4
04Etapa 5

Conhecimentos prévios:

– Direitos sociais e trabalhistas no Brasil;

– Governo de Getúlio Vargas e o trabalhismo;

– Código de Leis Trabalhistas de 1943;


Atividade

Recursos: Projetor, copiadora de textos, caixa de som, computador, quadro, caderno, gravador de vídeo (uso do dispositivo de celular).

Etapa 1: A regulamentação do trabalho doméstico.

Na primeira aula, recupere a discussão sobre a forma como os direitos do trabalho foram instituídos no Brasil e o significado do Código de Direitos do Trabalho de 1943.

Dialogue com os estudantes sobre porque as trabalhadoras domésticas e trabalhadores rurais não foram incluídos no Código de Leis Trabalhistas (CLT) de 1943. Levante hipóteses e questionamentos dos estudantes sobre essa questão.

Etapa 2

Ainda na primeira aula, o docente deve fazer uma síntese da discussão feita em sala e preparar a turma para assistir a um vídeo.

Apresente o documentário Colchas de Retalhos (2019) para a turma.

Vídeo 1 – Colcha de Retalhos (2019)
Fonte: Colcha de Retalhos (2019). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tJw_xdmGcbM. Acesso em 27 jan.23

1) Considerando o documentário e testemunho de Nair Jane de Castro Lima, responda as perguntas abaixo:

a) Quais as características do emprego doméstico? Escreva um texto discutindo se são homens ou mulheres, qual o perfil de idade e raça no grupo, e quais as origens regionais das trabalhadoras.
b) Por que as empregadas domésticas tinham dificuldade de serem reconhecidas como trabalhadoras?
c) Discuta porque trabalhadoras domésticas criaram associações profissionais. Quais eram seus objetivos?

Etapa 3

Na segunda aula, faça uma síntese das informações e discussão do documentário problematizando o trabalho doméstico, suas características e as dificuldades para que ele fosse reconhecido e os direitos da categoria profissional fossem regulamentados.

Após esse diálogo inicial, apresente o texto abaixo, solicitando a leitura individual ou coletiva. É recomendado que cada estudante tenha uma cópia do mesmo.

Leia o texto sobre o trabalho doméstico e seu associativismo.

Trecho 1 – Associação Profissional de Empregados Domésticos: trabalhadores ou trabalhadoras?

A primeira Associação Profissional de Empregadas Domésticas foi criada em 1936, na cidade de Santos, por Laudelina de Campos Melo. Apesar disso, a categoria não foi incluída na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT/1943). Uma das justificativas era relativa à natureza do trabalho, desenvolvido no âmbito privado e familiar, além da ideia de que esse seria um trabalho que não geraria lucro. Outra dificuldade era atrair novos membros para as associações, compostas em sua maioria por mulheres.
Como relata a Associação Profissional dos Empregados Domésticos (APED) de São Paulo em 1968, a associação tinha poucos homens em seu quadro de associados, “uns 10”. A maioria deles trabalhava como jardineiro e tinha salário médio em torno de NCr$50,00 mensais, dependendo da especialização. Caso tivessem um conhecimento mais técnico e artístico, como decoração de jardim e ornamentação de flores, por exemplo, o ordenado poderia chegar a NCr$150,00 a NCr$200,00. No entanto, no caso deles, as horas de trabalho diárias eram bem menores.
Também era bastante desproporcional o número de homens associados à APED do Rio de Janeiro. Segundo Nair Jane de Castro Lima, a opção por chamar “Associação Profissional de Empregados Domésticos” era passada para ela como uma maneira de incentivar a participação masculina, algo que não surtiu efeito. Nair Jane aponta como o estigma e suposições a respeito da sexualidade desses trabalhadores também podem ter impactado na aproximação e no convívio na associação. “Ainda naquela época tinha aquele preconceito horroroso […]. Hoje graças a Deus isso melhorou. Mas ainda assim tinha que ter [o nome da Associação no masculino]”. Com aqueles que chegavam até a associação, os pontos de contato entre trabalhadoras e trabalhadores domésticos se resumiam aos baixos salários. “Eles achavam que tinham que ganhar do mesmo jeito, e a carteira tinha que ser assinada. Mas eles queriam que a carteira fosse assinada como jardineiro. Mas na época não era assim, era empregado e pronto”.
Ao perguntar sobre as estratégias formuladas pela APED-RJ para atrair um público mais amplo, que incluísse homens, Nair Jane lembra que:

Paras mulheres a gente tinha, mas pros homens não. Até mesmo porque eles não chegavam. Eles só vinham ao sindicato quando tinham problema com o patrão, e depois eles não apareciam mais. Eu tenho uma ficha aqui que eu fiz, a ficha do Sebastião, do dia que ele veio aqui reclamar. Nunca mais ele voltou aqui. Me deu a foto, preencheu tudo bonitinho. Pagou a primeira mensalidade, e pronto. Isso tem uns 10 anos. Nunca mais voltou aqui. (Entrevista Nair Jane, 2018)

Consta, inclusive, na resolução final do VI Congresso Nacional das Trabalhadoras Domésticas, de 1989: “um apelo aos homens que trabalham como domésticos para que se juntem à categoria, intensificando a luta por melhores condições de trabalho”.
Em relação a essa demanda dos empregados domésticos brasileiros, Inés Pérez (2017) mostra como os motoristas particulares argentinos buscaram se diferenciar da categoria de trabalhadores domésticos através da aprovação de uma legislação que os reconhecia enquanto categoria própria. Isso foi feito com base em uma defesa de que seus trabalhos necessitariam de um conhecimento técnico e profissional, o que os diferenciaria das demais atividades desenvolvidas no serviço doméstico. Pérez indica como essa identificação do trabalho dos choferes como um trabalho “moderno” e “produtivo” fez com que fossem objetos de políticas trabalhistas (e, portanto, de intervenção pública), enquanto a ideia de que outros tipos de trabalhos domésticos (“tradicionais e “não produtivos”, sob essa ótica), por estarem atrelados ao âmbito privado, não poderiam sofrer interferência governamental.
Carolyn Steedman (2013) indica que também na Inglaterra o trabalho doméstico masculino se diferenciou do feminino a partir da legislação. Ela aponta que desde os séculos XIII e XIX houve uma tentativa de regular e taxar os empregados domésticos masculinos a partir de uma retórica que envolvia classificá-los como desenvolvendo um trabalho de “luxo”, e portanto, passível de maior tributação. As mulheres eram, segundo essa legislação, apenas serventes domésticas, sem a necessidade de se detalhar sua capacidade e função conforme feito com o trabalho masculino.

Fonte: GETIRANA, Yasmin. “Sozinha não posso”: A Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro (1961-1973). Dissertação (Mestrado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 259p. 2021. Trecho adaptado dos capítulos 2 e 3.

1) Responda as perguntas abaixo:

a) Quais atividades podem ser consideradas como trabalho doméstico?
b) Como diferenciam-se o trabalho doméstico realizado por homens e mulheres?
c) O que pode ter contribuído para o pouco número de homens nas associações profissionais de trabalhadoras domésticas?
d) De que maneira a ausência de trabalhadores masculinos pode ter influenciado na atuação do movimento organizado da Associação das Profissional dos Empregados Domésticos (APED)?
e) Quais são as dificuldades encontradas pelas associações profissionais das domésticas para se mobilizar politicamente?

No final da aula, faça uma síntese sobre a forma como foram consolidados os direitos trabalhistas no Brasil e retome a questão das categorias profissionais que foram excluídas desses direitos sociais. Discuta como a regulamentação do trabalho doméstico foi realizada, a partir da luta das trabalhadoras.

Etapa 4

Na terceira aula, o professor deve solicitar que os estudantes se dividam em grupo (três a quatro pessoas) para realizar uma atividade.
O professor deve orientar os grupos na leitura dos documentos, discussão e elaboração das questões dentro de sala de aula. O resultado final das atividades 5 e 6 poderão ser feitas pelos grupos fora do espaço e horário escolar, sendo marcado um dia específico para apresentação deste trabalho.
1) Leia os documentos abaixo.

2) Identifique a data e os produtores dos documentos e discuta qual a importância desses testemunhos para compreendermos a história do movimento organizado de trabalhadoras domésticas. Preencha a tabela abaixo explicando a importância de cada fonte.

Documento 1
Documento 2

3) Ao contrário do senso comum, as conquistas das trabalhadoras domésticas foram mediadas por lutas e protestos sociais. A partir dos documentos acima, explique quais foram as estratégias adotadas pelas trabalhadoras domésticas.

4) Identifique e explique dois argumentos das trabalhadoras domésticas para terem sua profissão reconhecida e regulamentada.

5) Escreva uma história ficcional para um jornal, noticiando a criação de uma associação de trabalhadoras domésticas. É interessante que sejam definidos, individualmente ou em grupos, diferentes localidades para que a pesquisa não se restrinja apenas a um Estado/cidade. Peça para os alunos procurarem, se possível, fotos históricas de trabalhadoras domésticas para contextualizar suas histórias.
Tente desenvolver os seguintes pontos na notícia:

● Histórico da categoria, destacando figuras de liderança do movimento
● Principais problemas e demandas
● Objetivos a serem alcançados
● Principais atores com quem deve-se travar diálogo

6) Faça uma entrevista com um(a) trabalhador(a) doméstico(a), gravando um vídeo de cinco a dez minutos com o celular. O roteiro da entrevista deve cobrir os seguintes pontos:

● Origem familiar, escolaridade e profissão dos pais;
● Lugar de nascimento e estudo;
● Trajetória de como ingressou no trabalho doméstico;
● Informações sobre se o entrevistado é ou não sindicalizado ou se participa de algum tipo de associação ou luta social e política;
● E a pergunta: qual a importância da regulamentação do trabalho doméstico e dos direitos dessa categoria?

Etapa 5

Na última aula, o professor deve solicitar que os grupos apresentem as histórias ficcionais, lendo-as ou encenando, e apresente a gravação da entrevista feita com um(a) trabalhador(a) doméstico(a).

Bibliografia e Material de apoio:

COSTA, Joaze Bernardino. Sindicatos das trabalhadoras domésticas no Brasil: teorias da descolonização e saberes subalternos. 2007. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de Brasília, Brasília.

DAMASCENO, Caetana. Segredos da boa aparência: da” cor” à” boa aparência” no mundo do trabalho carioca (1930-1950). Edur UFRRJ, 2011.

GETIRANA, Yasmin. “Sozinha não posso”: A Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro (1961-1973). Dissertação (Mestrado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 259p. 2021.

GOMES, Ângela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo. 3. Ed, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira in: Movimentos Sociais Urbanos, Minorias Étnicas e Outros Estudos. Ciências Sociais Hoje, ANPOCS, v. 1980, 1982.

MARQUES, Teresa Crıstına de Novaes. Anatomia de uma injustiça secular: O Estado Novo e a regulação do serviço doméstico no Brasil. p.183-216, 2020.

MELO, Hildete Pereira; PESSANHA, Márcia Chamarelli; PARREIRAS, Luiz Eduardo. A economia política do serviço doméstico remunerado: rendimentos e luta sindical. Mulher e Trabalho, v. 5, 2011.

PÉREZ, Inés. Género y desigualdades en el mercado de trabajo: la desmarcación de los choferes particulares del servicio doméstico en la Argentina. Trabajo y sociedad, n. 29, p.25-39, 2017.

SANTOS, Maurício Reali. Nas fronteiras da domesticidade: experiências e lutas de trabalhadoras domésticas por direitos em Porto Alegre (1941-1956). Jundiaí, SP. Paco Editorial, 2021.

SILVA, Daniela Telles da. Eugenia, saúde e trabalho durante a Era Vargas. Em Tempo de Histórias, v. 1, n. 33, p. 190-213, 2019.

STEEDMAN, Carolyn. El trabajo de servir: las tareas de la vida cotidiana, Inglaterra, 1760-1820. Mora, n. 19, p. 101-126, 2013.


Créditos da imagem de capa: A foto apresenta as lideranças da Associação Profissional de Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro, com a legenda: “O reconhecimento da profissão de doméstica é uma das esperanças da líder Maria”. Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/1964.



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Contribuição Especial #24: 60 anos do Estatuto do Trabalhador Rural


Leonilde Servolo de Medeiros
Professora do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ. Bolsista do CNPq


No dia 2 de março de 1963, foi aprovado pelo Congresso Nacional, após sucessivas versões, o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), lei 4214/63. Por meio dele estendiam-se aos trabalhadores do campo direitos dos quais os urbanos do mercado formal já gozavam pelo menos desde a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943.

O ETR instituiu a obrigatoriedade da Carteira Profissional de Trabalhador Rural para pessoas maiores de 14 anos; jornada de trabalho de oito horas; repouso semanal remunerado; férias; estabilidade (ou seja, impossibilidade de demissão dos que contassem mais de dez anos de trabalho no mesmo estabelecimento, a não ser por falta grave ou circunstância de força maior, devidamente comprovadas); salário mínimo regional, do qual poderiam ser descontadas moradia e alimentação fornecidas pelo patrão, mas garantindo que pelo menos 30% do valor fosse pago em dinheiro; manutenção de escola primária gratuita, caso a propriedade mantivesse a seu serviço mais de 50 famílias. As  mulheres passavam a ter direito ao afastamento do trabalho seis semanas antes e seis depois do parto, podendo, em casos excepcionais, esses períodos serem aumentados para mais duas semanas cada um; dois descansos especiais, de meia hora, durante o trabalho diário, para amamentação, por pelo menos seis meses após o parto; repouso remunerado de duas semanas em caso de aborto.

O documento legal consolidou o direito à sindicalização. Os sindicatos deveriam ser reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social e a eles caberia celebrar convenções ou contratos coletivos; validar a demissão de trabalhador estável, caso ocorresse; manter serviços de assistência para os associados; promover a criação de cooperativas; fundar e manter escolas de alfabetização e pré-vocacionais. Poderiam se organizar em federações estaduais (mínimo de cinco sindicatos) e em uma Confederação Nacional, com, pelo menos, três federações. Foi instituído o imposto sindical, a que estavam sujeitos empregadores e trabalhadores rurais, bem como um Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural, sustentado pela contribuição de um por cento do valor dos produtos agropecuários, recolhida, na ocasião da venda, pelo produtor, ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). A este instituto caberia a prestação de serviços aos segurados e seus dependentes: assistência à maternidade; auxilio doença; aposentadoria por invalidez ou velhice; pensão em caso de morte; assistência médica; auxilio funeral.

O ETR previa também contrapartidas para os empregadores visando a modernização das atividades agrícolas: eles teriam prioridade para obtenção de financiamento no Banco do Brasil ou outro estabelecimento de crédito do Governo Federal para realização de obras de caráter social e educativo e preferência para operações de crédito e financiamento de entressafra e de benfeitorias, desde que suas instalações e serviços assistenciais se enquadrassem nas exigências da nova lei. Propunha ainda facilidades creditícias para importação ou aquisição no mercado interno de bens de produção que levassem ao aumento de produtividade, melhoria da qualidade ou preservação das safras.

O tema dos direitos no campo já era pautado desde o final do século XIX e início do século XX, quando da substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, envolvendo famílias que viviam no interior das fazendas. Nessa época ocorreram inclusive greves de colonos de café, nas quais estava em jogo, além do valor pago pelo que era colhido, o acesso a um lote de terra ou autorização para plantio de alimentos nas “ruas” dos cafezais.

Para além dos arranjos produtivos que se faziam país afora com base nos costumes locais e das denominações diversas que essas relações recebiam (agregação, colonato, morada), as marcas do passado escravista se reproduziam: eram comuns as denúncias de castigos físicos, expulsão das propriedades em caso de qualquer desafio à autoridade do dono ou do administrador da fazenda. O trabalho, via de regra, não era individualizado, mas envolvia toda a família: homens, mulheres, crianças, idosos. Era ela quem produzia. Em alguns cultivos, como o algodão, por exemplo, era comum o uso da parceria, na qual se estabeleciam formas de divisão do produto entre o trabalhador e o dono da terra. Caio Prado Jr. considerava toda essa gama de relações como “assalariamento disfarçado” e apontava para a importância política de reconhecê-las como assalariadas, portanto, capitalistas, contrapondo-se à leitura majoritária do Partido Comunista, que as caracterizava como semifeudais.

Frente a esse quadro complexo, com enormes variações regionais, não por acaso, no debate sobre a legislação trabalhista para o campo, eram trazidas, em especial pelas entidades patronais, questões como a própria definição legal do que era trabalhador rural (e, portanto, do alcance de direitos trabalhistas), as peculiaridades do trabalho no campo (marcado por ciclos mais intensos, nas épocas de plantio e colheita) e o direito à sindicalização. Os argumentos patronais, não raro, giravam em torno do risco de que as ideologias do meio urbano, entrando no meio rural, quebrassem as relações vigentes, fundadas, segundo eles, na reciprocidade e no respeito.

Entre os trabalhadores havia claros sinais de resistência e incipiente organização revelados, por exemplo, pelas greves que se intensificaram desde o fim do Estado Novo. Os jornais Terra Livre e Novos Rumos, ligados ao Partido Comunista, identificaram entre 1946 e 1964, 119 ocorrências, a grande maioria em São Paulo e Pernambuco. Nelas, eram constantes, tendo a CLT como parâmetro, referências ao não cumprimento da legislação, ao desconto habitação e à demanda por pagamento do salário mínimo. Nesse processo, teve papel importante o Partido Comunista, mas é preciso destacar também, a partir de final dos anos 1950, a presença crescente da Igreja Católica, com os Serviços de Orientação Rural do Nordeste e os Círculos Operários, inicialmente voltados para os trabalhadores urbanos, mas que se voltaram também aos rurais.

Cresceram, nessa época, os recursos à Justiça do Trabalho, em especial em São Paulo, levando à criação de uma jurisprudência que garantia direitos mínimos aos reclamantes. Ao longo desse processo, vai se constituindo a figura do “assalariado rural”, em luta por direitos trabalhistas, mas quase sempre acoplados à demanda por acesso à terra.

Em 1944, o Ministério do Trabalho, pelo Decreto-Lei nº 7.038, já havia estabelecido parâmetros para a sindicalização rural, propondo a organização de sindicatos de trabalhadores e de patrões, seguindo uma estruturação vertical conforme o modelo já existente na indústria e comércio. O decreto não foi regulamentado, por pressão do setor patronal. Com a volta de Getúlio Vargas à presidência da República, em 1951, o tema retornou. Em abril de 1954, o Executivo enviou um projeto ao Congresso propondo estabilidade ao trabalhador rural, limitação da jornada de trabalho, proteção à mulher e ao menor e filiação do trabalhador ao IAPI. Essas iniciativas, entretanto, mais uma vez esbarraram na oposição das entidades empresariais, como a Confederação Rural Brasileira e a Sociedade Rural Brasileira, de boa parte da imprensa e do próprio Congresso cuja maior bancada, a do Partido Social Democrático, tinha suas bases eleitorais no patronato rural.

Durante o governo de Juscelino Kubitschek, o Partido Trabalhista Brasileiro, liderado por Fernando Ferrari, tentou, embora sem êxito, obter aprovação para projetos que visavam a introdução da legislação trabalhista e previdenciária no campo. No governo de João Goulart, o Executivo retomou o tema e encaminhou ao Congresso um projeto de lei de autoria de Fernando Ferrari que, após receber algumas emendas, tornou-se o ETR.

A aprovação da nova lei se fez num contexto muito marcante de crescimento do número de associações de lavradores em todo o país; da criação das Ligas Camponesas no Nordeste; de visibilização de lutas por terra, seja de posseiros, seja dos que estavam ameaçados de expulsão do interior das fazendas; de greves; de realização de inúmeros encontros de trabalhadores do campo; de criação, já em 1954, de uma organização nacional, a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab) e de realização do I Congresso Camponês de Belo Horizonte em 1961, com a presença da diversidade de organizações então existentes. Essa intensa mobilização colocava na pauta o debate tanto sobre direitos trabalhistas quanto sobre a necessidade de uma reforma agrária, tema que polarizou as forças políticas e compunha a agenda como uma das mais polêmicas reformas de base propostas no governo Goulart.

Um ano depois da aprovação do ETR sobreveio o golpe militar, as organizações de trabalhadores foram perseguidas e ficou fragilizada a possibilidade de pressão coletiva para seu cumprimento.

Em 1973, a lei 5.889 estendeu as disposições da CLT aos trabalhadores rurais, exceto no que se refere ao prazo de prescrição dos direitos (dois anos, contados a partir da data em que se encerrasse o contrato de trabalho, ao contrário dos trabalhadores urbanos, cujo direito prescrevia dois anos após ele ter sido infringido) e estabilidade. A Constituição de 1988 igualou os direitos entre rurais e urbanos.

Falar das conquistas legais e da importância do ETR, implica mencionar as profundas transformações nas condições de trabalho no campo ocorridas ao longo do processo de modernização da agricultura brasileira que se intensificou a partir dos anos 1960. A crescente transformação tecnológica tornou cada vez menos necessário ter trabalhadores morando na fazenda, uma vez que diversas fases do processo produtivo passaram a ser realizadas por máquinas (aragem, plantio) ou por insumos químicos (uso de venenos para eliminar pragas). Em resultado, cresceu a expulsão de trabalhadores das propriedades, criando a figura do trabalhador volante, boia-fria ou de ponta de rua (denominações locais), que mora nas periferias das pequenas e médias cidades e é recrutado por agenciadores de mão-de-obra para trabalho temporário, sem vínculo empregatício, na colheita de frutas, de café, algodão, corte de cana etc. Estes trabalhadores não gozam de quaisquer direitos trabalhistas. Entre eles estão o que hoje chamamos de trabalho escravo contemporâneo. Aos 60 anos do Estatuto do Trabalhador Rural, ainda falta muito para a legislação trabalhista efetivamente chegar ao campo.


PARA SABER MAIS:

  • Camargo, Aspásia A. A questão agrária: crise de poder e reformas de base (1930-1964). In: O Brasil republicano. Vol 3, Fausto, Boris (org.). São Paulo: Difel, 1981, p. 121-224. (História Geral da Civilização Brasileira)
  • Prado, Jr. Caio. A revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1987.
  • Prado Jr. Caio. O Estatuto do Trabalhador Rural. In Prado Jr., Caio. A questão agrária no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1979, 2ª. ed., p. 142-160.
  • Ferrari, Fernando. Os escravos da terra. Porto Alegre: Globo, 1963.
  • Sigaud, Lygia M. Os clandestinos e os direitos. Estudo sobre os trabalhadores do açúcar em Pernambuco. São Paulo: Duas Cidades, 1979.
  • Silva, Fernando Teixeira da. Justiça de classe. Tribunais, trabalhadores rurais e memória. Revista Mundos do Trabalho, vol. 4, 8, jul-dez. 2012, p. 124-160.
  • Stolcke, Verena. Cafeicultura. Homens, mulheres e capital (1850-1980). São Paulo: Brasiliense, 1986.
  • Welch, Clifford A. A semente foi plantada. Raízes paulistas do movimento sindical camponês no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

Crédito da imagem de capa: Sessão do 1º Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, novembro de 1961. Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/reforma-agraria-na-lei-ou-na-marra

Vozes Comunistas #20: Lucia de Souza



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Entre março de 2022 e março de 2023 homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a divulgação de trechos de entrevistas de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base que contam um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil.

Em nosso vigésimo episódio apresentamos trechos de uma entrevista com a tecelã Lúcia de Souza. Nascida em 1920 na cidade de Magé/RJ, uma das “Moscouzinhas” brasileiras, Lúcia começou a trabalhar em uma fábrica de tecidos ainda na adolescência. Sua indignação com as precárias condições de vida da classe trabalhadora fez com que ingressasse na luta sindical e na militância comunista entre as décadas de 1940 e 1960. No trecho da entrevista que ouviremos, Lúcia de Souza aborda o início de seu trabalho na fábrica, as percepções de sua negritude e seu envolvimento nas lutas operárias e sindicais. Também trata sobre a atuação do PCB, a cassação do partido e as perseguições aos seus militantes, além de expor seus conflitos em se afirmar como comunista. Essa voz é apresentada pela historiadora Juçara da Silva Barbosa de Mello (PUC-Rio).

Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes
Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto

Referência da entrevista: A entrevista é parte do documentário “Tear”, dirigido por Taiane Linhares, em 2013.

Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quinto episódio, conversamos com César Queiroz, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Marcos Braga, professor da rede pública estadual de educação do Amazonas e doutorando do programa de pós-graduação em História da UFAM. Os convidados são organizadores do livro Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson. A obra é produto da disciplina “Trabalho e movimentos sociais na Amazônia”, oferecida no PPGH/UFAM, em 2024, em homenagem ao centenário de Edward Thompson, sendo o foco do curso debater as contribuições thompsonianas e as polêmicas que o envolveram ao longo de sua vida. Os/as alunos/as da disciplina elaboraram verbetes que fazem parte da composição desta breve dicionário. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  2. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  3. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  4. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  5. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo

Artigo “As mulheres na União dos Operários em Fábricas de Tecidos: atuações, obstáculos e negociações (Rio de Janeiro, 1926-1930)” – Isabelle Pires


O artigo intitulado “As mulheres na União dos Operários em Fábricas de Tecidos: atuações, obstáculos e negociações (Rio de Janeiro, 1926-1930)” de autoria de Isabelle Pires, doutoranda pelo PPGHIS/UFRJ e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, foi publicado na revista Tempos Históricos.

Buscando contribuir para o debate sobre história das mulheres e sindicalismo, o texto analisa como as operárias têxteis partilharam dessa cultura sindical na União dos Operários em Fábricas de Tecidos e procuraram defender suas próprias pautas por dentro dos limites possíveis.

O artigo está disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/view/28459/21264


Crédito da imagem de capa: Jornal do Brasil. 25/10/1917. p. 7.

LMT #120: Vila Operária de Batatuba, Piracaia (SP) – Lilian Pires Staningher


Lilian Pires Staningher
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Unicamp


A história da vila operária de Batatuba, fundada em 1942 pela Companhia de Calçados Bata em Piracaia (SP), é um exemplo significativo do processo de industrialização nesta região do país. Instalada às margens da malha ferroviária, uma herança da produção do café na região Bragantina, essa localização garantia a logística na produção e na distribuição de calçados, ao mesmo tempo que mantinha a vila distante dos centros urbanos e de mobilizações sindicais, facilitando assim o controle social dos trabalhadores.

Em 1939, estimulada pela política desenvolvimentista do governo Vargas, a indústria de calçados tcheca Bata planejou a construção de dez fábricas com vilas operária  espalhadas pelo país , sendo apenas quatro parcialmente construídas. A mais importante delas foi a Vila de Batatuba em Piracaia. Planejada para dez mil habitantes como um modelo híbrido industrial-rural, a fábrica da Bata já empregava quase mil operários em 1940. Uma parte significativa deles era composta de lavradores, majoritariamente negros, aos quais se somaram imigrantes vindos de áreas em conflito na Europa, particularmente os funcionários da matriz da empresa Bata e seus familiares.

Batatuba foi construída sob uma tipologia urbanística denominada “Plano da Cidade Ideal Bata”, desenvolvida durante o entreguerras, na sede da companhia de calçados em Zlìn, na Tchecoslováquia. O plano, pensado para ser uma sociedade industrial ideal, previa a construção de escolas primária e técnica, além de espaços destinados a esportes, saúde e lazer, alojamento para rapazes solteiros e uma centena de moradias para operários e  funcionários graduados, incluindo membro da família Bata. A vila também contava com uma extensa infraestrutura básica, com redes de distribuição elétrica, de água e de coleta de esgoto.

O complexo foi edificado baseado em uma arquitetura vernacular, exceto a casa do empresário tcheco, Jan Antonin Bata,  que assumiu o comando das empresas em 1932, após a morte de seu meio irmão, fundador e idealizador da companhia, Tomàs Bata. Sua residência foi construída no estilo modernista. O higienismo foi uma marca na urbanização das vilas Bata, com um padrão de casas isoladas nos lotes e intercaladas entre si, ensolaradas e bem ventiladas. O sistema construtivo aliava técnicas desenvolvidas localmente ao modelo urbanístico Bata, como um aspecto do modus operandi da empresa para otimização do uso de material e da mão de obra.


O desenho urbano de Batatuba, assim como em outros complexos Bata , estava intrinsecamente relacionado ao modelo de produção da indústria. Pretendia-se que desempenho do operário na produção estivesse vinculado às atividades dele fora do ambiente de trabalho, mantendo o trabalhador num processo contínuo de capacitação e controle.


Um exemplo eram as atividades esportivas impostas pela empresa que se refletiam diretamente nas relações entre as equipes de trabalho e na disciplina fabril. As hierarquias e relações de dependência internas à fábrica se reproduziam na Vila. Os cargos técnicos ou de gerência eram ocupados especialmente pelos europeus, que também eram os professores dos cursos técnicos da escola na vila, assim como moravam nas maiores residências.

A indústria calçadista em Batatuba, chegou a empregar cerca de dois mil trabalhadores, mas, apesar da existência da Vila e suas boas condições, a rotatividade na fábrica parece ter sido alta, em particular em seus primeiros anos de existência. Relatos de antigos operários indicam as dificuldades dos trabalhadores locais com as novas tecnologias e com o  sistema de controle social dentro e fora da fábrica, orientado por um rígido código de conduta. Os funcionários europeus também tiveram dificuldades de adaptação.  Muitos abandonaram a vila e migraram para países como Canadá e Estados Unidos , ou retornaram para a Europa após o final da 2ª Guerra.

A Bata transformou a base econômica do município de Piracaia, tornando-a um dos principais polos industriais calçadistas do país até o final dos anos 1990. Muitas das pequenas fábricas de calçados que ainda resistem foram fundadas por antigos funcionários graduados da Bata. Após as mortes de Jan Antonin em 1965, e de seu filho, Jan Thomas quase uma década depois, a empresa sofreu um forte abalo administrativo, que foi agravado pela maior concorrência local, levando a empresa a um pedido de sua falência em 1983.

A vila, há quarenta anos sub judice devido ao processo de falência, ainda se encontra preservada em quase a totalidade de seu conjunto arquitetônico. Apesar da pouca manutenção nas edificações, como exemplo parte dos galpões das fábricas que se encontram quase em ruínas, este complexo fabril mantém o uso primário das construções, imóveis locados e administrados pela massa falida, tendo como locatários antigos funcionários ou seus filhos, mas também novos moradores e comerciantes.

Em 2007, o plano diretor municipal reconheceu a importância do conjunto e orientou para preservação da vila operária, bem como da história dos trabalhadores locais.  Em 2012, com a forte pressão do setor imobiliário, o poder público alterou a lei, sendo retirada a proteção municipal. Desde então, algumas ações de resgate e visibilidade para salvaguarda deste patrimônio industrial, como eventos culturais e as celebrações de Primeiro de Maio têm sido realizadas pela sociedade civil local, o que resultou na abertura de um processo de Tombamento pelo CONDEPHAAT em 2018, que ainda não foi concluído.

Vila operária, com campo de futebol e quadra de tênis abaixo, moradias operárias acima, com hotel para solteiros no alto à direita, cinema e escola à esquerda (Foto; arquivo antiga fábrica de Batatuba)

Para saber mais:

  • ARCHANJO, F. M. O Mundo Compreenderá – A História de Jan Antonin Bata – O Rei do Calçado. Gráfica Editora Aurora Ltda., Rio de Janeiro, 1951.
  • BATA, J.A. A Study of Migration. Batatuba, 1951 Disponível em: <http://digilib.k.utb.cz/handle/10563/26346>.
  • BOTAS, N. C. A.; KOURY, A. P. A. Cidade Industrial Brasileira e a Política Habitacional na era Vargas (1930-1954). Urbana, v. 6, n. 8, 2014.
  • COSTA, Georgia Carolina Capistrano Da. As cidades da Companhia Bata (1918-1940) e de Jan Antonin Bata (1940-1965): relações entre a experiência internacional e a brasileira. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/102/102132/tde-24012013-154637/
  • STANINGHER, L.P. Batatuba: Vila Industrial da Companhia de Calçados Bata no interior de São Paulo – 1942. (Mestrado em História) Universidade Estadual de Campinas. 2018. Disponível em: https://1library.org/document/zg8103vy-batatuba-vila-industrial-companhia-calcados-interior-sao-paulo.html

Crédito da imagem de capa: Operários no interior da fábrica de calçados, década de 1940 (Foto; arquivo antiga fábrica de Batatuba)


MAPA INTERATIVO

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Lugares de Memória dos Trabalhadores

As marcas das experiências dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros estão espalhadas por inúmeros lugares da cidade e do campo. Muitos desses locais não mais existem, outros estão esquecidos, pouquíssimos são celebrados. Na batalha de memórias, os mundos do trabalho e seus lugares também são negligenciados. Nossa série Lugares de Memória dos Trabalhadores procura justamente dar visibilidade para essa “geografia social do trabalho” procurando estimular uma reflexão sobre os espaços onde vivemos e como sua história e memória são tratadas. Semanalmente, um pequeno artigo com imagens, escrito por um(a) especialista, fará uma “biografia” de espaços relevantes da história dos trabalhadores de todo o Brasil. Nossa perspectiva é ampla. São lugares de atuação política e social, de lazer, de protestos, de repressão, de rituais e de criação de sociabilidades. Estátuas, praças, ruas, cemitérios, locais de trabalho, agências estatais, sedes de organizações, entre muitos outros. Todos eles, espaços que rotineiramente ou em alguns poucos episódios marcaram a história dos trabalhadores no Brasil, em alguma região ou mesmo em uma pequena comunidade.

A seção Lugares de Memória dos Trabalhadores é coordenada por Paulo Fontes.

Vozes Comunistas #19: Julieta Battistioli


Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Entre março de 2022 e março de 2023 homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a divulgação de trechos de entrevistas de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base que contam um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil.
Em nosso décimo nono episódio apresentamos trechos de uma entrevista com a operária têxtil Julieta Battistioli. Nascida em Palmares do Sul, cidade próxima à Porto Alegre, migrou para a capital ainda nova e sempre morou em bairros operários. Começou a trabalhar como tecelã aos 13 anos de idade e com o tempo projetou-se como uma importante liderança dentro da fábrica e, inclusive, no bairro, além de iniciar uma ativa militância no Partido Comunista, sobretudo a partir da redemocratização e do período de legalidade experienciado pela legenda. Julieta fazia parte da célula comunista Olga Benário e, em 1947, foi eleita para a Câmara Municipal de Porto Alegre como suplente do metalúrgico Eloi Martins. No trecho que ouviremos, ela fala sobre o momento em que desrespeitou uma ordem do partido e, consequentemente, foi “escrachada” nas páginas do periódico Tribuna Gaúcha, além de expulsa do partido. Essa voz comunista é apresentada pelo historiador Guilherme Nunes.

Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes
Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto

Referência da entrevista: Entrevista Julieta Battistioli, 1990. Entrevistador: Francisco Carvalho Júnior. Núcleo de Pesquisa em História da UFGRS- NPH.

Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quinto episódio, conversamos com César Queiroz, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Marcos Braga, professor da rede pública estadual de educação do Amazonas e doutorando do programa de pós-graduação em História da UFAM. Os convidados são organizadores do livro Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson. A obra é produto da disciplina “Trabalho e movimentos sociais na Amazônia”, oferecida no PPGH/UFAM, em 2024, em homenagem ao centenário de Edward Thompson, sendo o foco do curso debater as contribuições thompsonianas e as polêmicas que o envolveram ao longo de sua vida. Os/as alunos/as da disciplina elaboraram verbetes que fazem parte da composição desta breve dicionário. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  2. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  3. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  4. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  5. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo

Os mundos do trabalho e a Independência do Brasil


Está no ar o novo número da Revista Latinoamericana de Trabajo y Trabajadores, a edição traz uma secção de debates com a temática “Os mundos do trabalho e a Independência do Brasil”. Os textos apresentam uma ampla e inovadora agenda de pesquisas em curso sobre a diversidade de trabalhadores (livres e escravizados) nas lutas independentistas e sobre o lugar dos trabalhadores no processo de independência e em sua historiografia. A coletânea é um desdobramento da série “Mundos do Trabalho e Independência”, que foi realizada no último ano com produção do LEHMT-UFRJ, em parceria com o LEDDES –UERJ e com o Laboratório de Pesquisas em Conexões Atlânticas – PUC-Rio. A organização ficou a cargo de Felipe Azevedo e Souza (PUC-Rio) e Renata Moraes (UERJ), com o apoio de Thompson Clímaco (LEHMT-UFRJ) e Natalia Almeida (LEHMT-UFRJ).

Confira no link: https://revista.redlatt.org/revlatt/article/view/71/53

Vozes Comunistas #18: Joaquim Batista Neto



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Entre março de 2022 e março de 2023 homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a divulgação de trechos de entrevistas de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base que contam um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil.
Em nosso décimo oitavo episódio apresentamos trechos de uma entrevista com Joaquim Batista Neto. Migrante cearense no Rio de Janeiro, Batista Neto entrou para o PCB no início dos anos 1930, quando trabalhava no Moinho Fluminense. Em 1938 tornou-se operário do Arsenal da Marinha, onde se destacou como liderança sindical. Foi eleito deputado constituinte pelo PCB em 1945. No trecho que ouviremos, ele fala sobre sua campanha eleitoral e atuação na Constituinte de 1946, além de relatar suas desavenças com o partido após a ilegalidade e cassação dos mandatos dos parlamentares no final dos anos 1940. Essa voz comunista é apresentada por Sérgio Braga, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes
Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto

Referência da entrevista: Entrevista Joaquim Batista Neto, 1987. Núcleo de Documentação e Laboratório de Pesquisa Histórica (NUDOC) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quinto episódio, conversamos com César Queiroz, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Marcos Braga, professor da rede pública estadual de educação do Amazonas e doutorando do programa de pós-graduação em História da UFAM. Os convidados são organizadores do livro Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson. A obra é produto da disciplina “Trabalho e movimentos sociais na Amazônia”, oferecida no PPGH/UFAM, em 2024, em homenagem ao centenário de Edward Thompson, sendo o foco do curso debater as contribuições thompsonianas e as polêmicas que o envolveram ao longo de sua vida. Os/as alunos/as da disciplina elaboraram verbetes que fazem parte da composição desta breve dicionário. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  2. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  3. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  4. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  5. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo

Livro: Uma cidade em Preto e Branco: Relações Raciais, Trabalho e Desenvolvimentismo em Volta Redonda (1946-1988), de Leonardo Ângelo


 Foi lançado o livro “Uma cidade em Preto e Branco: Relações Raciais, Trabalho e Desenvolvimentismo em Volta Redonda (1946-1988)”, de autoria de Leonardo Ângelo da Silva, Doutor em História pela UFRRJ e pesquisador do LEHMT-UFRJ. O livro trata da classe trabalhadora da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), um dos símbolos das mudanças implementadas pela era Vargas. Para a produção na fábrica a CSN interligava matérias-primas e mão de obra de vários estados (MG, SC, SP e RJ), nos revelando um complexo, e se o polo produtor de aço era a localidade de Volta Redonda o discurso de família siderúrgica e paz social abrangia todos as localidades da empresa. Modernidade e progresso são discursos constantes mesmo em tempo de Ditadura, contudo, que outras constantes poderiam ser levantadas para uma empresa iniciada há 53 anos da abolição?

Revisitando o período e as produções é que o autor evidencia a raça-cor da classe trabalhadora e para tanto se utiliza de fotos e periódico da própria CSN, além de entrevistas com personagens da CSN. Assim, se como classe os trabalhadores tiveram acesso à educação e melhores salários, foi como trabalhadores negros que foram excluídos dos clubes da própria fábrica ou inseridos em áreas mais insalubres. A combinação entre raça e classe deixa mais evidente os laços entre o pós-abolição e os mundos do trabalho.

Para adquirir a obra:

Amazon: https://a.co/d/6aDHCqV
Editora Appris: https://www.editoraappris.com.br/produto/6657-uma-cidade-em-preto-e-branco-relaes-raciais-trabalho-e-desenvolvimento-em-volta-redonda-1946-1988