Chão de Escola #18: Trabalhadores(as) escravizados(as) e livres no Brasil: terras, migrações, memórias e identidades, por Maciel Henrique Silva e Márcio Romerito da Silva Arcoverde


Professor Maciel Henrique Silva (IFPE) e Professor Márcio Romerito da Silva Arcoverde (CODAI-UFRPE)


Apresentação da atividade

Segmento: 2º e 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Espaços de trabalhadores(as) na sociedade brasileira

Objetivos gerais:

– Compreender a dinâmica, os espaços dos(as) trabalhadores(as) escravizados(as) e do pós-abolição no Brasil;
– Discutir os lugares de memórias e seus significados na luta pelo direito da população negra e indígena à terra e à vida;
– Estimular a discussão sobre memórias, migrações e identidades quilombolas no pós-abolição;
– Desenvolver uma leitura das cidades brasileiras que problematize memórias e patrimônios alusivos à população trabalhadora negra;

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.
(EM13CHS201) Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.
(EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas.
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

Duração da atividade:  

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 1
03Etapa 2
04Etapa 2

Conhecimentos prévios:]

-Comércio transatlântico de escravos;
-Trabalho escravo no Brasil;
-Abolição da escravidão; Lei de Terras;
-Lei áurea;
-Industrialização e migração rural-urbano na Primeira República;
-Migrações nacionais na República anos 1940-1970.


Atividade

Recursos: Projetor, impressora, mapas, banco de dados https://www.slavevoyages.org/ e vídeos.

Etapa 1:  Os portos do Rio de Janeiro e Salvador como espaços de memória dos trabalhadores escravizados.

Professor(a), nessa etapa é importante esclarecer para os estudantes que espaços ou lugares de memória é um termo utilizado também no campo dos direitos humanos que se refere às diferentes referências das memórias de vítimas submetidas a graves violações e/ou supressões de direitos. A partir dessa problematização, distribua os textos para os discentes, divididos em duplas, que farão a leitura atenta com tempo determinado. Aqui é importante sinalizar que os estudantes precisam articular imagens, textos e mapas para construírem uma visão totalizante do tema.
Os textos serão entregues aos discentes, em dupla, deverão ler.

Após a leitura dos textos pelos estudantes o(a) professor(a) irá propor a problematização sobre o seguinte ponto:
Escravidão transatlântica e os fluxos das migrações forçadas de escravizados para as Américas; o professor(a) deverá projetar os mapas a seguir que devem ser contextualizados com as informações contidas na fonte.

Mapa 1: Visão geral do tráfico de escravos partindo da África, 1500-1900. Disponível em https://www.slavevoyages.org/voyage/maps#introductory-. Acesso em: 19 de out. 2021.
Mapa 8: Principais regiões em que os cativos desembarcavam, todos os anos.
Disponível em https://www.slavevoyages.org/voyage/maps#introductory-. Acesso em: 19 de out. 2021
Mapa 9: Volume e direção do tráfico de escravos transatlântico, de todas as regiões africanas a todas as regiões americanas.
Disponível em https://www.slavevoyages.org/voyage/maps#introductory-. Acesso em: 19 de out. 2021.

Depois de leitura dos textos e mapas, o(a) professor(a) deverá propor que os estudantes respondam em dupla:

1. Qual a importância de se criar políticas públicas para a sociedade compreender esses portos como espaços de memória dos trabalhadores?
2. Por que é importante a patrimonialização do Cais do Valongo para a memória dos trabalhadores?
3. Seria o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, e o Cais do Porto, em Salvador, lugares de memória para todos os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros? Justifique sua resposta.


Etapa 2: Trabalhadores livres pobres no pós- Abolição e a questão da terra

 “A reordenação das formas de trabalho, em seguida à Abolição, afetou a situação dos negros, já nascidos livres ou recém-libertos”. (GORENDER,1990, p.190)

“O trabalhador nacional era depreciado pelos fazendeiros. Estes não esperavam extrair do negro livre o mesmo rendimento que extraíam do negro escravo. Predominava a expectativa de que os escravos abandonariam as fazendas ou fariam exigências exorbitantes para continuar nelas”. (GORENDER, 1990, p. 192).

Professor(a), os textos a seguir são trechos do livro “Torto arado” (2018). A leitura, que deve ser transdisciplinar, abrange pelo menos conteúdos de História, de Literatura e de Geografia.

Os textos deverão ser entregues aos discentes, em dupla, para a leitura atenta.

Documento 1 

Em troca, poderia se construir uma tapera de barro e taboa, que se desfizesse com o tempo, com a chuva e com o sol forte. Que essa morada nunca fosse um bem durável que atraísse a cobiça dos herdeiros. Que essa casa fosse desfeita de forma fácil se necessário. Podem trabalhar – contavam nas suas romarias pelo chão de Caxangá –, podem trabalhar, mas a terra é dessa família por direito. Os donos da terra eram conhecidos desde a lei de terras do Império, não havia o que contestar. Quem chegasse era forasteiro, poderia ocupar, plantar e fazer da terra sua morada. Poderia cercar seu quintal e fazer roça na várzea nas horas vagas. Poderia comer e viver da terra, mas deveria obediência e gratidão aos senhores.

(JUNIOR, Itamar Vieira. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2021, p. 183)

Documento 2

Além da dívida de trabalho para com os senhores da fazenda, não havia nada para deixar para os filhos e netos. O que era transmitido de um para outro era a casa, quase sempre em estado ruim e que logo teria que ser refeita. Os pioneiros não pensavam assim, ou seus pensamentos eram abafados pela urgência de se manter a paz entre os trabalhadores e seus senhores. Ou porque havia uma gratidão pela acolhida que as gerações seguintes já não tinham, talvez por terem nascido e crescido neste lugar. Os mais jovens começavam a se considerar mais donos da terra do que qualquer um daqueles que tinham seus nomes transcritos no documento, que tinha sua cópia disputada e negociada pelos gerentes de forma desvantajosa para eles.
Meu irmão insistiu no assunto, apesar de evitar falar na frente de nosso pai. Vivia com Severo para cima e para baixo, entre um trabalho e outro, para ganhar a atenção dos moradores. “Não podemos mais viver assim. Temos direito à terra. Somos quilombolas.” Era um desejo de liberdade que crescia e ocupava quase tudo o que fazíamos. Com o passar dos anos esse desejo começou a colocar em oposição pais e filhos numa mesma casa. Alguns jovens já não queriam permanecer na fazenda. Desejavam a vida na cidade. Os deslocamentos se tornaram mais intensos que no passado, quando nos transportávamos em animais para outros lugares, cidades e os povoados vizinhos. A vida na cidade, entre viajantes e comerciantes, era atraente. Pesava na decisão justamente o trabalho para os fazendeiros, que foi mantido entre nós e atravessou gerações. Zezé queria dizer ao nosso pai que não nos interessava apenas a morada. Que não havia ingratidão. “Eles que não nos foram gratos, correm boato que querem vender a fazenda sem se preocupar com a gente”, dizia para mim e Domingas. “Queremos ser donos de nosso próprio trabalho, queremos decidir sobre o que plantar e colher além de nossos quintais. Queremos cuidar da terra onde nascemos, da terra que cresceu com o trabalho de nossas famílias”, completou Severo, numa roda de prosa debaixo da jaqueira na beira da estrada.

(JUNIOR, Itamar Vieira. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2021, p. 186-187).

Documento 3

Depois de leitura dos textos o(a) professor(a) deverá propor que os estudantes respondam em dupla:

1.Quais as possibilidades de sobrevivências que os textos 1 e 2 apontam para as situações na pós-abolição?
2. A permanência da estrutura de posse de terra nas mãos da elite senhorial afetou a autonomia de trabalhadores e trabalhadoras negras no meio agrário? Aponte exemplos ou situações relativas ao tema. 
3. Discuta com sua dupla, a partir das imagens e textos propostos, quais os sentidos de liberdade e de trabalho para trabalhadores e trabalhadoras no Brasil após o 13 de Maio de 1888.
4. Propor aos estudantes uma pesquisa sobre a chamada escravidão contemporânea ou trabalho análogo à escravidão.


Bibliografia e Material de apoio:

ABREU, Martha; PEREIRA, Matheus Serva (orgs.). Caminhos da liberdade: histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil. Niterói: PPGHistória – UFF, 2011.

CARVALHO DA ROCHA, Ana Luiza; JUNIOR, Norberto Kuhn; MAGALHÃES, Magna Lima e NUNES, Margarete Fagundes. “Era um hino de fábrica apitando”: a memória do trabalho negro na cidade de Novo Hamburgo (RS), Brasil. Etnográfica. Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, vol. 17 (2), 2013, p. 269-291.

DABAT, Christine Rufino. Moradores de Engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco, segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. 2ª ed. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2012.

FRAGA FILHO, Walter.  Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910). Campinas, Sp: Editora da Unicamp, 2006.

GORENDER, Jacob. A escravidão reabilitada. São Paulo: Ática, 1990.

HERNANDEZ, Julianna do Nascimento; MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira; OLIVEIRA, Rayhanna Fernandes de Souza (organizadoras). Trabalho escravo contemporâneo: conceituação, desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

Sites:

https://lehmt.org/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-33-cais-do-valongo-rio-de-janeiro-rj-ynae-lopes-dos-santos/

https://lehmt.org/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-cais-do-porto-salvador-bahia-joao-jose-reis/

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44091474

https://conversadehistoriadoras.com/2014/09/15/pos-abolicao-no-mundo-atlantico/

http://www.inci.org.br/acervodigital/index.php



Créditos da imagem de capa: https://outraspalavras.net/historia-e-memoria/porto-do-rj-onde-o-capitalismo-tisnou-o-brasil/, acessada em 25 de outubro de 2021.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira

Livros de Classe #09: Visões da Liberdade, de Sidney Chalhoub, por Álvaro Nascimento

Neste vídeo da série Livros de Classe, Álvaro Nascimento, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresenta a obra Visões da Liberdade, de Sidney Chalhoub. Publicado pela primeira vez em 1990, o livro reconstrói as ações cotidianas utilizadas por trabalhadores escravizados e livres a partir de processos judiciais da época.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vale Mais #16 – Futebol Operário





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

episódio #16 do Vale Mais é sobre Futebol Operário.

Este é oitavo episódio da segunda temporada do podcast Vale Mais. Nesta temporada realizamos uma série de conversas com jovens doutores/as no campo da História Social do Trabalho. Eles/as explicam seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, conversamos com Raphael Rajão Ribeiro, doutor em História, Política e Bens Culturais (2021), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Raphael defendeu a tese “A Várzea e a Metrópole: Futebol amador, transformação urbana e política local em Belo Horizonte (1947-1989)”, sob orientação de Bernardo Borges Buarque de Hollanda. Em nossa conversa, Raphael aborda a trajetória do futebol amador investigando a prática social e cultural atrelada aos grupos populares. Enfatiza a intersecção entre o futebol e a cidade pois articula-se com as dinâmicas locais, permitindo o debate sobre as configurações urbanas e relações políticas no cotidiano dos trabalhadores.

Dica da entrevistado: Ludopédio (https://ludopedio.org.br/)

Várzea: a bola rolada na beira do coração (documentário)

Produção: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias
Roteiro: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Livros de Classe #08: O vapor do diabo, de José Sérgio Leite Lopes, por Thomas Rogers

Neste vídeo, Thomas Rogers, professor do departamento de História da Emory College – situado no estado da Georgia, EUA – apresenta a obra O vapor do diabo, de José Sérgio Leite Lopes. Lançada em 1976, a obra é parte de um importante corpo de estudos desenvolvido por antropólogos do Museu Nacional (UFRJ) no nordeste canavieiro, no período, abordando o trabalho industrial nas usinas.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Livros de Classe #07: Homens livres na ordem escravocrata, de Maria Sylvia de Carvalho Franco, por Renata Moraes

Neste vídeo da série Livros de Classe, Renata Moraes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do LEHMT/UFRJ, apresenta Homens livres na ordem escravocrata, de Maria Sylvia de Carvalho Franco, publicado em 1969.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Livro: Futebol e Mundos do Trabalho no Brasil


Acaba de ser publicado pela Editora da UERJ o livro Futebol e Mundos do Trabalho no Brasil. A obra é organizada por Bernardo Buarque de Holanda, professor do CPDOC/FGV e Paulo Fontes, professor do IH/UFRJ e coordenador do LEHM/UFRJ. Com prefácio de Richard Giulianotti, professor da Loughborough University no Reino Unido, e orelha do jornalista Juca Kfouri, o livro reúne 9 capítulos que tratam de temas diversos, como a prática do esporte em locais de trabalho, como fábricas e minas, o futebol amador,o futebol feminino, as trajetórias profissionais de jogadores, o uso que a ditadura militar fez do esporte e a visão das torcidas organizadas de clubes sobre o futebol contemporâneo. Fátima Antunes, Brenda Elsey, Joshua Nedel, Marca Cioccari, Clément Astruc, José Sérgio Leite Lopes, José Paulo Florenzano e Jimmy Medeiros, além os organizadores da obra, são os/as autores/as das contribuições, que têm um escopo temporal que vai do final do século XIX à segunda década do século XXI, e abarcam diversos territórios e espaços do país. Felipe Ribeiro, professor da UESPI e pesquisador do LEHMT/UFRJ também é autor de um dos artigos do livro, intitulado “ ‘A vitória do trabalhador brasileiro na memorável conquista de bravos jogadores’: futebol, times de fábrica e o jogo da política”. Paulo Fontes, além da apresentação, escrita em conjunto com Bernardo Buarque de Holanda, é o autor do artigo “Futebol de várzea e trabalhadores: os clubes amadores em São Paulo nas décadas de 1940 e 1950”.

Haverá um lançamento por via remota com a presença dos organizadores, alguns autores e do jornalista Juca Kfouri no dia 4 de novembro às 14h. O link do evento será divulgado em breve.

O livro pode ser adquirido no site da editora da UERJ (https://eduerj.com/?product=futebol-mundos-do-trabalho-no-brasil) ou encomendado em qualquer livraria física ou virtual do país.

Vale Mais #15 – Biografia e Militância Feminina



Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #15 do Vale Mais é sobre Biografia e Militância Feminina.

Este é sétimo episódio da segunda temporada do podcast Vale Mais. Nesta temporada realizamos uma série de conversas com jovens doutores/as no campo da História Social do Trabalho. Eles/as explicam seus temas de pesquisa e processos de elaboração de suas teses. Neste episódio, conversamos com Roger Camacho, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH-UFRGS). Roger defendeu a tese “Entre lágrimas, sorrisos e muita luta: a inserção das mulheres nos espaços políticos do Brasil por meio das trajetórias de três militantes de esquerda – Lélia Abramo (1911 –2004), Luíza Erundina de Sousa (1934 –) e Irma Passoni (1943 -)”, sob orientação de Benito Bisso Schmidt. Em nossa conversa, Roger enfatiza a importância de evitar generalizações ao estudar os sujeitos históricos. Com um amplo escopo de fontes nosso convidado enfrentou os temas da memória e da escrita de si em um desafio que envolve diversos campos de estudos como gênero, trabalho, religiosidade e história política.

Dica da entrevistado: Revolução em Dagenham (filme)

Produção: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias
Roteiro: Felipe Ribeiro, Flávia Veras, João Christovão e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin Vale Mais

Está no ar o quinto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. No sexto episódio, conversamos com Felipe Treviso Bresolin, doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe conversou com os entrevistadores do Vale Mais sobre o livro “Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande/RS (1901-1930)”, fruto de sua dissertação de mestrado, defendida em 2023. Não deixe também de compartilhar e acompanhar os próximos episódios! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #33: Jogo, logo existo: Futebol, conflito social e sociabilidade na formação da classe trabalhadora em Rio Grande, por Felipe Bresolin
  2. Vale Mais #32: Breve dicionário analítico sobre a obra de Edward Palmer Thompson, por César Queirós e Marcos Braga
  3. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  4. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  5. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes

Chão de Escola #17: Trabalhadores migrantes no Brasil republicano – trajetórias, memórias e políticas públicas, por Márcio Romerito da Silva Arcoverde



Professor Márcio Romerito da Silva Arcoverde (CODAI-UFRPE)



Apresentação da atividade

Segmento: 2º e 3º ano do Ensino Médio

Unidade temática: Dinâmica histórico espacial dos trabalhadores migrantes na República.

Objetivos gerais:

– Estimular a discussão sobre memórias, identidades, migrações e patrimônios da classe trabalhadora brasileira;
– Discutir acerca dos espaços de memórias e criações de políticas referentes à classe trabalhadora;

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC)

(EM13CHS201) Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.(EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas. 
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

Duração da atividade:  5 aulas de 50 min

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapa 2
03Etapa 3

Conhecimentos prévios:

– Industrialização e migrações rural-urbano na Primeira República;
– Migrações nacionais na República anos 1940-1970;


Atividade

Recursos: Projetor, impressora, mapas.

Etapa 1:  Trabalhadores livres e as fábricas têxteis em Pernambuco na Primeira República

A turma deverá assistir ao documentário “Tecido Memória” de José Sérgio Leite Lopes, Rosilene Alvim e Celso Brandão. (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3yki-hUp6LE)  até o  minuto 11:41,  fazer a leitura da fonte nº 1e analisar as imagens das localizações das fábricas têxteis (fonte nº 2).

Fonte nº1 

Esse trecho se refere à uma contextualização dos ambientes de migração internos no estado de Pernambuco no início do século XX. Migrações oriundas dos interiores, principalmente da zona canavieira, para as cidades e, grande parte, para as fábricas têxteis de Recife e cidades circunvizinhas:

Em Nordeste, Gilberto Freyre relata que ele e vários colaboradores tentaram empreender um estudo detalhado das condições dos trabalhadores na Zona da Mata em 1935, mas que seus esforços foram prejudicados pela má vontade dos fazendeiros. Não permitindo acesso a seus domínios, os proprietários desencorajaram a equipe e forçaram-na a abandonar o projeto. Um dos colegas de Freyre, seu tio Ulisses Pernambucano, fez um estudo sobre os trabalhadores urbanos, publicado em 1937. A experiência deles ilustra os desafios que os cientistas sociais enfrentavam então nos ambientes rurais. Até o final da década de 1940, pesquisa, reforma e consultoria, com suas limitações, estavam essencialmente restritas às cidades.
Como esclarecem várias referências à migração do campo para a cidade durante os anos 1920, havia importantes conexões entre as duas esferas nesse período, quando metade da classe trabalhadora do Recife era constituída por gente vinda do interior do Estado. Esse movimento precedeu a migração em larga escala de nordestinos para cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, no centro sul, ao longo das décadas seguintes, processo que ajudou a transformar o Brasil no país urbano de hoje. (…) Muitos trabalhadores que foram para o recife eram certamente da zona dos canaviais, considerando-se que ela abrigava metade da população do estado. A taxa de migração urbana, muito alta, chegou a 13% nas primeiras quatro décadas do século e se acelerou ainda mais depois. Uma indústria têxtil de porte e uma população em rápido crescimento se desenvolveram no Recife sob o olhar vigilante das autoridades do estado.”

Rogers, Thomas D.. As feridas mais profundas: uma história do trabalho e do ambiente do açúcar no Nordeste do Brasil. Tradução Gilson César Cardoso de Sousa. – 1 . ed. – São Paulo: Editora Unesp, 2017. p 130-131

Fonte nº 2

Tabela com as fábricas têxteis em Pernambuco no ano de 1928 e suas localizações geográficas.

Santos, Emanuel Moraes Lima dos. A fábrica de tecidos da Macaxeira e a Vila dos Operários : a luta de classes em torno do trabalho e da casa em uma fábrica urbana com vila operária (1930-1960) / Emanuel Moraes Lima dos Santos. – 2017. 471 f. Dissertação de Mestrado p. 440.

Mapa de Pernambuco

Fábricas localizadas na região da Mata e metropolitana

CTP – Companhia de Tecidos Paulista
CIP- Companhia Industrial Pernambucana
SCBB- Société Cotonnière Belge Brésilienne

Fábricas situadas em Recife

Após leitura dos textos e assistir ao trecho do documentário deve-se responder às seguintes perguntas:

1.  Como as fábricas têxteis foram importantes para o processo de urbanização de Pernambuco?
2. Conforme o documentário aborda, analise e construa um perfil dos trabalhadores e trabalhadoras que migravam para as fábricas têxteis por faixa etária, origem, raça/etnia, gênero e forma de ingresso.
3. Grande parte dessas fábricas têxteis construídas nos arredores de Recife deram origem a cidades, como é o caso de Moreno, Paulista, Escada e Camaragibe. Qual a importância de se entender o passado operário dessas cidades para a memória local desses municípios e construção de políticas públicas de valorização do passado operário?


Etapa 2: Trabalhadores e migrações Nordeste-Sudeste.  

Ao iniciar a aula o (a) professor  (a) deve pedir para que os (as) alunos (as) escrevam em seu caderno porque eles acreditam que existem tantos nordestinos que saíram de seus estados e foram trabalhar em São Paulo e no Rio de Janeiro. Depois que cada aluno fizer o solicitado o (a) professor (a) deverá distribuir a fonte nº 3 entre os (as) alunos (as) e pedir que leiam. Em seguida escutar com a turma a música da fonte nº 4.

Fonte nº3 

“Vilarejo de caem, município de Jacobina, interior da Bahia, dezembro de 1947. Ansioso, Artur Pinto de Oliveira despede-se da família e deixa para trás a casa e o sítio onde vivera seus primeiros 17 anos de vida. O rapaz, cheio de esperanças de uma vida melhor e com “aquele sonho de estudar na cabeça”, contaminara-se com a “febre da época”: São Paulo. “Naquele tempo todo nordestina sonhava em vir para São Paulo. São Paulo virou o céu, era o paraíso”, relembra mais de 50 anos depois.
Artur seguia os passos do irmão mais velho que mudara alguns meses antes e já estava trabalhando como operário na Cia. Nitro Química Brasileira. (…) juntamente com outras centenas de migrantes, Artur espremia-se na segunda classe do barco localizado no porão. Aquilo “era como um navio negreiro de escravos africanos”, comparou, “você não via nada. Cheio de gente, uma promiscuidade danada, uma escuridão, um mau cheiro…”. A viagem só não foi pior porque Artur, conversador, fez amizade com “um senhor de Goiás, uma pessoa formada, muito educada e comunicativa” e passou aqueles dias discutindo “porque o Nordeste era paupérrimo e as pessoas todas migravam para outras regiões”. Mesmo tão jovem, Artur já tinha as suas “teses de achar o porquê que não se resolviam os casos no Nordeste” e propunha o aproveitamento das águas do São Francisco e do Amazonas para um amplo sistema de irrigação na região. (…) Também em 1948, Augusto Ferreira Lima deixou sua terra natal. Filho de um pequeno proprietário que vivia de suas plantações de laranjas em Alagoinhas, agreste baiano, Augusto Lima, aos 25 anos, decidira que era hora de tentar a sorte no sul. (…)
As trajetórias de Artur e Augusto não são incomuns. Na verdade, são relatos paradigmáticos de experiências similares de milhões de brasileiros e brasileiras. A grande migração de trabalhadores das regiões rurais para as cidades foi um dos fatores marcantes da história social brasileira na segunda metade do século XX. A região metropolitana de São Paulo (como principal receptora) e o Nordeste (como origem de grande parte dos migrantes) possuem papel central nesse processo. A figura do trabalhador nordestino escapando da fome, miséria e, periodicamente, das secas chegando à metrópole industrial em busca de emprego e melhores condições de vida tornou-se um símbolo da migração no imaginário social brasileiro. São Paulo transformou-se no local de moradia e emprego para milhões de migrantes nordestinos.”

FONTES, Paulo. Um nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66)- Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. p 41-43.

Fonte nº 4

Música “Pau de arara”, de Luiz Gonzaga. 

https://www.youtube.com/watch?v=0-0x4bFRWqc

Após a leitura e escuta da música os (as) alunos (as) deverão responder:

1.  Relacione as histórias de Artur e Augusto, descritas na fonte nº 3, com a música de Luiz Gonzaga (fonte nº 4) buscando semelhanças entre as trajetórias. 
2. Você conhece alguma história/pessoa/museu/já leu sobre o processo de trabalhadores que migraram do Nordeste para algum estado do Sudeste? Se sim, descreva. Se não, pesquise sobre a criação da cultura e presença de trabalhadores nordestinos em outras regiões do país.
3. As mãos de trabalhadores e trabalhadoras nordestinas estão na construção de várias cidades do Brasil. Como essas cidades de grandes comunidades nordestinas poderiam construir espaços de memórias desses trabalhadores e trabalhadoras como parte integrante de seu processo formativo? 


Etapa 3  

O (a) professor (a) deve distribuir as fontes nº 5 e nº 6 entre os (as) alunos (as). Nesse momento, o (a) professor (a) deverá estimular a reflexão sobre essa intensa cadeia migracional oriunda do Nordeste e como os trabalhadores e trabalhadoras nordestinas migraram entre as décadas de 1930-1970 por todo o país, sobretudo, para São Paulo.

Fonte nº5 

“A meu ver, a fome que o Nordeste está atravessando, a miséria aguda, que se exterioriza mais gritante, mais negra e mais trágica nesta época de calamidade, é mais fenômeno de ordem social do que natural. Mais do que a seca, o que acarreta esse estado de coisas é o pauperismo generalizado, a proletarização progressiva do sertanejo, sua produtividade mínima, insuficiente, que não lhe permite possuir nenhuma reserva para enfrentar as épocas difíceis, as épocas das vacas magras, porque já não há lá, nunca, épocas de vacas gordas. Mesmo quando chove, sua produtividade é miserável, sua renda é mínima, de maneira que ele está sujeito a viver na miséria relativa ou na miséria absoluta, segundo haja ou não inverno na região do sertão.
E que causas determinam esse estado social, esse estado de estagnação econômica e de proletarização progressiva da região do sertão? A meu ver, a causa essencial, central, contra a qual temos de lutar todos, é o regime inadequado da estrutura agrária da região, o regime impróprio com o grande latifundiarismo, ao lado do minifundiarismo, reinantes no Nordeste do Brasil. Sendo esta uma região, por excelência agrícola, desde que 75% das populações do Nordeste vivem de atividades rurais, 50% da renda sendo retirados da agricultura, ele só poderia sobreviver e desenvolver-se, se a agricultura fosse compensadora, fosse produtiva. Infelizmente, não o é. Porque o latifúndio é o irmão siamês do arcaísmo técnico. Nessas áreas latifundiárias, se pratica uma agricultura primária, uma proto-agricultura, sem assistência técnica, sem adubação, sem seleção de sementes, sem a mecanização, e pelos processos mais rudimentares, exaurindo a força do pobre sertanejo para produzir menos do que o suficiente para matar sua fome.
O latifúndio nessa região é representado pelo fato estatístico significativo de que, de 1940 a 1950, de acordo com o Recenseamento demográfico e agrícola, longe de diminuir o tamanho médio da propriedade agrícola, no Nordeste, este tamanho aumentou e vem aumentando de tal forma que, hoje, no Nordeste, apenas 20% dos habitantes das regiões rurais possuem terra; 80% trabalham como arrendatários, como parceiros ou como colonos, porque a terra é monopolizada por pequeno grupo.
Para mostrar a que extremo chega esse monopólio, basta referir o fato de que 50% da área total do Nordeste são açambarcados por 3% dos proprietários rurais.
Por outro lado, encontramos mais de 50% das propriedades contendo mais de 500 hectares. Há centenas de propriedades de mais de 100.000 hectares.”

O desequilíbrio econômico nacional e o problema das secas. In: Documentário do Nordeste. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1965.

Fonte nº 6

“Essa é uma história da plantation açucareira no Nordeste do Brasil. A história de um vasto e sofisticado espaço de liberdade contingente. Um espaço no qual o direito de agir segundo o livre arbítrio de quem em seu interior vivia era limitado por uma geografia que congregava- ao mesmo tempo e de forma indissociável- elementos ecológicos (geomorfoclimáticos, climáticos, edáficos, hidrográficos, biológicos…); estruturais (rede viária, sistema de transporte…) e também históricos/simbólicos/culturais (relações de classe, omissão do Estado, violência, coerção, medo, honra, esperança…). Violência, medo, ausência do poder público, esperança e honra, por exemplo, moldavam esse espaço tanto quanto as montanhas, rios, canaviais, engenhos e estradas. Nele, centenas de milhares de indivíduos viveram e trabalharam, toda sua vida, sob condições de miséria extrema, isolados do mundo exterior e sujeitos à violência patronal organizada. Essa parte do Brasil, formada sobretudo por uma ampla rede de engenhos e usinas de cana-de-açúcar, permaneceu por cinco séculos controlada por milícias privadas fortemente armadas. Até o final do século XX, a maior parte dessa área era interligada por estradas de difícil acesso e desconhecidas por boa parte das autoridades públicas. Esses engenhos constituíram um pedaço do território brasileiro situado “fora da ordem jurídica normal”.
A sofisticação desse espaço (de liberdade contingente, repito) não se limitou a sua longa duração (prova de seu eficiente funcionamento), nem à organização da violência física e imposição do medo que mantiveram o trabalho forçado como um de seus elementos indissociáveis e definidores. Sua estrutura labiríntica, longe das forças públicas externas, que facilitava o abuso da autoridade patronal sobre centenas de milhares de indivíduos, tornou-o singular em comparação a outros ambientes do trabalho no Brasil.”

Ferreira Filho, José Marcelo Marques. Arquitetura espacial da plantation açucareira no Nordeste do Brasil (Pernambuco, Século XX). –Recife: Ed. UFPE, 2020. p.17-18 

Após a leitura dos textos e os contextos dos anos 1950-1970 sobre a situação econômica-social e representação do Nordeste, os alunos responderão:

1. Quais argumentos que o texto traz podem ser pensados para explicar, de forma mais sistemática, esse processo de “fuga” do Nordeste caracterizado nas migrações para o Sudeste?
2. Muito do imaginário construído sobre a região Nordeste remete à seca como problema exclusivamente natural que causa dor, fome, miséria e expulsa trabalhadores e trabalhadoras dos seus lugares. De acordo com os argumentos usados fonte 5 e 6, os grandes problemas do Nordeste são exclusivamente de ordens naturais? Justifique a sua resposta.
3. Seus argumentos iniciais de o porquê das intensas migrações nordestinas permanecem as mesmas ou foram ressignificadas? E por quê? 


Bibliografia e Material de apoio:

ARCOVERDE, Márcio Romerito da Silva. Lutas operárias num espaço semirrural: Trabalho e conflitos sociais em Moreno-PE (1946-1964). 193 f. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2014.

FONTES, Paulo. Um nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66)- Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

José Marcelo Marques. Arquitetura espacial da plantation açucareira no Nordeste do Brasil (Pernambuco, Século XX). –Recife: Ed. UFPE, 2020.

LOPES, José Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São Paulo/ Brasília, Marco zero/ editora da UnB, 1988.

Rogers, Thomas D.. As feridas mais profundas: uma história do trabalho e do ambiente do açúcar no Nordeste do Brasil. Tradução Gilson César Cardoso de Saousa. – 1 . ed. – São Paulo: Editora Unesp, 2017

Santos, Emanuel Moraes Lima dos. A fábrica de tecidos da Macaxeira e a Vila dos Operários: a luta de classes em torno do trabalho e da casa em uma fábrica urbana com vila operária (1930-1960) / Emanuel Moraes Lima dos Santos. – 2017. 471 f. Dissertação de Mestrado.

 Documentário “Tecido Memória” disponivél em: https://www.youtube.com/watch?v=3yki-hUp6LE



Créditos da imagem de capa: Ficha de cadastro de operários de Société Cotonnière Belge-Brésiliene.


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Livros de Classe #06: Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga, por Leonardo Ângelo

Neste vídeo da série Livros de Classe, Leonardo Ângelo, bolsista FAPERJ na Universidade Federal Fluminense (UFF), apresenta a obra Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, de Kabengele Munanga. O livro traz à luz a construção da identidade nacional brasileira a partir de uma perspectiva racializada.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Artigos sobre Favelas e História Social do Trabalho – Samuel Oliveira

Samuel Oliveira, professor do CEFET-RJ e pesquisador do LEHMT-UFRJ, publicou recentemente três artigos que se situam nos campos dos estudos da história do trabalho e dos estudos sobre favelas. Abaixo, as apresentações e links para os artigos.


Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro

O artigo “Informalidade urbana, classe e raça no Rio de Janeiro: uma história dos censos” (2021) foi publicado na Revista de História por Samuel S.R. Oliveira, pesquisador e professor do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a forma como as noções de classe e raça se articulam na definição do debate sobre o crescimento das favelas a partir do desenvolvimento urbano-industrial do Rio de Janeiro e da discussão dos censos de favelas.

Enfoca especificamente a forma como na conjuntura do imediato pós-guerra se estabeleceu um debate as noções de “cor”/raça nas estatísticas para abordar a informalidade urbana e marginalidade social na cidade, tendo destaque as análises do sociólogo Luís Consta Pinto, do geografo e engenheiro Alberto Passos Guimarães e do Major e engenheiro Durval Magalhães Coelho.

Link: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/170643


Controle do espaço das favelas, fotografias e história social de Belo Horizonte

O artigo “A Comissão de Desfavelamento e as representações da pobreza urbana em Belo Horizonte na década de 1950” (2021) foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ.

O texto analisa a história das favelas e da formação do espaço urbano de Belo Horizonte a partir das imagens fotográficas produzidas pela Comissão de Desfavelamento em 1955. Na conjuntura de crescimento urbano-industrial, expansão do tecido urbano e intensa migração para a cidade, a Comissão de Desfavelamento foi responsável por várias legislações e políticas públicas visando o controle da informalidade urbana.

As fotografias mostram como engenheiros, advogados e assistências social entrelaçam identidades de classe e raça na formação da visualidade das favelas na capital de Minas Gerais.

Link: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/6635/5391


As favelas cariocas nos anos 1950

O artigo “As retóricas da ‘marginalidade social’: espaço urbano, práticas estatais e políticas nas favelas (1947-1961)” foi publicado por Samuel S.R. Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ e do CEFET-RJ, no livro Pensar as favelas cariocas: história e questões urbanas.

Organizado por Rafael Soares Gonçalves, Mário Brum e Mauro Amoroso, o livro traçar um panorama com a contribuição de vários pesquisadores, para a discussão da história da informalidade urbana no Rio de Janeiro ao longo do século XX.

O artigo analisou as imagens heterotópicas da marginalidade social na identificação das relações de classe e raça no espaço urbano e nas políticas públicas anunciadas como “batalhas” para desfavelar a cidade do Rio de Janeiro.

Link: https://www.pallaseditora.com.br/produto/Pensando_as_favelas_cariocas/333/


Crédito da imagem de capa: DISTRITO FEDERAL. Censo de Favelas: aspectos gerais. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, 1949.