Vale Mais #15 – Biografia e Militância Feminina



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #15 do Vale Mais é sobre Biografia e Militância Feminina.

Este é sétimo episódio da segunda temporada do podcast Vale Mais. Nesta temporada realizamos uma série de conversas com jovens doutores/as no campo da História Social do Trabalho. Eles/as explicam seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, conversamos com Roger Camacho, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH-UFRGS). Roger defendeu a tese “Entre lágrimas, sorrisos e muita luta: a inserção das mulheres nos espaços políticos do Brasil por meio das trajetórias de três militantes de esquerda – Lélia Abramo (1911 –2004), Luíza Erundina de Sousa (1934 –) e Irma Passoni (1943 -)”, sob orientação de Benito Bisso Schmidt. Em nossa conversa, Roger enfatiza a importância de evitar generalizações ao estudar os sujeitos históricos. Com um amplo escopo de fontes nosso convidado enfrentou os temas da memória e da escrita de si em um desafio que envolve diversos campos de estudos como gênero, trabalho, religiosidade e história política.

Dica da entrevistado: Revolução em Dagenham (filme)

Produção: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias
Roteiro: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz Vale Mais

Está no ar o quarto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quarto episódio, conversamos com Itan Cruz, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre sua tese Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil (1880-1889). Ao longo da conversa, Itan mostra como investigou de que maneira políticos baianos, como Saraiva, Dantas e Cotegipe, influenciaram os últimos anos do cativeiro no Brasil. Entre jogos de poder, alianças improváveis e disputas internas, revelamos como o baianismo atravessou gabinetes, salões, senzalas e até as relações íntimas do Império. Para saber mais, ouça o episódio. E não deixe de acompanhar a nova temporada do Vale Mais! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  2. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  3. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  4. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  5. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus

Chão de Escola #17: Trabalhadores migrantes no Brasil republicano – trajetórias, memórias e políticas públicas, por Márcio Romerito da Silva Arcoverde



Professor Márcio Romerito da Silva Arcoverde (CODAI-UFRPE)



Apresentação da atividade

Segmento: 2º e 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Dinâmica histórico espacial dos trabalhadores migrantes na República.

Objetivos gerais:

– Estimular a discussão sobre memórias, identidades, migrações e patrimônios da classe trabalhadora brasileira;
– Discutir acerca dos espaços de memórias e criações de políticas referentes à classe trabalhadora;

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS201) Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.(EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas. 
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2
03Etapa 3

Conhecimentos prévios:

– Industrialização e migrações rural-urbano na Primeira República;
– Migrações nacionais na República anos 1940-1970;


Atividade

Recursos: Projetor, impressora, mapas.

Etapa 1:  Trabalhadores livres e as fábricas têxteis em Pernambuco na Primeira República

A turma deverá assistir ao documentário “Tecido Memória” de José Sérgio Leite Lopes, Rosilene Alvim e Celso Brandão. (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3yki-hUp6LE)  até o  minuto 11:41,  fazer a leitura da fonte nº 1e analisar as imagens das localizações das fábricas têxteis (fonte nº 2).

Fonte nº1 

Esse trecho se refere à uma contextualização dos ambientes de migração internos no estado de Pernambuco no início do século XX. Migrações oriundas dos interiores, principalmente da zona canavieira, para as cidades e, grande parte, para as fábricas têxteis de Recife e cidades circunvizinhas:

Em Nordeste, Gilberto Freyre relata que ele e vários colaboradores tentaram empreender um estudo detalhado das condições dos trabalhadores na Zona da Mata em 1935, mas que seus esforços foram prejudicados pela má vontade dos fazendeiros. Não permitindo acesso a seus domínios, os proprietários desencorajaram a equipe e forçaram-na a abandonar o projeto. Um dos colegas de Freyre, seu tio Ulisses Pernambucano, fez um estudo sobre os trabalhadores urbanos, publicado em 1937. A experiência deles ilustra os desafios que os cientistas sociais enfrentavam então nos ambientes rurais. Até o final da década de 1940, pesquisa, reforma e consultoria, com suas limitações, estavam essencialmente restritas às cidades.
Como esclarecem várias referências à migração do campo para a cidade durante os anos 1920, havia importantes conexões entre as duas esferas nesse período, quando metade da classe trabalhadora do Recife era constituída por gente vinda do interior do Estado. Esse movimento precedeu a migração em larga escala de nordestinos para cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, no centro sul, ao longo das décadas seguintes, processo que ajudou a transformar o Brasil no país urbano de hoje. (…) Muitos trabalhadores que foram para o recife eram certamente da zona dos canaviais, considerando-se que ela abrigava metade da população do estado. A taxa de migração urbana, muito alta, chegou a 13% nas primeiras quatro décadas do século e se acelerou ainda mais depois. Uma indústria têxtil de porte e uma população em rápido crescimento se desenvolveram no Recife sob o olhar vigilante das autoridades do estado.”

Rogers, Thomas D.. As feridas mais profundas: uma história do trabalho e do ambiente do açúcar no Nordeste do Brasil. Tradução Gilson César Cardoso de Sousa. – 1 . ed. – São Paulo: Editora Unesp, 2017. p 130-131

Fonte nº 2

Tabela com as fábricas têxteis em Pernambuco no ano de 1928 e suas localizações geográficas.

Santos, Emanuel Moraes Lima dos. A fábrica de tecidos da Macaxeira e a Vila dos Operários : a luta de classes em torno do trabalho e da casa em uma fábrica urbana com vila operária (1930-1960) / Emanuel Moraes Lima dos Santos. – 2017. 471 f. Dissertação de Mestrado p. 440.

Mapa de Pernambuco

Fábricas localizadas na região da Mata e metropolitana

CTP – Companhia de Tecidos Paulista
CIP- Companhia Industrial Pernambucana
SCBB- Société Cotonnière Belge Brésilienne

Fábricas situadas em Recife

Após leitura dos textos e assistir ao trecho do documentário deve-se responder às seguintes perguntas:

1.  Como as fábricas têxteis foram importantes para o processo de urbanização de Pernambuco?
2. Conforme o documentário aborda, analise e construa um perfil dos trabalhadores e trabalhadoras que migravam para as fábricas têxteis por faixa etária, origem, raça/etnia, gênero e forma de ingresso.
3. Grande parte dessas fábricas têxteis construídas nos arredores de Recife deram origem a cidades, como é o caso de Moreno, Paulista, Escada e Camaragibe. Qual a importância de se entender o passado operário dessas cidades para a memória local desses municípios e construção de políticas públicas de valorização do passado operário?


Etapa 2: Trabalhadores e migrações Nordeste-Sudeste.  

Ao iniciar a aula o (a) professor  (a) deve pedir para que os (as) alunos (as) escrevam em seu caderno porque eles acreditam que existem tantos nordestinos que saíram de seus estados e foram trabalhar em São Paulo e no Rio de Janeiro. Depois que cada aluno fizer o solicitado o (a) professor (a) deverá distribuir a fonte nº 3 entre os (as) alunos (as) e pedir que leiam. Em seguida escutar com a turma a música da fonte nº 4.

Fonte nº3 

“Vilarejo de caem, município de Jacobina, interior da Bahia, dezembro de 1947. Ansioso, Artur Pinto de Oliveira despede-se da família e deixa para trás a casa e o sítio onde vivera seus primeiros 17 anos de vida. O rapaz, cheio de esperanças de uma vida melhor e com “aquele sonho de estudar na cabeça”, contaminara-se com a “febre da época”: São Paulo. “Naquele tempo todo nordestina sonhava em vir para São Paulo. São Paulo virou o céu, era o paraíso”, relembra mais de 50 anos depois.
Artur seguia os passos do irmão mais velho que mudara alguns meses antes e já estava trabalhando como operário na Cia. Nitro Química Brasileira. (…) juntamente com outras centenas de migrantes, Artur espremia-se na segunda classe do barco localizado no porão. Aquilo “era como um navio negreiro de escravos africanos”, comparou, “você não via nada. Cheio de gente, uma promiscuidade danada, uma escuridão, um mau cheiro…”. A viagem só não foi pior porque Artur, conversador, fez amizade com “um senhor de Goiás, uma pessoa formada, muito educada e comunicativa” e passou aqueles dias discutindo “porque o Nordeste era paupérrimo e as pessoas todas migravam para outras regiões”. Mesmo tão jovem, Artur já tinha as suas “teses de achar o porquê que não se resolviam os casos no Nordeste” e propunha o aproveitamento das águas do São Francisco e do Amazonas para um amplo sistema de irrigação na região. (…) Também em 1948, Augusto Ferreira Lima deixou sua terra natal. Filho de um pequeno proprietário que vivia de suas plantações de laranjas em Alagoinhas, agreste baiano, Augusto Lima, aos 25 anos, decidira que era hora de tentar a sorte no sul. (…)
As trajetórias de Artur e Augusto não são incomuns. Na verdade, são relatos paradigmáticos de experiências similares de milhões de brasileiros e brasileiras. A grande migração de trabalhadores das regiões rurais para as cidades foi um dos fatores marcantes da história social brasileira na segunda metade do século XX. A região metropolitana de São Paulo (como principal receptora) e o Nordeste (como origem de grande parte dos migrantes) possuem papel central nesse processo. A figura do trabalhador nordestino escapando da fome, miséria e, periodicamente, das secas chegando à metrópole industrial em busca de emprego e melhores condições de vida tornou-se um símbolo da migração no imaginário social brasileiro. São Paulo transformou-se no local de moradia e emprego para milhões de migrantes nordestinos.”

FONTES, Paulo. Um nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66)- Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. p 41-43.

Fonte nº 4

Música “Pau de arara”, de Luiz Gonzaga. 

https://www.youtube.com/watch?v=0-0x4bFRWqc

Após a leitura e escuta da música os (as) alunos (as) deverão responder:

1.  Relacione as histórias de Artur e Augusto, descritas na fonte nº 3, com a música de Luiz Gonzaga (fonte nº 4) buscando semelhanças entre as trajetórias. 
2. Você conhece alguma história/pessoa/museu/já leu sobre o processo de trabalhadores que migraram do Nordeste para algum estado do Sudeste? Se sim, descreva. Se não, pesquise sobre a criação da cultura e presença de trabalhadores nordestinos em outras regiões do país.
3. As mãos de trabalhadores e trabalhadoras nordestinas estão na construção de várias cidades do Brasil. Como essas cidades de grandes comunidades nordestinas poderiam construir espaços de memórias desses trabalhadores e trabalhadoras como parte integrante de seu processo formativo? 


Etapa 3  

O (a) professor (a) deve distribuir as fontes nº 5 e nº 6 entre os (as) alunos (as). Nesse momento, o (a) professor (a) deverá estimular a reflexão sobre essa intensa cadeia migracional oriunda do Nordeste e como os trabalhadores e trabalhadoras nordestinas migraram entre as décadas de 1930-1970 por todo o país, sobretudo, para São Paulo.

Fonte nº5 

“A meu ver, a fome que o Nordeste está atravessando, a miséria aguda, que se exterioriza mais gritante, mais negra e mais trágica nesta época de calamidade, é mais fenômeno de ordem social do que natural. Mais do que a seca, o que acarreta esse estado de coisas é o pauperismo generalizado, a proletarização progressiva do sertanejo, sua produtividade mínima, insuficiente, que não lhe permite possuir nenhuma reserva para enfrentar as épocas difíceis, as épocas das vacas magras, porque já não há lá, nunca, épocas de vacas gordas. Mesmo quando chove, sua produtividade é miserável, sua renda é mínima, de maneira que ele está sujeito a viver na miséria relativa ou na miséria absoluta, segundo haja ou não inverno na região do sertão.
E que causas determinam esse estado social, esse estado de estagnação econômica e de proletarização progressiva da região do sertão? A meu ver, a causa essencial, central, contra a qual temos de lutar todos, é o regime inadequado da estrutura agrária da região, o regime impróprio com o grande latifundiarismo, ao lado do minifundiarismo, reinantes no Nordeste do Brasil. Sendo esta uma região, por excelência agrícola, desde que 75% das populações do Nordeste vivem de atividades rurais, 50% da renda sendo retirados da agricultura, ele só poderia sobreviver e desenvolver-se, se a agricultura fosse compensadora, fosse produtiva. Infelizmente, não o é. Porque o latifúndio é o irmão siamês do arcaísmo técnico. Nessas áreas latifundiárias, se pratica uma agricultura primária, uma proto-agricultura, sem assistência técnica, sem adubação, sem seleção de sementes, sem a mecanização, e pelos processos mais rudimentares, exaurindo a força do pobre sertanejo para produzir menos do que o suficiente para matar sua fome.
O latifúndio nessa região é representado pelo fato estatístico significativo de que, de 1940 a 1950, de acordo com o Recenseamento demográfico e agrícola, longe de diminuir o tamanho médio da propriedade agrícola, no Nordeste, este tamanho aumentou e vem aumentando de tal forma que, hoje, no Nordeste, apenas 20% dos habitantes das regiões rurais possuem terra; 80% trabalham como arrendatários, como parceiros ou como colonos, porque a terra é monopolizada por pequeno grupo.
Para mostrar a que extremo chega esse monopólio, basta referir o fato de que 50% da área total do Nordeste são açambarcados por 3% dos proprietários rurais.
Por outro lado, encontramos mais de 50% das propriedades contendo mais de 500 hectares. Há centenas de propriedades de mais de 100.000 hectares.”

O desequilíbrio econômico nacional e o problema das secas. In: Documentário do Nordeste. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.

Fonte nº 6

“Essa é uma história da plantation açucareira no Nordeste do Brasil. A história de um vasto e sofisticado espaço de liberdade contingente. Um espaço no qual o direito de agir segundo o livre arbítrio de quem em seu interior vivia era limitado por uma geografia que congregava- ao mesmo tempo e de forma indissociável- elementos ecológicos (geomorfoclimáticos, climáticos, edáficos, hidrográficos, biológicos…); estruturais (rede viária, sistema de transporte…) e também históricos/simbólicos/culturais (relações de classe, omissão do Estado, violência, coerção, medo, honra, esperança…). Violência, medo, ausência do poder público, esperança e honra, por exemplo, moldavam esse espaço tanto quanto as montanhas, rios, canaviais, engenhos e estradas. Nele, centenas de milhares de indivíduos viveram e trabalharam, toda sua vida, sob condições de miséria extrema, isolados do mundo exterior e sujeitos à violência patronal organizada. Essa parte do Brasil, formada sobretudo por uma ampla rede de engenhos e usinas de cana-de-açúcar, permaneceu por cinco séculos controlada por milícias privadas fortemente armadas. Até o final do século XX, a maior parte dessa área era interligada por estradas de difícil acesso e desconhecidas por boa parte das autoridades públicas. Esses engenhos constituíram um pedaço do território brasileiro situado “fora da ordem jurídica normal”.
A sofisticação desse espaço (de liberdade contingente, repito) não se limitou a sua longa duração (prova de seu eficiente funcionamento), nem à organização da violência física e imposição do medo que mantiveram o trabalho forçado como um de seus elementos indissociáveis e definidores. Sua estrutura labiríntica, longe das forças públicas externas, que facilitava o abuso da autoridade patronal sobre centenas de milhares de indivíduos, tornou-o singular em comparação a outros ambientes do trabalho no Brasil.”

Ferreira Filho, José Marcelo Marques. Arquitetura espacial da plantation açucareira no Nordeste do Brasil (Pernambuco, Século XX). –Recife: Ed. UFPE, 2020. p.17-18 

Após a leitura dos textos e os contextos dos anos 1950-1970 sobre a situação econômica-social e representação do Nordeste, os alunos responderão:

1. Quais argumentos que o texto traz podem ser pensados para explicar, de forma mais sistemática, esse processo de “fuga” do Nordeste caracterizado nas migrações para o Sudeste?
2. Muito do imaginário construído sobre a região Nordeste remete à seca como problema exclusivamente natural que causa dor, fome, miséria e expulsa trabalhadores e trabalhadoras dos seus lugares. De acordo com os argumentos usados fonte 5 e 6, os grandes problemas do Nordeste são exclusivamente de ordens naturais? Justifique a sua resposta.
3. Seus argumentos iniciais de o porquê das intensas migrações nordestinas permanecem as mesmas ou foram ressignificadas? E por quê? 


Bibliografia e Material de apoio:

ARCOVERDE, Márcio Romerito da Silva. Lutas operárias num espaço semirrural: Trabalho e conflitos sociais em Moreno-PE (1946-1964). 193 f. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2014.

FONTES, Paulo. Um nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66)- Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

José Marcelo Marques. Arquitetura espacial da plantation açucareira no Nordeste do Brasil (Pernambuco, Século XX). –Recife: Ed. UFPE, 2020.

LOPES, José Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São Paulo/ Brasília, Marco zero/ editora da UnB, 1988.

Rogers, Thomas D.. As feridas mais profundas: uma história do trabalho e do ambiente do açúcar no Nordeste do Brasil. Tradução Gilson César Cardoso de Saousa. – 1 . ed. – São Paulo: Editora Unesp, 2017

Santos, Emanuel Moraes Lima dos. A fábrica de tecidos da Macaxeira e a Vila dos Operários: a luta de classes em torno do trabalho e da casa em uma fábrica urbana com vila operária (1930-1960) / Emanuel Moraes Lima dos Santos. – 2017. 471 f. Dissertação de Mestrado.

 Documentário “Tecido Memória” disponivél em: https://www.youtube.com/watch?v=3yki-hUp6LE



Créditos da imagem de capa: Ficha de cadastro de operários de Société Cotonnière Belge-Brésiliene.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Livros de Classe #06: Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga, por Leonardo Ângelo

Neste vídeo da série Livros de Classe, Leonardo Ângelo, bolsista FAPERJ na Universidade Federal Fluminense (UFF), apresenta a obra Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga. O livro traz à luz a construção da identidade nacional brasileira a partir de uma perspectiva racializada.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Artigos sobre Favelas e História Social do Trabalho – Samuel Oliveira

Samuel Oliveira, professor do CEFET-RJ e pesquisador do LEHMT-UFRJ, publicou recentemente três artigos que se situam nos campos dos estudos da história do trabalho e dos estudos sobre favelas. Abaixo, as apresentações e links para os artigos.


Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro

O artigo “Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro: uma história dos censos” (2021) foi publicado na Revista de História por Samuel S.R. Oliveira, pesquisador e professor do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a forma como as noções de classe e raça se articulam na definição do debate sobre o crescimento das favelas a partir do desenvolvimento urbano-industrial do Rio de Janeiro e da discussão dos censos de favelas.

Enfoca especificamente a forma como na conjuntura do imediato pós-guerra se estabeleceu um debate as noções de “cor”/raça nas estatísticas para abordar a informalidade urbana e marginalidade social na cidade, tendo destaque as análises do sociólogo Luís Consta Pinto, do geografo e engenheiro Alberto Passos Guimarães e do Major e engenheiro Durval Magalhães Coelho.

Link: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/170643


Controle do espaço das favelas, fotografias e história social de Belo Horizonte

O artigo “A Comissão de Desfavelamento e as representações da pobreza urbana em Belo Horizonte na década de 1950” (2021) foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a história das favelas e da formação do espaço urbano de Belo Horizonte a partir das imagens fotográficas produzidas pela Comissão de Desfavelamento em 1955. Na conjuntura de crescimento urbano-industrial, expansão do tecido urbano e intensa migração para a cidade, a Comissão de Desfavelamento foi responsável por várias legislações e políticas públicas visando o controle da informalidade urbana.

As fotografias mostram como engenheiros, advogados e assistências social entrelaçam identidades de classe e raça na formação da visualidade das favelas na capital de Minas Gerais.

Link: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/6635/5391


As favelas cariocas nos anos 1950

O artigo “As retóricas da ‘marginalidade social’: espaço urbano, práticas estatais e políticas nas favelas (1947-1961)” foi publicado por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ, no livro Pensar as favelas cariocas: história e questões urbanas.

Organizado por Rafael Soares Gonçalves, Mário Brum e Mauro Amoroso, o livro traçar um panorama com a contribuição de vários pesquisadores, para a discussão da história da informalidade urbana no Rio de Janeiro ao longo do século XX.

O artigo analisou as imagens heterotópicas da marginalidade social na identificação das relações de classe e raça no espaço urbano e nas políticas públicas anunciadas como “batalhas” para desfavelar a cidade do Rio de Janeiro.

Link: https://www.pallaseditora.com.br/produto/Pensando_as_favelas_cariocas/333/


Crédito da imagem de capa: DISTRITO FEDERAL. Censo de Favelas: aspectos gerais. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, 1949.

Livros de Classe #05: Em busca da memória, de Hélio da Costa, por Murilo Leal Neto

No quinto vídeo da série Livros de Classe, Murilo Leal Neto, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apresenta a obra Em busca da memória, de Hélio da Costa. Publicado em 1995, o livro rompe com as representações sobre a classe operária comuns à época e destaca a agência histórica dos trabalhadores.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Chão de Escola #16: Trabalhadores das salinas, por João Christovão



João Christovão (Professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro e pesquisador do LEHMT)



Apresentação da atividade

Segmento: 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Período nacional-desenvolvimentista (1946-1964)/Ditadura civil-militar (1946-1988)

Objetivos gerais:

– Conhecer a localização das salinas fluminenses responsáveis pela produção de cerca de 1/3 do sal consumido no país e mais de 50% do valor oriundo dessa produção no Brasil no período compreendido entre as décadas de 1820 e 1970.
– Conhecer a forma pela qual esse produto era produzido.
– Compreender as formas de exploração da mão de obra daqueles trabalhadores;
– Relacionar o processo de organização e luta dos trabalhadores com a conquista dos seus direitos trabalhistas.
– Entender o papel do golpe civil-militar de 1964 na desarticulação do sindicato dos trabalhadores.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e de diferentes gêneros textuais e as tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos e classes sociais diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços e contextos.
(EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2 e 3
03Etapa 4
04Etapa 5 e 6
05Etapa 6

Conhecimentos prévios:

– Era Vargas (1930/1945)
– Período nacional-desenvolvimentista (1946/1964)
– Ditadura civil-militar (1964/1988).


Atividade

Recursos

– Mapas (físicos ou virtuais) sugerimos que sejam oferecidas cópias em papel ofício para os alunos
– Fotografias (podem ser projetadas, mas sugerimos que sejam oferecidas cópias aos alunos)
– Data-show
– Acesso à internet

Etapa 1: Sal, o produto.

Identificação geográfica do local onde ocorreram os acontecimentos referentes ao tema. Necessária a utilização de diferentes mapas.

Mapa 1 – Mapa do Brasil: os alunos deverão identificar os dois principais locais de produção de sal no país desde os tempos coloniais até a década de 1970: Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

O/A professor/a deverá ressaltar a importância do sal para a sobrevivência humana e para os mais variados setores da economia. Destacar que a produção de sal no Rio Grande do Norte sempre foi maior em quantidade e melhor em qualidade que o sal extraído das salinas fluminenses. Chamar a atenção para o fato do sal fluminense levar uma enorme vantagem por estar localizado próximo ao principal centro consumidor do país e pelas enormes dificuldades de transporte que encareciam imensamente o produto potiguar até a década de 1970.

Mapa 2 – Mapa do Estado do Rio de Janeiro: Os alunos deverão identificar a cidade do Rio de Janeiro (capital federal até a década de 1960), a cidade de Niterói (capital do estado do Rio de Janeiro até a fusão em 1974) e as cidades produtoras de sal no entorno da Lagoa de Araruama (Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama). No período em estudo a cidade de Arraial do Cabo ainda era distrito de Cabo Frio.

O/A professor/a deverá chamar a atenção para a proximidade entre as salinas fluminenses, localizadas nos municípios acima citados, e o parque industrial da região sudeste, além de ressaltar a existência de uma maior concentração de pessoas nos grandes centros da região sudeste. Esses fatores acabavam por beneficiar a comercialização do sal produzido nas salinas fluminenses.

Mapa 3 – Mapa das salinas no entorno da lagoa de Araruama no ano de 1929

 Mapa mostrando a Lagoa de Araruama em 1929 com as salinas em seu entorno (destacadas em vermelho); inclui a sede do município de Cabo Frio (destacada em azul). Sem divisão entre os municípios do entorno da lagoa. Referência: BRRJANRIO 04.0.MAP.195 – lagoa de Araruama – Dossiê. A imagem pode ser melhor visualizada acessando diretamente a fonte. Disponível em: http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/Pesquisa_Livre_Painel_Resultado.asp?v_CodReferencia_id=1063790&v_aba=1

Etapa 2:  Sensibilização

O/A professor/a deverá ler ou pedir a um dos alunos que leia em voz alta o Texto 1, que apresenta alguns aspectos simbólicos do sal. Em seguida, os alunos deverão ser estimulados a falar sobre como eles imaginam que eram as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores em salinas.
Nesse momento o/a professor/a deverá chamar a atenção para o fato das salinas funcionarem, na maior parte do tempo, com um número reduzido de trabalhadores e que esse quantitativo só aumentava na época da colheita do sal.

Texto 1

O sal é de fundamental importância para a manutenção da vida. Sendo uma substância que se forma na interação entre um ácido e uma base, o sal pode se apresentar sob diversas formas. Aquele de que tratamos aqui é o cloreto de sódio (NaCl), que é extraído tanto das salinas (sal marinho, nosso caso), quanto de jazidas terrestres (sal gema). Tanto a falta quanto o excesso causam sérios prejuízos à saúde e, em função da sua importância para a manutenção da vida, o sal só encontra paralelo na água. Os seus inúmeros usos extrapolam os limites políticos e econômicos e acabam por atribuir a ele um valor simbólico, tanto para o bem, quanto para o mal. Conhecido desde a antiguidade, o sal carrega consigo uma série de simbolismos. “O sal era o mais vulgar dos condimentos entre os gregos e os romanos, que o consideravam como uma oferta das mais apreciadas pelos deuses”, era também “o símbolo da amizade, e metaforicamente, da graça e da finura”. Para os egípcios o sal era símbolo de santidade e a mitologia finlandesa ensina que Ukko, deus do firmamento tirava fogo das nuvens e que uma centelha dessa chama celestial teria caído no oceano e virado sal. Derramar sal sobre a mesa atrai má sorte, para anulá-la deve-se pegar esse sal com cuidado e jogá-lo sobre o ombro esquerdo. Os hebreus esfregavam sal nos recém-nascidos para o seu bem-estar. Segundo a Bíblia, Deus – ao falar a Moisés sobre os sacrifícios a serem oferecidos – afirma que “Em qualquer oblação que ofereceres, porás sal. Jamais deixarás faltar o sal da aliança do Senhor às ofertas. Em todas as ofertas oferecerás sal.” Já no Novo Testamento o evangelista Marcos afirma que “Bom é o sal; mas, se o sal se torna insulso, com que se salgará? Tende sal em vós, e vivei em paz uns com os outros”. Se purifica e preserva, o sal – por sua propriedade anti-séptica – também esteriliza e condena. A sentença que condenou Tiradentes trazia o seguinte texto: “(…) e declaram o réu infame, e seus filhos e netos, e os seus bens aplicam para o Fisco, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique (…)”.

Fonte: Extraído de CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

Exibição do curta-metragem “Salinas Cabo Frio, 1948 (11’)

Após a exibição do filme a turma será estimulada a fazer um pequeno debate confrontando o filme que assistiram à imagem que tinham acerca dos trabalhadores. É importante ressaltar que o filme é uma produção oficial do INS – Instituto Nacional do Sal e que, portanto, busca mostrar uma imagem positiva acerca das condições de trabalho daqueles trabalhadores. O fato deles serem retratados no filme com material de proteção (chapéu e botas) não representa, necessariamente, a maneira pela qual os trabalhadores das salinas de fato trabalhavam. Ao contrário do que muitos imaginam, o trabalho nas salinas não era algo exclusivamente masculino e adulto, em função disso é importante chamar a atenção, também, para a presença de mulheres e crianças trabalhando na dura lida do sal, ressaltando que não havia uma legislação que proibisse o trabalho infantil e que as mulheres recebiam menos que os homens pelo mesmo trabalho executado.

Como tarefa para casa a turma poderá ser dividida em grupos e os grupos deverão fazer uma breve pesquisa para ser apresentada no encontro seguinte, sobre o trabalho infantil e sobre a diferença nos valores pagos para homens e mulheres na execução de uma mesma tarefa.


Etapa 3: O trabalho

A turma deverá ser dividida em grupos de 4 a 6 alunos de modo a formar de três a seis grupos (de acordo com o tamanho da turma) recebendo cada grupo um dos textos dessa etapa.
Grupo 1 e 4, texto 2
Grupo 2 e 5, texto 3
Grupo 3 e 6, texto 4
Os diferentes textos deverão ser lidos e discutidos entre os membros de cada grupo durante um tempo de aproximadamente 20 a 25 minutos. Ao final cada grupo será convidado a expor para os demais grupos o texto que foi analisado e as conclusões a que chegaram.

Texto 2

Canção do Sal – Milton Nascimento (1966)

Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar
Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta o sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar
Trabalhando o sal
Pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa
Encontrar a família a sorrir

Filho vir da escola
Problema maior de estudar
Que é pra não ter meu trabalho
E vida de gente levar

Fonte: A história contada por Milton e a música na versão gravada por Gal Costa e Milton Nascimento podem ser vistas nesse link.  https://www.youtube.com/watch?v=eox2XHDFfX0 

Texto 3

Socorro, há dor nas salina

Senhores, depressa. Há um imenso grito de dor sobre a alva brancura das salinas. Há homens morrendo sem pão e sem lei. E semi-homens, quase despidos de roupas e de carnes, e crianças que não se podem amamentar nos seios magros e murchos de espectros de mãe. 
Venham ver, enquanto ainda vivem, os homens que arrastam a negra miséria por sobre a opulência do sal dos caminhos. Venham ver, senhores, os meninos que nunca aprenderam a vestir e que crescem expondo em sua cândida nudez a nossa própria vergonha. 
Venham ver, senhores, a injustiça solta nas trilhas do sal, nua e crua, sem mistérios nem ministérios. Venham ver a esquálida e tenra menina, que mal desabrocha servindo de pasto aos donos das gentes e das leis, e trocando o casebre de pau-a-pique e a esteira de tábua, pelo colchão de molas da moradia da colina, para depois ir parir um filho sem pai num canto de restinga. 
Venham todos, venham ver o salário do sal, e venham ver o triste contraste que há entre o barraco de barro à margem da lagoa e a moderna mansão do salineiro que se destaca como um monumento à miséria no alto da colina. 
E venham ver o imenso ódio que se esconde sob a máscara de humildade do homem machucado e sofrido das salinas da beira-mar. Venham ver uma paz social que fermenta como vinho amargo decomposto na podridão da miséria, da exploração e da injustiça. 
Eu lhes mostrarei, senhores, onde a lei trabalhista é a vontade única e onipotente do senhor quase-feudal e o amparo previdencial é a migalha atirada pelo dono ao trabalhador moribundo que lhe vendeu suas forças uma vida inteira e miserável. 
Venham ver um menino mal-crescido puxar o sal do quadro da salina insalubre, por um prato de feijão e farinha. 
Venham ver, senhores, acudam. Depressa. Eles são o sal da terra.

Fonte: PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.

Texto 4

Entrevista com Seu Mica e Dona Nilda, casal de salineiros de Monte Alto.

Dona Nilda – Olha… em 1967 eu vim morar aqui [Figueira]. Juro, quando eu cheguei … eu sei que meu marido trabalhava, era dali que ele tirava o pão… eu ficava apavorada de ver … porque os moradores todos os salineiro, se você fosse na casa, dos salineiro, a comida era mais feijão,… 

Seu Mica – Não, mas tinha fartura… 

Dona Nilda – farinha, ué… Tinha fartura? Fartura? Feijão e arroz e farinha, não é … e carne seca, não é comida pra… peixe não é comida pra… peixe você tem que comer com fartura, mas tem que ter verdura, tem que ter frutas, tem que ter as coisas né? Não, o pessoal só comia aquilo. […] O impacto que eu tive aqui de … da alimentação assim. O pessoal criava galinha … ou comia ovo ou comia peixe. A comida aqui era isso, carne só no Natal […] quem tinha mulher que trabalhava na salina ajudava um pouco, era muito assim… eu achava que era muita miséria, Deus que me perdoe. […] Quando eu vim morar aqui eu senti muita falta, porque sempre na minha casa comia abóbora, comia batata, comia couve, repolho, é… banana com fartura, as coisas. A gente comia feijão, não queria comer carne, comia feijão, arroz, banana e a verdura que tinha. Carne, era assim, mamãe tinha, sempre que ela vendia, matava porco né, e vendia, sempre tinha carne. Mas o certo de comer carne era sábado e domingo, mas tinha peixe com fartura, mais do que aqui, eu achava mais do que aqui ainda. […] E eu achava que os homens aqui … Eu morria de pena de ver ele [o marido]. As costas queimadas, puxando sal no rodo. Que nem eu aguentava com aquilo, Deus do céu… Enquanto eu não rancar o meu marido dessa vida eu não sossego, falei mesmo. […] Eu fiquei apavorada de ver aquilo, eu morei quatro anos aqui, nessa época eu tinha 16 anos, mas eu ficava apavorada. Eu aqui fazia um doce pra vender, sabe, os salineiros comprava, costurava pra fora pra ajudar, mas eu ficava apavorada de ver. O pé dele era igual uma lixa, igual a um… meu Deus isso não é normal não.

Fonte:  Entrevista realizada com um casal de salineiros de Monte Alto (região de restinga entre a lagoa de Araruama e o mar e, atualmente, distrito de Arraial do Cabo) em que diversos aspectos da participação da mulher no universo da produção de sal foram expostos de forma bastante clara e objetiva. A entrevista que estava pensada inicialmente para ser feita exclusivamente com o salineiro Seu Mica, teve a participação inesperada de sua companheira – dona Nilda – o que fez toda a diferença.

Ao narrar a sua história, d. Nilda evidencia estratégias e ações pensadas para melhorar as condições de vida de sua família, além de colocar em evidência outras mulheres que exerciam um papel determinante nas suas respectivas estruturas familiares. Fossem aquelas que trabalhavam nas salinas e já “ajudava um pouco”, mostrando que os ganhos financeiros não eram muitos; fosse a mãe dela que vivia na roça, lugar de onde veio e que, no discurso dela, se mostra uma referência poderosa (era a mãe dela quem criava, matava e vendia o porco, era a mãe – esteio da família – quem garantia a fartura na mesa mesmo quando não tinha carne) a fala de d. Nilda deixa exposta uma linhagem de mulheres cuja determinação não aceita um destino que lhes é imposto e evidencia o papel da mulher na cadeia produtiva do sal e o protagonismo na construção de suas próprias histórias.

Na apresentação da análise dos textos os grupos deverão:

  1. Atentar para as datas dos documentos. No caso da entrevista, a data a que se referem os entrevistados.
  2. Fazer um breve relato sobre o teor do documento, bem como acerca de seus autores.
  3. Destacar os elementos que mais chamaram a atenção no documento, explicando o porquê daquele aspecto específico ter sido ressaltado.
  4. Relacionar os documentos analisados com os demais documentos trabalhados no último encontro (curta-metragem e dos aspectos simbólicos do sal).
  5. Identificar pontos de contato entre os diferentes textos (2, 3 e 4) e elaborar um argumento que justifique essas identidades.
  6. O/A professor/a poderá, a seu critério, aproveitar esse momento para fazer uma breve contextualização do período. Chamar a atenção para a proposta de Reformas de Base do governo João Goulart e de como a discussão a respeito desse tema estava em voga desde o governo de Juscelino em 1958. Destacar os grupos que buscavam pautar as discussões acerca de mudanças nas estruturas econômicas, sociais e políticas do país de modo a buscar superar o subdesenvolvimento e diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Ressaltar a importância da organização dos trabalhadores no período e o papel exercido pelos sindicatos. Pode-se ainda fazer um paralelo entre a situação dos salineiros com outras categorias historicamente hiper-exploradas.

Etapa 4

O/A professor/a entregará aos alunos cópias de fotografias de trabalhadores salineiros (figuras2, 3, 4 e 5) para que os alunos possam analisar as imagens buscando estabelecer uma comparação entre as imagens e os textos, bem como com relação ao curta metragem assistido no primeiro encontro.
A análise das imagens deverá seguir três etapas distintas, a saber:
– Descrição da imagem
– Contextualização a partir das informações já acumuladas
– Sensibilização (que sensação a imagem provoca)

Trabalhadores na colheita do sal. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.
Detalhe dos pés descalços de um trabalhador salineiro dentro da quadra de sal. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhador desfazendo uma eira de sal com a pá para carregar o caminhão. Fotografia João Christovão, 2002.
Trabalhadores fazendo o transbordo de sal com cestos para o caminhão. Fotografia Wolney Teixeira, 1948.

Etapa 5: Capital X Trabalho. A organização dos trabalhadores e o golpe de 1964.

Distribuição dos textos dando um tempo de aproximadamente 10 minutos para que os alunos leiam em silêncio.

Texto 5

Trecho da entrevista com o senhor Aldir José de Souza, o “Didi do Sindicato”.

É… O que eu tenho de história é que eu trabalhei, trabalhei no sindicato, né, de sessenta até sessenta e quatro, e… Em sessenta e dois fui eleito vereador, pra sessenta e dois a sessenta e seis, mas em sessenta e quatro me cassaram, por que (pausa), eu fui sempre da extração do sal… O sindicato… Fui pro sindicato como presidente do sindicato da extração do sal, logo, aí eu tinha que defender os operários, né…
Naquela ocasião nem a insalubridade eles recebiam. Então nós tivemos que fazer uma greve, pra poder receber a insalubridade e o material de proteção da salina que eles não davam: óculos, por causa da catarata e quando a água, quando o sal se oferece é justamente no verão, que esquenta muito, então, uma série de coisas… E com esse negócio da gente defender o trabalhador, naquela época, em sessenta, sessenta e dois, era comunista… 
Qualquer um que defendia o pequeno, o trabalhador, era comunista…
É, porque, é porque o regime era capitalista… 
Se eu defendo o lado contrário, sou contra o capitalismo, aí… Me taxaram de comunista e me cassaram… Tanto da (pausa), da vereança, como também do sindicato, né…
(…)
Mil novecentos e sessenta (pausa). É… Eu fui lá embaixo, que eles me chamaram pra conversar, me prometeram uma porção de coisa, que me davam um comércio lá em Niterói, mas, eu… Meu amigo, eu não posso aceitar nada disso… Eu sou o presidente do sindicato… As famílias, o senhor deve conhecer, é tudo gente pobre, vivendo na casa de uma família, era uma criancinha, só com aquele camisolo (camisola), outro só com o shortinho, descalço, dormindo no chão, é, é miséria mesmo, né… Então, se eu hoje largar tudo lá como está e vim aqui aceita um… Eu acho é… Não vou comer nem dormir, porque minha consciência não vai deixar, né… 
Ganhei, pra mim é uma boa, vou ficar numa boa, que é, e fica todo mundo lá, pior ainda do que está, né… 
É (pausa). Aí é que eles disseram “esse é comunista”, que disse que o comunista não aceita, aceita barganha, né… aí…

Fonte: A entrevista inteira pode ser encontrada no Anexo A da tese Trabalhadores do sal. In: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175 

Texto 6

Revista Brasil Salineiro

“Os brasileiros precisam imitar a Pedro Álvares Cabral e descobrir o Brasil. Porque o Brasil é um gigante desconhecido para a maioria dos que aqui vivem. 
(…) 
Você sabia que na[quela] terra (…) vive um grupo de heróis a lutar diariamente pelo Brasil? 
Como verdadeiros heróis, aqueles homens não tem um nome. Não se chama Sua Excelência Tal e Tal. Você não encontrará o retrato deles nos jornais. 
São os operários do parque salineiro (…). 
Eles produzem no meio dos maiores sacrifícios, quase todo o sal de que a nação precisa”. 
Para que você compreenda o que é o esforço desses homens é preciso recordar que o sal é um produto da natureza cuja colheita não abrange o ano inteiro. 
Desta forma, o operário do sal não pode ter uma situação de perfeita estabilidade. 
Ele trabalha durante seis meses com regularidade, recebendo salário e vivendo com relativa segurança. 
Mas depois o sal acaba e ele tem que se arranjar como melhor pode até a próxima colheita. 
Entretanto, a falta de estabilidade não é o único inconveniente na vida do salineiro. Há outros, e bem grandes. 
Entre estes outros inconvenientes, figura a questão dramática da deformação física. (…)
Mas, as dificuldades dos salineiros vão mais longe. 
O cloreto de sódio e o iodo do sal são tremendos agentes de irritação da pele. 
Primeiro o operário que trabalha no sal começa a sentir uma comichão, que se vai alastrando pelo corpo todo. Pouco a pouco, formam-se nos lugares que comicham verdadeiras feridas que ardem como se fossem queimaduras. 
Isso tudo é duro de aguentar. Mas, onde se nota que os salineiros são verdadeiros heróis é no espírito com que enfrentam essa vida difícil. 
“Aqueles homens – afirma Noronha Costa – não se queixam, e quando alguém quer explorá-los com arengas comunistas ficam surdos. Na verdade, entre aqueles heróis os comunistas têm cada vez menor número de adeptos, pois em que pesem todos os sacrifícios que fazem, os operários das salinas são, acima de tudo, brasileiros”

Fonte: Revista Brasil Salineiro, ano 1 – Novembro, 1953 – nº 2, p. 11. Órgão de divulgação do INS – Instituto Nacional do Sal.

Texto 7

Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal, segunda maior empresa de sal da região, na festa do 1º de maio de 1968.

“Digníssimos representantes e operários da Refinaria Nacional de Sal. Meus senhores e minhas senhoras:
[…] dentro desta constituição, sábia e honestamente interpretada, pelas autoridades constituídas do País, tem o trabalhador brasileiro, têm vocês, trabalhadores que me ouvem os seus legítimos e sacrossantos direitos a fazer, as suas justas reivindicações. (…) Porém, deve ser imposto ou exigido com prudência, com ponderação, com modos, sem violências, sem badernas, sem anarquias, com modos. 
[…] 
[sem esquecer] que existem as leis e a própria Constituição, que o ampare, que o defende, que, enfim, fala por ele, na defesa dos seus mais legítimos interesses e mais justas reivindicações.[…] 
Aqui estamos vendo hoje reunidos patrões e empregados! 
Aqui estão industriais e operários! 
É através das indústrias que se projetam no Universo, os países, os Estados e os municípios. A Refinaria Nacional de Sal é uma indústria que projeta o Brasil e o Estado do Rio através do nosso Município. 
Que a brancura IMACULADA DO SAL CISNE, seja também entre patrões e empregados, o símbolo da PAZ, edificante e progressista, e assim fazendo, estaremos fazendo o que o Brasil exige, espera e bem merece: “Que cada um cumpra o seu dever

Fonte: Discurso proferido pela direção da Refinaria Nacional de Sal em 1º de maio de 1968. Gazeta da Baixada, 8/05/1968.

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 1

“Guilherme José da Silva. No dia 27 de janeiro de 1961 Guilherme fez um acordo com José Maria –pediu as férias. Seu José Maria [se]aborreceu com Guilherme no dia 1º de fevereiro de 1961. No dia 25 de fevereiro Guilherme [me] disse a Gabriel que saiu da Salina Maracanã. José Maria indenizou e disse: se quiser trabalhar pode, mas sem direitos. No dia 29 de janeiro de 1962 Guilherme voltou pra Salina de José Maria.”

Cadernos de Seu Gabriel – Reprodução 2

“A Greve 
A Greve das fábricas de Cabo Frio começou no dia 30 de maio de 1960. 30-5-60. Acabou no dia 28 de junho. Miguel Couto assinou e perdeu. A questão de Mauro também. No dia 15 veio uma força do Rio. Os grevistas foi preso no dia 16 de junho de 1960. Voltaram no dia 17 os empregados começaram a trabalhar no dia 3-6-60”.

Texto 8

Jornal Novos Rumos – 24 a 30 de junho de 1960

“Durante 24 horas as tropas federais ocuparam a pequena e bela cidade de Cabo Frio, situada no litoral fluminense, mudando inteiramente a sua plácida fisionomia. Ninguém hostilizou os jovens soldados, mas a revolta e a vergonha do povo era patente na face de cada um. Visível era o ódio à conduta do senador Miguel Couto Filho e do ministro Armando Falcão, autores do pedido de intervenção. 
[…] 
O que há é isso. Trabalhador não pode reclamar não moço. Nossa sede está fechada e a polícia anda procurando a gente para prender’. Foi a resposta que ouvimos à clássica pergunta –que é que há aí? E era isso mesmo que havia contra os trabalhadores que reclamavam melhores salários. Mas a firmeza dos grevistas e a solidariedade do povo asseguraram a vitória do movimento”.

Fonte: Jornal Novos Rumos. Rio de Janeiro, 24 a 30 de junho de 1960. Ano II, nº 70 pp. 10 e 12. http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=122831&pasta=ano%20196&pesq=%22as%20tropas%20federais%20ocuparam%22&pagfis=913

Texto 9

Em 26 de abril de 1964, o periódico O Jornal trazia informações sobre as perseguições que estavam ocorrendo em diferentes municípios do Estado e antecipava o resultado da sessão que ocorreria dois dias depois na Câmara Municipal de Cabo Frio.

‘Deverão ser cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moisés Teixeira, do PTB, pela Câmara Municipal de Cabo Frio, que se reunirá amanhã para apreciar, também, os reflexos do Ato Institucional na administração local. Os edis estão foragidos e são acusados de atividades extremistas na região’.
O processo de cassação, assim como em outras casas legislativas por todo o país se deu rapidamente e, no dia 28 de abril de 1964 a cassação foi efetivada. Foram cassados os mandatos dos vereadores Aldir José de Souza do PSB e Moysés Bessa Teixeira do PTB, além de terem sido impedidos de assumir o mandato todos os suplentes do PSB.

Fonte: Christovão, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020

Texto 10

Ata do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Sal de Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Araruama

Uma categoria que no início dos anos 1960 era altamente organizada e combativa, e que chegou a eleger o presidente do seu sindicato para o cargo de vereador, jazia bastante fragilizada ao final da década, após o golpe civil-militar que cassou o mandato de vereador daquele que era representante dos salineiros na Câmara Municipal. A partir do golpe de 1964 o sindicato sofreu uma forte desmobilização e a primeira ata do único livro de atas que restou, traz o registro da violência sofrida:
“Ata nº 1 
Ata da sessão ordinária do Sindicato dos Trab. Na Ind. Da Extração do Sal de Cabo Frio, S. Pedro da Aldeia e Araruama. Aos vinte (20) dias do mês de novembro de 1966, às 9 horas, reuniu-se a junta governativa deste Sindicato, com a finalidade de discutir e aprovar as novas propostas de sócios, medida que a junta viu-se obrigada a tomar, por entender indispensável à reorganização total da entidade, em vista da apreensão de documentos havida no período da revolução pela polícia, os quais não foram recuperados, embora houvesse a junta se empenhado em reavê-los; verificou-se o preenchimento de 496 propostas de sócios antigos e novos, sendo que os antigos por falta de comprovantes, constam da proposta como já pertencentes a este sindicato. A matrícula de cada associado obedece ao número da respectiva proposta. Como nada mais houvesse a deliberar, encerra-se a sessão às 11 horas. 
Cabo Frio, 20 de novembro de 1966
Idson Mendonça (Secretário), José da Silva (Tesoureiro), Jairo Dias da Cunha (Presidente)”.


Etapa 6: Tempestade cerebral

A turma colocada em círculo receberá cópias dos sete textos e das três imagens. O/A professor/a, de forma aleatória, escolherá diferentes pessoas para ler cada um dos documentos.
A leitura dos textos deverá ser na ordem em que eles aparecem na proposta e deverá ser precedida de esclarecimentos mínimos acerca daquele documento.
Na medida em que os textos forem sendo lidos os alunos poderão fazer intervenções, sejam elas, questionamentos ou complementações com os documentos utilizados nos encontros anteriores ou quaisquer outros elementos que eles tenham trazido para o debate.
O/A professor/a nesse primeiro momento deverá intervir o mínimo possível, buscando apenas orientar a ordem de intervenção dos alunos ou esclarecendo alguma questão que se apresente de forma absolutamente necessária para a continuidade da dinâmica.
Ao final dessa etapa, com a discussão posta em sala de aula, o/a professor/a deverá/poderá fazer uma síntese de como ele percebeu o desenvolvimento do tema por parte da turma.
A síntese do tema, em si, ficará por parte da turma, de forma individual ou em grupos (a critério do/a professor/a). Podendo ser um texto em prosa sobre o entendimento do assunto ou uma colagem que expresse as ideias que foram discutidas ao longo dos três encontros.


Bibliografia e Material de apoio:

BIDEGAIN, Paulo. Lagoa de Araruama – Perfil Ambiental do maior ecossistema lagunar hipersalino do mundo – Rio de Janeiro: Semads, 2002.

CHRISTOVÃO, João H. de O. Do sal ao sol: a construção social da imagem do turismo em Cabo Frio – 2011. 145f.: Dissertação de Mestrado. Orientadora: Profª. Drª. Helenice Aparecida Bastos Rocha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

CHRISTOVÃO, João Henrique de Oliveira Trabalhadores do sal : organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974. – 2020. 343 f. Tese (doutorado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Ynaê Lopes dos Santos. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30175

PINHEIRO, Ofir. Socorro, há dor nas salinas. In: PACHECO, Jacy. Paisagens Fluminenses – Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1969, pp.73-74. Publicado originalmente no jornal O Fluminense de 19/02/1968.


Créditos da imagem de capa: Fotografia do fotógrafo cabofriense Wolney Teixeira, de 1948.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Vale Mais #14 – Trabalhadores do sal





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #14 do Vale Mais é sobre Trabalhadores do sal.

Este é o sexto episódio da segunda temporada de Vale Mais, o podcast do site do LEHMT-UFRJ. Nesta temporada, conversamos com recém doutores/as no campo da História Social do Trabalho sobre seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, entrevistamos João Henrique de Oliveira Christovão, doutor em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV, professor das redes públicas municipal de Cabo Frio e do Rio de Janeiro, além de ser pesquisador do LEHMT-UFRJ. Em dezembro de 2020, João defendeu a tese “Trabalhadores do sal: organização sindical e lutas sociais nas salinas cabo-frienses – 1940/1974”, sob orientação de Paulo Fontes e Ynaê Lopes dos Santos. A pesquisa analisou os trabalhadores e trabalhadoras das salinas em Cabo Frio, entre as décadas de 1940 e 1970, abordando os processos de constituição das identidades dos salineiros, com destaque para as articulações entre classe, raça e gênero. João enfatiza que os salineiros ocuparam um papel fundamental nas lutas por direitos políticos e trabalhistas, bem como na construção do espaço urbano cabofriense.

Dica da entrevistado: Para entender uma fotografia – John Berger (livro)

Produção: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Roteiro: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz Vale Mais

Está no ar o quarto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quarto episódio, conversamos com Itan Cruz, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre sua tese Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil (1880-1889). Ao longo da conversa, Itan mostra como investigou de que maneira políticos baianos, como Saraiva, Dantas e Cotegipe, influenciaram os últimos anos do cativeiro no Brasil. Entre jogos de poder, alianças improváveis e disputas internas, revelamos como o baianismo atravessou gabinetes, salões, senzalas e até as relações íntimas do Império. Para saber mais, ouça o episódio. E não deixe de acompanhar a nova temporada do Vale Mais! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  2. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  3. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  4. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  5. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus

Livros de Classe #04: Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub, por Fabiane Popinigis

No quarto vídeo da série, Fabiane Popinigis, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) apresenta Trabalho, lar e botequim, de Sidney Chalhoub. Publicada em 1986, a obra inovou conceitualmente e metodologicamente ao trazer para o centro da narrativa o cotidiano de homens e mulheres comuns.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Livros de Classe #03: Costumes em comum, de E. P. Thompson, por Sidney Chalhoub

No terceiro vídeo da série, Sidney Chalhoub, professor titular colaborador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Departamento de História de Harvard, apresenta Costumes em comum, de E. P. Thompson. A celebrada coletânea de artigos do historiador inglês contribuiu para uma reflexão sobre a atuação política dos trabalhadores para além do movimento operário organizado.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vale Mais #13 – Trabalhadores, repressão e transição democrática



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #13 do Vale Mais é sobre Trabalhadores, repressão e transição democrática.

Este é o quinto episódio da segunda temporada de Vale Mais, o podcast do site do LEHMT-UFRJ. Nesta temporada, conversamos com recém doutores/as no campo da História Social do Trabalho sobre seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, entrevistamos Richard de Oliveira Martins, doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em dezembro de 2020, Richard defendeu a tese “Lutas vigiadas: militância operária, retaliação patronal e repressão no Vale do Paraíba (1979-1994)”, sob orientação do professor Claudio Batalha. A pesquisa analisou os trabalhadores da região do Vale do Rio Paraíba do Sul (Paulista e Fluminense), com ênfase sobre o operariado metalúrgico dos municípios de São José dos Campos/SP e Volta Redonda/RJ, abordando suas experiências de trabalho, organização sindical e luta política. Richard enfatiza as formas e as consequências da repressão com que se depararam estes trabalhadores, refletindo sobre o envolvimento de organizações sindicais nas recentes batalhas em torno da memória social da ditadura.

Dica da entrevistadaMichel Foucault

Produção: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Roteiro: Heliene Nagasava e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz Vale Mais

Está no ar o quarto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quarto episódio, conversamos com Itan Cruz, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre sua tese Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil (1880-1889). Ao longo da conversa, Itan mostra como investigou de que maneira políticos baianos, como Saraiva, Dantas e Cotegipe, influenciaram os últimos anos do cativeiro no Brasil. Entre jogos de poder, alianças improváveis e disputas internas, revelamos como o baianismo atravessou gabinetes, salões, senzalas e até as relações íntimas do Império. Para saber mais, ouça o episódio. E não deixe de acompanhar a nova temporada do Vale Mais! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  2. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  3. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  4. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  5. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus