História Social do Trabalho e Movimentos Sociais, com Paulo Fontes

Paulo Fontes, professor do Instituto de História e coordenador do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ (LEHMT/UFRJ) concedeu entrevista a Valdei Lopes de Araújo, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto e presidente da Associação Nacional de História (ANPUH) no canal do Youtube da ANPUH. Paulo fala sobre o atual momento do campo da história social do trabalho no Brasil e detalha o trabalho de divulgação científica e história publica realizado pelo LEHMT/UFRJ.

Chão de Escola #22: Os trabalhadores e o uso da Justiça do Trabalho durante a ditadura militar, por Paulo Henrique Silveira Damião



Paulo Henrique Silveira Damião



Apresentação da atividade

Segmento: Ensino Médio (3º ano)

Unidade temática: Ditadura Militar e os mundos do trabalho

Objetivos gerais:

– Refletir sobre as formas de lutas e resistências dos trabalhadores durante a ditadura militar;
– Relacionar o processo de autoritarismo com os impactos na vida dos trabalhadores;
– Caracterizar a Justiça do Trabalho como uma importante instituição de resistência.

Habilidades a serem desenvolvidas (de acordo com a BNCC):

(EF09HI19) Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos.

Duração da atividade:  

Aulas Planejamento
01Etapa 1
02Etapas 2
03Etapa 3 e 4
04Etapa 5
05Etapa 6

Conhecimentos prévios:

– Direitos e Leis Trabalhistas
– Políticas econômicas e sociais relacionadas aos mundos do trabalho
– Autoritarismo e repressão

Atividade

Recursos: Projetor, caixa de som, computador, quadro, fotocópia, caderno.

A atividade propõe uma reflexão a respeito dos impactos do autoritarismo da ditadura militar sobre a vida dos trabalhadores, procurando destacar a ação dos trabalhadores na busca por direitos através da Justiça do Trabalho e seus tribunais trabalhistas.

Etapa 1: Os direitos trabalhistas e a criação da Justiça do Trabalho

Para entendermos como se deu o recurso à Justiça do Trabalho durante a ditadura, pensando-o como uma forma de resistência às políticas autoritárias dos governos militares, é importante fazermos um recuo na história, voltando ao contexto de criação da Justiça do Trabalho e da consolidação dos direitos trabalhistas.
Foi durante a Era Vargas (1930-1945) que a sociedade viveu grandes transformações do ponto de vista trabalhista, sendo a Justiça do Trabalho (1934) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT/1943) as principais delas.

Pergunte aos estudantes e dialogue com a turma sobre o que eles lembram e sabem sobre a relação de Getúlio Vargas com os direitos trabalhistas.
A conversa inicial tem o objetivo de situar os estudantes no contexto de criação dos direitos trabalhistas e recuperar informações que serão trabalhadas em aula.

Entregue aos alunos os documentos a seguir impressos ou projete-os na lousa.

Peça para os alunos pesquisar e responder às perguntas abaixo.

  1. Identifique e explique dois direitos do trabalho que constavam na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
  2. Qual a importância da criação da Justiça do Trabalho para as relações de trabalho no Brasil e cumprimento da CLT?  
  3. A partir da leitura dos documentos, explique porque é importante que abandonemos a noção de passividade dos trabalhadores durante o contexto da Era Vargas e da criação das leis trabalhistas?

A partir dos trechos e das respostas dos estudantes, conseguimos perceber que a elaboração dessa nova estrutura que visava regular as relações de trabalho se deu a partir de uma dinâmica política entre Estado e classe trabalhadora, na qual essas duas forças políticas arbitraram seus interesses, em uma espécie de “via de mão-dupla”.
Enfatize esse aspecto, para os estudantes perceberem que a classe trabalhadora não era passiva na relação com Vargas e o Estado, e que a Justiça do trabalho tem função política ainda hoje na vida da classe trabalhadora.


Etapa 2: O golpe civil-militar e a guinada autoritária

Recupere o debate feito sobre o conceito de direitos trabalhistas e Justiça do Trabalho na aula anterior, enfatize que ela ainda hoje é um dos principais meios para os trabalhadores acionarem seus direitos trabalhistas, e que, no contexto da ditadura civil militar, ela foi um meio para os trabalhadores reivindicarem direitos.
Leia e analise com os estudantes as alterações na política trabalhista realizada durante a ditadura através da leitura de trechos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Explique para os alunos o que foi a CNV e sua importância para a análise da história do Brasil. Você pode transmitir o documento abaixo por meio de uma fotocópia ou projetá-los em sala de aula.

A partir de pesquisa e da leitura dos trechos do relatório da Comissão Nacional da Verdade, responda as perguntas abaixo:

  1. Qual era o principal objetivo dos governos militares em aprimorar o que havia de mais repressivo na CLT?
  2. Explique o que é:

a) Política do arrocho salarial;

b) Perda da estabilidade do emprego;

c) Desestruturação da organização dos trabalhadores.

3.Quais suas consequências para o desenvolvimento econômico e o mundo do trabalho?

Aqui o objetivo é explorar junto aos alunos as variadas formas de repressão utilizadas durante os governos militares. Quando se fala em repressão, logo vem à nossa mente as prisões arbitrárias, torturas físicas e psicológicas, assassinatos e outros tipos de violência. Sem dúvida, são fatos arrepiantes de um passado que não se pode e nem se deve esquecer.
No entanto, repressão também pode ser interpretada como algo que pune e não necessariamente precisa estar atrelado à violência explícita. No caso dos trabalhadores, é possível pautar as leis do arrocho salarial e as intervenções nos sindicatos também como formas de repressão, ou como políticas repressoras, tal como já destacado anteriormente.


Etapa 3: Aula expositiva e dialogada

Recupere as questões trabalhadas a partir do relatório da CNV e através de uma aula expositiva dialogada, explique o contexto social dos trabalhadores na ditadura civil-militar.
Abaixo, frisamos os eventos e conceitos que devem ser enfatizados na aula.
O golpe civil-militar que retirou João Goulart da Presidência da República, marcou, entre outras coisas, uma inflexão nos projetos políticos que eram direcionados aos trabalhadores. Antes, políticas que buscavam, minimamente, valorizar os trabalhadores; no pós-golpe, projetos autoritários que sacrificavam a força de trabalho.
A ditadura estabeleceu uma Lei de Greves que proibiu as greves, um dos principais movimentos de reivindicação trabalhista, as leis salariais, que impactaram negativamente nos salários.
Após o golpe de estado, o governo realizou intervenções federais nos sindicatos, cassando diretorias que tinham legitimidade entre os trabalhadores e organizavam protestos, e empossando diretores sindicais que eram pró-governo.
E promoveu uma política econômica que tinha em vista o arrocho salarial, unificou o salário mínimo nacional e estabeleceu um reajuste anual para o mesmo que não acompanhava os índices de inflação, que eram manipulados pelos governos militares.



Etapa 4: Análise de Imagens

Apresente aos alunos as imagens abaixo. A primeira retrata manifestação popular que denunciava a crise econômica que abatia os lares, sobretudo dos assalariados, devido às leis autoritárias do “arrocho salarial”.

Imagem I: Manifestações contra o “arrocho salarial”

Fonte: Autoria desconhecida. Imagem retirada do livro Como pode um povo vivo viver nesta carestia, de Thiago Nunes Monteiro (Monteiro, 2017).

Imagem II: Charge satirizando o elevado custo de vida

Fonte: Charge de Otávio, sobre Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e Planejamento da ditadura, publicada na Folha de São Paulo em 24 de junho de 2020. Disponível em: <https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1670143221443064-charges-da-folha-sobre-a-ditadura>. Acesso em: 29/03/2022.

Analise as imagens e responda as questões abaixo.

  1. Descreva as pessoas que fazem parte da imagem 1.
  2. Qual a pauta/objetivo da manifestação?
  3. Qual a principal crítica presente na charge da imagem 2?



Etapa 5: O recurso à Justiça do Trabalho como forma de garantia e conquista de novos direitos

A mudança de conjuntura marcada pelo golpe de 1964 pode ser percebida através dos processos da Justiça do Trabalho. A experiência democrática vivida anteriormente, na qual trabalhadores e sindicatos tiveram grande expressão política, foi, de fato, rompida. Com a ditadura militar, trabalhadores e sindicatos perderam espaços importantes para a defesa de seus direitos, senão todos, com exceção da Justiça do Trabalho.
Na Justiça do Trabalho, os trabalhadores reivindicavam aumentos salariais reais, além de benefícios como gratificações, redução da jornada de trabalho, salário mínimo (piso salarial), seguro de vida, alimentação, pagamento de férias em dobro, entre outros.
Projete o documento a baixo (ata de abertura de um processo trabalhista), que serve como exemplo das reivindicações trabalhistas e suas justificações, e leia junto com os alunos.

Após a leitura coletiva do documento, responda as questões abaixo.

  1. Identifique a entidade que procura se posicionar na justiça do trabalho.
  2. Quais as reivindicações dos trabalhadores bancários?
  3. Contextualize as reivindicações com o contexto político e social dos trabalhadores na ditadura.
  4. Na sua opinião, as reivindicações dos trabalhadores na Justiça do Trabalho são legítimas?Elas foram atendidas pela Justiça do Trabalho? Justifique sua resposta.

Explique para os estudantes que dados de processos julgados pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, com sede em Belo Horizonte/MG, demonstram que os trabalhadores e suas representações sindicais acumularam uma série de conquistas. Categorias de Juiz de Fora conseguiram ter aumentos salariais acima dos índices fornecidos pelos governos da ditadura; trabalhadores de instituições financeiras conquistaram redução da jornada de trabalho para 6 horas, com a categoria equiparada à dos bancários; motoristas de ônibus passaram a ter direito a uma diária remuneratória por dia trabalhado fora da sede; entre outras.


Etapa 6: Atividade final

Como atividade de conclusão e síntese, divida a sala em grupo e solicite que escrevam uma petição para ser encaminhada na Justiça do Trabalho. Depois, o documento produzido pelos estudantes, será debatido em grupo.

Escreva uma petição à Justiça do Trabalho.

1º passo: Cada grupo deverá escolher uma categoria trabalhista (bancários, metalúrgicos, trabalhadores do comércio ou tecelões).
2º passo: A partir da especificidade de cada profissão, que poderá ser pesquisa previamente, os alunos elaborarão de 3 a 5 reivindicações trabalhistas que servirão para abertura de um processo na Justiça do Trabalho.
3º passo: após a escolha das reivindicações, os alunos deverão elaborar uma pequena justificativa para cada demanda que será levada à Justiça, levando-se em consideração um contexto autoritário.
4º passo: concluída essa parte, um grupo irá analisar as demandas do outro grupo e, sendo um direito importante e necessário para aquela categoria, validar ou não suas reivindicações.
5º passo: por fim, o professor poderá propor uma discussão final a partir das demandas trabalhistas aprovadas por cada grupo.



Bibliografia e Material de apoio:

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório, v. II, textos temáticos/Comissão Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014.

DAMIÃO, Paulo Henrique Silveira. A balança de Têmis e tempos sombrios: Justiça do Trabalho, trabalhadores e ditadura em Juiz de Fora (1964-1974). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2019.

JUIZ DE FORA. Memórias da repressão: relatório da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora. Juiz de Fora: MAMM, 2015.

MONTEIRO, Thiago Nunes. Como pode um povo vivo viver nesta carestia. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

MOREL, Regina Lúcia M.; PESSANHA, Elina G. da Fonte. A Justiça do Trabalho. Tempo Social, v. 19, n. 2, nov. 2007.

REIS, Daniel Aarão. Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

Depoimentos Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora: <https://www.ufjf.br/comissaodaverdade/depoimentos/> SILVA, Fernando Teixeira da. Trabalhadores no Tribunal: conflitos e Justiça do Trabalho em São Paulo no contexto do Golpe de 1964. 2ª ed. São Paulo: Alameda, 2019.


Créditos da imagem de capa: Operários da Construção Civil. 05 de agosto de 1979. REG.: P&B 1/02/0090, sob guarda do Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT3). 



Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.

Livros de Classe #14: Os andarilhos do bem, de Carlo Ginzburg, por Adalberto Paz

Neste vídeo, Adalberto Paz, professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), apresenta a obra Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII, de Carlo Ginzburg. Lançado em 1966, o livro, assim como seu autor, é importante referência para metodologia de pesquisa histórica de grupos sociais subalternizados.  

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Vozes Comunistas #02: Hércules Corrêa





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

“Vozes comunistas” é uma série especial do Vale Mais, podcast do LEHMT/UFRJ. Nessa série homenageamos o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e divulgamos áudios que permitem uma reflexão sobre as fortes e complexas relações entre o partido e os mundos do trabalho ao longo da história do país. A cada quinze dias, um trecho de uma entrevista de antigos sindicalistas, lideranças operárias e camponesas ou mesmo trabalhadores/as de base conta um pouco da história do PCB e sua importância para a história do trabalho no Brasil. Pesquisamos áudios em acervos públicos e particulares de todo o país, que serão apresentados por pesquisadores e historiadores especialistas na trajetória do partido. Em nosso segundo episódio, apresentamos trechos de uma entrevista realizada com o dirigente sindical têxtil do Rio de Janeiro e um dos líderes do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) no pré-1964, Hércules Corrêa (a íntegra da entrevista encontra-se no Arquivo Edgard Leuenroth da Unicamp). Essa voz comunista é apresentada pela professora da Universidade do Estado da Bahia, Camila Oliver.

Projeto e execução: Ana Clara Tavares, Felipe Ribeiro, Larissa Farias e Paulo Fontes
Apoio: Centro de Documentação e Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Agradecemos às instituições e pesquisadores que gentilmente colaboraram com nosso projeto.

Referência da entrevista: Depoimento de Hércules Corrêa. Sem data. Arquivo Edgard Leuenroth: Fundo Partido Cominista Brasileiro. Código de referência: BR SPAEL PCB Vd/00094.

Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz Vale Mais

Está no ar o quarto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quarto episódio, conversamos com Itan Cruz, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre sua tese Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil (1880-1889). Ao longo da conversa, Itan mostra como investigou de que maneira políticos baianos, como Saraiva, Dantas e Cotegipe, influenciaram os últimos anos do cativeiro no Brasil. Entre jogos de poder, alianças improváveis e disputas internas, revelamos como o baianismo atravessou gabinetes, salões, senzalas e até as relações íntimas do Império. Para saber mais, ouça o episódio. E não deixe de acompanhar a nova temporada do Vale Mais! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  2. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  3. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  4. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  5. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus

XVI Encontro Nacional de História Oral – Pandemia e Futuros Possíveis – Samuel Oliveira, Lara de Castro e Alejandra Estevez

Convidamos a todos a participar e submeter propostas de comunicação no Simpósio Temático 12 – História Oral e Mundos do Trabalho, coordenado pelos prof. Samuel Oliveira (LEHMT-UFRJ), Lara de Castro (UNIFAP) e Alejandra Estevez (UFF), no XVI Encontro Nacional de História Oral – Pandemia e Futuros Possíveis.

As inscrições de propostas temáticas ocorrerá até o dia 20 de abril de 2020, e podem ser realizadas no site: https://www.even3.com.br/xviencontronacionaldehistoriaoral/.

O evento é realizado pela Associação Brasileira de História Oral (ABHO) no Rio de Janeiro, entre 25 e 28 de julho de 2022, nas instalações da sede da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fundação Getúlio Vargas, no centro da cidade.

O surgimento da metodologia de História Oral nos anos 1960 e 1970 ocorreu sob impacto das análises da História Social do Trabalho, dando evidência as experiências de grupos sociais que tinham pouca expressão na história oficial e nas várias ortodoxias historiográficas. O simpósio temático busca aglutinar as inúmeras pesquisas que se estabeleceram a partir dessa inflexão e que continuam a renovar as análises das relações entre oralidade, memória social e mundos do trabalho.

São apresentados os seguintes eixos temáticos: 1) as trajetórias de lideranças e movimentos sociais e sindicais nos ciclos de protesto do século XX; 2) experiências das/os trabalhadoras/es em locais de trabalho e em comunidades de trabalhadoras/es; 3) as relações de classe, raça e gênero no cotidiano dos espaços urbanos e rurais; 4) as políticas memoriais e de justiça de transição que se articulem à história das/os trabalhadoras/es na ditadura e redemocratização; 5) a memória e trajetória de trabalhadoras/res livres e não livres – trabalho escravo, compulsório, degradante e em situação de “análoga” à escravidão.

Nota conjunta sobre o ataque coordenado da extrema-direita aos perfis do GT Mundos do Trabalho e do LEHMT/UFRJ no Instagram

Nos últimos dias os perfis do GT Mundos do Trabalho e do LEHMT/UFRJ no Instagram vêm sendo alvo de ataques coordenados com mensagens de ódio com forte tom anticomunista. Essas manifestações ocorreram principalmente na seção de comentários de uma postagem de divulgação do podcast “Vozes Comunistas”, promovido pelo @lehmt e divulgado pelo @goledehistoria. Nos últimos 100 anos, o anticomunismo vem tendo papel de destaque nos episódios mais infames da história política do Brasil, motivando e justificando a prisão e a violência contra milhares de cidadãos brasileiros, dando cabedal a golpes contra as instituições democráticas. Atualmente, com o recrudescimento da extrema direita e com a multiplicação de células neonazistas no Brasil, tem sido cada vez mais comum os ataques coordenados contra eventos e publicações acadêmicas que promovem reflexões críticas sobre esse passado nefasto de violência política que insiste em se atualizar.

Nesse contexto, a série “Vozes Comunistas” se mostra ainda mais pertinente. É significativo que o primeiro episódio da série seja justamente sobre uma das figuras mais icônicas desse passado de violência política. No dia seguinte ao golpe militar, em 2 de abril de 1964, o veterano líder comunista Gregório Bezerra, então com 64 anos, foi preso, torturado e arrastado pelas ruas do Recife como um troféu de guerra. Com aquela macabra cena, os golpistas procuravam humilhar um dos símbolos mais emblemáticos dos trabalhadores rurais do Nordeste, em sua grande maioria descendentes de escravizados e indígenas, que ousaram lutar por direitos, justiça e dignidade. Gregório dedicou sua vida à organização e luta dos camponeses brasileiros. Em 1969, foi trocado pelo embaixador americano sequestrado e exilou-se na União Soviética. Voltou ao Brasil com a anistia em 1979 e faleceu em 1983. Um gigante da história de lutas dos trabalhadores brasileiros. Quase 40 anos após sua morte, o exemplo e a voz de Gregório ainda reverberam e incomodam. Querem calá-lo mais uma vez por que sua voz ecoa uma luta ancestral para todos que buscam uma sociedade democrática e com justiça social. Mais uma vez, não passarão!

Ouça “Vozes Comunistas”, a série especial do podcast do LEHMT/UFRJ. A cada 15 dias um episódio novo no site do Laboratório ou em seu agregador de podcasts.

GT Mundos do Trabalho da ANPUH/Associação Nacional de História do Trabalho
Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ (LEHMT/UFRJ)

Vale Mais #19: Trabalhadores e a Justiça do Trabalho





Vale Mais é o podcast do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho da UFRJ, que tem como objetivo discutir história, trabalho e sociedade, refletindo sobre temas contemporâneos a partir da história social do trabalho.

O episódio #19 do Vale Mais é sobre os trabalhadores e a Justiça do Trabalho.

Neste décimo nono episódio do Vale Mais, conversamos com a historiadora Alessandra Belo Assis Silva que defendeu recentemente a sua tese de doutoramento pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tendo feito um período “sanduíche” na Emory University em Atlanta-EUA. Pesquisando a Justiça do Trabalho e os Trabalhadores desde a graduação e mestrado na UFJF, Alessandra defendeu em 2020 a tese “Os trabalhadores e o Tribunal Superior do Trabalho (1946-1953)”, sob orientação de Fernando Teixeira da Silva. Alessandra analisou as demandas individuais e coletivas de trabalhadores e sindicatos que chegavam ao TST num período em que essa justiça estava no início de seu desenvolvimento e que, em certa medida, buscava legitimidade para funcionar. Na parte final da entrevista, frente a precarização do trabalho que ocorre hoje no Brasil, a nossa entrevistada mostra caminhos que vem construindo, junto a seus alunos da educação básica no município de Praia Grande, com vistas a aproximar o conhecimento produzido dentro da Academia aos espaços da sala de aula.

Produção: Alexandra Veras, Heliene Nagasava, João Christovão e Larissa Farias
Roteiro:  Alexandra Veras, Heliene Nagasava, Veras, João Christovão e Larissa Farias 
Apresentação: Larissa Farias 

Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz Vale Mais

Está no ar o quarto episódio da nova temporada do podcast Vale Mais, do LEHMT-UFRJ! Nesta temporada, convidamos pesquisadoras e pesquisadores para discutir projetos, livros e teses recentes que aprofundam debates interdisciplinares sobre os mundos do trabalho. Neste quarto episódio, conversamos com Itan Cruz, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sobre sua tese Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil (1880-1889). Ao longo da conversa, Itan mostra como investigou de que maneira políticos baianos, como Saraiva, Dantas e Cotegipe, influenciaram os últimos anos do cativeiro no Brasil. Entre jogos de poder, alianças improváveis e disputas internas, revelamos como o baianismo atravessou gabinetes, salões, senzalas e até as relações íntimas do Império. Para saber mais, ouça o episódio. E não deixe de acompanhar a nova temporada do Vale Mais! Entrevistadores: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Josemberg Araújo, Larissa Farias e Thompson Clímaco Roteiro: Ana Clara Tavares, Isabelle Pires, Larissa Farias e Thompson Clímaco Produção: Ana Clara Tavares e Larissa Farias Edição: Josemberg Araújo e Thompson Clímaco Diretor da série: Thompson Clímaco Coordenadora geral do Vale Mais: Larissa Farias
  1. Vale Mais #31: Saraiva, Dantas e Cotegipe: baianismo, escravidão e os planos para o pós-abolição no Brasil, por Itan Cruz
  2. Vale Mais #30: A cultura de luta antirracista e o movimento negro do século 21, por Thayara Lima
  3. Vale Mais #29: The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil, por Alexandre Fortes
  4. Vale Mais #28: O poder e a escravidão, por Bruna Portella e Felipe Azevedo
  5. Vale a Dica #14: Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus

Livros de Classe #13: A hidra de muitas cabeças, de Peter Linebaugh e Marcus Rediker, por Felipe Azevedo

Neste vídeo, Felipe Azevedo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), apresenta a obra A hidra de muitas cabeças: marinheiros, escravos, plebeus e a história oculta do Atlântico Revolucionário, de Peter Linebaugh e Marcus Rediker. Lançado em 2000, e traduzido para o português em 2008, o livro desafiou o “nacionalismo metodológico” e contribuiu para a recente renovação da História Social do Trabalho.

Livros de Classe

Os estudantes de graduação são desafiados constantemente a elaborar uma percepção analítica sobre os diversos campos da história. Nossa série Livros de Classe procura refletir justamente sobre esse processo de formação, trazendo obras que são emblemáticas para professores/as, pesquisadores/as e atores sociais ligados à história do trabalho. Em cada episódio, um/a especialista apresenta um livro de impacto em sua trajetória, assim como a importância da obra para a história social do trabalho. Em um formato dinâmico, com vídeos de curtíssima duração, procuramos conectar estudantes a pessoas que hoje são referências nos mais diversos temas, períodos e locais nos mundos do trabalho, construindo, junto com os convidados, um mosaico de clássicos do campo.

A seção Livros de Classe é coordenada por Ana Clara Tavares.

Resenha: História social da ditadura civil-militar e o Ministério do Trabalho no governo Castelo Branco (1964-1967) – Samuel Oliveira

A resenha publicada na revista História (São Paulo) por Samuel Oliveira, professor e pesquisador do LEHMT-UFRJ, aborda o livro O Sindicato que a ditadura queria (2018), de Heliene Nagasava.

O texto ressalta a originalidade do livro no campo de estudo da ditadura ao propor uma reflexão sobre o Ministério do Trabalho no governo Castelo Branco (1964-1967) e o que seria o “novo trabalhismo”.

A resenha está disponível em https://www.scielo.br/j/his/a/yP4N8ZJDW7fppcpkp7S9d5k/?lang=pt

Chão de Escola #21: Rodrigo Patto (UFMG) fala sobre o golpe de 1964, ditadura militar e suas reflexões para professores da Educação Básica



Obrigado por aceitar o convite do CHÃO DE ESCOLA, para falar do seu novo livro “Passados presentes – o Golpe de 1964 e a ditadura militar” (2021). Gostaríamos de saber quando surgiu a ideia de escrever um livro voltado para o debate público sobre a ditadura militar?

A ideia surgiu durante a fase mais aguda da pandemia. O isolamento social significou o fim das frequentes viagens que eu fazia para o desempenho de atividades profissionais, gerando uma disponibilidade de tempo que resolvi aplicar na produção do livro. Mas a motivação principal foi mesmo contribuir para o debate público sobre a ditadura e enfrentar os discursos que defendem uma memória positiva sobre o período. Temos presenciado uma politização e manipulação ideologicamente orientada da história com objetivo de construir versões moldadas para justificar a ditadura, e que poderiam oferecer fundamento a novos projetos autoritários. Tais discursos negam o caráter golpista de 1964 e a construção de uma ditadura na sua sequência, além de minimizarem a violência e escamotearem outros aspectos da história que não interessam a seus projetos políticos, ao mesmo tempo em que demonizam os adversários de esquerda. Então, o propósito principal com o livro foi apontar os equívocos, a manipulação e o falseamento da história promovidos por esses defensores de 1964, mostrar porque foi um golpe e uma ditadura, e explicar por que ela não nos legou um país melhor, muito ao contrário. Mas o livro também representa um diálogo com a historiografia, pois alguns capítulos abordam temas quentes nas interpretações sobre a ditadura como as motivações dos golpistas, a máquina política daquele regime, as atitudes sociais frente à ditadura, a dinâmica da distensão e da abertura e o papel das forças de resistência no processo de democratização.

Você tem pesquisas concentradas na história do século XX e alguns livros paradidáticos sobre temas da história política. Como esse livro atual pode auxiliar o professor a refletir sobre a prática de ensino de História?

Um dos objetivos do livro é exatamente alcançar os professores de História do nosso sistema escolar. A expectativa é oferecer-lhes material útil à reflexão sobre a história recente do Brasil, mas também para a montagem de material didático. A situação que temos vivido nos últimos anos é muito preocupante, pois grupos da direita mais autoritária têm se esforçado para divulgar discursos conservadores sobre a História, especialmente sobre o período da ditadura, com vistas a formar a opinião política dos brasileiros. Essa ofensiva passa pela produção de mensagens de fácil divulgação, principalmente vídeos distribuídos pelas redes sociais, mas também pelo ataque às universidades e ao sistema escolar, com o objetivo de retirar do cenário (ou da luta) os/as profissionais que representam empecilho a tais projetos autoritários. Então cabe a nós resistir, e a resistência implica evitar que eles destruam ou ocupem o sistema escolar e universitário, e impedir que dominem o debate público sobre a história da ditadura. Nesse livro, ofereço alguns argumentos e análises de que os professores podem se apropriar para debater com seus alunos e comunidades, ajudando-os a compreender por que a ditadura militar foi nefasta e não pode ser elogiada e muito menos ainda restabelecida.

Os trabalhadores foram especialmente afetados pela ditadura. Na sua visão, quais foram as principais transformações que ocorreram nos mundos do trabalho durante o regime militar?

Os trabalhadores rurais e urbanos foram profundamente afetados pela ditadura. De um lado, porque eram alvos das políticas de repressão e controle social, que tinham como objetivo impedir que a resistência proveniente desses setores desestabilizasse o Estado autoritário. Daí o expurgo dos líderes mais combativos e alinhados à esquerda, que foram presos, tiveram direitos políticos cassados e em alguns casos se exilaram ou passaram a viver na clandestinidade; a intervenção na direção dos sindicatos, para retirar do comando os líderes inclinados à resistência, ou impedir que fossem eleitos; e a constante vigilância nas fábricas (inclusive com auxílio das empresas) para anular novas lideranças que foram surgindo ao longo da ditadura. As políticas estatais de arrocho salarial e de cancelamento de direitos (como o fim da estabilidade no emprego) exerceram também importante impacto sobre a vida dos trabalhadores e suas famílias, lembrando que tais medidas correspondiam aos objetivos de atrair investimentos e aumentar os lucros das empresas. Com isso, a política econômica da ditadura gerou aumento da concentração de renda no Brasil, levando à ampliação da distância entre ricos e pobres. Mas há outro aspecto importante a considerar quando pensamos nos impactos da ditadura sobre o mundo do trabalho. Uma das principais estratégias dos líderes da ditadura para manter-se no comando, e para aumentar o poder da corporação militar, foi buscar a aceleração do crescimento econômico bruto e da industrialização. Disso não decorreu qualquer “milagre” econômico, até porque os custos sociais e políticos foram altos, mas alguns setores produtivos se expandiram e se modernizaram tecnologicamente (mas não socialmente), em especial a indústria. Uma modernização conservadora e autoritária, portanto. Essa política da ditadura, assim como outras, gerou resultados paradoxais, pois a razão de ser do regime autoritário era preservar a ordem social tradicional, porém, a urbanização e a industrialização aceleradas levaram à expansão da classe trabalhadora fabril, que se tornou uma das grandes protagonistas da luta contra a ditadura militar e pela democratização do país. Portanto, a expansão industrial promovida pela ditadura acabou contribuindo para sua crise, na medida em que o peso social e político do operariado foi sendo ampliado e surgiu uma forte liderança sindical que se tornou vanguarda e modelo para outros movimentos sociais democráticos.

No livro, você faz distinção entre comportamentos de adesão, resistência e acomodação na relação da sociedade com o regime militar. Como a relação dos trabalhadores com a ditadura pode ser compreendida através dessas noções?

R: Devo dizer, em primeiro lugar, que não fiz pesquisas especificamente voltadas para os trabalhadores, e sim para as atitudes de grupos de elite (as comunidades universitárias) diante da ditadura. De toda forma, acredito que essa tipologia pode ser aplicada também à classe trabalhadora. A mais evidente e significativa atitude dos trabalhadores foi a resistência, que já comentei na questão anterior. Os trabalhadores conduziram muitas ações de resistência, seja questionando as políticas que arrochavam salários ou cortavam direitos sociais, seja criticando as intervenções autoritárias no comando das entidades associativas. Mas as suas principais formas de luta foram as greves, que em contexto ditatorial eram em si atos de resistência. E os trabalhadores realizaram inúmeras greves, com destaque para os eventos de 1968 (em Contagem e Osasco), mas, principalmente, para o ciclo grevista iniciado pela greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em maio de 1978, que abriu caminho à eclosão de uma série de paralisações em diferentes setores da economia e do serviço público. Centenas de greves ocorreram nos anos seguintes, contribuindo para minar o poder da ditadura e abrir caminho à transição democrática. Mas a resistência não teve igual intensidade em todo o período, e nem todos resistiram, de outro modo, a ditadura não teria durado duas décadas. É desagradável constatar que o regime autoritário teve apoio, mas isso é necessário, inclusive para entendermos a situação política recente no Brasil, em que vivemos novamente um momento de ascensão de movimentos de direita (uma tendência que, felizmente, está sendo revertida). A adesão à ditadura foi um comportamento mais frequente em segmentos de elite, no empresariado, na mídia, no serviço público, nas classes médias, que foram os seus sustentáculos principais. Mas entre os trabalhadores também houve adesões, mesmo que tenham sido minoritárias no conjunto da classe. Por exemplo, aquelas lideranças que aceitaram o papel de interventores nos sindicatos anteriormente dirigidos por líderes de esquerda, comportaram-se como aderentes à ditadura, seja por convicção ideológica ou por oportunismo. Por outro lado, a atitude de certos líderes trabalhistas parece se aproximar mais da acomodação, ou seja, não aderiram, mas tampouco resistiram à ditadura, buscaram um caminho do meio, ambíguo e com menos riscos. Creio que essa foi a atitude de alguns líderes sindicais durante a ditadura, cuja ambiguidade evitou serem atingidos pela repressão na fase aguda do regime militar, e no processo de abertura e redemocratização permitiu que se reciclassem e adotassem posturas mais combativas e progressistas.
Sem dúvida, a questão da adesão e da acomodação de lideranças sindicais e de parte dos trabalhadores precisa ser ainda mais pesquisada. De qualquer forma, imagino que essas pesquisas irão revelar menor incidência desses comportamentos entre os trabalhadores. Essa conjectura é baseada nas pesquisas de opinião disponíveis (e citadas no livro), cujos dados mostram que o apoio ao golpe de 1964 foi menor entre os segmentos de baixa renda, assim como foi menor sua adesão a um dos valores predominantes entre os golpistas, o anticomunismo. Em suma, considerando os vinte anos de duração da ditadura, entre os trabalhadores foi mais frequente a indisposição e a resistência frente àquele regime político do que atitudes de simpatia e de adesão.


Rodrigo Patto Sá Motta é professor adjunto de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e autor dos livros livro Em Guarda contra o Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (2002), Jango e o Golpe de 1964 (2006), As Universidades e o regime militar (2014). Publicou os seguintes livros paradidáticos A Segunda Grande Guerra – do nazi-fascismo à Guerra Fria (1994) e Introdução à história dos partidos políticos brasileiros (1999).


Crédito da imagem de capa: Capa do livro Passados Presentes: o golpe de 1964 e a ditadura militar (2021). Disponível em: https://ftp.zahar.com.br/detalhe.php?codigo=4103101


Chão de Escola

Nos últimos anos, novos estudos acadêmicos têm ampliado significativamente o escopo e interesses da História Social do Trabalho. De um lado, temas clássicos desse campo de estudos como sindicatos, greves e a relação dos trabalhadores com a política e o Estado ganharam novos olhares e perspectivas. De outro, os novos estudos alargaram as temáticas, a cronologia e a geografia da história do trabalho, incorporando questões de gênero, raça, trabalho não remunerado, trabalhadores e trabalhadoras de diferentes categorias e até mesmo desempregados no centro da análise e discussão sobre a trajetória dos mundos do trabalho no Brasil.
Esses avanços de pesquisa, no entanto, raramente têm sido incorporados aos livros didáticos e à rotina das professoras e professores em sala de aula. A proposta da seção Chão de Escola é justamente aproximar as pesquisas acadêmicas do campo da história social do trabalho com as práticas e discussões do ensino de História. A cada nova edição, publicaremos uma proposta de atividade didática tendo como eixo norteador algum tema relacionado às novas pesquisas da História Social do Trabalho para ser desenvolvida com estudantes da educação básica. Junto a cada atividade, indicaremos textos, vídeos, imagens e links que aprofundem o tema e auxiliem ao docente a programar a sua aula. Além disso, a seção trará divulgação de artigos, entrevistas, teses e outros materiais que dialoguem com o ensino de história e mundos do trabalho.

A seção Chão de Escola é coordenada por Claudiane Torres da Silva, Luciana Pucu Wollmann do Amaral e Samuel Oliveira.